Indicadores para a sociedade da informação: medindo as múltiplas barreiras à inclusão digital



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Transcrição:

Indicadores para a sociedade da informação: medindo as múltiplas barreiras à inclusão digital Esther Menezes, Graziella Cardoso Bonadia *, Giovanni Moura de Holanda O objetivo deste artigo é discutir a abrangência dos indicadores de inclusão digital na representação de seus múltiplos aspectos, num contexto em que a ampliação do acesso às tecnologias de informação e comunicação dá maior visibilidade às mais diversas barreiras de uso. Além das barreiras físicas e econômicas, ganham relevância no debate sobre a inclusão digital as barreiras psicológicas, cognitivas e linguísticas, que podem interferir na intensidade e qualidade da experiência de uso dessas tecnologias por um indivíduo. A relevância desses aspectos é evidente no contexto brasileiro, dotado de um perfil socioeconômico formado por uma proporção nada desprezível de indivíduos de baixa renda, com pouca ou nenhuma escolaridade, e de pessoas com deficiência. Apesar disso, grande parte dos indicadores existentes representa primordialmente o acesso físico às TICs e o aspecto tecnológico da produção e difusão dessas tecnologias. Ao avaliar a abrangência dos dados atualmente coletados, constata-se que são escassos os indicadores referentes às barreiras psicológicas, cognitivas e de usabilidade e acessibilidade. Com o intuito de preencher as lacunas existentes, propõe-se a coleta de dados complementares que explicitem os mais diversos aspectos da inclusão digital, contribuindo, dessa forma, para a elaboração de políticas públicas que efetivamente estimulem o desenvolvimento da sociedade da informação. Palavras-chave: Inclusão digital. Indicadores de TIC. Sociedade da informação. Usabilidade e acessibilidade. Barreiras cognitivas. Introdução A inclusão digital (ID) é um dos maiores desafios ao desenvolvimento da sociedade da informação no Brasil. Essa afirmação é embasada nos indicadores de acesso às tecnologias de informação e comunicação (TICs) que revelam a persistência de um elevado porcentual da população alheio aos seus benefícios. Em 2006, a proporção de indivíduos que já haviam acessado a Internet era de 33%, e as proporções de domicílios com computador e Internet eram de 20% e 14%, respectivamente (CGI, 2006). Mas a ID não é condicionada apenas por fatores referentes ao acesso físico às TICs, como a conectividade, a produção de hardware e software e a inovação tecnológica na indústria da informação, dados usualmente empregados para caracterizar a sociedade da informação. Fatores de outras naturezas, como a usabilidade e acessibilidade de websites e as barreiras psicológicas e cognitivas que podem impedir o uso dessas tecnologias pelo indivíduo, vêm à tona e ganham relevância à medida que a ampliação da oferta de acesso ao computador e à Internet se consolida. O objetivo deste artigo é justamente identificar lacunas no conjunto dos indicadores de ID que compõem os sistemas de métricas mais empregados no dimensionamento e na avaliação da sociedade da informação. Com base nas lacunas identificadas, discute-se a necessidade de levantamento de novos dados para complementar os existentes. A adição de dados contemplaria aspectos relevantes da ID frequentemente negligenciados nas discussões sobre políticas públicas e iniciativas da sociedade civil voltadas a esse propósito. Cabe observar que este estudo é fruto de um levantamento feito com o propósito de subsidiar a atividade de planejamento da implantação em escala nacional dos serviços e soluções desenvolvidos no âmbito do projeto Soluções de Telecomunicações para Inclusão Digital (STID). De maneira geral, um conjunto de indicadores, que também reflete as particularidades da ID, deve servir tanto à operação eficiente e eficaz das soluções a serem implantadas nacionalmente quanto ao processo de planejamento de políticas mais genéricas de ID. 1 Em busca de conceitos abrangentes de inclusão digital Comumente, o esforço dos programas governamentais e de iniciativas da sociedade civil para promover a ID é direcionado para a ampliação da disponibilidade de meios de acesso, isto é, computadores com acesso à Internet, para uso da população. Contudo, muitos estudos indicam que, embora condição necessária, os meios físicos não garantem por si só o pleno usufruto desses recursos. Ao investigar experiências malsucedidas de inclusão digital, Warschauer (2002) conclui que uma das principais causas de *Autor a quem a correspondência deve ser dirigida: bonadia@cpqd.com.br Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 5, n. 1, p. 7-20, jan./jun. 2009

insucesso é a ausência de motivação dos indivíduos para o uso das TICs. Segundo o autor, a ID não é condicionada apenas aos recursos físicos, mas também aos recursos digitais, humanos e sociais. Tais elementos consistem no apoio da comunidade em que o indivíduo se insere, na estrutura institucional que lhe permite usufruir plenamente as TICs, e em conteúdo relevante e linguagem apropriada, que conferem ao usuário sentido e propósito para o uso da Internet. Disso se depreende que os fatores condicionantes para o sucesso das ações em prol da ID transcendem a presença de computador e a conexão à Internet, cuja disponibilização, por si só, já consiste em uma tarefa trabalhosa que consome razoáveis somas de recursos. Com efeito, um dos principais desafios apontados pela Sociedade Brasileira de Computação (SBC) na área computacional é o desenvolvimento de formas de interação entre pessoas e TICs que facilitem o acesso do cidadão brasileiro ao conhecimento (SBC, 2006:17) 1. Nesse contexto, é de extrema importância adotar uma abordagem de análise de políticas que considere esses condicionantes para identificar quais são as principais barreiras à ID no Brasil. Já se observou na Introdução a presença limitada das TICs entre os brasileiros. Além do acesso ainda restrito, é possível identificar outros obstáculos importantes à ID plena com uma breve análise do perfil da população do País. Segundo Ávila e Holanda (2006), aproximadamente 37% da população é composta de analfabetos plenos ou funcionais. Além disso, perto de 25 milhões de pessoas apresentam alguma deficiência física, mental ou sensorial. Com relação aos dados das telecomunicações no Brasil, os autores observam que somente 9% dos municípios brasileiros dispunham de serviços de TV por assinatura e/ou banda larga, baseados em MMDS ou cabo, e menos de 30% dos municípios apresentavam banda larga em 2005. Além disso, grande parte das pequenas localidades não possuía provedor de acesso à Internet, o que revela deficiências no acesso, apesar dos avanços. Tais características, que impõem dificuldades ao usufruto das TICs mais complexas, foram agrupadas em camadas que correspondem aos tipos existentes de barreiras à ID, graficamente representadas na Figura 1, de acordo com o modelo apresentado em Holanda e Dall'Antonia (2006) e Tambascia et al. (2006). Basicamente, o modelo representa as barreiras de acesso a equipamentos, de usabilidade e acessibilidade e de inteligibilidade. Vencidas essas barreiras, os usuários já podem usufruir os serviços e conteúdos disponíveis na sociedade da informação, mas é necessário ainda capacitá-los para produzir conteúdos. Com essa capacitação, os usuários podem, enfim, usufruir as potencialidades do mundo digital, representadas na Figura 1 como a camada Sociedade da informação. Tal camada consiste na efetiva fruição e produção de conteúdo e serviços eletrônicos para propósitos educacionais, profissionais e de lazer, bem como aqueles referentes à atuação dos indivíduos como cidadãos. O objetivo desse modelo de camadas é explicitar todos os tipos de barreiras à ID que precisam ser removidas. As camadas refletem as principais dificuldades que os indivíduos enfrentam para ter um pleno aproveitamento das TICs, abrangendo aquelas observadas com mais frequência em países em desenvolvimento e regiões mais carentes. O modelo foi formulado com base na realidade brasileira identificada a partir do perfil socioeconômico, cultural e de escolaridade. Barreiras à inclusão Sociedade da informação (consumo e produção de conteúdo) Inteligibilidade Acessibilidade e usabilidade Acesso a terminais e à web Fonte: Holanda e Dall'Antonia (2006) e Tambascia et al. (2006). Figura 1 Barreiras à inclusão digital As barreiras de meios de acesso referem-se à falta de infraestrutura de telecomunicações, à deficiência de cobertura dos serviços baseados em TICs, à qualidade do serviço e aos custos para o usuário. Por sua vez, as barreiras de usabilidade e acessibilidade dizem respeito à ausência ou deficiência de recursos nas interfaces existentes que facilitam o uso por pessoas com deficiência visual, auditiva ou motora. Já as barreiras de inteligibilidade têm origem tanto no analfabetismo digital (isto é, falta de habilidade de uso das TICs) como na 1 Segundo a SBC, a disponibilidade de acesso às TICs não é sinônimo de facilidade de uso e acesso universal...existem barreiras tecnológicas, educacionais, culturais, sociais e econômicas, que impedem o acesso e a interação. Por isso, um dos principais desafios da computação no Brasil é vencer essas barreiras, por meio da concepção de sistemas, ferramentas, modelos, métodos, procedimentos e teorias capazes de endereçar, de forma competente, a questão do acesso do cidadão brasileiro ao conhecimento. Este acesso deve ser universal e participativo, na medida em que o cidadão não é um usuário passivo, o qual recebe informações, mas também participa da geração do conhecimento (SBC, 2006:17). 8 Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 5, n. 1, p. 7-20, jan./jun. 2009

escassez de conteúdo em linguagem compreensível a um público amplo. Todas essas barreiras impedem que os indivíduos usufruam os benefícios últimos da sociedade da informação. Como exemplo concreto de barreira à ID, tem-se a taxa de analfabetismo, tanto pleno quanto funcional, que constitui um entrave ao uso do computador e da Internet e que é representada pelas camadas de usabilidade e inteligibilidade. Outra possível barreira é a falta de conteúdo de algum interesse para grupos socialmente mais vulneráveis, o que é também refletido pela camada de inteligibilidade, comprometendo a experiência da fruição de conteúdo. Ao refletir todas as possíveis barreiras físicas, cognitivas, psicológicas, socioeconômicas e culturais à ID, o modelo de camadas representado na Figura 1 pode auxiliar na formulação e análise de políticas e no planejamento de ações para a superação dessas barreiras. Para operacionalizar esse auxílio, são necessários indicadores que revelem o estado em que as barreiras se encontram. O uso de indicadores confere objetividade ao estabelecimento de metas e à avaliação da eficácia e eficiência das ações propostas para alcançá-las. Na Seção 2, é feito um levantamento dos indicadores de ID presentes em sistemas de métricas da sociedade da informação. Discute-se também em que medida os indicadores refletem as barreiras à ID. 2 Presença de indicadores de ID nos sistemas de métricas da sociedade da informação É ampla a diversidade de indicadores de mensuração das TICs. Em geral, emprega-se um conjunto de indicadores selecionados para representar um quadro amplo da sociedade da informação, englobando cobertura, acesso e oferta de serviços baseados em TICs. Atualmente, existe uma ampla gama de indicadores de TICs compondo diferentes sistemas de métricas 2. Tal diversidade decorre do fato de que propostas distintas de mensuração foram concebidas a partir de objetivos distintos. Assim, enquanto alguns sistemas enfatizam a difusão das TICs entre a população de um país, outros privilegiam a dimensão do comércio eletrônico. Como exemplos dos primeiros esforços de mensuração da sociedade da informação e da brecha digital entre países, têm destaque o GDI, INEXSK, ICTDI, Infostate, DAI, CAIBI e a Brecha Digital, amplamente divulgados 3. Nos últimos anos, tanto em nível mundial como na América Latina, conforme Olaya e Peyrano (2007), deu-se início a um movimento de harmonização da coleta de dados e da construção de indicadores de TICs, que culminou na criação do Partnership on Measuring ICT for Development. Participam dessa iniciativa grupos como ITU, OCDE, UNCTAD, Unesco, Banco Mundial e comissões regionais das Nações Unidas (CEPAL, ESCWA, ESCAP, ECA), com o objetivo de estabelecer um conjunto de indicadores globais de acesso, uso, potencial de aproveitamento das TICs (e-readiness) e os impactos socioeconômicos a elas associados (PORCARO, 2006). Das discussões entre os institutos de pesquisa dos países envolvidos promovidas pelo Partnership, estabeleceu-se a lista dos chamados Indicadores-Chave de TIC (Core ICT Indicators). Escolhidos em comum acordo entre os países participantes, o objetivo foi incentivar a incorporação desses indicadores aos dados coletados em censos e pesquisas nacionais de domicílios. Em um encontro mundial promovido pela Cúpula da Sociedade da Informação (World Summit on the Information Society, WSIS) em 2005, propôsse um índice de mensuração da sociedade da informação para fins de comparação internacional, o Digital Opportunity Index (DOI), cujos indicadores fazem parte do conjunto dos Indicadores-Chave de TIC. Além dos sistemas de métricas resultantes do esforço de homogeneização internacional dos indicadores, outros sistemas se destacam. O Network Readiness Index (NRI), do World Economic Forum (DUTTA et al., 2005), e o E- government Readiness (UN-UNPAN, 2005) merecem menção por abordar aspectos como o ambiente regulatório e o grau de desenvolvimento do governo eletrônico (e-gov), respectivamente. Por sua vez, o Statistical Indicators Benchmarking the Information Society (SIBIS) consiste em uma proposta de mensuração das TICs em âmbito europeu. O mesmo projeto propôs o DIDIX, um índice que condensa indicadores básicos de uso de TIC para medir a desigualdade digital entre subgrupos populacionais (HUSING; SELHOFER, 2004). Vale destacar os trabalhos de coleta periódica de dados referentes à sociedade da informação, desenvolvidos pelo Eurostat, cuja metodologia serviu de base para pesquisas em países não europeus, incluindo aquelas feitas pelo CGI (2006) no Brasil. 2 Para obter mais detalhes sobre o estado da arte dos sistemas de métricas, consulte Menezes et al. (2007a). 3 Tais sistemas foram apresentados, respectivamente, em Wolcott et al. (2001); Mansell e Wehn (1998); UNCTAD (2003); Sciadas (2005); ITU (2003); CAIBI (1999); ALADI (2003). Uma síntese desses sistemas é apresentada por Menezes et al. (2007a). Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 5, n. 1, p. 7-20, jan./jun. 2009 9

Por fim, o projeto Benchmarking the Information Society: e-europe Indicators for European Regions (BISER) apresenta uma proposta de mensuração regionalizada das TICs. Nesse sistema, destacam-se o conjunto de indicadores que retratam o não uso da Internet e suas razões mais prováveis, aspectos pouco tratados pelos sistemas de métricas existentes (BISER, 2004). Cada um dos sistemas supracitados apresentam indicadores que refletem, em diferentes graus, as barreiras à ID propostas por Holanda e Dall'Antonia (2006). Na Tabela 1, encontra-se uma avaliação desses sistemas em termos de representatividade de cada camada. Pelas informações constantes na Tabela 1, verificam-se ausências de indicadores importantes da sociedade da informação com relação às barreiras à ID. O caso da usabilidade e acessibilidade é o que mais se destaca: poucos sistemas, como o SIBIS e o BISER, apresentam indicadores que refletem esses aspectos. Essas informações são de difícil mensuração: em geral, são obtidas por meio de pesquisa qualitativa que verifica a existência de orientação para o desenvolvimento de sítios de Internet acessíveis para o atendimento ao público junto a empresas e a organismos do setor público. Embora o aspecto da inteligibilidade seja representado por indicadores de alfabetização e de matrículas em cursos de nível superior, presentes em alguns dos sistemas de métricas avaliados, são escassos os indicadores referentes a esforços de alfabetização digital e à existência de conteúdos local e contextualizado que confiram maior autonomia de uso aos indivíduos. Por outro lado, como indicador de fruição de conteúdo, todos os sistemas de métricas avaliados apresentam o percentual de usuários de Internet. Os mais ricos em indicadores dessa categoria são o SIBIS e o BISER, seguidos por Eurostat e Indicadores-Chave de TIC. O GDI apresenta uma grande variedade de indicadores de fruição, propondo uma avaliação mais profunda dos aspectos qualitativos de uso. Por fim, a subcamada de produção de conteúdo é pouco representada pelos sistemas atuais de mensuração de TIC. O indicador mais frequente é o número de domínios de Internet, que representa uma aproximação da quantidade acumulada de conteúdo nacional produzido e disponibilizado na rede. Em geral, destacam-se duas características dos sistemas de métricas da sociedade da informação: 1) a camada de disponibilidade de acesso é a mais bem representada pelos indicadores presentes nos sistemas de métricas existentes, seguida da camada de fruição de conteúdo; 2) as demais barreiras são pobremente representadas. A maior lacuna é observada na camada de usabilidade e acessibilidade, o que certamente decorre da dificuldade de se levantar as informações relacionadas. A identificação dos indicadores de ID presentes nos sistemas de métricas da sociedade da informação serve ao propósito de verificar o estado atual dos indicadores mais difundidos e seu potencial de aplicação em uma análise das políticas de ID. Não se pretende julgar incisivamente os méritos de cada sistema por representar (ou não) as diversas barreiras à ID, já que foram criados em outros contextos e com propósitos distintos. O objetivo é apenas verificar sua adequabilidade aos propósitos do presente estudo. Na Seção 3, apresenta-se uma relação (não exaustiva) dos dados de TIC existentes no Brasil. Vale observar que alguns deles compõem os sistemas de métricas apresentados nesta seção. Em seguida, é verificado se os dados existentes são suficientes para revelar a intensidade das barreiras à ID atualmente existentes no País. Tabela 1 Visão geral dos sistemas de métricas segundo sua representatividade das camadas de ID Camadas de ID GDI INEXSK O sistema de métricas contempla a camada de ID? ICTDI Infostate Soc. Prod. conteúdo P P N P N P N P P P P P N Informaç. Fruição conteúdo S P P P P P P S S P S S S Inteligibilidade N P N P P P N P P P S S N Usabilidade e acessibilidade N N N N N N N N N N P P P Disponibilidade de acesso P P P P P P S S S S S S P Legenda: S = sim; N = não; P = parcialmente. DAI CAIBI DOI Eurostat Core ICT ind. NRI SIBIS-DIDIX BISER Pobreza digital 10 Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 5, n. 1, p. 7-20, jan./jun. 2009

3 Dados secundários e representação das barreiras à ID A partir de um levantamento dos dados secundários existentes no Brasil sobre a sociedade da informação, foram identificados e selecionados aqueles que estão diretamente relacionados com a ID. Para isso, estabeleceu-se uma classificação conforme as barreiras à ID que os dados identificados representam. Na Tabela 2, apresentam-se os dados referentes a indicadores de produção e fruição de conteúdo, que caracterizam uma sociedade da informação plena. Nota-se uma forte presença de indicadores referentes à fruição e poucos indicadores de produção de conteúdo, da mesma forma que os sistemas de métricas vistos na seção anterior. Tabela 2 Indicadores da sociedade da informação Fonte CGI 4 IBGE 5 Funredes 6 Participação na sociedade informacional: produção e fruição de conteúdo - Proporção de indivíduos que já utilizaram um computador - Proporção de indivíduos que usaram um computador último acesso - Frequência de uso individual do computador - Proporção de indivíduos que já acessaram a Internet - Proporção de indivíduos que acessaram a Internet último acesso - Frequência do acesso individual à Internet - Tempo gasto na Internet por semana - Propósitos das atividades realizadas na Internet - Proporção de indivíduos que usam a Internet para se comunicar - Proporção de usuários que desenvolvem atividades de comunicação na Internet - Proporção de indivíduos que usam a Internet para buscar informações - Proporção de usuários que desenvolvem atividades de busca de informações na Internet - Proporção de indivíduos que usam a Internet para o lazer - Proporção de atividades de lazer desenvolvidas na Internet - Proporção de indivíduos que usam a Internet para serviços financeiros - Proporção de atividades desenvolvidas na Internet relativas a serviços financeiros - Proporção dos motivos pelos quais nunca utilizou a Internet - Proporção dos motivos pelos quais não utilizou a Internet recentemente - Proporção de indivíduos que utilizaram governo eletrônico nos últimos 12 meses - Serviços de governo eletrônico utilizados - Serviços de governo eletrônico que gostaria de utilizar - Proporção dos motivos para não utilizar governo eletrônico - Proporção de indivíduos que usaram telefone celular nos últimos três meses - Proporção de indivíduos que possuem telefone celular - Tipo de telefone celular: pré-pago x pós-pago - Proporção de indivíduos que possuem telefone celular com acesso à Internet - Proporção de atividades realizadas pelo telefone celular - Tipo de conta de e-mail utilizada - Quantidade de contas de e-mail utilizadas - Principal conta de e-mail utilizada - Proporção de indivíduos que já compraram produtos e serviços pela Internet - Motivos mais frequentes para não comprar pela Internet - Proporção de indivíduos que já divulgaram ou venderam algum bem ou serviço pela Internet - Proporção de indivíduos que usam Internet para educação e atividades desenvolvidas - Número de domínios de Internet - Pessoas que utilizaram ou não a Internet nos últimos três meses, por grandes regiões, sexo, grupos de idade, anos de estudo, estudantes, situação de ocupação, estados, regiões metropolitanas e classes de rendimento - Motivo da não utilização da Internet - Frequência de utilização da Internet - Finalidade do acesso à Internet - Presença relativa do português na Internet (em relação ao inglês) 4 Fonte: Comitê Gestor da Internet no Brasil (http://www.cgi.br:). 5 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (http://www.ibge.gov.br). 6 Fundación Redes y Desarrollo, Observatorio de la Diversidad Linguística y Cultural en la Internet (http://www.funredes.org/lc). Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 5, n. 1, p. 7-20, jan./jun. 2009 11

Os dados fornecidos pelo CGI (2006) apresentam características do uso da Internet pelos indivíduos, como frequência e propósitos de uso e motivos da não utilização, além dos principais serviços on-line referentes a entretenimento, governo e comércio eletrônicos. Por meio desses dados, é possível conferir as diferenças qualitativas entre os usuários com relação ao uso que fazem da Internet. Esse é, aliás, um aspecto da sociedade informacional que recentemente passou a receber mais atenção. Além de haver indivíduos com e sem acesso à Internet, há entre os usuários aqueles que a usam com uma frequência maior, com propósitos distintos e beneficiando-se mais ou menos em decorrência de uma série de fatores que caracterizam o seu uso. Tal gradação de uso das TICs é um aspecto altamente relevante para a discussão sobre políticas de ID. Evidenciam-se não somente a brecha digital entre os que usam e não usam as TICs, mas também as diferenças quanto à qualidade e intensidade de uso e aos seus propósitos. Para destacar essa nuança na análise, Hargittai (2004) emprega o termo desigualdade digital como alternativa aos termos de conotação dicotômica brecha ou exclusão, que enfatizam as categorias usuário e não usuário. Tal gradação qualitativa também acomete as demais camadas. Por exemplo, na camada de acesso, Hargittai refere-se à qualidade dos equipamentos (capacidade de memória, velocidade e armazenamento do PC) e à velocidade de conexão. Apesar de haver razoável quantidade de dados coletados sobre usufruto da Internet, poucos referentes à produção de conteúdo encontram-se disponíveis. Há o número de domínios de Internet, que fornece uma ideia incompleta sobre a quantidade de websites produzidos nacionalmente. Além desse indicador, a Funredes divulga a quantidade de conteúdo de Internet em português. Esse indicador merece menção por dar uma ideia das dimensões da produção de conteúdo nacional e local, bem Tabela 3 Indicadores de inteligibilidade como do grau de dificuldade de assimilação do conteúdo de Internet, já que boa parte dele pode depender do domínio de outras línguas pelo usuário. Porém, não faz distinção entre o conteúdo em língua portuguesa de origem brasileira e os dos demais países lusófonos. Com relação ao aspecto da inteligibilidade, há pouca informação disponível. Os dados existentes, que poderiam ser utilizados para representar algumas características dessa camada de ID, referem-se às informações relativas à alfabetização digital ou às habilidades dos indivíduos em usar computador e Internet, e às formas de obtenção dessas habilidades. O CGI reúne esses indicadores, relacionados na Tabela 3. Com esses dados de inteligibilidade, é possível compor um quadro sobre o grau de alfabetização digital da população brasileira, a quantidade de pessoas que já realizaram cursos de informática e quais as suas habilidades de uso de computador e Internet. Contudo, essas informações não revelam muito sobre a situação das pessoas com nível baixo de alfabetização ou com deficiência, nem em que medida os treinamentos disponíveis conseguem atender a esse público específico. Quanto à usabilidade e acessibilidade, não há, no momento, dados secundários referentes a esses aspectos que sejam comumente levantados por pesquisas de grande abrangência geográfica e que se encontrem disponíveis para consulta. Por fim, dados sobre meios físicos de acesso são os mais abundantes. Isso é compreensível, já que constituem o aspecto mais tangível da ID. Compõem o conjunto de indicadores de meios de acesso aqueles referentes à presença de computador, Internet e celular nos domicílios, aos locais de acesso a computador e Internet e à conectividade. Esta última refere-se à disponibilidade de infraestrutura de rede nas localidades, como municípios com banda larga, presença de telecentros nos municípios e escolas com computador e Internet. Na Tabela 4, são apresentados os principais indicadores de acesso às TICs atualmente disponíveis. Fonte Indicadores de inteligibilidade CGI - Habilidades relacionadas ao uso do computador - Forma de obtenção das habilidades para uso do computador - Proporção de indivíduos que realizaram cursos de informática - Motivos pelos quais não fez cursos de computação - Habilidades com computador suficientes para o mercado de trabalho - Habilidades relacionadas ao uso da Internet 12 Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 5, n. 1, p. 7-20, jan./jun. 2009

Tabela 4 Indicadores da camada de meios de acesso Fontes CGI IBGE Teletime IBICT INEP-MEC CGI ITU Características do acesso: conectividade e difusão - Proporção de domicílios que possuem equipamentos TIC - Proporção de domicílios com computador - Tipo de computador presente no domicílio - Tipo de sistema operacional utilizado computador de mesa - Proporção de domicílios com acesso à Internet - Tipo de equipamento para acesso à Internet no domicílio - Tipo de conexão para acesso à Internet no domicílio - Velocidade da conexão à Internet utilizada no domicílio - Formas de distribuição do acesso à Internet no domicílio - Barreiras ao acesso à banda larga no domicílio - Barreiras ao acesso à Internet no domicílio - Local de uso individual do computador - Local de acesso individual à Internet - Valor máximo declarado para aquisição de computador - Valor máximo declarado para aquisição de acesso à Internet - Local de acesso à Internet no período de referência dos últimos três meses - Tipo de conexão à Internet no domicílio - Tabelas sobre posse de telefone móvel celular para uso pessoal - Municípios com banda larga - Municípios com TV por assinatura - Terminais públicos por município - Telefonia móvel: operadoras e rede de dados - Presença de backbones - Centros de acesso público governamental nos municípios - Escolas com computador e Internet - Número de hosts - Número de domínios brasileiros na Internet - Percentual da população coberta por telefonia celular - Tarifas de acesso à Internet (20 h/mês), US$, % renda per capita - Tarifa de celular (100 min/mês), US$, % renda per capita - Linhas de telefone fixo por 100 habitantes - Assinantes de telefone celular por 100 habitantes - Computadores por 100 habitantes - Assinantes de Internet fixa/100 habitantes - Assinantes de Internet móvel/100 habitantes - Assinantes de Internet banda larga/100 habitantes - Assinantes de Internet móvel banda larga/100 habitantes - Banda passante internacional por habitante Vale mencionar que os indicadores extraídos de ITU (2005), presentes na Tabela 4, compõem o Digital Opportunity Index (DOI), índice proposto pela ITU para comparação internacional da difusão das TICs e da conectividade. Embora os dados de acesso sejam abundantes, a dificuldade de obtê-los é maior quando se trata de pequenos municípios. Os dados fornecidos por Teletime (2008), por exemplo, referem-se a municípios com mais de 24 mil habitantes. De um universo de quase 5,6 mil municípios, 4 mil apresentam até 20 mil habitantes. Em geral afastadas e, em alguns casos, de difícil alcance pelas redes físicas e sem fio (excetuando-se o satélite), essas pequenas localidades apresentam retornos de escala reduzidos para os serviços de comunicações e são, justamente por isso, as mais afetadas pela exclusão digital. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 5, n. 1, p. 7-20, jan./jun. 2009 13

4 Identificando novos indicadores para a avaliação de políticas de ID Conforme visto na Seção 2, com base na observação dos dados disponíveis sobre a sociedade da informação e do estado da inclusão digital no Brasil, conclui-se que os dados sobre acesso e conectividade são os mais abundantes e diversificados. Constituem a principal base de índices e indicadores comumente usados em sistemas de métricas e benchmarkings internacionais. O conjunto de indicadores brasileiros disponíveis também é rico em informações sobre o uso que se faz da Internet e do computador, em especial os dados fornecidos pelo CGI (2006). No entanto, alguns aspectos fundamentais da ID figurados no modelo de camadas encontram pouca representação entre os dados atualmente coletados. São eles a inteligibilidade, a usabilidade e a acessibilidade e o conteúdo nacional produzido para a Internet. A seguir, são feitas considerações sobre a obtenção desses dados de forma indireta, deduzindo alguma informação a partir do que já existe. Além disso, discutem-se a necessidade de coletar novos dados e os meios para a coleta 7. Como alternativas de mensuração do conteúdo nacional produzido, sugere-se verificar as estatísticas de uso da Internet que refletem a geração de conteúdo pelo próprio usuário. Exemplos de atividades geradoras de conteúdo desse tipo são a participação em salas de batepapo e fóruns de discussões, o compartilhamento de arquivos e a criação de websites pessoais. O OECD (2007) define o conceito de conteúdo gerado pelo usuário (usercreated content) como aquele que tem origem criativa e fora do contexto profissional, disponibilizado ao público por meio de sítios especializados em abrigar fotos, imagens, textos, música e vídeos enviados por usuários, tais como blogs, textos de colaboração (wikis), podcasts, redes sociais, sítios de compartilhamento de conteúdo, sítios de relacionamento e sítios educacionais (criados por escolas e universidades), entre outros. Por enquanto, as formas de mensuração são rudimentares. Mas já existem alguns levantamentos internacionais e discussões sobre a crescente relevância econômica e social do conteúdo gerado pelo usuário. No Brasil, somente alguns desses dados são contemplados nos levantamentos do CGI (2006), sob a denominação de atividades desenvolvidas na Internet comunicação. Com relação ao aspecto da inteligibilidade, uma maneira indireta de obter informações seria comparando as habilidades e as atividades de Internet de grupos de usuários com diferentes 7 Tais considerações tomam por base o estudo feito por Menezes et al. (2007b). médias de anos de estudo. Quanto mais complexa a atividade e menor o emprego de recursos de usabilidade e de linguagens adaptadas, maior poderá ser a dificuldade de uso pelos menos escolarizados. Por isso, o cruzamento entre as variáveis anos de estudo e habilidades pode revelar em que medida a escolaridade afeta a capacidade de realizar atividades como envio de e-mail, compras e serviços de governo eletrônico. Com o auxílio desse indicador indireto, políticas de ID podem ser concebidas, de um lado, para estimular o aprendizado digital entre o público socialmente mais vulnerável e, de outro, ações podem ser tomadas para estimular o desenvolvimento de interfaces mais intuitivas, que facilitem o uso dos serviços de Internet. Praticamente não existem elementos para avaliar o uso de TICs por pessoas com deficiência, já que as pesquisas atualmente conduzidas não verificam se o entrevistado apresenta essa condição. No momento, conta-se somente com a informação de que menos de 1% dos que nunca usaram Internet aponta como motivo ter alguma deficiência física (CGI, 2006). É necessário saber em que medida as deficiências atuam como barreira de acesso à Internet, para que se possa propor mecanismos que atenuem as dificuldades desses usuários. Por isso, sugere-se que tal aspecto seja investigado em pesquisas futuras capazes de identificar a existência de relação entre deficiência e acesso às TICs. O percentual de pessoas com deficiência que acessam a Internet pode ser acrescentado a futuras pesquisas. Esse pode ser um indicador da necessidade de se disponibilizar recursos com interfaces e tecnologias adequadas a pessoas com deficiência. E a evolução no tempo do número de usuários de Internet entre esses grupos mais vulneráveis seria o indicativo de sucesso das políticas propostas. Quanto à dificuldade de usuários com níveis precários de alfabetização, uma forma de avaliála seria por meio do número de pessoas de baixa escolaridade que acessam computador e Internet e sua evolução no tempo. O percentual de pessoas que usam computador e Internet por escolaridade pode ser usado como um indicador indireto da existência de recursos que atendam usuários não alfabetizados, já que a escolaridade pode estar associada à dificuldade de um usuário compreender o conteúdo e a lógica de navegação de um website. Também caberia avaliar se esses indivíduos acessam sempre os mesmos conteúdos e suas características. Como possíveis caminhos para o aperfeiçoamento dos indicadores e dos instrumentos de coleta de dados, vale mencionar a proposta de Hargittai (2005) para a medição 14 Cad. 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das habilidades dos usuários de Internet e da desigualdade entre eles. O grau de habilidade pode ser medido por meio de testes de avaliação do desempenho do uso na Web. A vantagem desse procedimento reside na eliminação do viés da autopercepção dos usuários, que, apesar de sua imprecisão, é hoje a fonte de informação sobre habilidades das pesquisas atuais. Contudo, trata-se de uma forma mais custosa de pesquisa e apresenta dificuldades de ser posta em prática. Para viabilizá-la, esse tipo de pesquisa pode ser feito em caráter complementar aos dados tradicionalmente coletados. Um exemplo de pesquisa qualitativa é descrito em Hargittai (2004). Nesse estudo, é analisado o comportamento dos usuários ao navegar na Internet, verificando as habilidades em localizar conteúdos e a capacidade de entender a informação obtida. Outro exemplo é o estudo de Santaella (2004), que observa o comportamento de usuários de Internet com o intuito de detectar quais são as habilidades perceptivas e cognitivas requeridas na experiência de navegação que a diferencia das experiências de usufruto de outras mídias, como o livro e a televisão. Se bem conduzidas, essas pesquisas podem revelar peculiaridades da ID que podem ter grande relevância na formulação de políticas dedicadas ao estímulo ao uso de TICs mais complexas, como a Internet, por pessoas com níveis diversos de familiaridade com as mídias digitais. Para coletar dados de usabilidade e acessibilidade, o principal caminho seria avaliar os sítios de Internet. Como primeiro passo, verifica-se, por exemplo, se a construção dos sítios segue algum padrão ou norma de usabilidade e acessibilidade. Alguns estudos exemplificam como obter esse tipo de dado. Um deles é o de Marincu e McMullin (2004), que realizaram uma avaliação da acessibilidade de sítios selecionados com base nos padrões descritos pelo W3C Web Content Accessibility Guidelines (WCAG 1.0). A avaliação utiliza o software Bobby WorldWide, desenvolvido para testes automáticos de aderência de sítios aos padrões do W3C, semelhantemente à avaliação feita em UN-UNPAN (2005) e Velleman et al. (2007). A conclusão desse estudo é que poucos sítios de Internet oriundos de instituições públicas e privadas nos países europeus oferecem um nível satisfatório de acessibilidade: entre 94% e 99% dos sítios testados apresentam alguma falha. Outro estudo que propõe uma avaliação abrangente de serviços públicos on-line é apresentado por EPAN (2005). Sua metodologia compreende entrevistas com os formuladores e implementadores de políticas (policy makers) para levantar informações sobre estratégias 8 DaSilva encontra-se disponível para uso em http://www.dasilva.org.br/. nacionais, arcabouços legais, monitoração, treinamento, ferramentas e sistemas de certificação relativos a serviços e aplicações de governo eletrônico (e-gov). Inclui também avaliações manuais e automatizadas de sítios governamentais na Internet, valendo-se de ferramentas baseadas em iniciativas mundiais de padronização dos critérios de acessibilidade online. Na avaliação preliminar feita no âmbito desse estudo, a verificação automática revelou que 70% dos websites apresentam falhas generalizadas, mostrando que apenas uma minoria atende aos critérios de acessibilidade. Tal padrão observado no setor público se aplica a sítios de Internet oriundos do setor privado. Apenas dois, entre os 25 países europeus pesquisados, apresentam efetivamente planos governamentais para ampliar a acessibilidade dos serviços de governo eletrônico. Por outro lado, mais da metade deles prevê, em sua legislação, acesso inclusivo a websites. Além disso, 9 entre 24 países oferecem incentivos legais a sítios de Internet para atingirem um patamar mínimo de acessibilidade. E mais da metade dos países já monitora a acessibilidade de seus sítios de Internet governamentais. O estudo aponta os países com as melhores práticas (Austrália, Canadá, Hong Kong) e apresenta recomendações de políticas, como a avaliação periódica dos websites, o que requer o estabelecimento de um conjunto de indicadores. Também no Brasil existem iniciativas para verificar a acessibilidade on-line. Um exemplo é o desenvolvimento de aplicativos de avaliação automática, como o DaSilva 8. Mais recentemente, foi divulgado um estudo de medição da qualidade dos serviços de governo eletrônico conduzido pelo Departamento de Governo Eletrônico do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (DGE-SLTI- MPOG, 2007). A metodologia empregada nesse estudo utiliza indicadores referentes a: maturidade do serviço eletrônico, comunicabilidade, multiplicidade de acesso, níveis de acessibilidade, disponibilidade, confiabilidade e transparência. Em uma avaliação-piloto, foram coletados dados sobre os serviços mais usados pela população, como declaração de imposto de renda, consulta a CPF, emissão de segunda via de IPTU e busca por postos municipais de saúde. A avaliação da usabilidade e acessibilidade desses serviços pode fornecer indicadores que retratam o estado em que se encontra essa camada de ID e facilitar o estabelecimento de metas para implementar melhorias. Aplicadas em nível nacional, as avaliações difundiriam conhecimento sobre o nível de usabilidade e acessibilidade dos serviços de e-gov brasileiros. Isso colaboraria para a Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 5, n. 1, p. 7-20, jan./jun. 2009 15

formulação de políticas mais direcionadas, servindo inclusive de modelo de usabilidade e acessibilidade aos serviços eletrônicos privados. Muitas das sugestões de levantamento de dados aqui apresentadas requerem mudanças nas metodologias atuais de pesquisa (por exemplo, introduzir novos elementos nos questionários das principais pesquisas feitas atualmente no Brasil). Enquanto isso não ocorre, é possível desenvolver pesquisas de menor porte e a custos não elevados para verificar os aspectos referentes às barreiras à ID. Pesquisas de dimensões reduzidas apresentam resultados mais difíceis de generalizar, mas podem fornecer informações interessantes em caráter comparativo (isto é, comparando-se pesquisas realizadas periodicamente). Na ausência de recursos para conduzir pesquisas primárias junto à população em geral, tais pesquisas poderiam ser conduzidas junto aos usuários de telecentros, por meio, por exemplo, de questionários aplicados via Internet ou pelos monitores dos telecentros, incluindo, na medida do possível, os não usuários dos bairros vizinhos. Esse procedimento é proposto partindo do pressuposto de que telecentros, e mesmo locais Tabela 5 Indicadores complementares de ID Camada: sociedade informacional de acesso pago à Internet (como LAN houses e cibercafés), podem ser usados como instrumento de políticas para a ID. Outra sugestão complementar é incentivar os levantamentos de dados junto a telecentros (como o que o governo dispõe em www.ibict.gov.br para cadastro de telecentros), para verificar, além do perfil de seus usuários, a proporção dos que disponibilizam recursos ergonômicos e se as suas instalações apresentam acessibilidade física. Essas informações mostrarão se as medidas que visam a facilitar o uso da Internet pelo público-alvo têm surtido efeito, e se o uso da Internet por esse público-alvo evolui de modo a obter um proveito maior do que é ofertado pela sociedade da informação, o que caracteriza a plena ID. Na Tabela 5, apresentam-se sugestões de novos indicadores a serem medidos em pesquisas primárias para complementar os indicadores existentes, apresentados na seção anterior. Muitas das sugestões são oriundas de pesquisas já realizadas (consulte, por exemplo, Neri, 2006) para verificar a efetividade dessas iniciativas para o propósito de ID e cobrir os aspectos aqui discutidos. - Perfil socioeconômico dos usuários de computador e Internet (incluindo a existência de deficiência física e sensorial) - Monitoramento do tempo médio em que os usuários utilizam o acesso à Internet - Tempo de cadastro dos usuários no telecentro - Quantidade de usuários cadastrados - Quantidade diária de usuários que frequentam a iniciativa - Frequência de uso - Motivos para frequentar o telecentro - Horários habituais de uso do telecentro - Tempo de uso - Serviços utilizados (Skype, e-mail, mensagens instantâneas; sítios de notícias, variedades, compras, busca de informações; busca de emprego; criação de website pessoal; banco eletrônico; governo eletrônico; jogos; download de filmes, música, software; atualização de blogs e fotoblogs; uso de áudio/videoconferência; utilização de planilha e editor de texto; notícias; televisão; rádio; reclamações de serviços, etc.) - Tipo de conteúdo mais acessado - Serviços de e-gov utilizados: declaração de isento de IR, consulta de IPVA, consulta de multas de trânsito, etc. - Percepção do usuário: Internet é fácil ou difícil de usar? Atitude do usuário em relação ao computador/internet - Benefícios do uso do computador/internet apontados pelo usuário - Pretende continuar usando o telecentro? - Melhorias sugeridas para o telecentro - Criação de conteúdo pelo usuário: textos, fotos, música, vídeos, jornalismo cidadão 16 Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 5, n. 1, p. 7-20, jan./jun. 2009

Tabela 5 Indicadores complementares de ID (continuação) Camada de inteligibilidade - Cursos mais frequentados - Presença de monitor - Já precisou pedir auxílio ao monitor? - Avaliação do monitor e da ajuda do monitor - Cursos de informática Internet, ferramentas Office, outros - Uso de segunda língua (inglês); para aqueles que não sabem inglês, se sentem que a falta dessa habilidade dificulta ou limita o aproveitamento da Internet - Acesso a conteúdos locais e culturalmente contextualizados Camada de usabilidade e acessibilidade - Existência de equipamentos e aplicativos adaptados para pessoas com deficiência (teclados especiais, leitores de tela, mesa para computador apropriada para cadeirantes, etc.) - Presença de recursos e características acessíveis nas instalações do telecentro (rampa de entrada, etc.) Camada de acesso - Largura de banda utilizada para acesso à Internet, por computador - Especificações dos computadores (memória, processador, HD, clock) - Horários de pico - Acessou computador/internet de outros lugares? - Já acessou Internet ou e-mail pelo celular? Dados complementares - Perfil do usuário: idade, sexo, raça, escolaridade, renda familiar, deficiência - Uso de outras TICs (celular, rádio, televisão) - Hábitos de leitura do usuário Fonte: Neri (2006); OECD (2007); CGI (2006). O monitoramento dos indicadores, tanto primários quanto secundários, ao longo do tempo, contribui para a identificação da propensão dos indivíduos a utilizar a Internet e também para a identificação dos pontos problemáticos (por exemplo, interfaces e linguagens empregadas em sítios de serviço público que requerem remodelamento). Conclusão Para o efetivo planejamento e avaliação de políticas de promoção da inclusão digital no contexto brasileiro, é necessário utilizar indicadores que representem integralmente todos os aspectos relativos à ID. Neste trabalho, identificou-se a ausência de informações relevantes entre os dados atualmente coletados com o auxílio de um modelo de camadas de ID. Constatou-se que há uma abundância de dados secundários referentes às camadas de fruição e produção de conteúdo (sociedade informacional) e acesso, alguns dados sobre inteligibilidade e raros dados sobre usabilidade e acessibilidade. Além disso, observa-se que mesmo os dados facilmente encontrados geralmente se referem aos municípios com mais de 20 mil habitantes. Embora as barreiras de ID sejam representadas apenas parcialmente pelos indicadores existentes, boa parte desses indicadores pode ser aproveitada para esse propósito. A partir das lacunas existentes no conjunto de indicadores de ID, ficou clara a necessidade de se identificar novos dados para complementar o leque de informações pertinentes ao planejamento de políticas públicas. Para cobrir tais lacunas, sugeriu-se um conjunto de dados primários a serem coletados periodicamente. Tais dados permitiriam verificar de que modo o uso das TICs especialmente do computador e da Internet evolui no tempo, identificando as principais barreiras à ID e as ações mais Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 5, n. 1, p. 7-20, jan./jun. 2009 17

adequadas para reduzi-las. Cabe lembrar, contudo, que a introdução de novos indicadores em levantamentos primários incorre em custos adicionais para a sua obtenção. A decisão de incorporar novos indicadores passa, portanto, pela análise do trade-off entre os custos de obter a nova informação e o ganho em conhecimento que a nova informação agregará à atividade de planejamento. A motivação que está na origem deste estudo consiste na identificação dos indicadores a serem monitorados nos testes de campo do STID. Tais indicadores subsidiarão as etapas previstas referentes ao planejamento nacional da implantação dos serviços desenvolvidos no âmbito desse projeto. Além de atender aos propósitos específicos do projeto STID, espera-se oferecer novos elementos para o planejamento e a avaliação de políticas gerais de ID, de modo que lance luz sobre todos os aspectos necessários à superação das principais barreiras à ID, dado o perfil da população brasileira e o contexto socioeconômico do País. Agradecimento Este trabalho recebeu suporte do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (FUNTTEL). Referências ASOCIACIÓN LATINOAMERICANA DE INTEGRACIÓN (ALADI). La brecha digital y sus repercusiones en los países miembros de la ALADI. ALADI/SEC/Estudio, n. 157. Rev 1, jul. 2003. ÁVILA, I. M. A.; HOLANDA, G. M. Inclusão digital no Brasil: uma perspectiva sociotécnica. In A.A. Souto, J.C. Dall'Antonia & G.M.Holanda (Orgs.), As cidades digitais no mapa do Brasil: uma rota para a inclusão digital: 13-60. Brasília, DF: Ministério das Comunicações, 2006. BISER. BISER eeurope Regions Benchmarking Report. European Community - Information Society Technology Programme, 2004. CAIBI. Relación de indicadores TIC en los países de la CAIBI. CAIBI, 1999. Disponível em: <www.caibi.org>. Acesso em: 20 jun. 2007. COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL (CGI). Pesquisa sobre o uso das TICs no Brasil, 2006. Disponível em: <http://www.cetic.br/ indicadores>. Acesso em: 22 abr. 2008. DGE-SLTI-MPOG (Departamento de Governo Eletrônico Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão). Indicadores e métricas para avaliação de e-serviços/departamento de Governo Eletrônico. Brasília: MP, 2007. DUTTA, S. et al. The Global Information Technology Report 2005-2006: Leveraging ICT for Development. WEF-INSEAD, 2006. EPAN (European Public Administration Network). eaccessibility of public sector services in the European Union. UK Cabinet Office, 2005. Disponível em: <http://archive.cabinetoffice.gov.uk/egovernment/resources/eaccessibility/index.asp>. Acesso em: 15 out. 2007. HARGITTAI, E. Classifying and Coding Online Actions. Social Science Computer Review, v. 22 n. 2, p. 210-227, 2004. HARGITTAI, E. Survey Measures of Web- Oriented Digital Literacy. Social Science Computer Review, v. 23, n. 3, p. 371-379, 2005. HOLANDA, G. M.; DALL'ANTONIA, J. C. An Approach for e-inclusion: Bringing illiterates and disabled people into play. Journal of Technology Management and Innovation, v. 1, n. 3, 2006. HUSING, T.; SELHOFER, H. DIDIX: A Digital Divide Index for Measuring Inequality in IT Diffusion. IT & Society, v. 1, n. 7,p. 21-38, 2004. INTERNATIONAL TELECOMMUNICATION UNION (ITU). World Telecommunication Development Report 2003: Access Indicators for the Information Society. Genebra: ITU, 2003. INTERNATIONAL TELECOMMUNICATION UNION (ITU). Measuring Digital Opportunity. Coreia: ITU Thematic Meeting, Jun. 2005. MANSELL, R.; WEHN, U. Knowledge Societies: Information Technology for Sustainable Development. Oxford & New York: Oxford University Press, 1998. MARINCU, C.; MCMULLIN, B. A. Comparative assessment of Web accessibility and technical standards conformance in four EU states. First Monday, vol. 9, no. 7, Jul. 2004. Disponível em: <http://firstmonday.org/>. Acesso em: 1 nov. 2007. MENEZES, E. et al. Sistema de Métricas de Inclusão Digital: estado da arte e análise da adequação à realidade brasileira. Projeto Soluções de Telecomunicação para Inclusão Digital. Campinas: CPqD-FUNTTEL, 2007(a). 18 Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 5, n. 1, p. 7-20, jan./jun. 2009

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