POMPEU DE SOUSA O jornalista que mudou o Jornalismo Brasileiro ROSEMARY BARS MENDEZ SÃO BERNARDO DO CAMPO 2006



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Nome e contato do responsável pelo preenchimento deste formulário: Allyson Pacelli (83) e Mariana Oliveira.

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Transcrição:

1 UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL ROSEMARY BARS MENDEZ POMPEU DE SOUSA O jornalista que mudou o Jornalismo Brasileiro SÃO BERNARDO DO CAMPO 2006

2 ROSEMARY BARS MENDEZ POMPEU DE SOUSA O jornalista que mudou o Jornalismo Brasileiro Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Doutor em Comunicação Social. Orientador: Prof. Dr. José Marques de Melo. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2006

3 079.81 MENDEZ, Rosemary Bars Pompeu de Sousa: o jornalista que mudou o jornalismo brasileiro São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2006. 339p. 1. Sousa, Pompeu. 2. Jornalismo. 3. Brasil, Roberto Pompeu de Sousa I. Título.

4 FOLHA DE APROVAÇÃO A tese: POMPEU DE SOUSA. O jornalista que mudou o Jornalismo Brasileiro, elaborada por Rosemary Bars Mendez como requisito para a obtenção do grau de doutor em Comunicação Social, na Universidade Metodista de São Paulo, área de concentração Processos Comunicacionais, foi defendida dia,, tendo sido: ( ) Reprovada ( ) Aprovada, mas deve incorporar nos exemplares definitivos modificações sugeridas pela banca examinadora. ( ) Aprovada ( ) Aprovada com louvor Banca Examinadora: Presidente: Nome titulação assinatura instituição Examinador(a): Examinador(a): Examinador(a): Examinador(a):

5 Para os pequenos Matheus, Allan Yuri, Felipe, Luiz Henrique e Ana Luiza

6 Deus quer, o homem sonha, a obra nasce Fernando Pessoa, 1980 Sem paixão não se faz nada Pompeu de Sousa 1916/1991

7 AGRADECIMENTOS Muitos caminhos me trouxeram até aqui. Em todos, os familiares, amigos e alguns conhecidos acompanharem os passos que dei para escrever este trabalho. O apoio que recebi possibilitou amenizar as dificuldades e permitir que a solidão, durante horas em frente ao computador, fosse esquecida com momentos de descontração. Assim, quero agradecer a todos que compartilharam comigo e me ajudaram a cruzar a linha de chegada, em especial ao Prof. Dr. José Marques de Melo que sempre me incentivou a progredir na carreira acadêmica e na pesquisa científica; a Othília Pompeu de Sousa, que me recebeu de braços abertos, e a todos que permitiram a pesquisa em arquivos públicos e privados, concederam-me entrevistas e se lembraram dos acontecimentos envolvendo Pompeu de Sousa, contribuições importantes para a construção de sua trajetória na história do Jornalismo Brasileiro.

8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...013 1.1 Metodologia...018 2 CAPÍTULO I - A IMPRENSA NO BRASIL...029 2.1 Influência dos Estados Unidos...034 2.2 Modernização...041 2.3 Industrialização da imprensa...050 3 CAPÍTULO II A VIDA NO RIO DE JANEIRO...056 3.1 A carreira profissional...060 3.2 Intercâmbio Cultural...068 3.3 Campanhas no DC...072 4 CAPÍTULO III A EXPERIÊNCIA EM SALA DE AULA...078 4.1 A produção do manual de redação...083 4.2 A reação às novas técnicas...088 4.3 A reforma do Diário Carioca...099 5 CAPÍTULO IV A MUDANÇA PARA BRASÍLIA...108 5.1 Na UnB...119 5.2 Demissão da UNB...131 5.3 A favor da arte...140 6 CAPÍTULO V DE VOLTA PARA A REDAÇÃO...147 6.1 Fases na Veja...163 6.2 Como senador...167 7 CONCLUSÃO...184 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...194 9 APÊNDICES...220 9.1 Entrevista com Eliane Catanhêde...221 9.2 Entrevista com Nilson Lage...227

9 9.3 Entrevista com Othília Pompeu, esposa de Pompeu de Sousa...228 9.4 Entrevista com Ana Arruda Callado...234 9.5 Entrevista com o jornalista Armando Nogueira...238 9.6 Entrevista com o jornalista Hélio Marcos Prates Doyle...242 9.7 Entrevista com Orlando Cariello Filho...245 9.8 Entrevista com José Roberto Bassul, ex-assessor parlamentar....248 9.9 Entrevista com o jornalista Armando Rollemberg....255 10 ANEXOS...262

10 RESUMO A proposta desta pesquisa é resgatar a trajetória do jornalista Pompeu de Sousa que, ao introduzir a técnica do lide no Diário Carioca (1950), revolucionou o texto jornalístico de sua época, sendo o responsável pelo primeiro Manual de Redação Style Book da imprensa brasileira. Trata-se de uma experiência profissional que lhe abriu portas para a vida acadêmica, primeiro na Faculdade Nacional de Filosofia, Ciências e Artes, no Rio de Janeiro, e para estruturar a Faculdade de Comunicação de Massa na Universidade de Brasília. Cassado após o golpe militar de 1964, o jornalista retornou para a redação, desta vez como diretor da Editora Abril, responsável pela sucursal da revista Veja entre 1968 e 1978. Senador Constituinte, no mandato de janeiro de 1987 a janeiro de 1991, autor do parágrafo 1 º, do artigo 220, da Constituição Federal que prevê a liberdade de imprensa. O trabalho visa mostrar a importância de Pompeu de Sousa na transformação do Jornalismo Brasileiro, pesquisa histórica, com suporte na história oral. Palavras chave: Midiologia Comparada, Jornalismo Brasileiro, Ensino de Jornalismo.

11 ABSTRACT The projects main goal is an historical research about journalist Pompeu de Sousa's career, who introducing the lead's technique at Diário Carioca newspaper, made a big revolution in his time s journalistic style. He was the first responsible for a Style Book in brazilian press. This professional experience did opened wide doors for his academic life: first at university Faculdade Nacional de Filosofia, Ciências e Artes, in Rio de Janeiro, and then for a remake at structuring the University of Communication of Mass at the Universidade de Brasilia. With his civil rights lost after 1964 's brazilian military coup d'etat, journalist Pompeu de Sousa went back to newsrooms, this time as director at publishing house Editora Abril, where he was chair at Veja magazine's newsroom in Rio, between 1968 and 1978. He was a congress man at Senate, from January 1987 to January 1991, author from the first paragraph, article 220, from brazilian Federal Constitution, wich estipulates press freedom. This work entends to show Pompeu de Sousa's importance in brazilian journalism transformation, using historical research based at oral history. Key words: Compared Midiologia, Brazilian journalism, Teaching of Journalism

12 RESUM Los proyectos la meta principal es una investigación histórica sobre periodista Pompeu Sousa que introduciendo la técnica de la primacía al Diario Carioca, hecho una revolución grande en el estilo periodístico de su tiempo. Él fue el primero responsable para un Libro de Estilo en la prensa del brazilian. Esta experiencia profesional hizo las puertas anchas abiertas para su vida académica: primero a Faculdade Nacional de Filosofia, Ciências e Artes, en Río de Janeiro, y entonces para un rehaga el La universidad de Comunicación de Masa al Universidade de Brasília. Él ha perdido sus derechos del polytical después del 1964 golpe militar, periodista Pompeu de Sousa regresó a la escritura como director de Editora Abril, como Veja revista rama gerente entre 1968 y 1978. Él estaba un hombre del congreso en el Senado, de january 1987 al 1991 de enero, el autor del primer párrafo, artículo 220, del brazilian la Constitución Federal, qué preve la prensa libre. El trabajo apunta la exhibición Pompeu de Sousa el papel principal el periodismo brasileño cambiante, la investigación histórica, basado en la historia oral. Palabras de la llave: Midiologia comparado, Periodismo Brasileño, Maestro de Periodismo

13 1 INTRODUÇÃO Este trabalho é resultado de uma intensa peregrinação em arquivos públicos e particulares para recuperar documentos, artigos de jornais, cartas pessoais, discursos, fotos e memórias de amigos e familiares sobre a vida de Roberto Pompeu de Sousa Brasil. Materiais espalhados em três estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, recolhidos em várias viagens, contatos telefônicos, horas a fio folheando livros, edições empoeiradas de jornais das décadas de 40 a 90, conquistando fontes para as entrevistas que ajudaram a reconstruir a trajetória de Pompeu na imprensa brasileira. Aos poucos descobri um homem que tinha o espírito do jornalista, dono de uma personalidade irrequieta, ousada, alegre, sempre em busca do novo, fosse no texto ou nas ações de quem sempre se envolveu com os fatos da política nacional e que influenciaram a sua vida profissional. Uma história rica em ações pragmáticas que alteraram padrões estabelecidos pela imprensa e transformaram o Jornalismo Brasileiro, servindo de modelo para o ensino universitário e beneficiando a imprensa na Constituição Federal. Uma história que começa com um sonho, a de cursar Direito no Rio de Janeiro, como todo jovem que vivia no interior do Brasil em sua época. Pompeu de Sousa era do Ceará e descobriu o Brasil ao ser jornalista, profissão que lhe ajudou a caminhar sempre em frente. A inexistência de documentos, ou de qualquer outro registro histórico, sobre a infância no Ceará, deixa uma lacuna nesta trajetória. Nem as pessoas que conviveram de perto com Pompeu, nem a esposa Othília Pompeu de Sousa, têm informações sobre seus primeiros 18 anos de vida, o que restringiu a construção de sua biografia a partir da vida profissional. Seus filhos, principalmente as filhas do primeiro casamento, resistiram a falar sobre o jornalista. Apenas Sonia Pompeu, que também é jornalista e trabalha na Rede Globo, no Rio de Janeiro, contribuiu com este trabalho, ao encaminhar pelos Correios o livro Bilhetinhos a Jânio. A construção desta trajetória mostra as ações de Pompeu de Sousa no Jornalismo Brasileiro: sempre ágil, dinâmico, rápido e objetivo, um estilo próprio e único, de alguém inquieto, intranqüilo com a realidade vivida, sempre procurando mudanças. Um perfil composto por depoimentos de personagens que trabalharam ou conhecerem Pompeu de Sousa, recortes de jornais com entrevistas que concedeu ou sobre eventos e movimentos que participou, documentos sobre sua atuação parlamentar e política e a pesquisa nos arquivos do

14 Diário Carioca e da revista Veja. Um quebra-cabeças difícil de ser recomposto pelo tempo em que a pesquisa deveria ser concluída, pressionada pelo tempo acadêmico. Muitos dos entrevistados e dos amigos que deram depoimentos publicados em livros de memória, editados após sua morte em 1991, guardam a lembrança de Pompeu pelos cabelos brancos, outros pelas gargalhadas, outros pela voz alta e firme que determinava como deveria ser a matéria jornalística, as regras técnicas para a produção de texto informativo, sem nunca perder a ternura dos gestos e o tom da voz. Ele esbravejava quando sabia de uma repressão política, de algo que não concordasse, sem nunca ter sido agressivo com os repressores. Tinha liderança e espírito de equipe e consagrou-se na política como senador da República, o quarto do Ceará, seguindo a tradição de seu avô. Pompeu de Sousa marcou a história do Jornalismo Brasileiro ao introduzir na imprensa técnicas para a construção do texto com base na tradição norte-americana, rompendo com os costumes europeus que imperavam nas redações até a década de 40. A primeira pessoa a contar sua história para este trabalho foi sua esposa Othília Pompeu de Sousa. Ela me recebeu em sua casa, pela primeira vez, no dia 14 de julho de 2004. Foram cinco horas de conversa, entre o almoço na Praia de Copacabana e o chá da tarde, em seu apartamento. Encontrei uma mulher se preparando para passar as férias de julho em Paris, pois queria rever as obras de Monet. Aos poucos foi revelando tudo que poderia se lembrar sobre Pompeu. De sua memória apenas as datas foram esquecidas, não os fatos, nem as pessoas que conheceu e com quem conviveu. Dona Othília falou sobre o passado como se tudo tivesse acontecido recentemente, ontem ou há algumas horas, apenas. Tudo o que vez na vida foi por Pompeu de Sousa. Tudo o que viveu está em sua memória, presente em cada frase que pronuncia, em seu apartamento em Copacabana, nos objetos que preserva. Tudo lembra o homem com quem viveu durante 41 anos. Eles se conheceram na Confeitaria Colombo, onde sempre ia tomar o lanche da tarde, comer doces ou simplesmente para ver Pompeu. Ela tinha 17 anos quando se encontraram pela primeira vez no ano de 1949. Ele já era o editor do Diário Carioca e estava iniciando a revolução nas técnicas jornalísticas. O sentimento foi mais forte do que as convenções sociais e um ano depois estavam juntos. O casamento no civil aconteceu após a Lei do Divórcio, n 6.515, de 26 de dezembro de 1977; e no religioso, depois que Pompeu ficou viúvo. Othília Pompeu de Sousa lembra-se quando o marido, nos dias do carnaval de 1950, produzia em casa o primeiro manual da imprensa brasileira Regras de Redação do Diário Carioca. Em sua pequena biblioteca no apartamento em Copacabana, guarda três exemplares,

15 um deles doado para esta pesquisa. Ao lado do manual, estão discos, CDs e livros de escritores admirados por Pompeu de Sousa. Um dos poetas que mais gostava era Manuel Bandeira, com quem conviveu durante a juventude nas noites cariocas. Um dos versos que sempre lia está no livro Itinerário de Pasárgada: Conversando a sós contigo Desfruto o prazer imenso De não pensar no que digo E de dizer o que penso E mais uma vez Afirmo Sem receio de que seja desmentido: - a maior felicidade É ser-se compreendido. Pompeu de Sousa era assim: dizia o que pensava, escrevia o que acreditava, mas morreu sem ser compreendido. Depois de dedicar 55 anos de sua vida ao Jornalismo, e parte deles ao ensino superior e ao mandato de senador constituinte, foi aposentado compulsoriamente em 1991, pela Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, que ajudara a implantar em 1961, ao lado de Darcy Ribeiro. Ele tinha 77 anos, uma idade considerada avançada demais para retornar às salas de aula. A importância de suas ações para o Jornalismo Brasileiro começou na década de 50, quando fez a reforma editorial no Diário Carioca, priorizando o texto informativo, ao hierarquizar a importância das informações e ao eliminar dos textos as opiniões de seus autores. Para esta reformulação, apoiou-se em dois eixos técnicos que transformaram o texto do Jornalismo Brasileiro, adotado durante todo o século XX e ainda presente na imprensa diária. Ele acabou com o nariz-de-cera, ao implantar a técnica do lide 1, e definiu a atuação do copidesque² nas redações. Esta transformação resultou numa reforma gráfica no Diário Carioca, pela preocupação com a apresentação da mensagem jornalística, com um novo formato, com 1 Na época se grafava lead, que foi aos poucos sendo incorporada a linguagem jornalístico, sendo aportuguesada para lide, segundo consta no dicionário Houaiss, como "linha ou parágrafo que apresenta os principais tópicos da matéria desenvolvida no texto jornalístico; cabeça; seção introdutória de uma reportagem". In: HOUAISS. Antônio e VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001, 1755 p. A grafia aportuguesada, lide, será a escolha adotada neste trabalho, excetuando-se as transcrições, mantidas fiéis à grafia originalmente usada. ² Na época se escrevia copy-desk, até que a palavra foi aportuguesada pelo uso constante, copidesque, tornandose um chavão nas redações. Consta no dicionário Aurélio como sendo a redação final de um texto com vistas à sua publicação; correção, aperfeiçoamento e adequação de um texto escrito às normas gramaticais, editoriais. In: FERREIRA. Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa 2 a. edição. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986, 1838 p. Neste trabalho será utilizada a forma consagrada pelo uso no Brasil, copidesque, exceção feita às citações que permanecerão conforme o original.

16 títulos diretos e objetivos, com a diagramação do texto e o uso da fotografia. Uma história de vida recuperada nesta tese de Doutorado, cujo objetivo central foi o de traçar a trajetória de Pompeu de Sousa na imprensa brasileira, ao mesmo tempo em que analisa a importância das modificações realizadas por ele no Jornalismo. O trabalho traz à tona, para o conhecimento de pesquisadores, estudiosos e profissionais da área, a vida do jornalista, suas realizações, seus altos e baixos (VILAS BOAS, 2003, p.11). A atuação de Pompeu de Sousa na chefia de redação, respaldado por dois jornalistas que dirigiam o Diário Carioca Danton Jobim, na direção do jornal, e Luís Paulistano, na chefia de reportagem, colocou os jornais brasileiros na era da modernidade, deixando de lado o texto enfadonho, panfletário e repleto de nariz-de-cera, para uma linguagem mais dinâmica, concisa, objetiva e informativa. O Diário Carioca é considerado pelos historiadores da área como um jornal inovador por ter sido o primeiro veículo brasileiro a usar a técnica do lide, o primeiro a contar com uma equipe de copidesque e a desempenhar papel de formador de novos quadros na imprensa (ABREU, 1996, p.15). Essa reforma completa e ousada na apresentação da notícia passou a ser copiada pelos demais veículos de comunicação do país, num movimento contínuo que marcou uma fase de transição da imprensa. Uma mudança que se espelhou na atuação da imprensa norteamericana (LINS DA SILVA, 1991), estabelecendo novos parâmetros textuais para quem escrevia nos jornais daquela época. No final da metade do século XX, a imprensa brasileira viveu uma ampla reformulação. Passou da imprensa artesanal à imprensa industrial (SODRÉ, 1983, 391) e estabeleceu novos traçados para seu desenvolvimento. Porém, esse processo não esteve ligado apenas aos equipamentos introduzidos nas redações dos jornais, agilizando a impressão dos periódicos, por exemplo. Essas modificações aconteceram porque homens da imprensa passaram a ter uma nova visão sobre o fazer jornalístico. Nesse cenário está Pompeu de Sousa que iniciou um trabalho diferenciado já nos primeiros anos de sua vida como jornalista. Traçar historicamente a sua trajetória, esquecida no passado, trazendo-a para o tempo presente, permite que sua memória preencha um capítulo da história sobre a imprensa. Pela amplitude da influência de Pompeu sobre o mundo da Comunicação, fio condutor deste trabalho científico, foi possível mapear o momento da transformação da linguagem jornalística na imprensa brasileira e analisar sua atuação como o jornalista que inovou também no ensino universitário, voltado para o mercado. Para transformar a linguagem jornalística, Pompeu de Sousa adotou um style book - um folheto de 16 páginas, que se tornou referência nacional pelas regras que foram estabelecidas e até hoje são referências básicas

17 para a produção de um texto informativo, para a produção da notícia. Desta forma, estão estabelecidas as fronteiras que delimitaram as ações do jornalista Pompeu de Sousa com sua contribuição às modificações sofridas pelo Jornalismo Brasileiro nos anos 50, no momento histórico da expansão dos meios de comunicação de massa no Brasil. Uma história de vida a ser conhecida com este trabalho. Um território que tem espaço no meio acadêmico, pelo esforço de se produzir conhecimento sobre o desenvolvimento do Jornalismo no Brasil, com ênfase nos personagens que participaram de forma ativa na constituição de novos paradigmas comunicacionais, já que esta produção se insere num quadro maior, que procura resgatar a memória do Jornalismo Brasileiro. Um projeto iniciado em 1992, pelo professor José Marques de Melo para analisar comparativamente os processos jornalísticos e verificar como os modos de produção da notícia e dos seus comentários fluem dos centros metropolitanos internacionais para o Brasil e como internamente os padrões difundidos são assimilados, adaptados e reproduzidos" (MARQUES DE MELO, 2003, p. 9). Nos anos 50, no pós-guerra, o Jornalismo buscava adquirir uma identidade própria, uma fisionomia singular, que se manifesta nos gêneros cultivados pelos seus produtores, mas que transparece ainda na forma de organização do trabalho dos jornalistas dentro das empresas (MARQUES DE MELO, 1992, p.25), uma situação histórica que levou o professor a definir um projeto para construir essa identidade, numa ação única para recuperar da história eventos que possam explicar a prática jornalística contemporânea. Com essa preocupação, as linhas do projeto elaborado por Marques de Melo foram publicadas no Anuário Brasileiro da Pesquisa em Jornalismo, pela ECA/USP, visando estabelecer o cenário do desenvolvimento da imprensa no Brasil, através de resgate e estudos biográficos, num esforço acadêmico para se reconstituir a memória da imprensa. Este Doutorado é uma das fatias desse empreendimento científico, que busca analisar as histórias de vida de personalidades para verificar a contribuição para a configuração dos processos informativos dominantes em cada época (MARQUES DE MELO, 2003, p.26). O resultado imediato é o de preservar a memória da própria imprensa e desvendar para pesquisadores e estudiosos da área os bastidores das transformações ocorridas no Jornalismo e na história do ensino em Comunicação no Brasil. Pompeu de Sousa foi um dos homens que se rendeu às técnicas da imprensa norteamericana e, como profissional, se destacou em três fases importantes na história. Em 1950, foi o reformulador das técnicas jornalísticas, tendo como instrumento de aplicação, de experimentação, o Diário Carioca. Em 1960, envolvido pelo ritmo da expansão capitalista do

18 governo Juscelino Kubitschek, partiu para Brasília onde ajudou a fundar a Universidade de Brasília 2, resultado da intelectualidade brasileira projetando sua vivência pessoal (ALENCAR, 1975, p. 271). E, por último, na década de 80, como senador constituinte que defendeu a liberdade da imprensa. 1.1 Metodologia Ao mergulhar nos bastidores desta história, entendemos não apenas o indivíduo, mas também suas interfaces, suas relações políticas e sociais para, assim, rever parte de nossa cultura social, ampliando as informações que sustentam o universo do Jornalismo. A importância desta pesquisa está na restauração das ações e realizações de Pompeu de Sousa, ao narrar os eventos que participou para poder compreender o universo de sua vida e como influenciou a prática jornalística no Brasil. Uma metodologia que normalmente não recebe da academia brasileira a mesma atenção que nos Estados Unidos. Enquanto há falta de prestígio para a história de vida no âmbito científico no Brasil, por não apresentar dados convencionais da ciência social (HAGUETTE, 2001), os norte-americanos a utilizam como principal instrumento de pesquisa. A origem da produção biográfica está nas obras gregas que retratavam a vida de seus heróis, como uma reverência aos grandes indivíduos inicialmente apresentados em mármores e bronzes e, depois, perpetuados em livros, como A Ilíada e a Odisséia, réplicas de histórias das vidas dos heróis gregos. Um gênero literário que se expandiu e se consagrou aos poucos na história. A palavra biografia foi usada pela primeira vez pelo historiógrafo real John Dryden, em 1683, na introdução inglesa de Plutarco. Depois, o reconhecimento da importância em realizar uma biografia veio dos alemães em 1709, seguidos pela academia francesa a partir de 2 A iniciativa de Darcy Ribeiro em fundar a Universidade de Brasília é apontada por José Marques de Melo como um fator decisivo para criar no Planalto Central um pólo intelectual arrojado e inovador. A organização da Faculdade de Comunicação de Massa coube a Pompeu de Sousa amadurecido pela experiência profissional no país e no exterior (...) com um perfil consentâneo com a modernidade globalizante, ou seja, inspirado no modelo midiático emergente testado pela Universidade de Stanford (EUA) In: MARQUES DE MELO, José. História do Pensamento Comunicacional São Paulo: Paulus, 2003c. p. 260-262. O curso de Comunicação Social é entendido por seus autores como uma faculdade profissionalizante, preparando o aluno para o mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que se respeita a diversidade de conhecimento da área. Na estrutura acadêmica, foi pensada no campo das Letras e das Artes, prevendo que a formação profissional destes especialistas deve ser feita em curso de Comunicação Social cujo ensino prático seja proporcionado pelos órgãos complementares da universidade, como a editora e o Centro de Teledifusão. In: RIBEIRO, Darcy. A Universidade Necessária. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1975. 213 p.

19 1762. Até 1975, a maioria dos pesquisadores biográficos americanos estava ligada exclusivamente às universidades (VILA BOAS, 2002, p.27), uma realidade que se ampliou gradativamente em outros centros de pesquisas pela importância que este tipo de trabalho vem alcançando. Tornou-se, nos dias de hoje, uma prática principalmente de jornalistas que se debruçam para definir, na linha do tempo, o trabalho de seus biografados. Essa tendência, que se mostra híbrida, em fase de consolidação no meio científico brasileiro, representa um método de pesquisa em busca de espaços que a reconheçam e compreendam a relação estreita entre a história de vida e o contexto social em que está inserido o personagem. No Brasil, o trabalho biográfico foi realizado inicialmente por Simão de Vasconcelos que escreveu a vida dos padres João de Almeida e José de Anchieta, sem despertar interesse dos leitores pelo conteúdo árido e repleto de fábulas e crendices populares. No século XIX voltou a ser produzido pelo Conselheiro Pereira da Silva, também sem a devida valorização, porém foi uma linha que se fortaleceu em direção à biografia política. Este Doutorado mostra uma fatia dos acontecimentos de uma época, retratando-o de forma isenta, ao mesmo tempo em que mantém um diálogo entre o passado e o presente, mesclando a descrição dos eventos e sua contextualização. Para isso, dois pontos metodológicos fundamentais sustentam este projeto que tem como vértice a biografia de Pompeu de Sousa. Em primeiro lugar está o campo da Comunicação, especificamente o Jornalismo, com ênfase para a Escola Latino-Americana (MARQUES DE MELO, 2003c, p.48), teoria defendida em pesquisas científicas que a referendam e a legitimam no espaço acadêmico. Não obstante ocupe um lugar privilegiado nas universidades latinoamericanas em que existem estudos regulares de Comunicação, ao nível de graduação ou pós-graduação, a Escola Latino-Americana ainda não conquistou a hegemonia. O processo de sua difusão se faz lentamente, enfrentando barreiras do modismo teórico ou o preconceito de quantos seguem valorizando exclusivamente as metodologias que trazem o selo dos países metropolitanos (MARQUES DE MELO, 1999, p.23). Um cenário que vem se modificando aos poucos, com projetos de pesquisa que reconhecem a teoria latino-americana, pensando questões próprias à realidade que envolve os processos comunicacionais, no caso, brasileiro. Um cenário propiciado, principalmente, pela criação do Ciespal, com apoio da Unesco, para incentivar o desenvolvimento dos países latino-americanos. O Ciespal exerceu papel preponderante na conformação de nosso campo acadêmico (MEDITISCH, 1999, p.129), possibilitando a consolidação de um novo status para a Comunicação nas instituições de ensino. Nasce, assim, uma visão singular para as

20 investigações científicas, com metodologias específicas que valorizam o conhecimento produzido por pesquisadores da América Latina. Dentro dessa perspectiva metodológica está o resgate da memória de personagens importantes para a História da Comunicação na América Latina, propiciando a criação do Acervo do Pensamento Comunicacional Latino-Americano, com o apoio da Cátedra Unesco de Comunicação, instalada em 1996, na Universidade Metodista de São Paulo (MARQUES DE MELO, 2001, p.17). As ciências da comunicação na América Latina, particularmente no Brasil, ganham cada vez mais reconhecimento internacional pela sua inovatividade e criatividade. Isso vem propiciando um colóquio em igualdade de condições acadêmicas com os nossos colegas de países que possuem maior tradição no campo. Trata-se agora de difundir esse espírito em nossas universidades (MARQUES DE MELO, 1997, 21). A perspectiva básica dessas pesquisas é levar em conta as singularidades da América Latina, sua condição histórica, política, econômica e social que a distingue de outros continentes, tendo como ponto de partida os conhecimentos paradigmáticos herdados de correntes teóricas norte-americana e européia. Mostra-se evidente a hegemonia européia sobre o nosso embrionário pensamento comunicacional até a primeira metade do Século XX. No período pós-guerra, cresce a influência norte-americana. Ela reduz, mas não elimina o fascínio que as nossas elites intelectuais sempre demonstraram pelas idéias oriundas de metrópoles como Paris, Roma, Londres ou Berlim (MARQUES DE MELO, 2003c, p.134). Um espaço que vai se modificando aos poucos com as pesquisas realizadas por cientistas latino-americanos, com atenção voltada especialmente para a realidade de seus países. Os pesquisadores ensaiam pouco a pouco caminhos alternativos para superar a dependência (teórica e metodológica) a que se achavam submetidos. Imersos numa cultura marcada pela mestiçagem, não hesitam em praticar o sincretismo metodológico, combinando procedimentos herdados das Escolas de Chicago, Paris, Moscou, Roma ou Frankfurt (MARQUES DE MELO, 1998, p.131). Desta forma, o parâmetro metodológico leva em consideração que a iniciativa se insere no campo que busca a consolidação das pesquisas fundamentadas na Escola Latino- Americana, num esforço que visa contribuir para o crescimento dessa raiz teórica. Para este

21 suporte teórico é preciso referendar os estudos relacionados ao Jornalismo Brasileiro (MARQUES DE MELO, 2003), já que este trabalho resgata a trajetória de um jornalista com papel fundamental nas transformações vividas pela imprensa na década de 50, com marcantes influências no ensino e na prática jornalística, tendo como pressuposto a técnica norteamericana. A finalidade é entender igualmente as diferenças do Jornalismo peculiar a determinadas conjunturas brasileiras em relação às estruturas predominantes em países latino-americanos ou naquelas sociedades de expressão cultural portuguesa, cotejando-as com parâmetros hegemônicos no mercado internacional (MARQUES DE MELO, 2003, p.09). Uma perspectiva descrita nesta tese, pela posição de Pompeu de Sousa ao adotar os princípios dos Estados Unidos para a imprensa brasileira. Isso, levando em consideração que os norte-americanos definem Jornalismo como utilidade pública, com informações de interesse público, tendo como pressuposto a teoria funcionalista (MARQUES DE MELO, 2003a, p.27), o que explica a utilização dos jornais diários como instrumentos de atualização do conhecimento diário para o cidadão comum. A instituição jornalística assume o papel de observadora atenta da realidade, cabendo ao jornalista proceder como vigia, registrando os fatos, os acontecimentos e informando-os à sociedade (MARQUES DE MELO, 2003, p.29). Esse suporte teórico tem sintonia com a História, segundo eixo metodológico, para entender as ligações do passado e do presente e interpretar todo o contexto social ao descrever o cenário nacional que marcou as modificações e o desenvolvimento do Jornalismo, numa ação articulada de modo a registrar sistematicamente a história imediata do Jornalismo praticado no Brasil (MARQUES DE MELO, 2003, p.13), para entender o processo de assimilação do modelo norte-americano à tradição brasileira, através da construção de uma história de vida. Para compreender as características fundamentais de certos problemas históricos, é necessário observar e analisar a paisagem atual, porque só ela dá as perspectivas de conjunto, das quais deveríamos partir para nosso estudo. As ligações profundas do passado e do presente exigem a eterna busca e compreensão da mudança, pois a História é a ciência da mudança (RODRIGUES, 1969, p.36). O recurso à metodologia histórica é importante por reunir os dados do passado que possam explicar as ações do presente, num diálogo constante entre as duas temporalidades,