CASAS ANTIGAS MERECEM MAIS RESPEITO



Documentos relacionados
Prefeitura Municipal de Piratini

MEMORIAL DESCRITIVO Calçadas Externas/rampa/escada:

MEMORIAL DESCRITIVO PREFEITURA MUNICIPAL DE CATALÃO SECRETARIA DE 0BRAS 1.0 INTRODUÇÃO 2.0 DISPOSIÇÕES GERAIS

VAZAMENTOS E INFILTRAÇÕES

Parede de Garrafa Pet

IFES/CAMPUS DE ALEGRE - ES PROJETO BÁSICO

IMPERMEABILIZAÇÕES TRATAMENTO DE UMIDADE E EFLORESCÊNCIAS EM PAREDES

CAPÍTULO XX APLICAÇÃO DE TINTAS E VERNIZES SOBRE MADEIRAS

CASAS TERREAS EM PAREDES DE ALVANARIA EM BLOCOS DE GESSO

- Pisos e revestimentos Industriais (pinturas especiais, autonivelantes, uretânicas, vernizes...);

Principais funções de um revestimento de fachada: Estanqueidade Estética

ARG. COLANTE REVESTIMENTO REJUNTE COMPONENTES DO REVESTIMENTO

MEMORIAL DESCRITIVO PRÉDIO DE APARTAMENTOS. Local: Rua General Auto, N 101 e 111 Centro Porto Alegre

ESQUADRIAS MÉTODO EXECUTIVO. Prof. MSc. Eng. Eduardo Henrique da Cunha Engenharia Civil 8º Período Turmas C01, C02 e C03 Disc. Construção Civil II

Blocos e Alicerces CONCEITO

PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ÂNGELO MEMORIAL DESCRITIVO

KIT Nº 14 KIT Nº

DCC - RESPONDENDO AS DÚVIDAS 14. MUROS

Estado de Santa Catarina Prefeitura de São Cristóvão do Sul Secretaria Municipal de Obras Departamento Engenharia

Dicas Qualyvinil PROCESSOS DE PINTURA

São assim denominados pois não utilizam o processo de queima cerâmica que levaria à derrubada de árvores para utilizar a madeira como combustível,

UMIDADES E IMPERMEABILIZAÇÕES

Construções Rurais. Prof. João Marcelo

Wood Frame CONCEITO. O Wood-Frame é um sistema composta por perfis de madeira que em conjunto com placas estruturais formam painéis

PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTO ÂNGELO MEMORIAL DESCRITIVO

E S T A D O D O M A T O G R O S S O. Prefeitura Municipal de Jaciara

DICAS ANTES DA COMPRA

Problemas Comuns. Eflorescência

Patologia em Revestimentos de Fachada

DICAS PARA PREVENIR PROBLEMAS

DCC - RESPONDENDO AS DÚVIDAS 13. TELHADO

MEMORIAL DESCRITIVO/TÉCNICO

Rua do Príncipe nº Boa Vista - Recife - PE CEP Fone: (81)

Casa Santista. Memorial Descritivo

O QUARTO ELEMENTO DA CONSTRUÇÃO

PORTAS E JANELAS: A LIGAÇÃO DA CASA COM O MUNDO

2. INSTALAÇÕES PROVISÓRIAS

Obra: Ampliação Câmara de Vereadores Local : VRS- 801 Almirante Tamandaré do Sul - RS Proprietário: Prefeitura Municipal de Almirante Tamandaré do Sul

TRAÇO Proporções e consumo de materiais

FAQ - Frequently Asked Questions (Perguntas Frequentes)

XV COBREAP CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AVALIAÇÕES E PERÍCIAS - IBAPE/SP NATUREZA DO TRABALHO: PERÍCIA EM IMÓVEL URBANO

PROJETO DE EDIFICAÇÕES RURAIS

Estado do Rio Grande do Sul PREFEITURA MUNICIPAL DE ALMIRANTE TAMANDARÉ DO SUL MEMORIAL DESCRITIVO

Simples, resistente e fácil de montar.

ANEXO XII - MEMORIAL DESCRITIVO ARQUITETÔNICO

MEMORIAL DESCRITIVO. Objeto: Ampliação e Reforma Escola Municipal Maria Cassiano Município: Bom Jesus de Goiás - GO Elaborado em: Junho de 2015

Impermeabilização de edificações residenciais urbanas

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PREFEITURA MUNICIPAL DE VENÂNCIO AIRES

Solução Integrada Italit

SISTEMAS CONSTRUTIVOS Professor:Regialdo BLOCOS DE CONCRETO

Propriedades do Concreto

MEMORIAL DESCRITIVO Rio Branco, Acre Brasil

FCTA 4 TROCAS TÉRMICAS ENTRE O MEIO E AS EDIFICAÇÕES 4.1 FECHAMENTOS TRANSPARENTES

RELATÓRIO DE VISTORIA DE REFORMA Programa de Ação Cooperativa - Estado Município

Prof. Marcos Valin Jr. Por quê Impermeabilização. 1

Construção de Edícula

REVESTIMENTO DEFACHADA. Prof. MSc. Eng. Eduardo Henrique da Cunha Engenharia Civil 7º Período Turma A01 Disc. Construção Civil I

PREFEITURA MUNICIPAL DE CAÇADOR SECRETARIA MUNICPAL DE EDUCAÇÃO MEMORIAL DESCRITIVO

Cobertura com telhas asfálticas. Cobertura com telhas asfálticas

COMO REALIZAR UMA EXCELENTE PINTURA PREDIAL!

MEMORIAL DESCRITIVO. Obra: Reforma da Câmara Municipal de Conchas 2ª Fase

5 DESCRIÇÃO DETALHADA DO BEM CULTURAL

PLANO DE CARREIRA DOS CARGOS TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS EM EDUCAÇÃO DESCRIÇÃO DO CARGO

Projeto de Avicultura Colonial PAC/ 2009 Embrapa Clima Temperado Aviário para 300 Aves de Postura, com captação de água pluvial.

COMPONENTES. Chapa de gesso: 3 tipos

MEMORIAL DESCRITIVO E ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS PARA AS OBRAS DE REFORMA DO GINÁSIO POLIESPORTIVO LOIOLA PASSARINHO E CONSTRUÇÃO DO ANEXO.

REVESTIMENTO CERÂMICOS

Mantas de Isolamento termoacústico

pro-telo inox Perfil metálico quinado em forma de U. Lateral de 8 mm de altura. Lado à vista liso de 10, 25 ou 40 mm.

IMPERMEABILIZAÇÕES REVESTIMENTO DE CALHAS E LAJES

Tecnologia da Construção IMPERMEABILIZAÇÃO. Profº Joel Filho

MEMORIAL DESCRITIVO versão 04

Reabilitação do Prédio Situado na Rua do Conde do Redondo. Reabilitação arquitectónica II_docente_José Aguiar

TRANSPORTE COLETIVO URBANO

Sistema Laminar. Ecotelhado

PATOLOGIAS EM ALVENARIA DE BLOCOS CERÂMICOS (2011) 1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO Escola de Minas DECIV Técnicas Construtivas. Prof. Guilherme Brigolini

Rua Dante Francisco Zattera, Quadra 4907, lote 14, Loteamento Cidade Nova II. Bairro Distrito Industrial Caxias do Sul RS

E S P E C I F I C A Ç Õ E S T É C N I C A S

MANTA POLIMÉRICA é um impermeabilizante flexível a base de cimentos especiais modificados com polímeros acrílicos de excelente qualidade.

MEMORIAL DESCRITIVO ARQUITETÔNICO

Sobreposição das telhas: Verifique se as sobreposições laterais e longitudinais estão seguindo as especificações do Manual de Instalação.

ESTADO DE SANTA CATARINA PREFEITURA MUNICIPAL DE BOMBINHAS PROJETO PAVIMENTAÇÃO COM LAJOTAS SEXTAVADAS E DRENAGEM PLUVIAL RUA CANGERANA

ORIENTAÇÕES DE INSTALAÇÃO PARA TELHAS SHINGLE

INSTITUTO ALGE DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL JANILSON CASSIANO

LIGHT STEEL FRAMING. Em Portugal o sistema é vulgarmente conhecido por Estrutura em Aço Leve.

PRAÇA MOINHOS DE VENTO PROJETO PLANIALTIMÉTRICO E DE TERRAPLENAGEM

Anexo I-A: Serviços de reforma no alojamento de menores da P. J. de Samambaia

PREFEITURA MUNICIPAL DE MANUEL URBANO

Steel frame - fechamento (parte 3)

DCC - RESPONDENDO AS DÚVIDAS 04. FUNDAÇÃO

MACTRASET foi desenvolvido para evitar e eliminar definitivamente umidade e infiltrações, sendo de preparo e aplicação muito fáceis.

PLANILHA DE SERVIÇOS GERAIS DE OBRA

RECEITA PRÁTICA PARA UMA BOA INSTALAÇÃO

Internacional SOLUTIONS

PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE CANOINHAS SECRETARIA MUNICIPAL DE PLANEJAMENTO

Imprensa Oficial da Estância de Atibaia Sábado, 7 de setembro de nº Ano XVII - Caderno C - Volume V de V

PROCEDIMENTOS PARA EXECUÇÃO DE REVESTIMENTO INTERNO COM PROGESSO PROJETÁVEL

UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DA REGIÃO DE CHAPECÓ ÁREA DE CIÊNCIAS EXATAS E AMBIENTAIS CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO Projeto de Edificação I 2014/01

Sistema Hidromodular. Ecotelhado

Transcrição:

CASAS ANTIGAS MERECEM MAIS RESPEITO Restaurações de casas antigas, para fins culturais ou de comércio, converteram-se em desafiadoras tarefas para arquitetos, decoradores, designers, engenheiros e empreiteiras envolvidas com o chamado retrofit. E os resultados finais, nos campos funcional, estético e promocional, são, quase sempre, de inegável e excelente qualidade. A prática em patologias da construção civil urbana tem revelado, contudo, a insistente repetição de algumas intervenções físicas que respondem por problemas capazes de comprometer a longa durabilidade das reformas e, até, a essencial salubridade dessas edificações. Oportuno, portanto, chamar a atenção, do meio profissional, para algumas abordagens que se têm revelado equivocadas e, muito frequentemente, nocivas : 1 TELHAMENTOS 1.1 CONFIGURAÇÃO EXISTENTE: 1.1.1 Estruturas de madeira ( tesouras ou dispositivos afins ). 1.1.2 Telhas de barro, dos tipos marselha ( francesa ), em goivas ( colonial ), etc. 1.2 INTERV ENÇÕES MAIS FREQUENTES: 1.2.1 Redução de inclinação, nas águas, com ou sem troca de telhas. 1.2.2 Pinturas (ou colagem de películas refletivas) sobre as faces expostas das telhas. 1.3 OBSERVAÇÕES: 1.3.1 Redução de inclinação, nas águas : a) Cada tipo de telha impõe - e exige um caimento mínimo; e as casas antigas costumam obedecer, de modo geral, tais inclinações. b) Qualquer redução, dos ângulos originais, poderá gerar infiltrações (fatais goteiras), principalmente sob fortes chuvas. 1.3.2 Pinturas (ou colagem de películas) sobre faces expostas das telhas : a) Telhas de mescla (de barro, de cimento-amianto e afins), precisam manter constante regime de troca, de umidade, com o ar ambiente; isto ocorre tanto nas faces expostas a chuvas como nos áticos confinados (umidade relativa do

ar), de secagem. modo a alternar ciclos, relativamente uniformes, de saturação e de b) Quando as telhas são seladas, na face exposta superior, a troca de umidade passa a ocorrer, apenas, pelo ar contido no ático. Resultado: as telhas tendem a inchar, nas faces inferiores, o que impõe deformações do tipo encanoamento e conseqüentes aberturas das frestas de encaixe (o que, por óbvio, favorece infiltrações), além de se tornarem mais quebradiças sob trânsitos eventuais. c) Conclusão: pinturas precipitadas, sobre telhamentos, ainda que recebam nota dez em Estética, poderão ter nota zero em Física. 2 FACHADAS 2.1 CONFIGURAÇÃO EXISTENTE : 2.1.1 Paredes portantes de alvenaria, de generosa espessura, erguidas com tijolos maciços ou de 2 (dois) furos, mais usualmente assentes segundo o sistema paramento inglês (colocação que alterna 1 fiada com 2 tijolos "ao correr" e 1 fiada com tijolos "à tição").. 2.1.2 Revestimentos de argamassa convencional, cobertos com caiação, pinturas à base de cimento e/ou de PVA comum. 2.2 INTERV ENÇÕES MAIS FREQUENTES: 2.2.1 Descascamento total das faces externas, expondo os tijolos. ou: 22.2 Restauração do revestimento de argamassa e aplicação de texturas ou tintas acrílicas. 2.3 OBSERVAÇÕES : 2.3.1 Descascamento das faces externas : a) As argamassas utilizadas no assentamento de tijolos de barro eram e ainda são de traço relativamente pobre em cimento, pois isto é condição, básica, para que as paredes possam trabalhar de modo mais ou menos homogêneo (o mesmo vale para emboços e rebocos, que devem ter plasticidade compatíve l com a natural mobilidade do substrato).

b) Por outro lado, tijolos maciços ou de dois furos implicam em malha, de argamassa de assentamento, extremamente densa; significa dizer que tais alvenarias possuem alta presença de rejuntes, de argamassa, por metro quadrado. Ora, esta malha absorvente, associada à porosidade e aos furos expostos dos tijolos primitivos ( amarrações ), forma superfície particularmente sensível à absorção de chuva. Eis o motivo pelo qual edificações antigas, pelo mundo afora (salvo a fachwerkhaus alemã e casas assemelhadas, nas quais os beirais exerciam suficiente proteção pluvial), são revestidas e pintadas. c) Tais streap-teases de fachadas, quando absolutamente inevitáve is (até por pedido, irrecusável, do cliente), devem estar associados, sempre, a uma perfeita hidrofugação das superfícies desnudadas; recomenda-se, para tanto, produtos à base de silano/siloxano, ou de compostos de silício e derivados orgânicos do petróleo. Atenção: fluidos repelentes, siliconados, formadores de película apenas superficial, são sensíveis à radiação solar e terão eficácia extremamente curta; mas serão, com certeza, os primeiros ou, por vezes, únicos - a encontrar em lojas especializadas. Questão, pois, de correta e insistente procura. 2.3.2 Restauração do revestimento e aplicação de texturas ou tintas acrílicas: a) Os prédios ditos "antigos" argamassados e caiados; ou pintados com tintas à base de cimento, etc - foram os últimos a "respirar" : umedeciam por todos os poros externos e, também por eles, evaporavam de maneira uniforme e com velocidade suficiente para evitar exsudações rumo aos recintos internos. b) Óbvio que exigiam lavaduras e repinturas mais freqüentes, "incômodo" este que vem servindo, há décadas, como "gancho" para justificar os "mantos asfixiantes" que estamos impondo às edificações urbanas, notadamente com o trio de acabamentos formado por "pastilhas de grés" (invariavelmente assentes sem juntas de trabalho), "granilhas" e películas acrílicas, sejam estas texturadas ("grafiattos" e afins) ou lisas. c) De fato, tais produtos, sendo predominante estanques, não permitem que águas infiltradas por inevitáveis microfissuras (geradas por naturais arrastos térmicos ou mecânicos, retrações, etc) sofram adequada e tempestiva evaporação para o exterior; ora, como as faces internas das paredes de fachada não oferecem grande resistência à evaporação, não surpreende que estas sejam as mais costumeiras vítimas de danos (que envolvem emboços, rebocos, pinturas, carpetes, papéis de parede, espelhos, armários, roupas, etc). d) Resumindo: os construtores antigos não dispunham dos derivados de petróleo que abençoam (e, também, infernizam) a atual construção urbana; mas

sabiam, com certeza, com o que estavam lidando e como erguer uma edificação ecologicamente correta. De fato, parece grotesco elocubrar sobre feng-shui, cristais, pirâmides, etc, depois que a casa foi convertida - por simples desinformação técnica - em literal e confortável estufa para criação de bolores. 3 JANELAS DE MADEIRA 3.1 CONFIGURAÇÃO EXISTENTE 3.1.1 Caixilhos e folhas, de madeira rija e nobre, cobertos por diversas camadas de tinta, á base de óleo (originais) e/ou de resinas sintéticas ( repinturas posteriores ) 3.1.2 Vidros assentes com mescla denominada massa de vidraceiro. 3.1.3 Folhas móveis abrindo para o interior e dotadas de narizes inferiores, balanceados sobre o peitoril (também de madeira), que possui, com freqüência, canelura e furação para expulsão de águas acidentais (chuvas com ventos fortes). 3.2 INTERV ENÇÕES MAIS FREQUENTES: 3.2.1 Remoção da pintura e aplicação de verniz, expondo a madeira e a massa de vidraceiro - à insolação direta. 3.2.2 Sobreposição de novos narizes (durante reformas de caixilhos apodrecidos). 3.2.3 Tamponamento de furações, no fundo das caneluras de peitoris. 3.3 OBSERVAÇÕES : 3.3.1 Remoção total da pintura e aplicação de verniz: a) Ao encontrar uma belíssima imbuia, sob antigas camadas de pintura, alguns restauradores costumam ter a idéia de deixar, à mostra, a decantada verdade do material. Para tanto, não é raro que ignorem quase 100 anos de pintura (e o fato de que em Ouro Preto, no Pelourinho e no resto do planeta não existem janelas antigas sem proteção semelhante ), e resolvam trocá-la por reles 8 ou 12 meses de envernizamento; ou, quando muito, por imunizantes de madeira, pigmentados.

b) Quanto ao verniz: ser for acetinado ou fosco, emprestará baixa proteção contra chuva; se for brilhante, a radiação solar atravessará o filme e romperá suas cadeias de coesão, gerando o mesmo problema. Embora recentes pesquisas (notadamente da BASF e empresas afins) apontem para componentes químicos capazes de aumentar a resistência, de vernizes, à insolação e ao ressecamento por ventos, para até 2 ou 3 anos, eles ainda não podem competir com uma simples e antiquada camada de pintura. c) Os vidros são usualmente fixados, aos quadros das janelas, com auxílio de baguetes (ou, apenas, de pequenos pregos) e mescla de gesso cré, alvaiade, óleo de linhaça e óxido de chumbo (denominada "massa de vidraceiro"), cuja inegável eficácia, no passado, era vinculada, sempre, ao simples e óbvio cobrimento com pinturas (usualmente a óleo ou esmalte sintético; este, em repinturas mais recentes). Com a açodada remoção da tinta, a ancestral e competente massa (seja original ou reposta na reforma) resulta exposta ao vento e às insolações, sem qualquer película protetiva; na sequência, não há qualquer surpresa: ressecamento, fissuras, retenção de umidade e progressivo descolamento. 3.3.2 Sobreposição de novos narizes de madeira: a) Ao lados inferiores das folhas tipo charneira que abrem para dentro - costumavam ser formados por peça única, de madeira, cuja seção se projetava, para o exterior, formando uma pingadeira ou nariz contínuo (ou havia justaposição, do tipo sambladura, entre dois perfis). b) Não é raro encontrar, em janelas hoje restauradas (com pouca verba ), a simples sobreposição de pingadeiras, aos perfis-base de seção retangular, através de pregos, deixando frestas por diferenciais de deformação das madeiras expostas (busca da verdade do material ), pelas quais infiltra - e fica retida - a água da chuva. 3.3.3 Tamponamento de furações, no fundo das caneluras de peitoris. a) Os construtores do passado sabiam (eram, pois, sábios) que as janelas dotadas de folhas que abriam para dentro eram vulneráveis à penetração de chuvas impelidas por fortes ventos. Por isto, costumavam executar caneluras, no perfil inferior da moldura fixa (peitoril), para coleta de tais águas e posterior condução, para fora, por engenhoso dreno, obtido por dois furos, na madeira, entre si angulados. b) Por não perceberem a função de tais perfurações, alguns desinformados reformadores ordenam sua simples obturação; o que dispensa mais comentários.

4 PORÕES 4.1 CONFIGURAÇÃO EXISTENTE: 4.1.1 Embasamentos corridos, de pedra argamassada (operando como baldrames contínuos, usualmente sem estacas), que recebem cargas transmitidas pelas alvenarias, portantes, da edificação. 4.1.2 Vigamentos e assoalhos, de madeira rija, apoiando sobre os mesmos embasamentos (mais comumente, sobre rebaixos corridos ). 4.1.3 Aberturas gradeadas (ditas gateiras ), logo acima do passeio (e nos fundos, onde possível), para evaporação da umidade do solo, que se encontra usualmente situado, pelo menos, a 70 ou 80 centímetros abaixo das vigas de madeira, formando vazio comumente denominado cave ou porão. 4.2 INTERV ENÇÃO MAIS FREQUENTE: Eliminação do piso de madeira, seguida de aterramento do porão e assentamento de lastro, de concreto simples, destinado a receber contrapisos e pisos acabados. 4.3 OBSERVAÇÕES: a) Até o advento do concreto armado, era quase obrigatório que os pavimentos térreos fossem formados por estruturas voadoras, executadas em madeira, sob pena de fatal ascensão, até as paredes, da umidade contida no solo. b) A partir da virada dos séculos 19 e 20, os construtores adaptaram os pisos térreos ao uso do concreto, sob a forma de lastros simples, lançando-os (sobre terreno apiloado e camada de brita) nas molduras formadas por vigasbaldrame. Entretanto, para seguir defendendo as paredes de alvenaria contra a umidade ascendente, tinham o especial cuidado de assentar, sobre as vigas de fundação, largas tiras de papelão alcatroado, cujas abas (4 ou 5 centímetros além das larguras das vigas) serviam para cobrir as frestas capilares geradas pela inevitáve l retração do lastro. Este procedimento foi literalmente banido da construção civil brasileira; e sua falta responde, hoje, por centenas de milhares de paredes insalubres (faixas inferiores arruinadas) em todo o país. E são muito raras as faculdades onde o processo é, sequer, citado. c) Fica evidente que o uso do papelão betumado, à época dos erguimentos das casas dotadas de porão e assoalhos, era simplesmente desnecessário. De fato, a umidade evaporava do solo e não chegava a condensar sobre o

madeiramento do piso, pois as gateiras respondiam pela tiragem do ar saturado. d) O que acontece, pois, quando algum espert (não expert ) tem a infeliz idéia de aterrar o porão e lascar um lastro de concreto por cima?.. Simples: como o novo piso geralmente precisa nivelar com a cota acabada do assoalho original, o aterramento fatalmente entrará em contato com a alvenaria primitiva; aí, a casa, que foi salubre por quase cem anos, contrai súbita e quase incurável moléstia construtiva. De fato, este fenômeno somente poderá ser minimizado, depois, com complicadas (e onerosas) injeções de produtos à base de dióxido de silício, argamassas poliméricas ou epoxídicas e semelhantes artif ícios. Mas, aí, o autor, de mais esta façanha, já estará bem longe; e, mais uma vez, retrofitando... S ylvio Nogueira A rquit et o C RE A 347-D/RJ (UFRJ-1966) E x-pro fess o r universit ário (PUC/PR) B o ls is t a do DAA D jun to à Tec h n is ch e Hoch s ch u le St ut tgart / Ale m anh a A ss is t e nt e téc n ic o em aç õ es judic ia is, na área de patolo g ias pre d ia is E sc rit ó rio em Cu rit ib a /PR e -mail: sn o gu e ira@bbs2.sul.com.br