DESLIZAMENTOS E EROSÃO SUPERFICIAL EM ITAARA/RS. FUNDAMENTAÇÃO COMO SUBSÍDIO AO MAPEAMENTO DE FEIÇÕES GEOMORFOLÓGICAS.¹

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Transcrição:

DESLIZAMENTOS E EROSÃO SUPERFICIAL EM ITAARA/RS. FUNDAMENTAÇÃO COMO SUBSÍDIO AO MAPEAMENTO DE FEIÇÕES GEOMORFOLÓGICAS.¹ VARGAS, Luciani Vieira de²; CARDIAS, Marcia Elena de Mello ² ; SOUZA, Bernardo Sayão Penna e³ 1 Trabalho de Pesquisa _UFSM ² Curso de Geografia da Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS Brasil ³ Professor Associado 2 do Departamento de Geociência da Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria RS Brasil E-mail: lucianiv.vargas@gmail.com; marcia.74cardias@gmail.com; bernardosps@yahoo.com.br. RESUMO O presente trabalho de pesquisa visa realizar uma reflexão teórico-metodológica acerca de processos como a erosão-superficial e/ou deslizamentos de solo no município de Itaara/RS. Pretende-se então estudar a dinâmica do relevo e as propriedades influentes na geração das feições geomorfológicas sujeitas a deslizamentos e/ou erosão superficial em áreas de encostas, do município. Objetiva-se assim, prognosticar áreas sujeitas a deslizamentos e/ou erosão superficial através de padrões estabelecidos na bibliografia pesquisada. Palavras-chave: Deslizamentos; encostas; erosão-superficial. 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos algumas cidades brasileiras deparam-se com verdadeiras explosões demográficas devido ao crescente número de habitantes em busca de melhoria de vida. São pessoas com expectativas de melhores trabalhos, de acesso a ensino de qualidade e conquistas sociais. Dentre outros, esses são fatores que levam o homem a migrar para determinados locais, os quais após tamanha ocupação passam a não mais suportar tal, fato que gera a crescente urbanização, por vezes, em áreas consideradas de risco como as encostas. Essas ocupações geram situações de perigo a vida humana, visto que as habitações vêm sendo construídas em encostas de declives acentuados, já fora dos padrões permitidos para ocupação humana. As áreas urbanas, por constituírem ambientes onde as ocupações humanas se tornam intensas e muitas vezes desordenadas, tornam-se locais sensíveis às gradativas transformações antrópicas, à medida que se intensificam em freqüência e intensidade o desmatamento, a ocupação irregular, a erosão e o assoreamento dos canais fluviais (Guerra e Cunha, 1998). De acordo com Guerra (2011),

Entende-se por área de risco frente à geomorfologia, aquelas regiões onde já existe o risco natural, visto que os processos naturais fazem parte da dinâmica da Terra. Sendo assim, é recomendada a não construção de casas ou instalações, em tais áreas, pois estas são muito expostas aos desastres naturais, como desabamentos, enchentes, escorregamentos, erosão, etc. Segundo Margarida M. Penteado, em Fundamentos de Geomorfologia, o relevo se constitui de uma grande variedade de tipos de encostas, desde superfícies retilíneas quase verticais, os penhascos, até vertentes tão suavemente inclinadas que quase se aproximam da horizontalidade. Conclui-se então que encostas são áreas de grande instabilidade em relação as suas condições físicas e biológicas e ainda deve-se levar em consideração o dinamismo natural da evolução do relevo, ou seja, são processos naturais aonde o homem vem através de sua ação alterando a dinâmica da natureza. Sabe-se que essas alterações podem trazer conseqüências ao bem-estar do ser humano, como perda de bens e até de vidas, sendo assim, pensa-se ser necessário o mapeamento de áreas sujeitas a deslizamentos e/ou erosão superficial em locais de encostas, como é o caso no município de Itaara/RS. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1 Geografia e a Geomorfologia A geografia define a superfície terrestre como sendo a camada externa á crosta terrestre, ou seja, a litosfera, a qual se trata de uma grande área exposta aos agentes externos e internos do Planeta Terra. Deseja-se com isso, salientar as constantes transformações sofridas ao longo do tempo pela superfície do planeta, o que gera importantes modificações físicas, as quais passam a transformar, modelar e definir o relevo terrestre. Dessa forma, Penteado (1983, p. 02) nos diz que: A geomorfologia procura entender a forma da Terra e elucidar os processos que operam na sua superfície. Sabe-se que o relevo terrestre consiste nas diversas formas da superfície do planeta, as quais podem ser influenciadas por agentes internos ou externos, agentes esses, que podem agir de duas maneiras: de dentro para fora, sendo denominados de agentes formadores internos ou movimentos endógenos ou então, movimentos exógenos, os quais consistem na ação da atmosfera para a litosfera, ou seja, são os modeladores externos da superfície terrestre. Assim, segundo Penteado (1983, p. 02): Essas forças têm sua origem no interior da Terra: processos endógenos e no exterior, processos exógenos, referentes à atmosfera-hidrosfera e biosfera. Esse campo é dinâmico porque as forças agem e reagem, gerando um sistema de interferências.

Esses agentes são ditos modeladores ou modificadores do relevo e como exemplo disso tem-se o vulcanismo, o tectonismo e abalos sísmicos, sendo estes agentes modificadores do relevo e têm-se ainda os agentes modeladores que são as chuvas, rios, vegetação, etc. Nesse contexto, Penteado (1983, p. 02) explica que: A análise e o estudo dos fenômenos gerados dessa complexidade de ações devem ser feitas sob dois aspectos básicos: o estático e o dinâmico, para que possa atender ao duplo objetivo da geomorfologia. 1 ) Fornecer descrição explicativa e um inventário detalhado de formas. 2 ) Analisar os processos que operam na superfície terrestre. Percebe-se que inúmeros são os fatores que influenciam a formação do relevo sob o qual o homem desenvolve técnicas e estabelece sua vida, porém nem sempre esse relevo é adequado as funções que o homem estabelece a ele, como por exemplo, construções em áreas de encostas, as quais trazem intrinsecamente o risco de deslizamentos naturais, essas áreas são propicias a movimentos de massa, os quais são potencializados pelo uso indevido do homem. Segundo essa perspectiva salienta-se que: A superfície da Terra é composta de formas, submetidas a um processo evolutivo natural e nas quais o impacto humano deve ser considerado, porque o povoamento e a urbanização alterando essas formas podem vir a causar desequilíbrios, como a desestabilização de encostas e a subsidência do solo. ALMEIDA e CARNEIRO (1998, apud GUERRA, 2011, p. 231) Já há algumas décadas, os ambientes alterados pelo homem começaram a ser motivo de preocupação por parte de especialistas da área, pois essas mudanças que vem ocorrendo de forma acelerada têm relação com o crescimento humano e desordenado. Percebe-se que o ser humano não respeita o condicionamento biofísico do meio ambiente, afetando assim, a qualidade de vida urbana. A respeito disso: O que se verifica em nosso modelo de construção é uma desorganização e a falta de planejamento, salvo algumas exceções. O que se vê é a falta da instalação adequada ás características físicas do local a ser habitado, o que leva a processos geomorfológicos impactantes após o período de construção. (GUERRA, 2011, p. 129) Concomitante ao crescimento desordenado fica claro as profundas mudanças na paisagem urbana e como exemplo disso, temos a erosão acelerada, a qual é intensificada

pelo crescimento rápido e espontâneo de áreas periféricas, a maioria imprópria para edificações. Porém, não se pode esquecer que a erosão é um processo natural de formação do solo, atualmente intensificada pela ação humana. Sobre isso, SOUZA (2001, apud OLIVEIRA, 2011, p. 68) diz que: a erosão é um processo normal do ambiente natural. Faz parte do equilíbrio dinâmico das paisagens terrestre. É um processo contínuo e progressivo de velocidade variável, pelo qual as forças da natureza, especificamente os agentes externos de esculturação do relevo, vêm modelando a superfície da Terra. Sem elas não existiriam as formas que hoje nas superfícies continentais e também a distribuição dos solos não seria a que hoje se observa, muito embora a esculturação das formas (morfogênese) e a formação dos solos (pedogênese) sejam processos antagônicos, que agem simultaneamente, na formação do relevo. Dessa forma, sobre as mudanças na paisagem, GUERRA (2011, p. 119) diz que, A paisagem alterada é um espaço produzido, cujo relevo serve de suporte físico, em que as diferentes formas de ocupação refletem o momento histórico, econômico e social. Ou seja, essa dinâmica sob a qual o relevo fica submetido, nada mais é do que a dinamicidade entre processos físicos e os agentes sociais atuantes, que ocorrem de forma a prejudicar o meio, alterando incessantemente o ambiente naturalmente já estabelecido. 2.2 Encostas Segundo Guerra (2011, p. 15) as encostas ocupam a maior parte da superfície terrestre. Ao ler tal afirmação, pensa-se que talvez esse seja um dos fatores condicionantes para os inúmeros casos de deslizamentos que se tem notícia atualmente, visto que a população passa a ocupar áreas de médias a altas declividades, as quais são impróprias para a habitação humana. A partir de tal hipótese, percebe-se a importância do estudo das encostas, visto que somente com o conhecimento de tais estruturas, bem como dos movimentos de massa é possível prevenir tais desastres, os quais se tornam iminentes devido ao uso que a população faz dessas áreas. Sendo assim, percebe-se que se faz necessário compreender a natureza e dinâmica de tais terrenos, ou seja, os movimentos do relevo, percebendo quais e de que maneira determinados fatores influenciam nas mudanças ocorridas nestes, e ainda se existe ou não a influencia do homem, visto que esse intensifica fatores naturais de deslizamentos das encostas. A respeito disso, Guy, (1976 apud GUERRA, 2011, p. 16) diz que: as atividades humanas podem provocar mudanças em um longo período

de tempo, à medida que o uso da terra vai-se transformando, ou também em um curto período, quando a cobertura vegetal é retirada, as encostas são transformadas, e os canais fluviais são alterados. São possivelmente, as combinações de diferentes fatores como os supracitados que causam impactos ambientais, por exemplo nas cidades, as quais têm um crescimento mais acelerado que os demais pontos dos municípios. Percebe-se que as encostas tendem a serem as primeiras áreas a sofrerem tais impactos, visto que essas já sofrem de um risco natural de deslizamentos, os quais seriam de ordem natural do terreno não fosse o agravante do uso indevido do homem. Assim, Allison e Thomas (1993, apud, Guerra, 2011, p. 20) nos dizem que, alguns sistemas são altamente sensíveis a intervenção humana, como é o caso das encostas urbanas. O desmatamento, seguido da ocupação intensa de algumas encostas, através da construção de casas, prédios, ruas, etc., causam uma grande impermeabilidade do solo, sem serem acompanhadas de obras de infraestrutura, como galerias pluviais e redes de esgoto, podem causar grandes transformações no sistema de encosta, provocando deslizamentos e outros processos geomorfológicos catastróficos. ALLISON e THOMAS (1993 apud, GUERRA, 2011, p. 20) São movimentos intensos do relevo que causam a perda de vidas humanas, bem como prejuízos materiais ás populações dessas áreas. Nota-se também que esses movimentos são responsáveis pelas mudanças rápidas nesses ambientes, ou seja, as diferentes formas de relevo são modificadas por processos de movimentos de massa. Segundo Guerra (2011, p. 16), as encostas variam bastante em forma, comprimento e declividade, de um local para outro e, algumas vezes, podem variar bastante num mesmo local. Observa-se que são essas diferenças, as quais variam de lugar para lugar, que nos forçam a desenvolver estudos a respeito de áreas como a de Itaara/RS, pois a população passa a ocupar terrenos de declividades acentuadas aumentando o risco natural de deslizamentos. Esses deslizamentos são fenômenos naturais, de ordem geológica e climática, os quais implicam em movimentos de solo, ou seja, no deslocamento deste, o qual pode vir ou não acompanhado de rochas, o que aumenta o risco para a população ali residente. Vale salientar que as encostas são regidas pela força da gravidade, a qual é a principal causa desses deslizamentos, mas é o uso indevido do homem que intensifica tal problema. PARSON, (1988, apud GUERRA 2011, p. 19) afirma que: o homem influencia as encostas de três maneiras principais: 1. Cria encostas artificiais, tais como aquelas feitas através de cortes e aterros, nas cidades, para a construção de ruas; 2. Altera o uso da terra, desmatando e

construindo casas e prédios, modificando totalmente o equilíbrio dos processos geomorfológicos, que atuam sobre as encostas; 3. Recentemente, o homem tem modificado as encostas, através de obras de recuperação de áreas degradadas, criando uma paisagem artificial, em relação aquela existente anteriormente a ocupação humana. Parsons (1988, apud GUERRA 2011) aponta que o estudo das encostas é o tema central da geomorfologia e outros autores, como Young (1974, apud GUERRA 2011) chamam a atenção para o papel do estudo das encostas para a compreensão da evolução do relevo terrestre. Para GOUDIE (1995, apud GUERRA 2011): Nas últimas décadas, as encostas tem sido o foco central na geomorfologia, e grandes esforços têm sido feito para se avançar no seu conhecimento, por meio do monitoramento da sua evolução e das taxas de perda de solo, bem como de sua situação dentro das bacias hidrográficas. Observa-se que o estudo da remoção da superfície de determinadas regiões, ou denudação, acompanha o estudo das encostas, ao passo que tais processos podem ser de ordem natural ou influenciados pela ação antrópica. Salienta-se assim, a importância do monitoramento e estudo de áreas de encostas, visto que o homem passou a ocupar locais impróprios para habitação humana, ficando evidente a necessidade de estudos referentes a encostas. Dessa forma, para GUERRA (2011, p. 13) O desenvolvimento das encostas é, conseqüentemente, o principal resultado da denudação, e o estudo dessas feições possui um caráter de grande importância para geomorfologia, que estuda as formas de relevo, os processos que dão origem a essas formas e seus materiais constituintes, tendo um papel significativo na compreensão dos ambientes transformados pelo homem. Assim, o que se observa, é que há algum tempo as mudanças ambientais vêm sendo cada vez mais estudadas pela geomorfologia, visto que sua importância tem crescido mais recentemente, à medida que tais mudanças têm se intensificado, ficando então, mais conhecidas e despertando o interesse de cientistas da área. 2.3 Movimentos de massa Segundo SMALL e CLARK (1982, apud GUERRA 2011, p. 24), os processos de movimento de massa tem um impacto direto no uso da terra e podem, em casos extremos, constituir riscos á vida humana e ás construções. Nota-se assim, que quanto maior a pressão demográfica de grandes cidades, ou até

mesmo das urbanizações mais simples, maior o processo de intensificação dos riscos ditos naturais, ou seja, é a ação antropogênica que potencializa a dinâmica natural das encostas. Sobre isso Guerra, (2008) reflete que o impacto antropogênico sobre as encostas naturais representa o principal fator de influência sobre os processos, as formas e a evolução das encostas, de maneira deliberada ou não. Dessa forma, Mitchell (1995, apud, Guerra 2011, p. 25) diz que: As mudanças na urbanização global e as perdas causadas sugerem que devemos nos concentrar mais em pesquisas relacionadas aos movimentos de massa urbanos, no sentido de conhecer melhor o problema e conseguir atuar preventivamente. Imagina-se então, que essa ocupação desordenada e acelerada reunida a elementos naturais como, encostas íngremes, solos profundos, chuvas concentradas e etc, podem ser, entre outros, os fatores determinantes para eventos catastróficos, dos quais tivemos notícias nos últimos anos. Esses eventos incluíram deslizamentos de terra, enchentes, corridas de lama e queda de blocos, os quais podem se tratar de movimentos rápidos, em que os materiais se comportam como fluidos altamente viscosos, ou movimentos rápidos mas de curta duração, ainda têm-se os movimentos rápidos de bloco e/ou lasca de rocha, que caem pela ação da gravidade, ou aqueles movimentos extremamente lentos, por vezes quase imperceptíveis. Tais movimentos se dão, entre outros fatores, pela concentração de água superficial, descontinuidades mecânicas e/ou hidrológicas no interior dos materiais e a ação da gravidade. Referente a isso, Guerra diz que: Nos movimentos de massa ocorre um movimento coletivo de solo e/ou rocha, em que a gravidade/declividade possui um papel significativo. A água pode tornar o processo ainda mais catastrófico, mas não é necessariamente o principal agente desse processo geomorfológico. GUERRA (2011, p. 26) Para FERNANDES E AMARAL (2009, apud Guerra, 2011) os movimentos de massa são assim classificados: a) Corridas (flows): Caracteriza-se pela afluência de grande quantidade de material para a drenagem. A parte argilosa deste material se mistura com a água formando um líquido viscoso (lama), com alta plasticidade que flui para as partes baixas. Pela sua velocidade e a elevada densidade, esse possui um alto poder destrutivo e um extenso raio de ação. São movimentos que se assemelham a avalanches. b) Rastejamento: É um movimento extremamente lento de poucos centímetros ao ano. Basicamente se dá pela movimentação como um todo, do manto de alteração de uma encosta; deslocando e abrindo fendas nas partes inferiores (solo residual e rocha). A

existência de rastejo numa área pode ser notada pela inclinação de árvores, cercas ou postes. Normalmente, este é um dos movimentos mais lento que existe mas, com o aumento da saturação de água no solo, ele pode assumir uma maior velocidade, tornandose um perigo para as construções que existem nesta vertente ou neste vale. c) Escorregamentos: Contrariamente ao rastejo o escorregamento afeta parcialmente o manto de alteração de uma encosta, possui limites (superfície de ruptura) bem definidos tanto em profundidade como lateralmente e são rápidos. Ocorrem em frações de segundos a minutos. O escorregamento tem sido o tipo de movimento de massa mais comum e pela intensidade e velocidade com que ocorre tem causado muitas mortes e perdas materiais. d) Queda de blocos: São movimentos extremamente rápidos onde há o desprendimento de lascas e pedaços de rochas aflorantes em encostas, que caem pela ação de gravidade, sem a presença de uma superfície de deslizamentos, na forma de queda livre. 3. METODOLOGIA A metodologia do presente artigo fica restrita à pesquisa bibliográfica, a qual é de suma importância para a compreensão de processos geomorfológicos influentes no tema de pesquisa. Tal bibliografia foi obtida através de fontes de consulta como livros, artigos publicados em órgãos de divulgação científica e trabalhos elaborados acerca do tema. 4. CONCLUSÃO Após a obtenção de subsídio teórico acerca do assunto em questão, conclui-se que esta pesquisa tem considerada relevância ao meio acadêmico visto que tem plenas condições de ser seguida, visando alcançar os seguintes objetivos posteriores: - estudar os processos de movimentação do relevo e mapear feições geomorfológicas sujeitas a deslizamentos e/ou erosão superficial, bem como o mapeamento das principais feições geomorfológicas locais do município de Itaara/RS.; - determinar e mapear áreas sujeitas aos diferentes processos de movimentação do relevo, com base na declividade e também identificar e mapear a cobertura vegetal e o uso da terra; - analisar e compreender os diferentes processos erosivos atuais e potenciais na área de estudo, levando em consideração dados de declividade, porosidade, permeabilidade, compactação do solo e cobertura vegetal.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: CUNHA, Sandra Baptista da; GUERRA, Antônio José Teixeira; Geomorfologia: e meio ambiente. Rio de Janeiro: Bretrand Brasil, 1998. GUERRA, A. J. T.; Geomorfologia Urbana. Rio de Janeiro: Bretrand Brasil, 2011. OLIVEIRA, Mariana Xavier de. Fragilidade de vertentes: Resistência á penetração versus taxa de infiltração em diferentes subordens de argissolo na área urbana de São Pedro do Sul/RS. 2011. 57f. Monografia (Trabalho de Graduação em Geografia Licenciatura) Universidade Federal de Santa Maria, 2011. PENTEADO, M. M.; Fundamentos de Geomorfologia. Rio de Janeiro: IBGE, 1983.