CÃES DOMÉSTICOS EM UMA PAISAGEM FRAGMENTADA: ABUNDÂNCIA E USO DE HÁBITATS NA ZONA RURAL DE SÃO LUIZ DO PARAITINGA (SP).

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Transcrição:

COMUNICAÇÃO SOBRE PROJETO EM ANDAMENTO CÃES DOMÉSTICOS EM UMA PAISAGEM FRAGMENTADA: ABUNDÂNCIA E USO DE HÁBITATS NA ZONA RURAL DE SÃO LUIZ DO PARAITINGA (SP). Patrícia Carignano Torres 1 e Paulo Inácio de Knegt López de Prado 2 Em várias situações cães tem atuado como uma espécie exótica invasora, perturbando e modificando ecossistemas nativos. O objetivo deste projeto é obter os dados ecológicos básicos da população de cães em duas áreas ao redor de dois fragmentos de mata: estimativa do tamanho de sua população (censo) e caracterização de seu regime de manejo pela população humana com a qual se relacionam, através de entrevistas com os proprietários; e uso de cada habitat (antropizado e fragmento florestal), através de armadilhas de pegadas. O projeto teve início em outubro de 2004 e tem previsão de término em outubro de 2005. As áreas estudadas se localizam no município de São Luiz do Paraitinga, Estado de São Paulo. Este município localiza-se entre o Vale do Paraíba e a Serra do Mar, no noroeste do estado (figura 1). Faz divisa com os municípios de Taubaté, Lagoinha, Redenção da Serra, Natividade da Serra, Cunha e Ubatuba. As áreas de estudo estão nas duas regiões do município estudados pelo projeto Biodiversidade e processos sociais em São Luiz do Paraitinga, SP, que são denominadas paisagens (figura 2). A matriz destas duas paisagens ( pasto e eucalipto ) é composta por pastos, embora esses ocupem uma porcentagem menor da paisagem Eucalipto (39%, contra 47% na paisagem Pasto). As duas paisagens possuem frações muito similares de suas áreas ocupadas por mata (15% na Eucalipto e 16% na Pasto) e capoeira (34% contra 31%). As áreas escolhidas para estudo se localizam ao redor de dois fragmentos de mata (2 km de raio a partir do fragmento escolhido), sendo um fragmento em cada paisagem. Denominados de Sidnei (na paisagem pasto) e Votorantin Pequeno (na paisagem eucalipto), figuras 3 e 4. A densidade de cães que são mantidos soltos e cujos donos moram na área é de 6,9 por km 2 ao redor do fragmento Sidnei e 5,3 por km 2 ao redor do fragmento Votorantin Pequeno, as quais são altas para carnívoros. 57,8% e 30,4%, respectivamente, dos cães saem da propriedade desacompanhados, segundo seus donos. Todos os donos declararam que alimentam seus cães todos os dias, pelo menos duas vezes ao dia. A alimentação é baseada em ração, restos de comida ou os dois (figuras 5 e 6). Porém, há relatos de cães que se alimentam fora e que já caçaram animais silvestres (ouriço, gato-do-mato, cobra, paca), 8,8% dos cães ao redor do fragmento Sidnei e 13% ao redor do fragmento Votorantin. Para verificar se havia animais sem dono, e que, portanto, não foram incluídos do censo através das entrevistas, as áreas foram percorridas e os animais encontrados foram fotografados para posterior identificação. Na área do fragmento Sidnei não foi encontrado nenhum cão sem dono. Na área do fragmento Votorantin Pequeno foram encontrados dois cães, que habitam o aterro sanitário do município, e segundo trabalhadores do aterro, não têm dono. Esses animais foram então incluídos no censo. As parcelas de areia (70 cm X 70 cm) foram colocadas em dois fragmentos de mata em cada área de estudo (Sidnei e Mineração, na área do fragmento Sidnei e Votorantin Pequeno e Votorantin Grande, na área do fragmento Votorantin Pequeno). Sete parcelas na borda, sete na mata e sete na matriz em cada um deles, sendo no total 21 por fragmento e 42 por área. Foram 1 Graduação em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Campinas, SP. patriciactorres@gmail.com. 2 Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais, Universidade Estadual de Campinas, SP. prado@unicamp.br

usadas duas essências para atrair carnívoros, como isca, uma que atua para perto e outra para longe. Elas eram pingadas nas parcelas de dois em dois dias (duas gotas cada essência). As parcelas foram inspecionadas a cada dois dias durante 10 dias consecutivos, porém apenas cinco dias consecutivos sem chuva. Portando, durante três dias a identificação das pegadas foi comprometida, pois a areia estava muito molhada e algumas pegadas foram apagadas. As parcelas de areia serão colocadas pelo menos mais uma vez em cada fragmento e inspecionadas durante pelo menos cinco dias consecutivos. O animal com maior número de visitas às parcelas localizadas na mata e na borda foi o gambá, com 63 registros (Figura 7). Cachorro doméstico foi o animal com maior número de visitas às parcelas localizadas na matriz (22 registros) em três dos quatro fragmentos, e na borda (10 registros) em dois fragmentos. Também foram registradas pegadas de cães domésticos na mata em dois fragmentos, dois registros (Figura 8). Outro carnívoro com registro de pegadas foi o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), dois registros na matriz de um dos fragmentos. Algumas pegadas ainda não foram identificadas. As densidades de cães das duas áreas são bastante altas (5 a 8 ind/km 2 ). Isto é facilmente observado se comparadas às densidades encontradas com as de outros carnívoros e onívoros de pequeno porte que habitam florestas neotropicais, tais como cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), gato-maracajá (Leopardus wiedii), jaguarundí (Herpailurus yaguaroundi), jaguatirica (Leopardus pardalis) e gambá (Didelphis aurita). Na área em torno do fragmento do Sidnei, a densidade de cães que andam soltos é duas vezes maior que a densidade máxima estimada para o cachorro-do-mato, um canídeo, que assim como o cão doméstico é generalista e tem uma área de vida pequena. (Facure, 1996). A matriz rural, com grande número de residências, explica facilmente a grande densidade de cães nas áreas. A ocorrência de C. familiaris no Parque Nacional de Brasília, por exemplo, não foi influenciada por características internas do PNB, como tipo de vegetação, e sim por características externas. O parque está inserido numa matriz rural e remanescente rural em crescente processo de urbanização, além da proximidade de áreas já urbanizadas (Lacerda, 2002). A paisagem fragmentada e predominantemente rural pode proporcionar um ambiente muito propício ao uso da área pelos cães domésticos, uma vez que muitos mamíferos domésticos de paisagens urbanas e rurais parecem ser adaptados à borda de fragmentos de vegetação nativa, e causam impactos negativos, como aumento da predação e parasitismos em populações silvestres (Buecher, 1987). Assim como nas áreas estudadas, a população de cães do PNB é formada por cães domésticos que têm donos (além de errantes oriundos da matriz externa), que confiam em recursos alimentares provenientes da população humana. Áreas de aterro sanitário também podem ser fontes de alimento, como é o caso do PNB, bem como de uma das áreas de estudo. Quanto à predação, se todos os que cães que já trouxeram algum animal silvestre para casa caçaram esses animais, uma vez que dois desses donos já presenciaram seu animal caçando, a densidade de cães que caçam seria, no mínimo, de 0,72 ind/km 2 na área em torno do fragmento do Sidnei e 0,95 ind/km2 em torno do fragmento Votorantin pequeno, o que ainda é um número comparável à densidade estimada de cachorro-do-mato (Gaspar, 2005). Porém alguns desses podem ter trazido a carcaça de um animal já morto, sendo assim os números acima podem estar superestimados. Por outro lado, muitos donos desconhecem o comportamento de seus animais quando eles estão fora, logo, esses valores também podem estar subestimados. A caça por cães domésticos pode ser uma ameaça a espécies nativas, como é o caso do lobo-guará no cerrado, onde a presença de cães é um importante fator de risco para as populações dessa espécie, uma vez que eles podem agrupar-se em matilhas e assim predar animais de grande porte (Rodrigues, 2002). No Parque Nacional de Brasília (PNB) foi estimado que nos últimos 20 anos a causa da mortalidade mais freqüente da fauna nativa foi o ataque de cães (Horowitz, 1992). Lacerda (2002), diz que há indícios que os cães no PNB estejam mais

envolvidos em jogos instintivos de predador-presa do que em caça de subsistência, uma vez que eles contam com recursos localmente abundantes, fornecidos direta ou indiretamente por humanos. Este pode ser o caso dos cães que caçam nas áreas que estou estudando, já que todos recebem alimentação de seus donos. Os dados obtidos através das parcelas de areia mostram que os cães usam mais freqüentemente a matriz e a borda do fragmento, apesar de ocasionalmente entrarem na mata. Pode ser que assim como no caso do PNB, a ocorrência de cães se comporta como um efeito de borda, associado com o processo crescente de urbanização da matriz rural e rural remanescente, e com áreas urbanas já estabelecidas (Lacerda, 2002). Assim, eles podem atuar como competidores com outras espécies carnívoras e onívoras que habitam o local, podendo até deslocá-las para outros locais, se forem predadores mais eficientes. E também serem importantes predadores de espécies que habitam a borda do fragmento, aumentando o impacto de predação nessas espécies. A presença de cães ferais na área também é pouco provável, uma vez que os moradores relatam ver poucos cães sem dono e que esses geralmente começam a serem tratados por algum morador. Porém podem não ser avistados por usarem pouco as estradas. A presença de cães ferais é atualmente um dos principais fatores de extinção dos mamíferos terrestres na Reserva de Santa Genebra, Campinas, SP (Monteiro-Filho, 1995). Não se pode dizer com esses dados que esses cães têm um efeito negativo nos fragmentos de mata que estão em sua área de uso, porém a presença de cães domésticos e seus efeitos negativos em unidades de conservação periurbanas já são citados para o cerrado (Rodrigues, 2002), para a Mata Santa Genebra (Monteiro-Filho, 1995), para a Mata Ribeirão Cachoeira (Gaspar, 2005) e para o Parque Nacional de Brasília (Lacerda, 2002), sendo a presença desses animais um dos principais problemas de manejo na área deste parque. Referências Bibliográficas Buecher, M. 1987. Conservation in insular parks: simulation models of factors affecting the movement of animals across park boundaries. Biological Conservation 41: 57-76. Facure, K. G., 1996. Ecologia alimentar do cachorro-do-mato Cerdocyon Thous (Carnívora, Canidae), no Parque Florestal de Itapetininga, município de Atibaia, sudeste do Brasil. Dissertação de Mestrado em Ecologia. IB, UNICAMP, 52p. Gaspar, D. A., 2005. Comunidade de mamíferos não voadores de um fragmento de Floresta Atlântica semidecídua do Município de Campinas, SP. Tese de Doutorado em Ecologia. IB, UNICAMP, 140p. Horowitz, C. 1992. Plano de Manejo do Parque Nacional de Brasília: avaliação da Metodologia de Planejamento adotada, Execução e Resultados Alcançados no decânio 79/89. Tese de Mestrado. Universidade de Brasília, Brasília. Lacerda, A.C.R., 2002. Análise de Ocorrência de Canis familiaris no Parque Nacional de Brasília: Influência da Matriz, Monitoramento e Controle. Dissertação de Mestrado em Ecologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade de Brasília, Brasília, DF. Monteiro-Filho, E.L.A., 1995. Os Mamíferos da Santa Genebra Pp 86-92. In. Morellato, L.P>C. & H.F. Leitão-Filho (org). Ecologia de Preservação de uma Floresta Tropical Urbana Reserva de Santa Genebra. Campinas, SP: Editora Unicamp. Rodrigues, F.H.G., 2002. Ecologia do lobo guará na Estação Ecológica de Águas Emendadas, DF. Tese de Doutorado em Ecologia, IB, UNICAMP, Campinas, SP.

ANEXOS Figura 1: Localização do município de São Luiz do Paraitinga, no Estado de São Paulo. rio t t área queimada pastos e plantações Figura 2 Município e paisagens (área de estudo). Imagem Landsat 7 etm+ de 15/05/2002. Composição colorida (falsa cor) RGB 345.

rio t t área queimada pastos e plantações Figura 3 Localização do Fragmento do Sidnei na Paisagem "Pasto". Imagem Spot 5 de 25/10/2002. Composição colorida (falsa cor) 234 BGR. E E E E rio t t área queimada pastos e plantações Figura 4 Localização do Fragmento Votorantin na Paisagem Eucalipto. Imagem Spot 5 de 25/10/2002. Composição colorida (falsa cor) 234 BGR. Área de eucalipto indicado pela letra E.

Núm ero de dono s ou de cães 40 35 30 25 20 15 10 5 0 ração restos de comida ração + restos de comida Donos Cães Figura 5 - Freqüência do tipo de alimentação dada aos cães por seus donos Sidnei Núm ero de dono s ou de cães 40 35 30 25 20 15 10 5 0 ração restos de comida ração + restos de comida Donos Cães Figura 6 - Freqüência do tipo de alimentação dada aos cães por seus donos - Votorantin

80 Porcentagem de registros de passagem 70 60 50 40 30 20 10 0 Vot. Peq. Vot. Gde. Mineração Sidnei Mata Borda Matriz Fragmento Figura 7- Porcentagem dos registros em relação ao total dos registros possíveis em cada habitat gambá. 40 Porcentagem de registros de passagem 35 30 25 20 15 10 5 0 Vot. Peq. Vot. Gde. Mineração Sidnei Mata Borda Matriz Fragmento Figura 8 Porcentagem dos registros em relação ao total dos registros possíveis em cada habitat cães.