Pré-hipertensão: tratamento

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Transcrição:

Pré-hipertensão: tratamento medicamentoso para todos Luiz César Nazário Scala Professor adjunto da Faculdade de Ciências Médicas e do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso. Doutor em Cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo Professor adjunto da Faculdade de Ciências Médicas e do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso. Doutor em Cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo. Em 2003 o Comitê Nacional Americano de Hipertensão através do VII Relatório (Seventh Report of the Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and the Treatment of High Blood Pressure - JNC VII) (1) propôs uma nova categoria para definição e classificação da pressão arterial (PA). Unificou as categorias pressóricas anteriormente definidas como normal e normal-alta em uma única entidade clínica denominada pré-hipertensão, em substituição à hipertensão transitória (1940), PA arterial limítrofe ou borderline (1970) e normal-alta (1990). Considerou pré-hipertensão a pressão arterial sistólica (PAS) entre 120 a 139 mmhg e a pressão arterial diastólica (PAD) entre 80 a 89 mmhg, a partir de duas ou mais medidas adequadamente realizadas, com o indivíduo sentado, em duas ou mais consultas médicas. Considerando que o risco cardiovascular aumenta a partir de níveis de PAS de 115 mmhg e PAD de 75 mmhg reafirmou-se, neste relatório, a importância da hipertensão arterial (HA) como fator de risco cardiovascular e da redução das suas conseqüências através de diagnóstico precoce e tratamento correto, medicamentoso ou não (1). O estudo pioneiro Veterans Administration, mostrou que é necessário tratar somente seis indivíduos com PAD muito elevada para prevenir um evento cardiovascular maior (2). Apesar da controvérsia quanto aos limites entre PA normal e hipertensão as Diretrizes Internacionais coincidem quanto ao ponto de corte para o diagnóstico de hipertensão (140/90mmHg) e da PA ótima (<120/ <80mmHg) (1,3,4). No entanto, ao alocar muitos normotensos na categoria de pré-hipertensos estabeleceu certa confusão e, sobretudo, resistência a esse conceito a despeito da importância epidemiológica desta nova categoria. A Diretriz americana não considera os pré-hipertensos como portadores de uma doença, mas sim de um risco cardiovascular maior, destacando a importância da conscientização de médicos e pacientes em relação à prevenção primária da hipertensão e suas complicações (1). Pré-Hipertensão e Risco Cardiovascular Considerando o ponto de corte 115/75 mmhg 61 grandes estudos de coorte, com 1 milhão de indivíduos sob risco (12,7 milhões de pessoas-ano), avaliados sob meta-análise, revelaram que os eventos cardiovasculares duplicam a cada 20 mmhg de aumento da PAS e 10 mmhg da PAD (5). Aproximadamente 31% dos americanos são pré-hipertensos, aparentemente sem diferenças em relação à raça e etnia (1). A probabilidade de uma pessoa de 55 anos de idade normotensa tornar-se hipertensa nos próximos 25 anos é de 90% (6). A prevalência ajustada por idade é maior em homens do que em mulheres (39% versus 23%) e naqueles acima de 60 anos em relação aos jovens (24% versus 34%), provavelmente devido a maioria dos idosos (65%) já terem progredido para a condição de hipertensão (6). 40 Recebido para publicação: Outubro de 2009 Aceite para publicação: Outubro de 2009

Revista Factores de Risco, Nº15 OUT-DEZ 2009 Pág.40-45 A incidência de hipertensão em 4 anos, é de 43% nos pré-hipertensos com níveis tensionais mais elevados, (PA normal-alta 130-139/85-89 mmhg), de 20% naqueles com níveis mais baixos (120-129/80-84 mmhg), e 10% naqueles com PA ótima (<120/80 mmhg). Oitenta e cinco por cento dos indivíduos pré-hipertensos apresentam um ou mais fatores de risco associados. Os mais comuns são obesidade, dislipidemia, resistência à insulina, síndrome metabólica e diabetes, com tendência de aumento devido a epidemia de obesidade (6,7). A microalbuminúria também é mais comum em pré-hipertensos do que em normotensos, além dos marcadores de resposta inflamatória como a proteína C reativa, a interleucina 6 e o fator de necrose tumoral α (8,9). O estudo NHANES mostrou que 64% dos indivíduos pré-hipertensos têm um ou mais fatores de risco para doença cardiovascular (DCV), atingindo 94% em indivíduos com mais de 60 anos de idade (10). Tal como a hipertensão, a taxa de progressão de pré-hipertensão para hipertensão tende a aumentar com o tempo, na proporção de 19% em 4 anos, na dependência da idade e níveis tensionais (11). A incidência de hipertensão em 4 anos, é de 43% nos pré-hipertensos com níveis tensionais mais elevados, (PA normal-alta 130-139/85-89 mmhg), de 20% naqueles com níveis mais baixos (120-129/80-84 mmhg), e 10% naqueles com PA ótima (<120/80 mmhg) (11). Por que tratar pré-hipertensão A elevada associação com fatores de risco e a progressão para a hipertensão constituem-se nas principais razões para tratar os pré-hipertensos. Sólidas evidências recomendam que tratar pacientes com DCV estabelecida com fármacos reduz acentuadamente a incidência de eventos cardiovasculares recorrentes. De acordo com o estudo de coorte Women s Health Initiative (12), esta população apresenta um significativo risco de desenvolvimento de DCV: incidência de morte, infarto agudo do miocárdio (IAM) e acidente vascular encefálico (AVE) de 1,6/1000 pessoas-ano entre mulheres com PA normal; de 2,9/1000 pessoas-ano em indivíduos com PA normal-alta e 4,3/1000 pessoas-ano em hipertensos. Além de se associar com aumento da incidência de eventos a préhipertensão é caminho intermediário para a hipertensão plena. No Brasil, estudo realizado em Porto Alegre (Rio Grande do Sul), estimou que 4 entre 5 adultos préhipertensos na faixa de 40 a 50 anos, evoluirão para hipertensão no prazo de 10 anos (13). Paralelamente crescem as evidências para indicação de medicamentos na prevenção da hipertensão arterial, apesar das Diretrizes Internacionais recomendarem inicialmente a implementação de medidas não medicamentosas, essencialmente mudanças no estilo de vida. Por outro lado, no mundo real muitas destas medidas, eficazes no contexto dos ensaios clínicos, têm baixa eficácia e efetividade após o encerramento destes, mesmo os de longa duração. Está bem estabelecida a baixa efetividade das recomendações dietéticas para a redução do peso, e do consumo de sal e aumento da atividade física para o controle da PA (14). Apesar destas limitações a promoção de saúde nunca deve ser descurada como meta primária, uma vez que seus objetivos visam uma sinergia de efeitos positivos na redução da pressão arterial. O estudo pioneiro Veterans Administration (2) mostrou que para prevenir um evento cardiovascular o número de indivíduos de média idade necessário para tratar (NNT) é somente 6 indivíduos com PAD muito elevada, 354 com PA moderadamente elevada, e 2.505 com hipertensão leve. Paralelamente, diversos ensaios clinicos randomizados demonstraram o beneficio do uso de fármacos antihipertensivos em pacientes com PA normal associada a condições que aumentam o risco cardiovascular (Tabela 1). O HOPE (15) avaliou 3.577 homens e mulheres com idade mínima de 55 anos e história prévia de doença arterial coronária, cerebral, vascular periférica, ou diabete melito associada a pelo menos outro fator de risco cardiovascular (colesterol total >200 mg/dl, HDL <35 mg/dl, HA, microalbuminúria ou tabagismo), para usar ramipril 10 mg/dia ou placebo. A redução relativa (RR) de 25% (IC 95%; 12-36) e absoluta de 4,5% (NNT: 23) na incidência do desfecho combinado primário (AVE, IAM ou mortalidade cardiovascular) foi atribuída, inicialmente, aos efeitos inibitórios do fármaco sobre a enzima conversora de angiotensina (IECA), já que a redução da PA no grupo tratado com ramipril foi modesta. Um sub-estudo desta casuística (MICROHOPE) (16) com monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) mostrou intensa redução da PA no período noturno, sugerindo que a eficácia do ramipril pode ser explicada pela sua ação hipotensora. Do estudo PROGRESS (17) participaram 6.105 pacientes 41

Pré-hipertensão: tratamento medicamentoso para todos Tabela I Ensaios clínicos que avaliaram os efeitos da redução da PA em indivíduos normotensos Condição clínica Tratamento Ativo Desfecho primário RR Risco (IC-95%) Referência Evidência de ateroesclerose em coronárias, cerebrais, periferia Ramipril Perindopril IAM, AVC, Mortalidade CV IAM, AVC, Morte Súbita 22% (14-20) 20% (9-29) HOPE EUROPA Pós-AVC Perindopril mais Indapamida AVC 43% (30-54) PROGRESS Diabete Melito Ramipril IAM, AVC, 25% (12-36) MICROHOPE Insufic. cardiaca assintomática Enalapril Mortalidade CV Mortalidade cardiovascular 12% (3-26%) SOLVD Insufic. Cardíaca sintomática Enalapril, Captopril Mortalidade cardiovascular 18% (6-28) SAVE Fonte: Fuchs e col. - Rev Bras Hipert 16(2):197-111, 2009 com doença cerebrovascular prévia (AVE ou acidente isquêmico transitório) tratados com perindopril isolado ou associado à indapamida ou placebo. Observou-se redução relativa de 43% (IC 95%: 30-54) e absoluta de 5,9% (NNT: 17) na recorrência de AVE nos pacientes tratados com a associação, mas não com perindopril isoladamente. No estudo EUROPA (18) foram incluídos 12.218 pacientes com evidência de DAC (IAM prévio, revascularização miocárdica ou lesão de, no mínimo, 70% em uma das principais artérias coronárias), randomizados para receber perindopril ou placebo. Observou-se redução relativa de risco de 20% (IC: 9-29%) e redução absoluta de 1,9% (NNT: 53) no desfecho principal (morte cardiovascular, IAM ou morte súbita) no grupo perindopril, independentemente dos níveis pressóricos basais. Os resultados destes ensaios clínicos, com inclusão de igual número de hipertensos e pré-hipertensos, sugerem que tratar a população pré-hipertensa de alto risco cardiovascular com fármacos é eficaz para reduzir eventos cardiovasculares. Se os benefícios observados nestes estudos se devem à ação pleiotrópica ou ao efeito de classe dos fármacos, não se sabe, pois os mesmos não foram desenhados com este objetivo. O mais provável é que seja pelo efeito hipotensor per se, os mesmos benefícios obtidos nos ensaios clínicos SOLVD (19) e SAVE (20), sob uso de IECA e betabloqueadores em pacientes com insuficiência cardíaca e pós-infarto (Tabela 1). Ensaios clínicos conduzidos por Staessen e cols. (21) mostraram que a redução na incidência de eventos cardiovasculares é proporcional à intensidade da redução pressórica. Assim, qualquer fármaco hipotensor que promova a mesma redução pressórica resultaria em benefício clínico em pré-hipertensos de alto risco cardiovascular. Contrariamente, em presença de diabete ou doença cardiovascular, a duplicação do risco causado pelo incremento de 20 mmhg na PAS e 10 mmhg na PAD causa maiores prejuízos clínicos. O VII Joint (1) não recomenda estratificar a população hipertensa e pré-hipertensa com PA normalalta, diferentemente da Diretriz Européia (4) e da V Diretriz Brasileira de Hipertensão (3). A duplicação do risco de um indivíduo jovem, com PAD de 85 mmhg, sem co-morbidades, com um risco basal Está bem estabelecida a baixa efetividade das recomendações dietéticas para a redução do peso, e do consumo de sal e aumento da atividade física para o controle da PA. 42

Revista Factores de Risco, Nº15 OUT-DEZ 2009 Pág.40-45 É importante considerar o desenvolvimento da hipertensão ( 140/90 mmhg), na ampla gama de valores tensionais de pré-hipertensos de risco cardiovascular muito alto, em portadores de diabete melito, insuficiência renal e doença cardiovascular, em especial aqueles com valores tensionais normais-altos (>135/85mmHg). muito baixo, comparado a outro com as mesmas características e com PAD de 75 mmhg, é mínima em termos absolutos (23). Milhares de indivíduos nesta condição teriam que ser tratados durante muitos anos para que se prevenisse um evento cardiovascular. Para o jovem em questão é cabível recomendar incisivas medidas não medicamentosas com o intuito de reduzir a PA ou pelo menos impedir que ela se eleve com o passar dos anos. O benefício descrito nos ensaios clínicos prévios foi palpável em razão do alto risco cardiovascular dos pacientes estudados (22). O estudo TROPHY (23), foi realizado com o objetivo de analisar se a intervenção farmacológica da pré-hipertensão poderia prevenir a progressão para hipertensão. Foram estudados, nos dois primeiros anos, 772 indivíduos com valores tensionais 130-139 e 85-89 mmhg randomizados para placebo (N=381) ou candesartan 16 mg/dia (N=391). Ambos grupos receberam orientações quanto à mudança de estilo de vida. Nos dois anos seguintes os 772 pacientes utilizaram apenas placebo. Como esperado, sob tratamento, nos dois primeiros anos, a incidência de hipertensão foi significativamente menor (13,6 versus 40,4%), no grupo tratado (RR: 0,34; 0,25-0,44), redução de 66%, NNT de 4. Após o período de 4 anos parte da proteção foi perdida, com diferença muito menor (9,8%), no grupo de intervenção (RR: 0,84; 0,75-0,95), mantendo, no entanto, 16% menos hipertensos, NNT de 11. O medicamento foi bem tolerado durante os dois anos de estudo. Recentemente o estudo PHARAO (24), avaliou 1.008 préhipertensos (PA 130-139/85-89), durante um período de follow up de 3 anos, randomizados para usar ramipril 5mg/dia ou placebo. O desfecho primário era o desenvolvimento de hipertensão ( 140/90 mmhg) medida em consultório. Os desfechos secundários foram redução de eventos cerebrovasculares e cardiovasculares (AVE, AIT, IAM), nova crise de insuficiência cardíaca com hospitalização e mortes, além de hipertensão sob os critérios da MAPA. Observou-se redução de 34% no risco de desenvolver hipertensão (RR 0,66 IC 95%; 0,53-0,81) no grupo pré-hipertenso tratado com ramipril, com NNT de 9, com diferença em efeitos adversos somente para tosse no grupo tratado (4,8 versus 0,4%). Sob análise da MAPA houve significativa redução na incidência de hipertensão no grupo tratado com ramipril (53,0 versus 32,5% p: 0,0001). É importante considerar o desenvolvimento da hipertensão ( 140/90 mmhg), na ampla gama de valores tensionais de pré-hipertensos de risco cardiovascular muito alto, em portadores de diabete melito, insuficiência renal e doença cardiovascular, em especial aqueles com Tabela II Metas Pressóricas a serem obtidas com o tratamento Categorias Hipertensão estágios 1 e 2 com Risco Cardiovascular baixo e médio Hipertensão e Pré-Hipertensão com Risco Cardiovascular alto Hipertensão e Pré-Hipertensão com Risco Cardiovascular muito alto Hipertensão Mais Nefropatia com Proteinúria > 1,0 g Meta mmhg - mínimo < 140/90 mmhg < 130/85 mmhg < 130/80 mmhg < 120/70 mmhg Fonte: V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão - Rev Bras Hipert 13(4): 256-312, 2006 43

Pré-hipertensão: tratamento medicamentoso para todos valores tensionais normais-altos (>135/85mmHg). Nestes, segundo as diferentes Diretrizes, as metas a serem atingidas são mais rigorosas: < 130/80mmHg ou mesmo <120-125/70-80mmHg, caso houver proteinúria, em especial superior a 1g/24 horas (Tabela 2). A efetividade de mudanças de estilo de vida para fins de prevenir a evolução de pré-hipertensão não foi testada (22), mas sabe-se que os resultados práticos destas medidas é freqüentemente decepcionante. Apenas 8% dos pré-hipertensos no estudo de Framingham tiveram uma significativa redução de peso (6,8 kg) e 90% dos obesos que perderam peso voltaram a ganhá-lo, o que leva alguns autores a defenderem um início mais precoce da intervenção farmacológica (24). Schunkert (25) reconhece muitas questões em aberto antes que se defenda, desde já, a terapêutica medicamentosa para os pré-hipertensos, ou apenas para os de PA normal-alta (130-139/85-89 mmhg): custo da terapêutica, segurança para o paciente, tempo de tratamento, seleção do medicamento, dose e quem deve ser tratado. Considerando que o panorama descrito evidencia que boa parte dos indivíduos com pré-hipertensão evoluem inexoravelmente para hipertensão, todas as tentativas de alterar o curso clínico desta doença devem podem ser efetivas. Se a intervenção medicamentosa for de baixíssimo custo, alta eficácia e excelente tolerabilidade poderá ser indicada nesses casos, propiciando redução acentuada na incidência de hipertensão arterial (23). A candesartana, de alto custo, já se mostrou eficaz e bem tolerada, enquanto o ramipril se associou com muitos casos de tosse. Atualmente um ensaio clínico multicêntrico, controlado, randomizado, começou a ser desenvolvido em muitos centros de pesquisa brasileiros, o Estudo PREVER, cujo objetivo, em um de seus ensaios clínicos, é investigar se os diuréticos em baixa dose exercem prevenção primária com boa tolerabilidade. Luiz Scala Referências 1. Chobanian AV, Bakris GL, Black HR, Cushman WC. The Seventh Report of the Joint National Committee on Prevention,Detection, Evaluation and Treatment of High Blood Pressure: The JNC 7 Report. JAMA 2003;289 (19): 2560-72. 2. Veterans Administration Cooperative Study Group on Antihypertensive Agents.Effects of treatment on morbidity in hypertension. Results in patients with diastolic blood pressure averaging 115 through 129 mmhg. JAMA. 1967;202(11):1028-34. 3. Sociedade Brasileira de Cardiologia; Sociedade Brasileira de Hipertensão; Sociedade Brasileira de Nefrologia. V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. Arq Bras Cardiol. 2006; 89:e24-79. 4. The Task Force for the Management of Arterial Hypertension of the European Society of Hypertension (ESH) and of the European Society of Cardiology (ESC). 2007 Guidelines for the Management of Arterial Hypertension. J Hypertens 2007;25:1105-87. 5. Lewington S, Clarke R, Qizilbash N, Peto R, Collins R, for the Prospective Studies Collaboration. Age-specific relevance of usual blood pressure to vascular mortality: a meta-analysis of individual data for one million adults in 61 prospective studies. Lancet 2002;360:1903 13. 6. Vasan RS, Larson MG, Leip EP, Kannel WB, Levy D. Assessment of frequency of progression to hypertension in non-hypertensive participants in the Framingham Heart Study: a cohort study. Lancet 2001;358:1682-86 (b). 7. Wang Y, Wang OJ. The prevalence of prehypertension and hypertension among US adults according to the new Joint National Committee Guidelines: new challenges of the old problem. Arch Intern Med. 2004;164:2126-34. 8. King DE, Egan BM, Mainous AG, 3rd, Geesey ME. Elevation of C-reactive protein in people with prehypertension. J Clin Hypertens (Greenwich). 2004;6:562-8. 9. Chrysohoou C, Pitsavos C, Panagiotakos DB, Skoumas J, Stefanadis C. Association between prehypertension status and inflammatory markers related to atherosclerotic disease: The ATTICA Study. Am J Hypertens. 2004;17: 568-73 10. Greenlund KJ, Croft JB, Mensah GA. Prevalence of heart disease and stroke risk factors in persons with prehypertension in the United States, 1999-2000. Arch Intern Med. 2004;164:2113-8. 11. Martin JFV, Cipullo JP. Tratamento medicamentoso para a préhipertensão: para todos? Rev Bras Hipertens 2009;16(1):44-45. 12. Conen D, Ridker PM, Buring JE, Glynn RJ. Risk of cardiovascular events among women with high normal blood pressure or blood pressure progression: prospective cohort study. BMJ. 2007;335:432-41. 44

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