OS CONCEITOS DE PÁTRIA E NAÇÃO À ÉPOCA DA INDEPENDÊNCIA NA AMÉRICA PORTUGUESA 1820 A 1834

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Transcrição:

Departamento de História OS CONCEITOS DE PÁTRIA E NAÇÃO À ÉPOCA DA INDEPENDÊNCIA NA AMÉRICA PORTUGUESA 1820 A 1834 Aluna: Isabelle Baltazar Cunha da Cruz Orientador: Marco Antonio Villela Pamplona Introdução O projeto de pesquisa possui a intenção de analisar os termos pátria e nação, tendo o objetivo de refletir sobre a conjuntura social, cultural e política e sua influência sobre a ressignificação desses mesmos termos. Para se compreender a conjuntura de que falamos, se faz necessário retomar o espaço de experiência caracterizado como moderno na América, principalmente no Brasil, em meio às lutas pela autonomia e independência de algumas províncias. Destacam-se desde o início as influências de duas conjunturas políticas: as do doceanismo hispânico, e posteriormente, do vintismo português. O doceanismo hispânico, caracteriza a fase autonomista que precedeu as independências hispanoamericanas, marcada pelas tentativas de aplicação da Constituição de Cádiz nos dois lados do Atlântico. O vintismo português pode ser traduzido como o movimento liberal que, fortemente identificado ao constitucionalismo, propunha a efetiva regeneração política da monarquia. As revoluções liberais no Porto e em Lisboa, em 1820, foram a sua maior expressão. Tanto o doceanismo hispânico como o vintismo português criaram em Portugal e no Brasil, uma atmosfera política vinculada a questão da liberdade, que favoreceu enormemente o avanço da vida cultural nos dois territórios. Um exemplo importante dessa efervescência política e cultural impulsionada pelo vintismo português e pela Revolução de 1820 foi a queda parcial da censura ditada pela Corte no Rio de Janeiro, expandindo a possibilidade de leitura de periódicos, panfletos e livros e dando a oportunidade da abertura de variadas gráficas pelos principais pólos urbanos no Brasil. Diante deste cenário político, relacionado à metrópole, às províncias na colônia e à Corte no Rio de Janeiro, nossa pesquisa buscará refletir sobre as várias lutas por autonomia e soberania que ocorreram no período. Estas foram originadas, via de regra, por conta da insatisfação daquelas províncias que, na impossibilidade de obter maiores privilégios ou autonomias garantidas pela Corte portuguesa no Rio de Janeiro, demonstraram alternativas políticas que poderiam beirar o separatismo. Coube a D. Pedro tentar assegurar a submissão à corte do Rio de Janeiro, em nome de uma suposta unidade do território do Império brasileiro, e, sobretudo, contornar as revoltas mais violentas nas províncias. Devia controlar as influências políticas e pressões vindas de Portugal, ao mesmo tempo que negociar os conflitos surgidos e multiplicados nas províncias do interior. Dentro desta lógica de insatisfação destacamos as províncias

brasíicas da Bahia, do Grão-Pará e de Pernambuco, que reivindicaram vinúmeras questões entre 1817 e 1823. Coube-me, nesta pesquisa, a análise da província da Bahia. Para se compreender a guerra de independência baiana é necessário analisar e refletir sobre a ligação entre política baiana e a de Lisboa. No final de 1820, a Revolução Constitucionalista contribuiu para a dinamização de variados elementos da política da província baiana, incentivando em muitos casos a busca por autonomia local. Por esta última entendia-se também mudanças nas atividades comerciais, na agricultura e na navegação, além da diminuição dos impostos. Apesar de boa parte da elite na província baiana ter apoiado a Revolução de 1820, existia um grande leque alternativas e projetos políticos, identificados a outros grupos sociais, com os mais variados objetivos e demandas. Aproveitando a conjuntura de desordem e a mobilização súbita das classes populares na cidade de Salvador, as classes dominantes e as classes intermediárias delas se aproximaram e as conduziram num primeiro momento à adesão às ideias da Revolução Constitucionalista do Porto e manifestaram formalmente o seu apoio às Cortes de Lisboa em 10 de fevereiro de 1821. Para o estudo desta conjuntura surgiu a necessidade de analisar os conceitos políticos em amplo uso naquele espaço de experiência, acompanhando as suas ressignificações e explicitando o seu forte contato com as transformações da nova realidade. Constitucionalismo, soberania, representação e nação foram alguns destes conceitos. O projeto da monarquia constitucionalista encontrava-se legitimado por periódicos locais como o Idade d Ouro e contava com o apoio de boa parte dos civis e militares baianos. Dividia a cena com ele, também o projeto republicano, mais nos moldes norte-americanos, defendido à época por Cipriano Barata e pelo marechal Felisberto Caldeira Brant Pontes. As reivindicações brasileiras nas Cortes portuguesas buscavam pôr em vigor um projeto de lei que pretendia nivelar a província do Rio de Janeiro às demais províncias do Brasil; auxiliar a extinção dos impostos cobrados pela Corte no Rio de Janeiro; proceder à instalação de tribunais autônomos em cada província, mas não os considerando nem superiores nem independentes de Portugal. Na conjuntura de instabilidade militar e política vivida na província da Bahia, os conflitos armados acabaram culminando na Guerra de Independência, de fevereiro de 1822 a julho de 1823. Este conflito armado envolveu a participação de militares portugueses e brasileiros, e de civis de ambos os lados que buscavam consolidar na província, em definitivo, o projeto político predominante em cada grupo. A tropa dos militares e alguns civis brasileiros tinham a intenção da busca pela autonomia. A Corte no Rio de Janeiro, e posteriormente as Cortes de Lisboa, eram vistas como ameaças. Em relação aos militares portugueses, a intenção foi a de manter e consolidar a influência e poderio das Cortes portuguesas em relação à Bahia. Mas, apesar da constituição destas duas linhas de frente, aparentemente consolidadas em dois projetos políticos distintos, os demais grupos sociais nelas inseridos possuíam demandas próprias e interesses

bastante diferentes, ocasionando, por vezes, fissuras políticas sérias dentro dos seus respectivos blocos, dificultando a atuação militar. Em 1822, ocorre uma maior aproximação política da província da Bahia em relação a Corte do Rio de Janeiro e, igualmente, a maior radicalização dos projetos políticos em curso, na resistência ao exército português. Com a crise do Antigo Regime podemos observar a incorporação das ideias liberais por diferentes classes sociais dentro da província baiana. Objetivos Com o embasamento teórico necessário construído através da bibliografia especializada, e a análise dos periódicos Idade D Ouro do Brazil (1811-1822), Diário Constitucional (1821-1822) e O Independente Constitucional (1823), é possível desenvolver a pesquisa. Identificar o propósito e o sentido do uso de termos como pátria, nação e povo; saber a que tipo de público eram destinados os textos escritos nos periódicos, além de avaliar se os sentidos utilizados para tais termos tiveram uma conotação positiva ou negativa e se houveram tentativas de ressemantização ou ressignificação dos conceitos são alguns dos principais objetivos. Um outro objetivo é observar a relação entre os conceitos mencionados anteriormente, explorando sobretudo os vínculos identitários que começaram a ser criados entre os termos povo, pátria e nação. Metodologia Com o objetivo de desenvolver a pesquisa mantivemos a prática de encontros semanais com a intenção de analisar e apresentar as variadas leituras propostas pelo orientador, e posteriormente elaboramos fichamentos e relatórios de acordo com a análise das leituras e também dos documentos primários pesquisados na Biblioteca Nacional. A pesquisa relativa à documentação primária pretendeu investigar a postura política do editorial do periódico Idade D Ouro do Brazil, nos anos de 1821 e 1822, procurando através da leitura e da análise minuciosa das edições do periódico identificar os sentidos que estavam sendo utilizados para os termos pátria e nação, e como estes se relacionavam ao conceito de povo. No atual momento da pesquisa discutimos as leituras da bibliografia principal paralelamente à pesquisa e análise desenvolvidas em relação ao periódico Idade D Ouro do Brazil. O primeiro texto utilizado foi o do autor István Jancsó, intitulado Independência, Independências ; introdutor da discussão sobre o complexo mosaico de formações sociais existentes no considerado território colonial brasileiro até 1822. A ideia do mosaico luso americano vem orientada através da lógica das múltiplas variáveis sociais das províncias englobadas pela monarquia. Cabia a monarquia portuguesa dar um caráter unitário ao território fragmentado e diverso, criando a ideia do Brasil como corpo político. O autor discorre com maestria sobre as formas de

construção das relações sociais e de poder nas colônias e sobre os modos de consolidação das monarquias portuguesa e espanhola na América, comparando-os. Em outro momento no texto, analisa mais detalhadamente a colônia portuguesa na América, vendo-a como um processo social e cultural inverso ao da metrópole. Afirma que também a escravidão pode ser considerada um processo social e econômico unificador nesse território e aborda a questão das diferentes hierarquias na colônia e as nuances de suas diferentes categorias. Coloca outro ponto de grande relevância demonstrando a relação que os representantes provinciais mantinham com as Cortes portuguesas. Outra leitura de grande importância em nossa bibliografia foi a de Demétrio Magnoli, cujo artigo tem o título O Estado em busca do seu território. Discutindo a formação do território brasileiro, investiga como ocorreu a ruptura com a metrópole portuguesa, em meio à construção do território já em curso. Menciona os diferentes Tratados assinados envolvendo a delimitação do solo brasileiro (Tratado de Madri, Tratado Santo Idelfonso, Tratado de Badajós) e as diferentes frentes de expansão e colonização, analisando-as em relação à esfera diplomática e em relação a ideia do mito fundador. Em outra fase da pesquisa, as leituras sugeridas pelo orientador foram relativas ao contexto histórico e social das províncias para um maior esclarecimento das respectivas peculiaridades. Analisamos, na província da Bahia, três textos ilustradores das condições sociais, política e culturais da sociedade baiana. No artigo Projetos políticos na revolução constitucionalista na Bahia (1821-1822), Argemiro Ribeiro de Souza aborda os anos que antecederam a Guerra de Independência na província da Bahia, identificando as principais agitações político-sociais e demonstrando que geralmente tais agitações estiveram associadas a muita violência. Analisa a província baiana e conclui que existia uma conjuntura social singular, havendo em seu território uma grande variedade de classes sociais, com objetivos, funções e demandas bem distintas dentro da província. Thomas Wisiak, autor do artigo Itinerário da Bahia na Independência do Brasil (1821-1823) analisou as relações da Bahia com os centros políticos do Império, através de documentos da vida política dos representantes baianos nas Cortes de Portugal e dos periódicos da província, inseridos na conjuntura histórica após a Revolução do Porto de 1820. Considerou a província da Bahia pioneira em relação às outras províncias, em função da posição que exerceu diante do constitucionalismo no Brasil. No texto de Katia Mattoso, a autora abordou mais aspectos variados da província baiana numa temporalidade maior, ao longo do século XIX. A parte mais relevante deste seu estudo está ligada à dinâmica e às relações da população baiana com as estruturas hierárquicas nas quais estavam inseridas e da qual participavam, apoiando-as ou negando-as. O estudo desta obra foi importante. No capítulo População Flutuante e População Mestiça, por exemplo, a autora recupera o papel importante de certas categorias e atores sociais à época: os marinheiros, os navegantes, os migrantes, os escravos de passagem, empregados domésticos que acompanhavam o deslocamento dos senhores de engenho etc. Procura entender um pouco da lógica desses grupos, suas formas de sociabilidade na cidade de Salvador e sua

presença e influência na vida da província. Por último, este texto levantou a questão da miscigenação, discutindo como os diferentes grupos de cor funcionavam dentro da ordem da província. Conclusões De acordo com os variados significados dos termos pátria e nação nos é possível identificar as múltiplas formas de pensamento político inseridas na província da Bahia, e como tais sentidos foram apropriados por determinados grupos políticos e agentes sociais, com a intenção de legitimar sua vertente política. Com a pesquisa de fontes primárias foi possível identificar determinados discursos presentes nos periódicos estudados que os aponta como parte integrante dos agentes sociais, que se apropriavam da escrita para expandir os laços políticos da província baiana. Referências JANCSÓ, István (org.). Brasil: formação do Estado e da Nação. São Paulo: Hucitec, Unijuí, Fapesp, 2003 (Estudos Históricos, 50), 703p. MAGNOLI, Demétrio. O Estado em busca do seu território. In: Independência: História e Historiografia. Editora: Hucitec. São Paulo, 2005. MATTOSO, Kátia M. de Q. Bahia século XIX: uma província do Império. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992. SOUZA FILHO, Argemiro Ribeiro de. Projetos políticos na revolução constitucionalista na Bahia (1821-1822). Alm. braz., São Paulo, n. 7, maio 2008. Disponível em http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1808-81392008000100006&lng=pt&nrm=iso WISIAK, Thomas. Itinerário da Bahia na Independência do Brasil (1821 1823) In: István Jancsó (Org.) Independência: História e Historiografia. São Paulo: FAPESP / HUCITEC. 2005. (p. 447 474).