ATAS DO COLÓQUIO INTELECTUAIS, CULTURA E POLÍTICA NO MUNDO IBERO-AMERICANO. Rio de Janeiro. 17-18 de maio de 2006.



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Transcrição:

ATAS DO COLÓQUIO INTELECTUAIS, CULTURA E POLÍTICA NO MUNDO IBERO-AMERICANO. Rio de Janeiro. 17-18 de maio de 2006. Intellèctus Ano 05 Vol.II Revista Eletrônica ISSN 1676-7640 Grpesq Intelectuais, Idéias e Instituições. REVISTA ESTUDOS SOCIAIS; engajamento na renovação comunista. Alexandre M. E. Rodrigues Doutorando em História na UERJ e Coordenador-Geral de Acesso e Difusão Documental do Arquivo Nacional. Em meio a uma grande expectativa de alguns comunistas quanto à superação do dogmatismo exacerbado vivido no seio do PCB durante o período anterior, foi fundada, sob a direção de Astrojildo Pereira, a revista Estudos Sociais, que, como se verá, vai refletir os debates e polêmicas de um importante segmento da esquerda brasileira. A partir do impacto produzido pela divulgação do relatório Khruschov ao XX Congresso do PCUS, e com as tardias discussões por ele suscitadas no PCB, Astrojildo evitou o uso de um tom acusatório, optando por uma postura de autocrítica e, portanto, incluindo-se entre os que, entusiasticamente, participaram do culto à personalidade de 1

Stálin. Ao mesmo tempo, não se furtou a fazer críticas que julgasse pertinentes e visassem a alterar não apenas determinados padrões de comportamento, mas, sobretudo, concepções políticas. Com esse intuito, criticou a revista Problemas, editada em 1947 e que circulou até 1956, como órgão mais teórico do partido, e, por isso mesmo, mais vinculado ao Comitê Central. Destacou o excesso de material traduzido como se fosse possível encontrar no marxismo-leninismo produzido no leste europeu a orientação adequada e suficiente para travar a luta política nacional. Assim, referindo-se a Problemas afirma que à parte dos documentos oficiais e um ou outro escasso trabalho, só publicava traduções e mais traduções. Não era uma revista brasileira, um órgão teórico dos comunistas brasileiros, preocupada com os problemas brasileiros. 1 Vista por esse ângulo, a revista Estudos Sociais pode ser considerada uma recusa ao modelo representado por Problemas e uma tentativa concreta de superar o seu dogmatismo. A apresentação da revista no seu número inicial, correspondendo aos meses de maio e junho de 1958, caracteriza-a como uma revista de tendência marxista, e como tal pretende intervir, democraticamente, ao lado de outras correntes do pensamento, no debate das questões relacionadas com a nossa realidade econômica, social e política. 2 Nela, o marxismo é defendido como uma corrente de pensamento que tem demonstrado uma extraordinária vitalidade teórica e prática. Mais adiante, tece um comentário que lhe serve de salvaguarda: no Brasil, o marxismo não produziu os frutos desejados por várias razões, uma das quais a nosso ver, seria a ausência de uma tradição de estudos marxistas em nosso país. O trabalho teórico dos marxistas, empregado na investigação e interpretação da realidade brasileira, tem sido muito precário, limitado (...). 3 Assumindo o compromisso de dar conseqüência à preocupação com a investigação e interpretação da realidade brasileira, Estudos Sociais defende, como tarefa dos marxistas brasileiros, o estudo da realidade nacional em seus múltiplos aspectos e a elaboração de subsídios para a ação política das forças democráticas e patrióticas. Dessa maneira, propõe estimular o debate e a polêmica, não somente entre 1 Astrojildo Pereira. Desapreço ao trabalho intelectual. Imprensa Popular. Rio de Janeiro, 16/12/1956, p.5. 2 Apresentação. Estudos Sociais. Rio de Janeiro, Ano I, n.º 1, maio/junho de 1958, p.3. 2

os próprios marxistas, mas, também, entre os marxistas e demais correntes de pensamento, pois a luta de opiniões, o confronto de idéias, a crítica, a discussão são indispensáveis ao desenvolvimento do pensamento e da cultura 4. A revista Estudos Sociais é uma das primeiras publicações com esse teor que tem um forte vínculo com o processo de renovação comunista impulsionado a partir do XX Congresso do PCUS. O seu diretor era Astrojildo Pereira e o secretário Armênio Guedes, substituído posteriormente por Jorge Miglioli. Depois de publicados vários números da revista, o Conselho de Redação é constituído e divulgado, tendo na sua composição, além dos três já citados, Fausto Cupertino, Jacob Gorender, Leandro Konder, Mário Alves, Rui Facó e, logo em seguida, incorporado o nome de Nelson Werneck Sodré. Ao todo foram dezenove números publicados, relativos ao período de maio/junho de 1958 a fevereiro de 1964, com uma tiragem média de 2 a 3 mil exemplares 5. Para uma melhor compreensão do significado da nova orientação política do PCB pelo longo período marcado pelos desdobramentos dos debates provocados pelo XX Congresso do PCUS, é necessário salientar as principais proposições da Declaração de Março de 1958 e do V Congresso do PCB, realizado em setembro de 1960. Na Declaração de Março, encontra-se uma avaliação positiva do desenvolvimento econômico do Brasil. O desenvolvimento capitalista nacional é considerado um elemento progressista na nossa dinâmica econômica. Apesar dos reconhecidos entraves que determinam uma situação de subdesenvolvimento, o documento defende que o referido desenvolvimento capitalista é conflitante com os setores atrasados da economia, estando o exemplo mais simbólico na chamada relação semifeudal no campo, bem como com o imperialismo norte-americano. Conforme o texto oficial, este desenvolvimento se processa através de contradições, de avanços e recuos, mas é a tendência que abre caminho e se fortalece. 6 3 Id. ibidem, p.3. 4 Id. ibidem, p.4. 5 Antônio Albino Canelas Rubim. Partido Comunista, cultura e política cultural. Tese de doutorado em Sociologia. São Paulo, FFLCH/USP, p.75. 6 Declaração sobre a política do PCB (março de 1958). In: Edgar Carone. O PCB (1943-1964). Vol II. São Paulo, Difel, 1982, p.178. 3

Por sua vez, o processo de democratização também não é linear, sofrendo, em determinados momentos, retrocessos ou interrupções, mas, sobretudo, é claramente posto como uma tendência permanente. A situação internacional é marcada, nos termos do documento, pelo ascenso do socialismo e dos movimentos pela paz e de libertação nacional em todo o mundo, permitindo o crescimento das forças antiimperialistas e democráticas. Destacam-se também duas contradições fundamentais na sociedade brasileira. A primeira contradição é entre nação e imperialismo norte-americano e a segunda entre as forças produtivas em desenvolvimento e as relações de produção semifeudais no campo. A sociedade brasileira encerra também a contradição entre o proletariado e a burguesia, que se expressa nas várias formas da luta de classes entre operários e capitalistas. Mas esta contradição não exige uma solução radical na etapa atual. Nas condições presentes de nosso país, o desenvolvimento capitalista corresponde aos interesses do proletariado e de todo o povo. 7 Considera, ainda, que a perspectiva de desenvolvimento capitalista independente e progressista não pode ser resolvida por nenhuma força social isolada. Sendo assim, propõe uma frente única na luta por um governo nacionalista e democrático. Em virtude do próprio processo de democratização, aposta no caminho pacífico da revolução brasileira, de caráter antiimperialista, antifeudal, nacional e democrática. Por fim, o documento faz uma verdadeira convocação ao fortalecimento do partido, à aplicação da nova política, ao combate às concepções dogmáticas e sectárias e, também, ao engajamento dos comunistas nas atividades legais entre as massas. Dessa maneira, está bastante consolidada a interpretação de que a Declaração de Março de 1958 (...) representa o início de uma nova fase na vida do partido, redefinido a compreensão que os comunistas tinham do movimento democrático e nacionalista, da política de frente única e do papel da democracia na luta pelo socialismo. E é inegável que, a partir dela, o PCB passou a se inserir de forma mais ativa na sociedade brasileira..8 O Comitê Central do PCB lançou as Teses para Discussão em abril de 1960. Durante os meses que antecederam a realização do V Congresso, foram travados 7 Id. ibidem, p.184. 8 Apresentação. In: Marco Aurélio Nogueira (org.). PCB: vinte anos de política 1958-1979 (documentos). São Paulo, Ciências Humanas, 1980, p. IX. 4

intensos debates que chegaram a repercutir nas páginas do semanário Novos Rumos. As divergências ficam expostas ao público com parte importante do antigo grupo dirigente, (João Amazonas, Maurício Grabois, Pedro Pomar e outros), que coloca resistências à chamada renovação política do partido. O V Congresso do PCB foi realizado em setembro de 1960.Em grande medida, pode-se afirmar que foram confirmadas as linhas gerais da Declaração de Março de 1958. Seguindo, portanto, as análises e proposições principais da já citada Declaração de Março, as suas conclusões acerca da ação política podem ser sintetizadas da seguinte maneira: As tarefas fundamentais que se colocam hoje diante do povo brasileiro são a conquista da emancipação do país do domínio imperialista e a eliminação da estrutura agrária atrasada, assim como o estabelecimento de amplas liberdades democráticas e a melhoria das condições de vida das massas populares. Os comunistas se empenham na realização dessas transformações, ao lado de todas as forças patrióticas e progressistas, certos de que elas constituem uma etapa prévia e necessária no caminho do socialismo. 9 Tem sido muito recorrente enfatizar o tratamento dado à preocupação com o processo de democratização da vida política nacional nesses documentos do PCB. Na Declaração de Março, por exemplo, afirma-se com vigor que as forças progressistas têm interesse em defender, estender e consolidar o regime de legalidade constitucional e democrático. 10 Não se pode pôr de lado, porém, o fato de que esses mesmos documentos partidários serviram para sustentar uma versão mecanicista da questão nacional e uma análise dualista da sociedade brasileira, opondo um Brasil moderno ao atrasado. Inclusive porque a abordagem da questão nacional teve um papel relevante no conjunto da elaboração e encaminhamentos das posições dos comunistas em momentos de grande destaque da luta política. 9 Id. ibidem, p. 39. 10 Id. ibidem, p.9. Questão nacional que está na raiz das virtudes do PCB no pré-64, e consiste igualmente no seu principal vício. Virtude porque o aloja no centro da crise da formação econômico-social, principal influência à esquerda do espectro político, articulado com o governo, setores das Forças Armadas e frações de diversos partidos por meio do movimento nacionalista, credenciando-o até, via canais abertos pela estrutura corporativa sindical, à penetração no aparato governamental. E, porque, ao se constituir no interior da frente única 5

nacionalista como a sua força mais radical e conseqüente, adquire uma densidade política que transcende em muito o ainda reduzido número dos seus militantes e sua escassa representação eleitoral. Vício na medida em que sua política é dependente de um outro o nacionalismo burguês fundada numa concepção objetivista e mecânica da inevitabilidade de um choque entre as forças produtivas nacionais e os entraves estruturais ao seu desenvolvimento, que o priva de uma ação independente junto às suas bases de classe. 11 Ademais, a Resolução Política do V Congresso chama a atenção para o combate às influências ideológicas estranhas à classe operária e à necessidade de educação ideológica do partido em base marxista-leninista, unindo indissoluvelmente os princípios do socialismo científico com o estudo da realidade brasileira e com a prática revolucionária em nosso país. 12 Em relação a isso, uma diferença significativa entre a Declaração de Março de 1958 e a Resolução Política do V Congresso do PCB pode ser detectada. A Declaração de Março estabelece que as concepções dogmáticas e sectárias constituem o perigo fundamental a combater. 13 Por sua vez, a Resolução Política do V Congresso, mesmo reconhecendo que é indispensável um esforço para travar o combate a essas concepções, conclama ao combate simultâneo às tendências dogmáticas e revisionistas 14. É bastante razoável creditar o recuo representado pela fórmula mais conciliatória à capacidade de intervenção política dos que apresentaram resistência à chamada nova política do PCB. Tal abordagem do problema adquiriu repercussão e compôs a retórica comunista naquele momento. O texto escrito por Jacob Gorender sobre o V Congresso e publicado em Estudos Sociais deixa clara a incorporação do novo elemento no discurso: O mérito principal da linha geral aprovada no V Congresso consiste em que se supera ambas as limitações a dogmatização dos princípios e o oportunismo afastado dos princípios, as quais, na sua dialética de opostos, alimentam-se mutuamente. E, por isso mesmo, a linha geral do V Congresso permite combater estas limitações, não a partir de uma a outra, mas contrapondo-se 11 Luiz Werneck Vianna. Questão nacional e democracia: o ocidente incompleto do PCB. Novos Rumos. São Paulo, v.3, n.º8-9, 1988, pp.171-172. 12 Marco Aurélio Nogueira (org.). Op. Cit., p. 68. 13 Id. ibidem, p.26. 14 Id. ibidem, p.68. 6

simultaneamente a uma e outra, a partir de uma posição marxista correta. 15 A chamada nova política do PCB encontrou ressonância na revista Estudos Sociais, na qual o recurso ao marxismo era proposto como instrumental teórico de análise e interpretação da realidade brasileira. Os assuntos presentes nas páginas de Estudos Sociais apresentam uma significativa variedade temática e, em alguns casos, até de abordagem, no sentido de promover a polêmica e o debate mesmo entre os comunistas. Neste último caso, vale a pena citar as resenhas críticas de Rui Facó sobre os livros História Sincera da República, de Leôncio Basbaum, e O niilista Machado de Assis, de Octavio Brandão. A análise da realidade brasileira é realizada em seus diversos aspectos, podendose verificar uma ênfase relativamente maior no estudo dos problemas agrários e na presença de capitais estrangeiros no país. Nesse sentido, consta, nos seus dezenove números publicados, artigos e ensaios que versam sobre o desenvolvimento, a política econômica, a conjuntura nacional e internacional, o imperialismo, a dinâmica capitalista no país e no mundo, a política cambial, a burguesia nacional, aspectos da história do movimento operário no Brasil, a educação, a escola pública, a saúde, a alimentação, os temas regionais, o movimento migratório, a situação e a integração econômica da América Latina, as correntes de pensamento em voga junto à intelectualidade naquele momento, dentre outros. Os dois primeiros números de Estudos Sociais tiveram uma periodicidade bimestral. O primeiro número correspondia aos meses de maio e junho, enquanto o segundo aos meses de julho e agosto de 1958. A edição seguinte, sob a alegação de mudança do local da tipografia, juntou os números 3 e 4 e correspondeu aos meses de setembro a dezembro de 1958. Nessa publicação, foram recolocados os propósitos da revista nos seguintes termos: (...) representamos uma corrente do pensamento que tem demonstrado sua extraordinária vitalidade teórica e prática no estudo, na interpretação e na solução dos problemas contemporâneos, justificando-se, assim, plenamente, o nosso direito e o nosso dever de 15 Jacob Gorender. O V Congresso dos comunistas brasileiros. Estudos Sociais. Rio de Janeiro, Ano III, n.º 9, outubro de 1960, p.7. 7

contribuir, com sinceridade e sem presunção dogmática, ao esclarecimento da nossa realidade econômica, social e política. 16 Outros assuntos e abordagens relevantes para o desenvolvimento do marxismo neste país podem ser explicitados. Nas páginas da revista, podem ser encontradas matérias informativas, de divulgação e interpretativas sobre movimentos socialistas, lutas de libertação nacional e, mais especificamente, experiências de países pósrevolucionários. Em relação a isso, é possível constatar uma maior presença de artigos sobre Cuba e China. A temática da literatura não esteve ausente. Encontram-se artigos, ensaios e resenhas de ou sobre escritores tanto da literatura internacional quanto de representantes das letras nacionais. No primeiro caso, cabe citar, por exemplo, os nomes de Balzac, Bertold Brecht, Dostoievski, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Louis Aragon, Maiacovski e Tolstoi. No segundo caso, é possível encontrar referências de ou sobre os seguintes autores: Dalcídio Jurandir, Euclides da Cunha, Ferreira Gullar, Guimarães Rosa, Jorge Amado e, como não poderia faltar, Machado de Assis. Além das seções de crítica de livros e revistas nacionais e internacionais, que se encontram em quase todos os números da revista, convém destacar os textos marxistas que abordam temas como a psicanálise, o existencialismo, o realismo socialista, o cristianismo, a dialética, a polêmica sobre Hegel, uma polêmica científica na URSS etc. No terreno da Filosofia, é significativo o fato de a revista Estudos Sociais publicar, no seu quinto número, relativo aos meses de março e abril de 1959, o primeiro trabalho de Lukács no nosso país, intitulado O irracionalismo fenômeno internacional do período imperialista. Este texto se encontra como prefácio do livro A Destruição da Razão, também do referido autor. De acordo com Leandro Konder, a revista estava realmente empenhada na democratização interna do movimento comunista brasileiro e, ao publicar um artigo com críticas sectárias acerca da relação entre as idéias políticas e filosóficas de Lukács, de autoria de Jozsef Szigeti, Ministro de Estado na Hungria, sentiu-se obrigada a publicar também, na íntegra, o prefácio do livro anteriormente citado 17. 16 Aos nossos amigos, colaboradores e leitores. Estudos Sociais. Rio de Janeiro, Ano I, n.º 3-4, setembro/dezembro de 1958, p.258. 17 Leandro Konder. A Democracia e os comunistas no Brasil. Rio de Janeiro, Edições Graal, 1980, p.111. 8

Uma interpretação diferenciada do mesmo fato é feita por Celso Frederico, ressaltando o papel da revista na renovação do marxismo nestes trópicos, mas os tempos ainda não eram totalmente favoráveis a maiores ousadias 18. Inclusive, Leandro Konder destacou que os partidos comunistas que, mais tarde, vieram a ser caracterizados como eurocomunistas ainda evitavam, em grande medida, divulgar os trabalhos de Lukács. Afirma, portanto, que houve cautela com a publicação do texto de Lukács, sendo, para tanto, seguido pelo de Jozsef Szigeti. E, como se não bastasse, a revista incluiu uma nota da redação apresentando os dois textos e justificando a iniciativa como uma contribuição ao debate e desenvolvimento da filosofia marxista. Neste caso, uma interpretação não exclui necessariamente a outra. Não obstante essa cautela em evitar um posicionamento de confronto assumido com a produção filosófica autorizada pelos regimes burocráticos do Leste Europeu, e, principalmente, da União Soviética, aparecem textos de Lukács mais duas outras vezes. No número dezessete, relativo a junho de 1963, aparece o texto sobre Dostoievski. E, no número dezenove, de fevereiro do ano seguinte, encontra-se a conhecida Carta sobre o Stalinismo. No que diz respeito ao papel desempenhado pela revista Estudos Sociais acerca dos estudos, divulgações e análises marxistas, vale a pena citar o relato do primeiro secretário que esta publicação teve, Armênio Guedes, em entrevista a Antônio Albino Canelas Rubim. Conforme afirmou Armênio Guedes, a revista tinha mais o objetivo de debater determinados temas ainda polêmicos que divulgar as análises e decisões já aprovadas pelo partido, o que aumentava ainda mais a abertura da revista 19. Ainda segundo o relato, essa era a posição majoritária no seio dos colaboradores mais próximos à revista, não sendo, entretanto, uma posição consensual ou aceita sem resistências. O depoimento de Leandro Konder dado a Marcelo Ridenti permite vislumbrar o processo em que se deu a convocação de jovens intelectuais comunistas que chegaram, inclusive, a compor o Conselho de Redação da revista, e, mais do que isso, explicitar algumas diferenças de posições entre intelectuais de importância reconhecida tanto na revista quanto no seio do movimento comunista brasileiro. Sendo assim, segundo o 18 Celso Frederico. A presença de Lukács na política cultural do PCB e na universidade. In: João Quartim de Moraes (Org.). História do Marxismo no Brasil. Vol. II, Campinas/SP, Editora da UNICAMP, 1995, p.185. 9

referido depoimento, que também adquire um nítido teor autobiográfico, os alinhamentos internos à publicação e a atuação do próprio Leandro Konder são sintetizados da seguinte maneira: No final dos anos 50, eu mergulhei fundo na militância, participei da revista Estudos Sociais, numa jogada que só entendi retrospectivamente, porque chamaram a mim, depois Fausto Cupertino e Jorge Miglioli. Na revista havia uma luta interna entre uma corrente mais aguerrida, representada por Mário Alves, Jacob Gorender, e que de alguma forma envolvia o fundador da revista, Astrojildo Pereira, pessoa com quem eu me dava, amigo do meu pai, que depois se tornou meu amigo também. E do outro lado Armênio Guedes, muito irreverente. O Armênio inventou essa história de chamar gente jovem, mas ele não convocava as pessoas para se colocarem a serviço da proposta dele; ao contrário, nós divergíamos em vários momentos, só que ele não se incomodava, entendeu que trazer gente jovem era bom em si, independente das posições políticas dos jovens. Ele tinha consciência de que os jovens acabariam caminhando para uma posição mais democrática e mais flexível. 20 Apesar do perfil mais aberto da revista, ela atravessou algumas dificuldades para a sua publicação. Isto ficou particularmente evidenciado na falta de regularidade verificada em relação a sua própria proposta de periodicidade. Nos seus sete primeiros números, a revista se propunha a ter uma periodicidade bimestral. O que só conseguiu nos cinco primeiros números, e, mesmo assim, juntando os números três e quatro em um só fascículo. Do oitavo ao décimo número, encontrava-se estampada a informação de que a revista dotara uma periodicidade trimestral. Apenas a passagem do oitavo para o nono número cumpriu exatamente o prazo proposto. E é no oitavo número, de julho de 1960, que aparece um balanço de dois anos de atividade editorial. O balanço reafirma a contribuição da revista para estimular a pesquisa dos problemas brasileiros à luz do marxismo e a perspectiva necessária de o marxismo se integrar cada vez mais na cultura brasileira como sua componente mais avançada 21. A par do recurso a um nacionalismo cultural mais exacerbado em determinados momentos, o que era, inclusive, não só compatível como possível de ser identificado 19 Antônio Albino Canelas Rubim. Op. Cit., p.74. 20 Marcelo Ridenti. Em busca do povo brasileiro. Rio de Janeiro, Record, 2000, p.83. 21 Dois anos de atividade. Estudos Sociais. Rio de Janeiro, Ano III, nº 8, julho de 1960, pp. 398-388 10

com a chamada nova política do PCB, o editorial procurava enfatizar os termos da participação na construção de uma nova cultura. No décimo número, que só aparece um ano depois, em julho de 1961, o editorial intitulado Explicação necessária reconhece que Estudos Sociais, no que se refere à periodicidade, talvez se inclua entre as revistas mais irregulares 22. Além da situação financeira, em função de não obter uma receita de anúncios que assegurasse o pagamento dos custos da revista, apresenta como motivo dessa periodicidade irregular a dificuldade para coletar os artigos. A partir do décimo segundo número, a revista adquiriu uma maior regularidade. Ela apresentou estampada nas suas páginas o anúncio da volta do período bimestral. E isso se deu do décimo segundo ao décimo nono número. Entretanto, a regularidade efetivamente realizada e que quase todos esses obedeceram foi, na prática, mais próxima da trimestral. Mesmo assim, o fato de a revista ter conseguido manter uma periodicidade mais regular permite admitir que os problemas anteriormente citados foram amenizados. O último número foi o décimo nono, correspondendo a fevereiro de 1964, com a manutenção do padrão editorial dos demais. O número seguinte da revista Estudos Sociais estava previsto para abril, conforme a periodicidade estabelecida, mas, após o golpe militar de 1964, não só esta publicação não saiu, como, de fato, a própria revista deixou de circular. Referências bibliográficas: CARONE, Edgar. O PCB (1943-1964). Vol II. São Paulo, Difel, 1982. Estudos Sociais. Rio de Janeiro, 1958-1964. FREDERICO, Celso. A presença de Lukács na política cultural do PCB e na universidade. In: João Quartim de Moraes (Org.). História do Marxismo no Brasil. Vol. II, Campinas/SP, Editora da UNICAMP, 1995, p.183-221. GRAMSCI, Antonio. Os Intelectuais e a Organização da Cultura. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1982. KONDER, Leandro. A Democracia e os comunistas no Brasil. Rio de Janeiro, Edições Graal, 1980. NOGUEIRA, Marco Aurélio (org.). PCB: vinte anos de política 1958-1979 (documentos). São Paulo, Ciências Humanas, 1980. 22 Explicação necessária. Estudos Sociais. Rio de Janeiro, Ano IV, nº 10, julho de 1961, p. 131 11

PANDOLFI, Dulce Chaves, Camaradas e companheiros: memória e história do PCB. Rio de Janeiro, Relume-Dumará, 1995. PEREIRA, Astrojildo. Desapreço ao trabalho intelectual. Imprensa Popular. Rio de Janeiro, 16/12/1956, p.5. RIDENTI, Marcelo. Em busca do povo brasileiro. Rio de Janeiro, Record, 2000. RUBIM, Antônio Albino Canelas. Partido Comunista, cultura e política cultural. Tese de doutorado em Sociologia. São Paulo, FFLCH/USP, 1986. SEGATTO, José Antônio. Reforma e revolução: as vicissitudes políticas do PCB (1954-1964). Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1995. SIRINELLI, Jean-Pierre. Os Intelectuais. In: RÉMOND, René (org.). Por uma História Política. Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 1996, pp.231-269. VIANNA, Luiz Werneck. Questão nacional e democracia: o ocidente incompleto do PCB. Novos Rumos. São Paulo, v.3, n.º8-9, 1988. VINHAS, Moisés. O Partidão: a luta por um partido de massas (1922-1974). São Paulo, Hucitec, 1982. 12