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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Identificação FL14 Duração da entrevista 31:10 Data da entrevista 2-3-2013 Ano de nascimento (Idade) 1973 (39) Local de nascimento/residência Lisboa / Lisboa Grau de escolaridade mais elevado Licenciatura Estado civil solteira Filh@s 1 filho (7 anos) Local da entrevista Casa da entrevistada Comentários Responde a várias perguntas de uma vez, ordem das outras perguntas alterada. P4 dividida em duas fases P1 (3:08) E: está bem. então podemos começar com a primeira pergunta. (hum) ã: acho que existe consenso em relação ao facto de[:] o mundo-- de o nosso mundo em geral, (hum) ã: ter mudado bastante se olharmos por exemplo para os últimos trinta anos. não é? ã: na maneira como as pessoas vivem, como se relacionam, onde vivem, não é? todo[:] esse tipo de coisas. ã: e se calhar a mudança foi ainda mais acentuada cá em portugal, se pensarmos ã: na-- no vinte e cinco de abril, não é? a mudança que trouxe essa[:] revolução. achas que a vida das mulheres mudou também? FL14: (.) acho que sim, e ainda bem que sim. (hum) acho que mudou para toda a gente. as mulheres estão é incluídas. (hum) ã: se mudou. eu penso que sim! é assim, as mulheres antes não podiam trabalhar, não lhes davam trabalho, não podiam estudar, não-- (hum) ou se o faziam eram (.) eram consideradas ã: fora, não é? (hum) muitas mulheres até foram para fora de[:] portugal, as mulheres mais-- com mais pulso. (hum) nas famílias não se[2:] incentivava isso. (hum) era mais para fazer sala, não é? (hum) as mulheres entretinham com a[2:] cultura que lhes era dada, mas não era assim nada-- não era para elas, era para os outros. (hum) as mulheres não eram educadas para[:3] elas. eram para dar aos outros. (hum) para o marido, para os filhos, para o que fosse. (E: pois, hum) claro que há exceções, e ainda bem, mas é assim que funciona. são exceções que também fazem às vezes evoluir. (hum) mas penso que sim, que[:] as coisas mudaram e ainda bem. (hum) só têm que mudar não é? (hum) [riso] (E: [riso]) acho que é a minha opinião. E: hum. e se olhares por exemplo mais em concreto para a vida da tua mãe, e comparares ã: a vida da tua mãe com a tua. (hum) onde é que vês as-- onde que vês diferenças, semelhanças? FL14: é assim, a minha mãe, é assim. com os dados que eu tenho, já estás a[3:] escolher um tipo de perfil que já não é[2:] muito a regra na[:2] nossa sociedade portuguesa. (hum) portanto a minha mãe sei que é um exemplo que se calhar não será para todas as minhas amigas. (hum) eu estou habituada a ver a minha mãe 1

2 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 trabalhar, a minha mãe a lutar ã: pelos direitos dela, a minha mãe sempre foi muito[:] de pulso no trabalho, e muito reivindicativa, de tentar ter as coisas que ela achava corretas, para os alunos dela, mesmo em termos de sindicato, (hum) eu estou habituada a ver a minha mãe-- a minha mãe hoje vai à[2:] manifestação, não é. (hum) eu estou habituada a isso. (hum) não vou dizer que seja assim com todas a-- todas as pessoas. (hum) tenho amigas minhas de-- pronto, que as mães tinham uma vida caseira, (hum) e deixaram de trabalhar quando ficaram mães. (hum) ã: portanto hoje aquilo que sou (sou) também se calhar um bocadinho também por influência da minha mãe, acho que contribuiu também para eu ter alguma consciência minimamente social. acho que a minha mãe educou-nos a[:] viver na igualdade. (hum) se bem que eu acho que na prática isso não[:] acontece tanto. (hum) mas[:] há uma vontade. (hum) isso eu noto. ã: eu acho é que ao mesmo tempo as mulheres também cavaram um[:] poço, porque acho que nós conseguimos direitos que são iguais, (hum) mas na prática não[:] são iguais porque nós também não somos iguais. eu acho que ã: o que[6:] a sociedade se esquece é que-- eu não acho que as mulheres e os homens sejam iguais. (hum) não acho que sejam. (hum) biologicamente talvez, com algumas diferenças, mas eu não acho-- que em termos de comportamento, em termos de sensibilidade, não somos iguais. e a partir do momento que[:] se tenta ter a mesma-- eu acho que nós não devemos sequer competir, porque acho que são[:2] áreas diferentes. (hum) eu não estou a dizer que somos mais ou menos, nota bem. (hum) o que eu estou a dizer é que-- é[:2] não acho correto o pensamento se as mulheres hoje em dias têm os mesmo direitos que os homens. (hum) eu acho que isso é demasiado abstrato para mim. eu não sei se quero ter os mesmos direitos que os homens. (hum) ã: homens-- homem. homem sexo masculino. (E: sim[:2]) porque acho que nós temos uma vida diferente. (hum) acho que nós temos um[:] perfil de vida diferente. uma sensibilidade diferente. (hum) digo isto porque sou mãe. (hum) e eu o que eu noto no meu dia-a-dia. eu não consigo ã: eu não acho[2:] que a minha sensibilidade seja igual à de um homem pai. que esteja a fazer exatamente o mesmo que eu. (hum) pronto. eu não sei se isso tem a ver com a educação. eu acho que não-- é uma predisposição-- é nossa. (hum) não[:] também pode ser o meu feitio, ou sou eu que sou assim, (hum) mas não me parece que seja igual. ã: eu acho que falta ainda acertar isso. eu acho que se conseguiram algumas conquistas, (hum) eu acho que falta personalizar essas conquistas. (E: ok) é a ideia que eu tenho. E: hum, agora já respondeste a uma série de outras perguntas que eu tinha lá para a-- //[riso] mais para a frente\ FL14: /[riso] eu torno a repetir (xxx)\\ que eu penso [risos]

3 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 P2 (7:36) E: ã: portanto, igualdade, igualdade, achas que não[:] existe, mas também não[:2] //irá existir\ FL14: /eu acho que deve haver.\\eu acho que deve[:]-- nós devemos ter a[:] liberdade e o poder de[:] poder ã: ter as mesmas oportunidades, (hum) entendes? (hum) as oportunidades devem ser iguais para todos. (hum) eu acho é que depois a prática, há situações que não são equiparáveis. (hum) e que não s-- não nos podemos comportar como se fôssemos todos iguais. porque não somos. (hum) e eu acho que ã: o que deveria haver-- eu não estou a dizer que a culpa é nossa, o que eu estou a dizer é a expectativa é que deveria ser diferente. (hum) a expectativa, o[:2] que nos é esperado, o que nos é exigido, deveria ser mais ã:[2:] deveria ser mais ã: deveria ter em conta as diferenças. E: hum, mas é possível nos termos as mesmas oportunidades, se as expectativas são diferentes? FL14: eu não acredito nisso. (hum) gostava de dizer que sim, e acho que ã: idealmente todos deveríamos dizer que sim. (hum) todos deveríamos responder que sim a essa tua pergunta. e eu acho que mesmo em termos de gerações foi para isso que os nossos pais ã: fizeram uma revolução, foi para isso que os nossos pais se mataram a trabalhar para nós tirarmos um curso, mas na prática não acho-- não-- eu não sinto isso. (hum) não sinto essa igualdade. (hum) e é uma revolta que eu tenho. porque eu instintivamente acho que todos deveríamos ter os mesmos direitos, e exigir as mesmas coisas. mas na prática não sinto isso. (hum) e acabo por ter que ter um comportamento mais reativo exatamente porque me sinto diferenciada. (hum) e[:] uma das minhas questões é exatamente, se eu devo aceitar essa diferença, ou se devo lutar pela-- por essa diferença. (hum) não sei se me estou a fazer perceber. E: [risos] hum. parece[:] um bocado um dilema. FL14: é um dilema. (E: [riso]) é um dilema. (hum) eu acho que ser mulher é um dilema. não digo que ser homem não seja, mas eu não sei como, é. (hum) mas quando digo mulher é[:]-- como é que hei de explicar. ã: em termos de prioridades, porque é assim, é muito fácil falarmos só de trabalho. o que é ser mulher, é tirar um curso, é ir trabalhar, é ter sucesso é sentirmo-nos ã: como é que hei-de explicar. é sentirmo-nos ã:[:] falta-me o termo. quando estás a fazer uma coisa que tu-- realizadas, (hum) não é? profissionalmente se uma mulher se pode sentir realizada. pode. (hum) agora o que eu acho é que às mulheres-- mais facilmente vejo um homem sentir-se profissionalmente realizado do que uma mulher. (hum) eu vou-te dar um exemplo. eu já em entrevistas de trabalho me perguntaram se eu tinha filhos. (hum) e eu senti-me extremamente ofendida. na altura não era mãe, (hum) nem sequer-- tinha sequer ideia

4 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 de vir a ser tão cedo, e eu fiquei extremamente ofendida como mulher. (hum) por me perguntarem se eu tinha filhos. porquê. porque a pessoa que me estava entrevistar era um homem. era um homem que tinha uma aliança. e eu ã: a partir do momento em que me fizeram essa pergunta, eu pensei eu não quero trabalhar aqui. (hum) eu não quero saber. portanto a partir daqui esta entrevista para mim acabou. vou ser educada, acabou. e no fim da entrevista perguntei-lhe. ã: gostava de saber porque é que me fizeram esta pergunta, o que é que isso tem a ver com[:2] o portfólio que eu acabei de mostrar. (hum) porque a disponibilidade, não[:]-- a sua disponibilidade nunca seria a mesma de uma pessoa que[:] não tem filhos. (hum) e eu apeteceu-me perguntar-- eu acho que na altura ainda era muito nova. eu hoje em dia já perguntava. eu apeteceu-me perguntar. vejo que é casado. tem filhos? (hum) ã: os filhos interferem na sua atividade como diretor criativo. (hum) porque sabes porquê. ele provavelmente pode estar a[:] ter essa disponibilidade, porque se calhar a mulher não tem. (hum) percebes. (hum) porque é assim que eu acho que as coisas funcionam. E: hum, mas então como é que tu relacionas isso depois, com[:] essa[:] diferença que tu dizes que existe entre homens e mulheres e que não é possível-- FL14: porque não é aceite. //porque não\ E: /ultrapassar\\ FL14: é aceite essa diferença. não[:]-- é assim. ã: de mim esperam, ou seja, de mim deram-me os meios para eu poder trabalhar ao lado de homens, (hum) percebes? mas não aceitam que eu sou mãe, e que eu também tenho direito a estar com o meu filho. ou seja se tu queres te sentir realizada profissionalmente, tens que ceder muito da tua vida, (hum) estás a entender? (hum) e o que eu queria era que aceitassem a diferença de eu se calhar queria ter uma profissão, queria ser bem sucedida e nem sequer estar em causa eu fazê-lo bem, mas eu ter por exemplo horários, para sair, (hum) entendes? (hum) coisa que não-- eu estou também a falar de uma área-- o meu tipo de profissão é assim. (hum) portanto, eu falo pela experiência que eu tenho. (hum) ã: e o que eu noto é que essas diferenças não são-- quando eu digo essas diferenças são essas nuances, porque a vida não é só trabalho, o que tu chamas sucesso, (hum) não é só o teu trabalho! é a tua vida toda, não é? (hum) é tu sentires-te feliz, é estares tudo o que-- em todas as tuas áreas de vida, tu sentires que[:] estás em plena-- a fazer tudo o que te sentes com capacidade para fazer. (hum) e (a questão) é que eu me sinto muito limitada. (hum) é o que eu sinto, no meu dia-a-dia. sinto-me extremamente frustrada porque me sinto muito limitada. P4.1 (12:39)

5 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 E: então isso também significa que ã: a questão da maternidade é um[2:2] marco na vida da mulher, é isso? FL14: é. eu acho que é. E: ã: portanto isso seria uma das[2:] perguntas que iam mais à frente, em que[2:] aspetos, ou-- quer dizer, já posso pressupor que tu achas que a vida muda //quando[:] se é mãe.\ FL14: /muda, muda.\\ E: muda em quê. muda em que aspetos? FL14: muda porque-- ( 2.0) muda porque tu tens que te-- é assim. ã: o teu grau de exigência, (hum) ã: multiplica-se. [risos] (E: [riso]) multiplica-se. e então quanto mais perfecionista tu tentas ser, (hum) mais cansativo se torna. (hum) porque mais queres fazer bem tudo. (hum) e menos tempo tens para fazer tudo, e mais te é exigido. (hum) porque enquanto que antes se calhar podias trabalhar não sei quantas horas, e era suficiente para te sentires bem e deitares-te à noite, (hum) já não chega. tens que fazer isso, mas ainda tens que-- um filho não é uma coisa mecânica, não é uma tarefa. (hum) e é muito complicado tu sentires que estás a fazer tudo como tu gostarias. não sentes isso. é uma frustração. (hum) é uma frustração. [risos] (E: [riso]) mesmo. E: mas então também estás a pressupor que esta[:] experiência de ser mãe, é diferente da experiência de ser pai. (.) é? ou não é? FL14: eu penso que é. (hum) infelizmente. é o que eu sinto. (hum) mesmo-- não falo só por mim. falo mesmo no que eu vejo, ã: não[:] sinto que haja uma igualdade. (hum) não acho. e depois é[:] novamente aquelas coisas que eu também-- somos aqueles dilemas que eu também tenho. (hum) e que sou eu que penso. que é: geneticamente, são aquelas diferenças que existem, e que nós se calhar temos que aceitar, não é? ou seja um homem nunca será igual a-- biologicamente, (hum) ou por estar disposto a dar, haverá diferenças ou[:] iguald-- ou seja a igualdade é um ideal ou[:] deve-se aceitar a diferença. isto é uma coisa que eu hei de ter sempre cá a pensar, (hum) entendes? ou seja, há sempre nuances. tu vês[:] aqueles documentários de vida selvagem, e o macho não é igual à fêmea, eles dividem tarefas. (hum) percebes? eu não vou dizer que nós somos iguais, mas ã: há uma predisposição. agora eu não sei se somos nós que idealmente gostaríamos que houvesse igualdade entre todos e assim o exigimos, e se calhar estamos a tentar formatar as pessoas e elas nunca vão ser felizes porque estão a tentar (hum) ser todas iguais, (hum) para poder corresponder, não é? se se calhar eramos mais felizes se aceitássemos, olha, eu sou assim, nem mais nem menos, (hum) e nós vamos ter é que nos ajustar de maneira a eu ser feliz sentindo-me assim, (hum) e não ter que estar a competir para mostrar que sou igual a ti, (hum) não é? ã: é[:] essa personalização que eu acho que-- ou aceitar

6 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200 201 202 203 204 205 206 207 208 209 210 211 212 213 se calhar essas diferenças é o que eu sinto. (hum) porque eu acho que não-- a vida não pode ser vivida assim. a vida não pode ser vivida nesta luta de querer mostrar que eu tenho as mesmas condições que-- ã: eu acho que isso é um desgaste muito grande. (hum) é o que eu sinto. (hum) é um desgaste para mim. (hum) não sei se isto é uma opção minha, porque eu gosto muito do que faço. (hum) mas realmente sinto-- sinto-me limitada! e isso põe-me[:] frustrada. (hum) nunca pensei. mas é verdade. (hum) nunca pensei. porque era uma realidade que[:] eu achava. ã: eu trabalho com homens, não me sentia minimamente-- até ser mãe não me sentia grande diferença. porque eu sentia que estava a dar o meu todo. (hum) se fosse preciso matava-me ali. (E: [riso]) não é? não-- nem sequer punha isso em questão. tipo quando muito prescindia o quê? duma noite com[:] os meus amigos, ou um café, ou não poder estar com o meu namorado nessa noite, eram cedências que eu fazia naturalmente. (hum) mas-- pronto, tem a ver se calhar com aquela pergunta que ias fazer. a partir do momento que és mãe isso já não[:2] acontece. eu sou especialmente azeda nessa[:] questão. (hum) porque a minha profissão assim o tem mostrado. (hum) é complicado teres que-- é complicado estares a meio de um trabalho, ou a meio de uma reunião, e ligam-te de uma escola a dizer que o teu filho está com febre que tens que o ir buscar. (hum) eu não estou a dizer que sou especial. há de haver n profissões que se calhar isso acontece. (hum) não é só a minha. mas depois o que é tu fazes. tens[:] pessoas dependentes de ti. tens o teu filho dependente de ti. eu não consigo, não-- é muito difícil gerir isso. (E: hum, pois.) é difícil gerires isso. (hum) porque depois em termos de-- porquê-- porque tu estás muito ligada, não é. (hum) tu estás muito ligada. se estás num ambiente-- pensas sempre. ã: mais cinco minutos, mais dez minutos, vai poder[2:] ajudar a evoluir. (hum) um bocadinho no trabalho. mas esses cinco, esses dez minutos também fazem depois diferença quando ele está à minha espera, (hum) não é? (hum) e é complicado. o que é que eu faço. mato-- mato-me, desgasto-me, porque interrompo o meu trabalho e vou busca-lo à escola. (hum) depois voltamos, estou com ele, não muito tempo, porque também não sobra muito tempo, que é uma coisa que a minha mãe tinha, era tempo para nós, (hum) que eu não tenho, e depois continuo a trabalhar à noite. (hum) trabalho até à uma, até às duas, até às três, para adiantar trabalho. porquê, porque os meus colegas continuaram a trabalhar. (hum) eu venho-me embora e está toda a gente a trabalhar. eu estou a jantar com ele e eles ainda estão a trabalhar. (E: pois.) isto não é um dia nem dois. é quase todos os dias. (hum) como é que tu te sentes? sentes-te mal. (E: hum, pois) é complicado. agora eu vou fazer o quê? vou deixar de fazer o que eu gosto porque tenho um filho? (hum) estás a perceber? (E: pois) é essa a minha-- eu sei que eu não sou um exemplo para toda a gente. há pessoas que conseguem fazer uma vida perfeitamente normal. o

7 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 230 231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 249 250 facto de eu ser[3:] solteira, ou de eu estar separada, se isso também agudiza? não me parece. tinha mais ajudas se calhar, (hum) conseguia repartir as tarefas, mas não me ia tirar esta angústia a trabalhar. (hum) não ia. porque eu não ia deixar de querer estar com o meu filho. se calhar podia estar mais descansada porque consegui gerir melhor o tempo ou não estar tão preocupada porque tenho que sair a horas, porque se calhar conseguia gerir melhor. mas, não-- esta vontade também de querer-- do tal fifti-fifti, (hum) não ia conseguir por causa disso. E: não dá fifti-fifti. FL14: não. P3 (18:39) [ ] P5 (21:06) [ ] P4.2 (24:06) E: está bem. ok. há uma outra pergunta que eu queria fazer em relação à maternidade. (FL14: sim) já falámos um bocadinho. como é que tu vês as mulheres que decidem não ser mães? FL14: ( 4.0) como é que eu vejo? então, acho que cada um[2:] sabe da sua vida, não é. também há pessoas que não[4:] gostam de viajar, há pessoas que não têm ambição de[:] procurar coisas, há pessoas que não querem ter relações, há pessoas que não gostam de ler, há pessoas que não ver filmes em casa, (E: [riso]) acho que é uma opção de vida, não é? (hum) não julgo. (E: ok.) não julgo. (hum) por exemplo, isso é-- há bocado falava dos animais. isso é uma das coisas que nos distingue dos animais. os animais coitados, só[:] têm instinto para[:] isso. não é? (hum) sobrevivência e[:] procriar. (hum) nós temos o da sobrevivência, e temos que ter, e espero bem que funcione, durante muito tempo, se bem que há muitas pessoas que não têm muito espírito de sobrevivência. [risos] (E: [riso]) mas isso ainda podemos escolher! (hum) ainda podemos escolher. por exemplo a maternidade foi uma coisa-- eu instintivamente sempre disse que gostava muito de ser mãe. (hum) mas também sei que há pessoas que não-- não querem[2:2] ter filhos. não quer dizer que não gostem de crianças, (hum) há aquelas que não gostam mesmo de crianças, e não têm paciência. dizem que não querem ser mães. conheço pessoas que não têm por opção, e depois ainda conheço outras-- ainda outras pessoas que vão adiando, (hum) que querem ser e vão adiando. e isso acho que já é uma consequência daquela conversa

8 251 252 253 254 255 256 257 258 259 260 261 262 263 264 265 266 267 268 269 270 271 272 273 274 275 276 277 278 279 280 281 282 283 284 que a gente estava a ter há bocado. (hum) percebes? vão adiando porque acham que ainda não é altura, porque ainda têm profissionalmente que [nã nã nã], e isso depois é o que eu já disse. não vás por aí. (hum) porque eu[:2] tenho amigas minhas da minha área, que eu já as conheci mais velhas. (hum) portanto já haveria-- imagina há uma diferenças de cinco anos. ou seja eu vou fazer quarenta, elas já têm quarenta e cinco. (hum) e o que vão adiando, é que acontece é que depois já não podem ter. (hum) e depois, pronto já não podem voltar atrás. (hum) e depois o que acontece é nesta profissão com essa idade já não prestas, (hum) podes-te ir embora, queremos os mais novos, e depois não só não tens a profissão maravilhosa que tu destes a tua vida toda, como depois também não tens um[:] filho. E: hum. ficas sem nada. FL14: tens[:] a relação. é assim, há pessoas que têm (xxx), (hum) têm os seus maridos, têm os seus namorados. (hum) mas essa parte não vão conseguir. (hum) e depois é assim. na altura não sentes isso se calhar com determinado grau, mas eu por exemplo conheço pessoas que é uma tristeza que têm, (hum) que é não terem tomado essa[:] decisão mais cedo. (hum) porque depois já não[:] faz sentido. já se sentem velhas. (hum) percebes? (hum) já não[2:] querem ter filhos. e depois há outras pessoas. outras pessoas que dizem que não estão-- querem continuar a viajar, e fazer-- pronto! (hum) e vai-se julgar? quem sou eu para julgar? (hum) quero é que estejam bem. [riso] E: [risos] e o teu projeto de maternidade acaba com[:] o [nome do filho] ou-- FL14: ã: infelizmente sim. (hum) não quero ter filhos depois dos quarenta. isto é uma opção minha. pronto. (E: ah, ok) quer dizer, posso dizer isto e daqui há uns tempos vejo-me grávida. (E: [riso]) mas não[:] acho que não me vejo ser mãe depois dos quarenta. porque eu acho que não é só-- é uma coisa egoísta, porque eu depois também não vou estar-- fisicamente não sei se vou estar-- é assim. não dormir, e depois faz-me um bocado de confusão pensar na diferença de idades também. (hum) faz-me-- não sei. não-- eu acho que a vida não se programa assim tão[:] racionalmente. mas eu preferia não-- (hum) gostava de ter mais filhos. mas acho que a partir de agora era[:] egoísmo. (E: hum [riso]) ou não, não sei. estou a dizer, isto mas faz-me um bocado de confusão depois dos quarenta. P6 (27:33) [ ]