ESTUDO ERGONÔMICO DE INSTALAÇÕES DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR PÚBLICA

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6.2 ACESSOS - Condições gerais

Transcrição:

ESTUDO ERGONÔMICO DE INSTALAÇÕES DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR PÚBLICA Saulo Gomes Moreira (UFMS ) saulo.moreira@ufms.br Nadya Kalache (UFMS ) nadyakalache@gmail.com Giovanni Grossi Crema (UFMS ) giovannicrema@hotmail.com BRUNA YARA DA SILVA FIORAMONTE (UFMS ) bruna.fioramonte@hotmail.com Sabrina da Silva Felix (UFMS ) sabrinaa.felix@hotmail.com Neste artigo avaliaram-se e compararam-se as condições ambientais de trabalho em salas de aula em um prédio novo e antigo, assim como nas salas de professores, em uma universidade pública na cidade de Campo Grande, estado de Mato Grosso do Sul. Para concretização do estudo efetuaram-se medições dos fatores ambientais de temperatura, umidade, luminosidade e ruídos em três prédios distintos. A pesquisa caracteriza-se como descritiva com abordagem qualitativa e fez-se necessário para a coleta de dados o uso de equipamentos como termohigrômetro, luxímetro digital e decibelímetro. As medições foram executadas em dias, horários e condições de tempo variadas, para que representasse as condições reais de trabalho dos usuários. O artigo mostra os valores encontrados nas mensurações realizadas nas instalações de cada sala, bem como a problemática observada. A partir dos dados analisados e registrados, propõem-se soluções para as questões críticas observadas. Palavras-chaves: Ergonomia, análise ergonômica, ambiente de trabalho

1. Introdução Alguns autores consideram a ergonomia uma ciência, por gerar conhecimento, tal como Wisner (1995), que a define como sendo o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, de segurança e de eficácia. Já outros autores a consideram uma tecnologia por possuir caráter aplicativo e transformador. Contudo, alguns pontos são comuns em todas as teorias: aplicação dos estudos ergonômicos, a natureza multidisciplinar, o fundamento nas ciências e a concepção do trabalho. O estudo ergonômico foi tornando-se cada vez mais importante no mesmo ritmo em que a preocupação com as condições de bem estar e saúde das pessoas que desenvolvem uma atividade em determinado ambiente também foi sendo solicitada e relevante. Sabe-se que um ambiente de trabalho ergonomicamente adequado contribui para um melhor desempenho dos funcionários, ou seja, possibilita melhores resultados de produtividade, além de evitar problemas relacionados à saúde do trabalhador. Abrantes (2004) afirma que a análise ergonômica é importante, pois indica como e em que condições os trabalhos são realizados. Neste artigo será discutida a ergonomia do ambiente, que é uma das vertentes dessa ciência. Serão mensurados os níveis de iluminância, ruídos, temperatura e umidade de salas de uma universidade a fim de analisar os resultados obtidos e avaliar se estão de acordo com os valores ideais para a atividade desenvolvida no ambiente considerado. Serão comparados os dados de salas de aulas e salas de professores entre prédios novos e antigos com a finalidade de observar qual atende melhor as especificações adequadas. Ao final do artigo serão feitas recomendações para fazer frente às condições inadequadas encontradas. Além dessa análise, serão discutidos o layout das salas de aulas, a respeito da disposição das carteiras, e condições de acessibilidade para portadores de necessidades especiais. Escolheu-se como objeto de estudo, uma universidade pública localizada na cidade de Campo Grande no estado de Mato Grosso do Sul. A escolha de tal instituição é justificada por esta ser 2

um complexo com edificações de diferentes épocas e que abriga atividades de estudo e trabalhos diretamente relacionados à leitura e escrita, ou seja, atividades que necessitam de condições ambientais favoráveis para que o desempenho dos utilizadores do local seja satisfatório. Devido ao desenvolvimento do estudo da ergonomia ao longo dos anos, foram criadas normas para a regulamentação das condições de trabalho, como a NR-17, que visa o conforto e segurança do trabalhador em seu ambiente de trabalho. O estudo seguirá esta e outras normas específicas de cada medição que serão detalhadas posteriormente. 2. Fundamentação teórica 2.1 Ergonomia A ideia da ergonomia faz parte da vida do homem desde as primeiras armas e ferramentas que eram adaptadas às pessoas, assim como aos seus trabalhos. Começou a ser estudada a partir da primeira guerra mundial e desenvolveu-se com a segunda. É uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos, a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema (IEA, 2009). Ao longo dos anos a ergonomia cresceu e expandiu suas áreas de atuação e hoje tem diversos seguimentos, tais como a antropotecnologia, a macroergonomia e a ergonomia ambiental. 2.2 Ergonomia ambiental A ergonomia ambiental nada mais é do que a interferência dos fatores ambientais na anatomia e psicologia humana. Essa ciência no campo de trabalho estuda e aplica melhorias de forma a proporcionar maior conforto e bem estar, além de promover maior rendimento. Ergonomia é o termo designativo da aplicação multidisciplinar de conhecimento que trata de uma série de cuidados que envolvem o homem e as particularidades inerentes a cada tarefa que realiza nas condições de trabalho, observadas as característica e limitações individuais. (BARBOSA FILHO, 2010, p. 69) Desta forma, para avaliar um ambiente, três grupos de elementos são necessários: Aspectos técnicos e materiais concepção espacial, layout, conceitos dimensionais e conforto ambiental. Medições de iluminância, ruídos, temperatura e umidade; 3

Aspectos organizacionais recursos humanos, normas e procedimentos que disciplinem a organização do trabalho, tais como as Normas Brasileiras Regulamentadoras (NBR) e as Normas Regulamentadoras (NR); Aspectos psicológicos percepção do usuário, fronteiras dos espaços, comunicação humana e estética. Conforme a NR 17, as condições ambientais de trabalho devem estar adequadas às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. Soares et al (2004), destacam a importância da análise ergonômica do trabalho para se ter um ambiente adequado aos empregados, visando o bem estar dos mesmos. Segundo Rocha (1995), faz-se necessário uma atenção especial na questão da iluminação, da sonorização e da temperatura, porque estes aspectos agem de modo positivo ou negativo no rendimento do trabalho. 2.3 Iluminância de interiores A iluminância, medida em luxes, é o fluxo luminoso (lúmen) incidente numa superfície por unidade de área (m²). Portanto, a iluminância, por ser uma densidade de fluxo luminoso, nos indica o quão iluminado está uma determinada região. Os valores ótimos de quantidade de luxes são designados pela NR 17, enquanto a NBR 5413 estabelece os níveis mínimos de iluminância, sendo assim em todos os locais de trabalho deve haver iluminação adequada, natural ou artificial, geral ou suplementar, apropriada à natureza da atividade. A utilização racional dos índices de luminosidade nos ambientes de trabalho evita doenças visuais, diminuição da fadiga ocular, aumento da eficiência e a diminuição do número de acidentes. (ROCHA, 1995, p. 264) Abrantes (2004) salienta que uma iluminação inadequada pode interferir no desempenho das pessoas, podendo causar depressão, cansaço e estresse. 2.4 Ruídos Pode ser qualquer som indesejável, desagradável e que perturba, tanto de forma física como de forma psicológica aquele que o percebe, prejudicando o rendimento na atividade. O ruído é medido em decibéis e a exposição a níveis superiores a 50 db pode causar deficiência auditiva. Com a finalidade de padronizar tal valor criou-se a NBR 10.152 que relaciona os 4

índices de poluição sonora de acordo com horário e local, a fim de evitar prejuízos à saúde e proporcionar conforto acústico. 2.5 Ambiente térmico Temperatura é a grandeza que caracteriza o estado térmico de um corpo ou sistema. Porém o que se sente está mais ligado ao termo de sensação térmica, que além da temperatura externa depende da umidade do ar e velocidade do vento. Umidade do ar é a quantidade de vapor de água existente na atmosfera que pode ser expressa em valores absolutos (g/m³) ou em porcentagem (%). A umidade do ar de um determinado local interfere diretamente na qualidade de vida dos usuários, podendo gerar problemas respiratórios quando está baixa ou tonturas e proliferação de fungos quando está alta. Ambos são fatores que influenciam na produtividade dos funcionários, para tanto seus valores são especificados na NR 17. Para Kroemer e Grandjean (2005), a manutenção de um clima confortável é essencial para o bem estar e desempenho em eficiência máxima. 2.6 A universidade O termo universidade provém do latim universitas cujo significado esta relacionado com conjunto, universalidade, comunidade, entretanto o uso deste termo com o conceito que é hoje empregado tem origem na expressão universitas magistrorum et scholarium (comunidade de mestres e estudiosos) o que se leva a definir uma universidade como uma comunidade multidisciplinar onde os mestres detentores do conhecimento passam os mesmos aos estudiosos em busca de aprimoramento intelectual e profissional. Por esse motivo é que foi escolhido esse ambiente para o estudo de caso, por ser um local de desenvolvimento intelectual e que para tanto necessita de uma estrutura favorável para essas atividades. Além disso, as particularidades ambientais da localização da instituição estimulou o estudo. 2.7 Acessibilidade Acessibilidade compõe o conceito de cidadania, no qual os indivíduos têm direitos assegurados por lei que devem ser respeitados, entretanto, muitos destes direitos esbarram em barreiras arquitetônicas e sociais (MANZINI et al., 2003). Esse tema é pauta de muitas discussões levantadas atualmente, seja pela defesa da igualdade ou pela necessidade de adaptar ambientes, tendo em vista facilitar a circulação dos deficientes 5

físicos. Segundo Bittencourt; et.al.(2004), um espaço construído, quando acessível a todos, é capaz de oferecer oportunidades igualitárias a todos os usuários. Entretanto, mesmo com tantos debates, pouco se observa na prática. Para Silva (2008), verifica-se a divulgação de um discurso favorável à inclusão, mas na prática há a permanência da realidade excludente, ou seja, na realidade concreta as coisas permanecem da mesma forma. Sendo a universidade analisada, um local de grande afluência de público, suas instalações devem estar todas dentro dos parâmetros exigidos pela norma da NBR 9050 referente à acessibilidade e pelo decreto nº 5.296 de 2 de dezembro 2004, que normatiza as questões relativas à acessibilidade. Os estabelecimentos de ensino de qualquer nível, etapa ou modalidade, públicos ou privados, proporcionarão condições de acesso e utilização de todos os seus ambientes ou compartimentos para pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, inclusive salas de aula, bibliotecas, auditórios, ginásios e instalações desportivas, laboratórios, áreas de lazer e sanitários. (DECRETO 5.296, Art.24.) 3. Metodologia O estudo de caso foi baseado em dados quantitativos a respeito de intensidade luminosa, nível de ruídos, de temperatura e umidade. Os dados foram coletados, catalogados, observados e discutidos. No momento da análise, o cunho do estudo passou a ser de base qualitativa, pois foram julgadas as condições do ambiente para o bem estar de quem o utiliza. Os dados foram coletados em três edifícios da instituição: Prédio A, datado de 1992, onde há laboratórios e sala de professores; Prédio B, construído em 1994 e destinado às atividades de sala de aula; Prédio C, inaugurado no ano de 2012, sendo um complexo com laboratórios, sala de aula e sala de professores. Para a pesquisa foram recolhidos dados de uma sala de professores do Prédio A, com área de 18,04m²; uma sala de professor do Prédio C com 18,54m²; uma sala de aula do Prédio B com 93,75m² e uma sala de aula do Prédio C com 104,87m². As comparações foram realizadas entre ambientes que desenvolvem a mesma atividade. 6

Figura 1 Sala de professores do Prédio C Figura 2 Sala de professores do Prédio A 7

Figura 3 Sala de aula do Prédio B Figura 4 Sala de aula do Prédio C 8

As técnicas a respeito de como fazer corretamente as medições, tal como o manuseio dos aparelhos e os locais onde recolher os dados, foram consultadas em manuais e normas da ABNT. Com o objetivo de uma pesquisa mais detalhada, apuraram-se informações de iluminância no período diurno e noturno para salas de aula; informações de ruídos em diferentes ocasiões para todas as salas, os valores de temperatura e umidade foram recolhidos apenas com os aparelhos de ar condicionado ligados. As medições ocorreram durante o mês de Março de 2013, nos períodos matutino, vespertino e noturno. Com o auxilio de um luxímetro digital (TES Electrical Electronic Corp, modelo TES 1332) foram feitas medições em cinco pontos distintos das salas e calculou-se a média aritmética entre eles obtendo o resultado final. A escala utilizada no aparelho foi de 2000 lux. Para saber qual o nível recomendado pela norma NBR 5413 considerou-se a idade dos usuários inferior a 40 anos para salas de aula e, entre 40 a 55 anos para salas de professores; a velocidade e 9

precisão como sendo importante para ambas e a refletância do fundo da tarefa sendo de 30 a 70%, já que as mesas são claras e os pisos, escuros. Porém a norma ainda considera um valor limite de 400 lux para esses ambientes. Figura 5 Luxímetro digital Para aferir a temperatura e umidade utilizou-se um aparelho que faz as duas funções chamado termo-higrômetro digital (Minipa, modelo MT-241). Recolheram-se dados dos extremos das salas e foi calculada a média aritmética entre eles. Figura 6 Termo-higrômetro digital Por fim, o ruído foi medido com um decibelímetro digital (Minipa, modelo MSL1351C) apenas no ponto central das salas. 10

Figura 7 Decibelímetro digital Além dos fatores ambientais, realizou-se uma verificação a respeito das questões de acessibilidade dos prédios e a disposição das carteiras de estudos nas salas de aula. Um parecer crítico foi gerado segundo a situação observada destacando as condições inadequadas encontradas. 4. Apresentação dos resultados Os dados coletados durante o estudo foram expostos na seguinte tabela com os valores mensurados e os recomendados pelas normas, a fim de facilitar a comparação e a análise dos resultados. Dados em vermelho correspondem a valores em desacordo com as normas. Tabela 1 Resultados obtidos 11

4.1 Temperatura Ao realizar as comparações entre os valores obtidos de temperatura das salas de aula do Prédio B (mais antigo) e do Prédio C (mais novo) constatou-se que apesar dos aparelhos de ar condicionado do Prédio C serem mais novos, estes são menos eficientes no condicionamento ambiental do que os instalados no Prédio B. Tal condição indica que pode ter ocorrido um equívoco no dimensionamento da potência térmica dos aparelhos e/ou um mau funcionamento dos equipamentos no prédio mais novo. Apesar das duas temperaturas das salas de aula estarem acima da média recomendada pela norma, no bloco velho ela se apresenta do gosto e conforto dos usuários da sala, levando em conta que as janelas possuem películas de controle solar escuras, as quais ajudam no conforto térmico. Já no bloco novo os usuários estavam incomodados com a temperatura elevada, uma vez que, além dos aparelhos de ar condicionado serem menos eficientes, as películas de controle solar são claras, o que diminui o conforto térmico. As propostas de mudanças são a aplicação de película de controle solar mais escura, para bloqueio de calor, nas janelas da sala de aula do Prédio C, além de manutenção e/ou troca dos aparelhos de ar condicionado. No caso da comparação das salas de professores concluiu-se que a temperatura aferida no bloco novo está acima do recomendado pela norma, contudo o ambiente em questão estava agradável aos usuários, atendendo a finalidade da ergonomia. No bloco antigo, foi feito a 12

troca do ar-condicionado recentemente e a temperatura medida está condizente com os valores recomendados por norma. Desta forma não há necessidade de melhorias ou novas adaptações nas instalações. 4.2 Umidade relativa do ar Devido às boas condições climáticas durante as medições não houve grandes alterações entre os ambientes estudados, condizendo com os limites estabelecidos pelas normas. 4.3 Iluminação Com relação à iluminação, apenas a sala de aula do prédio C apresentou irregularidade com iluminância: acima da sugerida pela norma no período diurno e abaixo no período noturno. Tendo em vista esta comparação, constatou-se que a grande influência da luz natural na sala deve-se a pouca eficiência da película de controle solar e a não existência de brise no edifício, que tem por função bloquear a incidência direta de raios solares. O Prédio C apresenta somente uma marquise destinada à proteção contra águas pluviais, deixando as janelas do piso inferior (salas de aula) expostas diretamente à radiação solar. Figura 8 Visão externa das salas de aula do Prédio C 13

Por outro lado, no Prédio B, mesmo sendo uma construção mais antiga, possui brises para proteção das salas de aula tanto no térreo como no piso superior. Isso, juntamente com as árvores ao redor do prédio, auxilia para manter a luminosidade em níveis aceitáveis. Figura 9 Visão externa da sala de aula do Prédio B Frisando que as luminárias e películas de controle solar são diferentes entre as salas, verificou-se que as lâmpadas e/ou luminárias são mais eficientes no Prédio B do que no Prédio C. Como solução, propõe-se a troca das películas de proteção solar e/ou remanejamento das lâmpadas e/ou luminárias. Figura 10 Película de controle solar do Prédio C 14

Figura 11 Película de controle solar do Prédio B 4.4 Ruído Neste quesito, todos os ambientes analisados apresentaram resultados acima do recomendado pela norma. Durante as medições nas salas de professores, constatou-se que, no Prédio C, ocorreu influência de ruídos externos oriundos de obras próximas ao local elevando o nível sonoro, enquanto que, no Prédio A, os valores elevados foram causados principalmente por atividade típicas da rotina do ambiente, como atendimento de alunos e ligações telefônicas. Em relação às salas de aula, os aparelhos de ar condicionado, por serem do tipo de janela, que possuem a unidade condensadora e evaporadora num único gabinete contribuíram para os valores elevados de ruído observados. 4.5 Acessibilidade No quesito acessibilidade, a infraestrutura da instituição ainda é muito falha, visto que existem alunos cadeirantes que não conseguem realizar facilmente suas atividades diárias, bem como necessidades fisiológicas. Como exemplo, o acesso de entrada para o Prédio B é uma rampa que não favorece o deslocamento independente do cadeirante, pois este não consegue subir sozinho devido a grande inclinação da mesma. Apesar da existência do elevador para acesso ao piso superior, a falta de manutenção rotineira, segundo alunos e funcionários, provoca falhas de funcionamento recorrentes. Também não foram observados bebedouros específicos para cadeirantes. 15

Já no ambiente das salas de aula a situação é ainda mais crítica. O portador de necessidade especial encontra dificuldades de se locomover entre as filas de carteiras, uma vez que o espaçamento não é o suficiente para uma movimentação adequada e há a necessidade de deslocar as carteiras para chegar aonde deseja. Existe apenas uma carteira adaptada, porém o uso desta se torna inviável por comprometer a distribuição das demais carteiras. Tabela 2 Resultados obtidos Distância do quadro a primeira carteira Largura do corredor principal Distância do fundo a última carteira Distância dos corredores secundários Medidas recomendadas Sala de Aula Prédio B Sala de Aula Prédio C 2,60m 1,12m 3,30m 1,5m 0,67m 0,83m 1,2m 0,50m 2,0m 1,2m 0,38m 0,45m Com as informações coletadas constatou-se que a disposição dentro da sala compromete até mesmo a circulação de alunos que não possuem nenhuma necessidade especial, visto que os dados em vermelho são aqueles em desacordo ao recomendado. Uma das alternativas seria reduzir o número de carteiras em sala de aula e redistribuir as turmas mais numerosas para salas maiores. O que se percebeu foi que as salas são muito compridas e estreitas, opondo-se ao ideal de largura e comprimento. Essa característica pode vir a comprometer não só a área de circulação, mas também o desempenho dos alunos que sentam mais ao fundo e ficam muito distantes da lousa e do professor. 5. Conclusão 16

A partir da compilação dos dados, registraram-se as atuais condições de trabalho na Universidade analisada. Verificou-se então, a necessidade de melhorias de alguns quesitos ergonômicos nos ambientes estudados. Dos fatores ambientais avaliados, o que apresentou valores mais incompatíveis com os recomendados por norma foi o nível de ruído. Em todos os ambientes o ruído teve valores acima dos valores preconizados na NBR 10152 como ideais para um local acusticamente confortável. Em alguns casos o nível de iluminação também se mostrou excessivo, o que pode causar prejuízo aos utilizadores do ambiente, provocando perda de produtividade. Destaca-se também que a iluminação excessiva pode indicar um desperdício de utilização de energia elétrica em alguns casos. Na sala de aula analisada no Prédio B (de 1994), observou-se que os espaçamentos entre as carteiras de estudo prejudica a circulação dos alunos e professores, especialmente daqueles que são portadores de necessidades especiais. No Prédio C (de 2012) tal situação é minimizada, pois os espaçamentos permitem uma melhor circulação, embora ainda estejam abaixo do recomendado. De uma maneira geral, não pode se relacionar firmemente a idade dos prédios com as suas condições ergonômicas, haja visto que condições inadequadas foram observadas tanto em prédios mais antigos quanto em prédios mais novos. Tal condição destaca que um cuidado no planejamento e projeto das instalações prediais é de fundamental importância para que sejam constituídos ambientes ergonomicamente adequados para os utilizadores. Em suma, o presente trabalho alcança seu objetivo de mensurar os níveis de temperatura, umidade, luminosidade e ruído, analisando e comparando as condições ambientais de trabalho nas salas de aula e de professores entre as unidades, bem como propor soluções para os problemas encontrados. 6. Referências bibliográficas ABRANTES, A. F. Atualidades em ergonomia: logística, movimentação de materiais, engenharia industrial, escritórios. São Paulo: IMAM, 2004. 17

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5413 Iluminância de Interiores Referências Elaboração. Rio de Janeiro: ABNT, 1992. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10152 Níveis de Ruído para Conforto Acústico Referências Elaboração. Rio de Janeiro: ABNT, 1987. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050 - Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências a edificações, espaço, mobiliário e equipamento urbanos. Rio de Janeiro: ABNT, 1994. BARBOSA FILHO, A. N. Segurança do trabalho e gestão ambiental. São Paulo: Atlas, 2010. BITTENCOURT, L. S. et al. Acessibilidade e Cidadania: barreiras arquitetônicas e exclusão social dos portadores de deficiência física. Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, 2, Belo Horizonte, 2004. Anais... Belo Horizonte, 2004. BRASIL. Consolidação da promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. Decreto lei nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm>. Último acesso em abril de 2013. IEA (International Ergonomics Association). What is Ergonomics. 2009. Disponível em: <http://www.iea.cc/browse.php?contid=what_is_ergonomics>. Último acesso em abril de 2013. KROEMER, K.H.E.; GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. 5.ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. MANZINI, E. J. et al. Acessibilidade em ambiente Universitário: identificação e quantificação de barreiras arquitetônicas. In: MARQUEZINI, M. C. et al. (Org.). Educação física, atividades lúdicas e acessibilidade de pessoas com necessidades especiais. Londrina: Uel, 2003. p.185-192 (Coleção Perspectivas Multidisciplinares em Educação Especial, v. 9). MTE Ministério do Trabalho e Emprego. NR 17 Ergonomia. ROCHA, L. O. L. Organização e métodos: uma abordagem prática. 6. ed. São Paulo: Atlas, 1995. SILVA, A.G. Acessibilidade x inclusão: um estudo nos campi da Universidade do estado do Pará (Belém). In: EDUCERE 2008. Anais. Curitiba: PUC, VIII Congresso Nacional de Educação, 2008. SOARES, A.B.; PEDRINI, D.C.; EVARISTO, D.; LUCAS, F.M. Aplicação da análise ergonômica do trabalho (AET) em uma empresa autogestionária: limites e possibilidades. In: ENEGEP 2004. Anais. Florianópolis: XXIV Encontro Nac. De Eng. de Produção, 2004. 18

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APÊNDICE A - Planta da sala de aula do Prédio B com disposição das carteiras

APÊNDICE B - Planta da sala de aula do Prédio C com disposição das carteiras