Conhecimento Popular das Espécies Vegetais da Estação Ecológica de Uruçuí Una, Piauí

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Transcrição:

Conhecimento Popular das Espécies Vegetais da Estação Ecológica de Uruçuí Una, Piauí Luciano Cavalcante de Jesus França (1) ; Gustavo Moreira Saraiva (2) ; Glaciellen Priscila (3) ; Marcelo Sousa Lopes (4) ; Julio Marcelino Monteiro (5) (1) Estudante de Engenharia Florestal, Universidade Federal do Piauí UFPI (CPCE Bom Jesus), lucianodejesus@florestal.eng.br; (2) Estudante de Engenharia Florestal, Universidade Federal do Piauí UFPI (CPCE Bom Jesus), gustavomoreira1950@hotmail.com; (3) Estudante de Engenharia Florestal, Universidade Federal do Piauí UFPI (CPCE Bom Jesus), cielle1987@hotmail.com; (4) Professor, Universidade Federal do Piauí UFPI (CPCE Bom Jesus), marcelolopes@ufpi.edu.br; (5) Professor, Universidade Federal do Piauí - UFPI (CPCE Bom Jesus), juliommonteiro@ufpi.edu.br. RESUMO O presente estudo consistiu do levantamento das plantas de uso popular utilizadas na Estação Ecológica de Uruçuí-Una, Piauí, Nordeste do Brasil. O alvo de estudo foi baseado nas informações cedidas pelos moradores de 03 comunidades localizadas no interior da UC, onde se realizou entrevistas não estruturadas com finalidade de se obter dados referentes ao informante e quais plantas e utilidades usam no dia a dia. Amostraram-se as plantas coletadas nas proximidades das comunidades presentes na ESEC, através do método da turnê guiada. Verificaram-se 35 espécies, distribuídas em 22 famílias. As famílias com maior representatividade em número de espécies foram: Fabaceae (08), Apocynaceae (03), Anacardiaceae (03) e Vochysiaceae (03). Os dados obtidos neste trabalho evidenciaram um considerável número de espécies vegetais utilizadas como medicinais, para curas das mais diversas naturezas, bem como plantas com madeira e lenha utilizáveis para produção de utensílios básicos do dia a dia. Palavras-chave: Etnobotânica, plantas de uso popular, Piauí. INTRODUÇÃO Tendo em vista um contexto atual no qual grande parte da população mundial utiliza plantas como recursos primários à saúde e o uso de outras partes, sobretudo grupos étnicos, vê-se o aumento de estudos etnobotânicos em comunidades tradicionais e a relevância destes para a moldura e valorização do conhecimento adquirido por antepassados. Amorozo (1996) define a Etnobotânica como a ciência que estuda as interações dinâmicas entre as plantas e o homem; consistindo também na compreensão dos usos e aplicações tradicionais dos vegetais pelas pessoas. É uma ciência interdisciplinar que também engloba conhecimentos farmacológicos, médicos, tecnológicos, ecológicos e linguísticos. O Brasil detém uma alta biodiversidade biológica, contando com uma rica flora em seus biomas. Neste contexto, o bioma cerrado apresenta um número de plantas vasculares superior àquele encontrado na maioria das regiões do mundo, somando mais de 7.000 espécies (Mendonça et al.,1998). Contudo, segundo Klink & Machado (2005) cerca de metade dos 2 milhões de km² originais do Cerrado foram transformados em pastagens plantadas, culturas anuais e outros tipos de uso. - Resumo Expandido - [342] ISSN: 2318-6631

Nas últimas décadas o Brasil tem documentado a proteção das florestas e dos recursos que nela existem, com uma crescente criação de Unidade de Conservação (UCs) no território. O Piauí não fica de fora dessa realidade, segundo Lestinge et al., (2011) o estado conta com 39 UCs, dentre elas a Estação Ecológica (ESEC) de Uruçuí-Una, situada no Sudoeste do estado, especialmente no município de Baixa Grande do Ribeiro. Para as pessoas que residem na ESEC Uruçuí-Una existem muitas limitações, pois, como vivem em Unidade de Conservação desde que nasceram, são orientados pelos órgãos diretores (IBAMA e ICMBio) a terem limites na convivência com a biodiversidade, seja na caça, pesca, agricultura e outros diversos aspectos, até que seja feita uma realocação destas pessoas para um assentamento fora da ESEC. Tendo em vista a insuficiência de trabalhos etnobotânicos nesta região, além da pretensão em historiar o conhecimento tradicional, o objetivo principal desse trabalho foi realizar um levantamento das espécies vegetais de uso popular nas comunidades da Estação Ecológica de Uruçuí-Una, podendo contribuir na conservação e preservação destes. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado na Estação Ecológica de Uruçuí-Una, localizada nos municípios de Baixa Grande do Ribeiro e Santa Filomena, sudoeste do estado do Piauí (Figura 1). Na ESEC os moradores exercem a agricultura de subsistência e usam recursos do cerrado para obtenção do sustento diário. Figura 1 Localização da Estação Ecológica de Uruçuí-Una, Piauí, Brasil. Os dados etnobotânicos foram registrados no entorno da sede do ICMBio localizada na ESEC, em 3 comunidades (Pedras, Grossos e Prata) no interior da estação. O foco de estudo foi baseado nas informações cedidas pelos moradores destas localidades, onde se realizou entrevistas não estruturadas com finalidade de se obter dados do local da coleta, dados do informante, quais plantas usam, para que servem, a parte utilizada, modo de preparo, modo de uso e outras informações acerca do uso das plantas. Foram entrevistados 10 moradores (mateiros), onde os mesmos assinaram um Termo de Consentimento, autorizando o trabalho de coleta de informações. As entrevistas foram realizadas seguindo o método da turnê guiada, onde o informante aponta e fornece as devidas informações sobre as plantas (Giraldi & Hanazaki, 2010). As coletas botânicas foram realizadas mensalmente no período de novembro de 2012 a julho de 2013, visando-se a encontrar indivíduos com características - Resumo Expandido - [343] ISSN: 2318-6631

completas pertinentes a identificação, tais como: folhas, flores e frutos. Todos os indivíduos arbóreos dos quais se coletou amostras, foram identificados com etiquetas de identificação numérica para vistorias posteriores. Foi elaborada uma listagem com espécies citadas pelos moradores, classificadas pelo hábito em herbáceas, arbustivas ou arbóreas, contendo todas as espécies mencionadas, nome científico, família, nome popular e usos. A identificação botânica foi realizada no Laboratório de Botânica e as amostras foram armazenadas no Herbário da Universidade Federal do Piauí UFPI, Campus Professora Cinobelina Elvas em Bom Jesus, Piauí. RESULTADOS E DISCUSSÃO No levantamento feito acerca dos informantes, observou-se que 10 dos entrevistados, 6 moram na ESEC desde que nasceram, 3 vivem a mais de 10 anos e 1 pessoa reside no local entre 5 e 10 anos. Foram listadas 22 famílias botânicas, com 35 espécies identificadas, sendo 4 plantas identificadas em nível de gênero e 31 em nível de espécie. Os nomes científicos e populares, a parte da planta usada, a forma e as indicações de uso, estão relacionados na Tabela 1. Dentre as plantas citadas, foram relacionadas 25 árvores, 7 arbustos, 2 herbáceas e 1 sub-arbusto. Tabela 1 Lista das plantas de uso popular da Estação Ecológica de Uruçuí-Una. NOME VULGAR ESPÉCIE FAMÍLIA USO PARTE UTILIZADA Pau de Leite Himatanthus obovatus (M. Arg) Purgante, menopausa, circulação Casca e raiz do sangue, problemas estomacais. Mangabeira Lafoensia replicata Pohl. Apocynaceae Problema no Fígado, infecção, Casca,entrecas intestino, machucado, ferimento cas, folha e estomago, gastrite raíz Mangaba Hancornia speciosa (Ness & C.Mart.) Mull. Arg. Alimentício e chá para gastrite Fruto Leite da casca Jatobá Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex Hayne Anemia, limpa o sangue e semente para próstata e uso da lenha - Resumo Expandido - [344] ISSN: 2318-6631 Entrecasca Sucupira Preta Bowdichia virgiloides Kunth Madeira para lenha, óleo da Semente semente para câncer e dor de Casca e cabeça, limpa o sangue, tosse e madeira gripe. Barbatimão Stryphnodendron cf. adstringens Fabaceae Chá Casca Fava Danta Dimorphandra gardneriana Alimento, gripe, tosse Fruto, casca Tulasne Podói (Pau dólio) Copaifera langsdorffii Desf Turbeculose, Azeite(óleo), dores e Casca gripe Sucupira Branca Pterodon emarginatus Vogel Dor de barriga Folha, Fruto Tatarema Sclerolobium aureum (TUL.) Benth Problemas estomacais, problemas no fígado, alimento, resina para ferimento Fruto, entrecasca Violete Dalbergia cearensis Ducke. Cercado Madeira Cajuí Anacardium humile St. Hil Alimentício (Doce) Pseudofruto Gonçolava (Gonçalo Astronium fraxinifolium Schott. Diarréia, dor no corpo. Folha e Alves) Casca Cajú Anacardium ocidentale L. Anacardiaceae Alimentício, intestino Fruto, folha Folha Larga Salvertia convallariodora A. St. Hil Chá Folha Qualhadeira Vochysia cinnamonea Pohl Diabetes Casca

Pau Terra de Folha Qualea grandiflora Mart Vochysiaceae Coceira Folha Larga Pequí Caryocar coriaceum Caryocaraceae Alimentício, intestino, óleo para Fruto, casca dores. Inharé Brosimum gaudichaudii Trécul Moraceae Ferimentos, limpa sangue. Casca Catinga de Porco Terminalia fagifolia Mart Zuc Combretaceae Problemas estomacais, diarreia, dores no corpo e coluna Casca, entrecasca Folha de carne Casearia cf sylvestris Flacourtiaceae Chá, intestino(digestão), dor no Folha, raíz estomago, infecção Cagaita Eugenia dysenterica DC. Myrtaceae Instestino Folha Quina Strychnos pseudoquina St. Hil Loganiaceae Rins Casca João de Galo Cordia cf. superba Cham. Boraginaceae Gastrite Folha Murici Byrsonima sp. Malpighiaceae Alimentício e Lenha Fruto e madeira Pimenta de Macaco Piper tuberculatum Jacq. Piperaceae Alimentício e dores no geral Fruto Mutamba Guazuma ulmifolia Lam. Malvaceae Alimentício Fruto Picão Preto Bidens sp Asteraceae Dor no peito Folha Almesca Protium heptaphyllum (Aubl.) Burseraceae Sinusite Folha Marchand Puçá Mouriri pusa Gardner Melastomataceae Alimento para gado e chá Fruto e casca Pindaíba Xylopia aromática (Lam.) Mart. Anonaceae Madeira para escada, cabo de Madeira vassoura, enxada, lenha e cerca, chá Massaranduba Pouteria sp Sapotaceae Alimentício (para homem e Fruto animais) Sambaíba Curatella americana Linn. Dilleniaceae Inflamação, pano branco Entrecasca e raiz Calunga Simararouba sp Simaroubaceae Chá Raiz, folha Azedim Oxalis divaricata Mart. Ex Zucc. Oxalidaceae Gripe Folhas Das plantas pesquisadas, 33 são de uso medicinal, usadas frequentemente pelos moradores para tratamentos e prevenções contra patologias. Das plantas de uso alimentício, registrou-se 10 espécies, já as plantas com madeira utilizada para construção de escadas, cercas, cabos, banquinhos e lenha para fogo, registrou-se 2 espécies com maior potencial. No levantamento realizado, foi possível observar que os moradores utilizam para preparar os chás e remédios caseiros, em grande parte das citações, a casca e entrecasca (17 indicações), e folhas (11 indicações), corroborando com Gonçalves & Martins (1998) e Castellucci et al. (2000), estes autores relataram que a possível explicação o maior uso das folhas na preparação de remédios deve-se ao fato de sua maior disponibilidade durante todo o ano e que é nas folhas que se concentram grande parte dos princípios ativos. De forma semelhante, Albuquerque & Andrade (2002), explicam que o uso das cascas destaca-se por estas partes estarem disponíveis durante todo o ano, em função da caducidade das folhas na época seca. CONCLUSÃO As plantas coletadas nas comunidades da Estação Ecológica de Uruçuí-Una apresentaram diversas indicações de usos no dia a dia dos moradores. As categorias de uso mais representativas foram medicinal e alimentício. A família botânica com maior número de espécies foi Fabaceae. Os dados obtidos neste trabalho evidenciaram um valioso conhecimento popular e um considerável número de espécies vegetais utilizadas na ESEC. - Resumo Expandido - [345] ISSN: 2318-6631

REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, U. P.; ANDRADE, L. H. C. Uso de Recursos Vegetais da Caatinga: O caso do agreste do estado de Pernambuco (Nordeste do Brasil). Interciência, v. 27, n. 7, jul 2002. AMOROZO, M. C. M. A abordagem etnobotânica na pesquisa de plantas medicinais. In: DI STASI, L. C. (Org). Plantas medicinais: arte e ciência um guia de estudo interdisciplinar. São Paulo: Editora UNESP, 1996. CASTELLUCCI, S.; LIMA, M.I.S.; NORDI, N & MARQUES, J. G. W. Plantas medicinais relatadas pela comunidade residente na Estação Ecológica de Jataí, município de Luís Antonio - SP; uma abordagem etnobotânica. Revista Brasileira de Plantas Medicinais,v.3, n.1, p.51-60, 2000. GIRALDI, M.; HANAZAKI, N. Uso e conhecimento tradicional de plantas medicinais no Sertão do Ribeirão, Florianópolis, SC, Brasil. Acta Botânica Brasílica. 24(2): 395-406. 2010. GONÇALVES, M.I.A.; MARTINS, D.T.O. Plantas medicinais usadas pela população do município de Santo Antônio de Leverger, Mato Grosso, Brasil. Revista Brasileira de Farmácia, v.79, n.3/4, p.56-61, 1998. KLINK, C. A.; MACHADO, R. B. A conservação do Cerrado brasileiro. Megadiversidade, ver cidade dessa revista, n. 1, p. 147 155, jun. 2005. LESTINGE, S.; FRANÇA, L.C. de J.; ANDRADE, T. G.; ROCHA, V.M.; NUNES, J. S.; ALMEIDA, L.B.; FERREIRA, J. S.; PEREIRA, D. A.; CERQUEIRA, C. L. Estação Ecológica de Uruçuí-Una: uma realidade que o Piauí desconhece. In: XI Encontro Nordestino de Grupos PET (ENEPET). Natal, RN: UFRN, 2011. MENDONÇA, R. J..; FELFILI, B.; WALTER, J.C.; SILVA J. A.; REZENDE, T.; FILGUEIRAS & P. NOGUEIRA. Flora vascular do Cerrado. In: S. Sano & S. Almeida (eds.). Cerrado. Ambiente e flora. pg. 288-556. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa - Cerrados, Planaltina, Brasil, 1998. AGRADECIMENTOS Agradecemos ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade ICMBio, pelo apoio no transporte e instalações dentro da Estação Ecológica de Uruçuí-Una e à UFPI, Campus Professora Cinobelina Elvas por disponibilizar veículos para nosso trabalho em campo. - Resumo Expandido - [346] ISSN: 2318-6631