fls. 1 ACÓRDÃO Registro: 2014.0000152439 Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 1012212-76.2013.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante NAIARA SOARES DOS SANTOS (JUSTIÇA GRATUITA), é apelada EMBRATEL - EMPRESA BRASILEIRA DE TELECOMUNICAÇÕES S/A S/A. ACORDAM, em 1ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores CHRISTINE SANTINI (Presidente sem voto), LUIZ ANTONIO DE GODOY E PAULO EDUARDO RAZUK. São Paulo, 18 de março de 2014. Claudio Godoy RELATOR Assinatura Eletrônica
fls. 2 APELAÇÃO CÍVEL Processo n. 1012212-76.2013.8.26.0100 Comarca: São Paulo Apelante: NAIARA SOARES DOS SANTOS Apelada: EMBRATEL EMPRESA BRASILEIRA DE TELECOMUNICAÇÕES S/A Juiz: Christopher Alexander Roisin Voto n. 6356 Responsabilidade civil. Danos morais. Negativação indevida do nome do autor em instituição de proteção ao crédito. Indenização que deve ser majorada, considerada sua dupla função. Sentença parcialmente reformada. Recurso parcialmente provido. Cuida-se de recurso de apelação interposto contra sentença, cujo relatório se adota, que julgou procedente a ação no sentido de declarar inexistente o débito atribuído à autora, bem como condenar a ré ao pagamento de R$ 3.000,00 (três mil reais), a título de indenização por danos morais decorrentes de indevida negativação de seu nome (fls. 64/74). Sustenta a recorrente, em sua irresignação, ausência de razoabilidade no arbitramento da indenização, entendendo desconsideradas a condição socioeconômica do ofensor e a gravidade e extensão dos danos sofridos pela autora. Pugnou, ainda, Apelação nº 1012212-76.2013.8.26.0100 2/5
fls. 3 pela majoração dos honorários advocatícios, pela contagem de juros desde o ilícito e pela correção monetária desde o arbitramento. respondido. Recurso regularmente processado e É o relatório. Incontroverso que o nome da autora tenha sido indevidamente inscrito junto a órgão de proteção ao crédito em decorrência de suposta dívida contraída com a ré. Como se observou na sentença, em momento algum a ré cuidou de demonstrar havida regular contratação que, inadimplida, justificasse o apontamento. Não acostou os documentos da suposta celebração de contrato entre as partes e, posteriormente, informou o cancelamento dos débitos em questão, bem como a baixa definitiva nos órgãos de proteção ao crédito (fls. 96), decerto que a reconhecer o indevido de sua conduta. Daí a responsabilidade, de resto nem mais questionada se ausente apelo de sua parte. Assim, evidenciada a negativação indevida, o dano moral consequente independe de prova, porque, como se diz, ele está in re ipsa, ou seja, infere-se da experiência do que comumente ocorre, provando-se pelo só fato da negativação (v. Antônio Jeová Santos, in Dano Moral Indenizável, Método. 3 a ed., p. 496, com remissão ao REsp. 51.158, rel. Min. Ruy Rosado, e RSTJ Apelação nº 1012212-76.2013.8.26.0100 3/5
fls. 4 124/401). Ou, conforme acentua Yussef Said Cahali (Dano Moral, RT, 2 a ed., p. 398-399), o dano extrapatrimonial, nos casos de negativação, está representado pelo que em si é a ofensa, afinal, a direito da personalidade. Todavia, não se pode olvidar que a condenação, nesses casos, e como é curial, além de sua função compensatória, cumpre também um papel profilático, de desestímulo ao ofensor. A propósito, lembra Fernando Noronha que a própria responsabilidade civil ganha, hoje, novas funções, além daquela reparatória, dentre as quais, justamente, a dissuasória, que também quer preventiva (in Desenvolvimentos Contemporâneos da Responsabilidade Civil. In: Revista dos Tribunais. Ano 88. v. 761. março 1999. p. 31-44). Na mesma esteira, ainda que à luz de sistema diverso, acentuam G.L. Williams e B.A. Hepple que a indenização, em casos como o presente, nos quais havidos danos que chamam de exemplares, serve a preservar a força do direito e a constituir um sistema de prevenção (in I fondamenti del diritto dei torts. Trad. Mario Serio. Ed. Scientifiche Italiane. Camerino. 1983. p. 52-53). Porém, mesmo assim, a indenização não pode ser de molde a, mais que compensar, representar lucro, indevido enriquecimento ao ofendido, monetarizando-se situações Apelação nº 1012212-76.2013.8.26.0100 4/5
fls. 5 existenciais, assim mercantilizadas e, por isso, apequenadas. (cf. Anderson Schreiber, Novos paradigmas da responsabilidade civil, Atlas, p. 187-190). Neste contexto, atento aos critérios referidos e às circunstâncias do caso, fixa-se a indenização em R$ 10.000,00, corrigidos desde a publicação do presente (Súmula 362 do STJ), incidentes juros, de fato, desde a data da negativação, conforme orientação da Súmula 54 do STJ. Quanto aos honorários, dada a natureza e características da demanda, sem maior complexidade, julgada de modo antecipado, ficam mantidos, tanto mais se elevada a sua base de cálculo, com a majoração da indenização. PROVIMENTO ao recurso interposto. Ante o exposto, DÁ-SE PARCIAL CLAUDIO GODOY relator Apelação nº 1012212-76.2013.8.26.0100 5/5