CARIÓTIPOS E REGIÕES ORGANIZADORAS DE NUCLÉOLOS (RON) DE Marmosa E Didelphis (DIDELPHIDAE) DO ESTADO DO TOCANTINS, BRASIL. RESUMO

Documentos relacionados
Análise do cariótipo de duas espécies da família Formicariidae (Aves, Passeriformes)

ESTUDO CITOGENÉTICO E DE POLIMORFISMO CROMOSSÔMICO EM POPULAÇÕES DO GÊNERO Rineloricaria (LORICARIIDAE, SILURIFORMES) DA BACIA DO RIO PARANÁ.

6 PARESQUE ET AL : CARIÓTIPO DE ROEDORES E MARSUPIAIS DO ES (RBDB), city of Cariacica, Brazil Collection efforts were of 3300 trap/nights in EBSL and

Citótipos diferentes de Tetragonopterus argenteus... MIYAZAWA, C. S.

CARACTERIZAÇÃO CITOGENÉTICA DE Otocinclus vittatus (LORICARIIDAE, HYPOPTOPOMATINAE) DO CÓRREGO DO ONÇA, AFLUENTE DO TAQUARI, MUNICÍPIO DE COXIM, MS

Análises citogenéticas de exemplares do grupo Astyanax bimaculatus oriundos de tributário do Lago de Itaipu, na região de Santa Helena PR

ESTUDO CITOGENÉTICO DA RÃ-TOURO (Rana catesbeiana Shaw, 1802) 1

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE-FURG PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE AMBIENTES AQUÁTICOS CONTINENTAIS

[A] Abstract. Bruno Henrique Saranholi [a], Renata Cristina Batista Fonseca [b], José Fernando de Sousa Lima [c] [R]

CARACTERIZAÇÃO CITOGENÉTICA EM Poptella paraguayensis (CHARACIDAE, STETHAPRIONINAE) DO CÓRREGO DO ONÇA, AFLUENTE DO TAQUARI, MUNICÍPIO DE COXIM, MS

CARACTERIZAÇÃO CITOGENÉTICA E POPULACIONAL DO CROMOSSOMO B DE METALEPTEA BREVICORNIS ADSPERSA (ORTHOPTERA ACRIDIDAE).

NÚCLEO, CROMOSSOMO E CARIÓTIPO. Prof.ª. Luciana Araújo

DADOS PRELIMINARES SOBRE A OCORRÊNCIA E A DIETA DE Lutreolina. crassicaudata (DESMAREST, 1804) (MAMMALIA, MARSUPIALIA), NA REGIÃO DE

CITOGENÉTICA COMPARATIVA DAS FAMÍLIAS LEPTODACTYLIDAE E HYLIDAE DO CERRADO GOIANO*

ANÁLISE CROMOSSÔMICA EM HOPLIAS MALABARICUS (CHARACIFORMES, ERYTHRINIDAE) NO RIO SARANDI, EM REALEZA PARANÁ. BOROWSKI PIETRICOSKI 2

DIVERSIFICAÇÃO CARIOTÍPICA EM CINCO ESPÉCIES DE MORÉIAS DO ATLÂNTICO OCIDENTAL (ANGUILLIFORMES)

NOTAS SOBRE MORFOLOGIA, DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA, HISTÓRIA NATURAL E CITOGENÉTICA DE Cryptonanus guahybae (DIDELPHIMORPHIA: DIDELPHIDAE)

Alta homeologia cariotípica na família Tinamidae (Aves: Tinamiformes)

BIOLOGIA. Moléculas, células e tecidos. Núcleo interfásico e código genético. Professor: Alex Santos

AULA PRÁTICA SOBRE CARIÓTIPO - Pg 1

CARACTERIZAÇÃO CARIOTÍPICA DA POPULAÇÃO DE Astyanax altiparanae DO CÓRREGO DOS CAETANOS, UBERLÂNDIA-MG.

Professora Leonilda Brandão da Silva

Núcleo celular: O centro de comando. Unidade 4 Pág 34

Caracterização citogenética de Gabiroba (Campomanesia adamantium)

CITOGENÉTICA COMPARATIVA DAS FAMÍLIAS LEPTODACTYLIDADE E HYLIDAE DO CERRADO GOIANO*

CHROMOSOMAL DIFFERENTIATION IN Kerodon rupestris (RODENTIA: CAVIIDAE) FROM THE BRAZILIAN SEMI-ARID REGION

RESSALVA. Atendendo solicitação do autor, o texto completo desta dissertação será disponibilizado somente a partir de 26/04/2018.

ESTUDO CROMOSSÔMICO DE UMA POPULAÇÃO DE TRAÍRA, Hoplias malabaricus (CHARACIFORMES, ERYTHRINIDAE), FROM PROVENIENTES DO MÉDIO RIO IGUAÇU

Análises cromossômicas em uma população de baru (Dipteryx alata Vog) presente no cerrado da região de Ipameri - GO

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Marcos Antonio Nobrega de Sousa

NÚCLEO INTERFÁSICO. Prof. Fernando Belan - BIOLOGIA MAIS

Cromossomos 30/8/2011

8/9/2010. Sibele Borsuk

ARTIGO ORIGINAL. Abstract. Diones Krinski [a], Carlos Suetoshi Miyazawa [b] Recebido: 03/04/2013 Received: 04/03/2013

Citogenética e Aberrações Cromossômicas

A CÉLULA 1. Introdução: Uma Visão Geral da Célula

Citogenética de cinco espécies de pequenos mamíferos não voadores de três localidades na Amazônia Central

MORFOLOGIA CROMOSSÔMICA E ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS: UM MODELO DIDÁTICO MATERIAIS DIDÁTICOS

Capítulo 5 cariótipos

HÁBITOS ALIMENTARES DE MARSUPIAIS DIDELFÍDEOS BRASILEIROS: ANÁLISE DO ESTADO DE CONHECIMENTO ATUAL

Núcleo celular. Robert Brown ( ) Componente fundamental para a célula Nux. Compreensão da importância Séc. XX

Revelando os Processos de Diversificação Cariotípica em Primatas Neotropicais por FISH

RELAÇÃO ENTRE O POLIMORFISMO CROMOSSÔMICO (BANDA NOR) E A PROLIFICIDADE NA ESPÉCIE SUÍNA

CARACTERIZAÇÃO CITOGENÉTICA DE PEIXES DO PARQUE ESTADUAL

UEM Universidade Estadual de Maringá

Cromossomos eucarióticos

Diversidade citogenética e citotaxonomia de Phyllomys (Rodentia, Echimyidae)

Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de Plantas

CITOGENÉTICA HUMANA. Conceitos Básicos. Leniza Pola Citogeneticista Sênior

Estudando ecologia espacial pela habilidade em achar casa e comida

Programa Analítico de Disciplina BAN207 Mastozoologia

que possuem de 2n = 45 a 2n = 48 cromossomos, bem como distintas fórmulas cariotípicas os quais se adequam a este conceito de complexo de espécie

Correlação entre estrutura cariotípica e filogenia molecular em Rhipidomys (Cricetidae, Rodentia) do leste do Brasil

NÚCLEO CELULAR. Disciplina: Embriologia e Genética Curso Odontologia Profa Ednilse Leme

BIOLOGIA - 3 o ANO MÓDULO 35 NÚCLEO E DIVISÃO CELULAR: MITOSE

Augusto Adolfo Borba. Miriam Raquel Moro Conforto

Aberrações cromossômicas numéricas e estruturais

ESPÉCIES DO GÊNERO OLIGORYZOMYS OCORRENTES NA REGIÃO SUL caracterização citogenética e distribuição biogeográfica.

NÚCLEO E MITOSE. 9º ANO BIOLOGIA LUCIANA ARAUJO 1º Bimestre

PEDRO HENRIQUE FONSECA RABELO

ISSN DOI: /ecb.v4i2.55 Acesso livre em

IDENTIFICAÇÃO DE MARSUPIAIS DO ESTADO DO PARANÁ COM BASE NA ANÁLISE DA MICROESTRUTURA DOS PÊLOS

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

Melipona SIX DECADE OF CYTOGENETIC

Nucléolo, cromatina e cromossomos

OS MARSUPIAISS (DIDELPHIMORPHIA, MAMMALIA) DO INTERTROPICAL BRASILEIRO

ANA PAULA DE SANTI RAMPAZZO ANÁLISE CITOGENÉTICA EM ESPÉCIES DAS SUBFAMÍLIAS CHEIRODONTINAE E APHYOCHARACINAE (TELEOSTEI, CHARACIDAE).

BIOLOGIA - 2 o ANO MÓDULO 54 DETERMINAÇÃO DO SEXO

Germinação de sementes de Miconia (Melastomataceae) ingeridas pelo marsupial Gracilinanus microtarsus (Didelphidae)

Evolução de Plantas Cultivadas MGV 3717

Cap. 1: Genética A ciência da hereditariedade. Equipe de Biologia

Como surgiu a primeira célula c eucariótica??

Título do Projeto de Pesquisa: Estudos citogenéticos em amostras da espécie Apteronotus bonapartii coletadas em rios da região amazônica

CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DE VEADO-ROXO NA TENTATIVA DE RESOLUÇÃO DE INCERTEZAS TAXONÔMICAS

LUIZ FERNANDO KRAFT GALLEGO ANÁLISE CITOGENÉTICA DE ANFÍBIOS SIMPÁTRICOS ORIUNDOS DA FLORESTA ATLÂNTICA

MECANISMOS DE DETERMINAÇÃO DO SEXO E COMPENSAÇÃO DE DOSE

CARACTERIZAÇÃO CITOMOLECULAR DE TRÊS ESPÉCIES DE Coffea L: C. eugenioides, C. canephora E C. dewevrei *

Etapa: Professor(es): Waldir Stefano

Identificação de leveduras. Métodos moleculares

CARIÓTIPO & MUTAÇÕES CROMOSSÔMICAS

DESCRIÇÃO CITOGENÉTICA DE ASTYANAX SERRATUS (PISCES, CHARACIDAE) DO RIO PINTADO - PORTO UNIÃO/SC

UM TERCEIRO CITÓTIPO DE Astyanax aff. fasciatus (TELEOSTEI, CHARACIDAE) DA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E BIODIVERSIDADE UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE BIOLOGIA PROCESSO SELETIVO 2012

Alterações cromossômicas estruturais e segregação meiótica: um modelo didático usando massa de modelar

IDENTIFICAÇÃO MORFOMÉTRICA DE LARVAS INFECTANTES DE CIATOSTOMÍNEOS (NEMATODA: CYATHOSTOMINAE) DE EQUINOS PSI

Plano de Aulas. Biologia. Módulo 6 Núcleo e divisão celular

ANOMALIAS CROMOSSÔMICAS

Universidade Estadual de Maringá

DIETA E FRUGIVORIA POR MARSUPIAIS DIDELFIDEOS EM UMA FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL NO PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU, PARANÁ, BRASIL.

Termos para Indexação: Tetragonisca fiebrigi, Frieseomelitta trichocerata, rdna, nucléolo

OCORRÊNCIA DE CROMOSSOMO B HETEROCROMÁTICO EM LAMBARIS DA BACIA DO SÃO FRANCISCO MINAS GERAIS

Estudo cariotípico de duas espécies brasileiras do gênero Micrurus (Ophidia: Elapidae)

Software GUIA DO PROFESSOR. Laminário Virtual_ Cariótipo. Duração da animação: 1 hora-aula

Aconselhamento Genético e Diagnóstico Pré-natal

Caracterização citogenética de Mangaba (Hancornia speciosa Gómez)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ AMANDA DE ARAÚJO SOARES CARACTERIZAÇÃO CARIOTÍPICA EM ROEDORES DO PARQUE

CLASSES DE DESENVOLVIMENTO EM MARSUPIAIS: UM MÉTODO PARA ANIMAIS VIVOS

Registros de Lobo-Marinho Subantártico (Arctocephalus tropicalis) na porção central do litoral do Estado de São Paulo, no período entre 1998 e 2007

Transcrição:

Vol. Revista 18(2), Nordestina 2004 de Biologia, 18(2): 87-93 15.XII. 2004 87 CARIÓTIPOS E REGIÕES ORGANIZADORAS DE NUCLÉOLOS (RON) DE Marmosa E Didelphis (DIDELPHIDAE) DO ESTADO DO TOCANTINS, BRASIL. J. Fernando de S. Lima Departamento de Recursos Naturais, Setor de Ciências Florestais. Universidade Estadual Paulista, UNESP/FCA, Caixa Postal 237. CEP. 18603-970. Botucatu, SP, BRASIL. E-mail: jfslima@hotmail.com RESUMO Cariótipos e regiões organizadoras de nucléolos (Ron) de Marmosa e Didelphis (Didelphidae) do Estado do Tocantins, Brasil. Foram estudados os cariótipos de dois marsupiais do estado de Tocantins: uma fêmea de Marmosa murina e um macho de Didelphis marsupialis. Em M. murina, 2n=14 e AN=22, os 3 primeiros pares de cromossomos autossômicos são submetacêntricos, o quarto par é metacêntrico, o quinto par é subtelocêntrico, e o sexto par é acrocêntrico. O cromossomo X é acrocêntrico e heteromórfico. Regiões organizadoras de nucléolos (RON) estavam presentes na região pericêntrica do par número 5 e na região telomérica do par 6. Bandas RON foram identificadas também em um dos pares de cromosssomos submetacêntricos. Em D. marsupialis, 2n=22 e AN=20, os pequenos cromossomos acrocêntricos tem 4 bandas RON, enquanto que os maiores pares tem 5 ou 6. Palavras-chave: Marsupiais, cariótipo, cromossomo, Didelphidae, Tocantins, Brasil. ABSTRACT Karyotypes and nucleolar organizer regions of Marmosa and Didelphis (Marsupialia, Didelphidae) from the state of Tocantins, Brazil. Karyotypes of two marsupialis from the state of Tocantins were studied: one female Marmosa murina and one male Didelphis marsupialis. In M. murina, 2n=14 and AN=22, the 3 first pairs of autosomal chromosomes are submetacentric, the forth pair is metacentric, the fifth pair is subtelocentric, and the sixth pair is acrocentric. The X chromosome is acrocentric and heteromorphic. Nuclear regions (NORs) were present in the pericentric region of pair number 5 and in the telomeric region of pair 6. NORs were also present in one of the pairs of submetacentric chromosomes. In D. marsupialis, 2n=22 and AN=20, the smaller acrocentric chromosomes had four NORs while the larger pairs of acrocentric chromosomes had five or six. Key words: Marsupialis, kariotypes, chromosome, Didelphidae, Tocantins, Brazil.

88 Rev. Nordestina Biol. INTRODUÇÃO Em geral os marsupiais didelfídeos são de grande interesse para o estudo da evolução, não por serem os Theria viventes mais primitivos e pouco especializados, mas por representarem o estoque original da radiação Metatheria tanto australiana como sul americana, ocorrida em torno de 150 milhões de anos atrás. Os didelfídeos são elementos típicos da fauna neotropical e apresentam uma grande variedade adaptativa a diversos nichos ecológicos. Além disso, constituem um excelente material para o estudo de padrões evolutivos em mamíferos primitivos (REIG et al., 1977). Nas Américas existem 71 espécies de didelfídeos, das quais somente uma tem distribuição na América do Norte (Didelphis virginiana), ocorrendo o restante na América Central e América do Sul (EMMONS, 1997). Existem três tipos principais de cariótipos que caracterizam a família Didelphidae: 2n=14 para os gêneros Caluromys, Metachirus, Marmosops, Marmosa e Dromiciops (REIG et al. 1977; SOUSA et al., 1990); 2n=18 para o gênero Monodelphis (REIG e BIANCHI, 1969; REIG et. al.,1977; MERRY et al. 1983; LANGGUTH e LIMA, 1988) e 2n=22 para os gêneros Didelphis, Chironectes, Lutreolina e Philander (REIG et al., 1977). Estudos cariológicos estabelecem 2n=14, como extremamente conservativo e por isto básico, na maioria dos grupos de marsupiais (GRAVES e WATSON, 1991). Técnicas de bandamentos G, C, NOR e estudos cariométricos têm sugerido que nos didelfídeos a uniformidade cromossômica não é tão rígida com se supunha (YONENAGA-YASSUDA et al., 1982; MERRY et al. 1983; ROFE e HAYMAN, 1985; LANGGUTH e LIMA 1988; SOUSA et al., 1990). Com o propósito de divulgar os estudos dos pequenos mamíferos do estado do Tocantins, este trabalho tem o intuito de apresentar os cariótipos em coloração convencional e a distribuição das regiões organizadoras de nucléolos (RONs) de Didelphis marsupialis e Marmosa murina, comparandoos com os de outras espécies afins. MATERIAL E MÉTODOS Foram analisadas duas espécies: uma fêmea de Marmosa murina (FSL 73) e um macho de Dideplhis marsupialis (FSL 82). Os animais foram coletados em armadilhas na Mata Ciliar ao longo do Rio Tocantins, no município de Porto Nacional, latitude 10º42 S e longitude 48º25 W, no estado do Tocantins. No Laboratório os animais foram sacrificados para obtenção de preparados citológicos da medula óssea segundo BAKER et al. (1982). Preparadas as lâminas, aplicaram-se as técnicas de coloração convencional e da região organizadora do nucléolo de acordo com HOWELL e BLACK

Vol. 18(2), 2004 89 (1980). Em média, 41 células por espécie tiveram seus cromossomos contados e desenhados para a melhor identificação das marcações de banda RON. A classificação dos cromossomos nas diferentes categorias, foi feita de acordo com WAINBERG (1972). O material, pele e crânio, dos exemplares coletados encontra-se depositado na coleção de mamíferos do Departamento de Sistemática e Ecologia da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB. RESULTADOS No exemplar de Marmosa murina, o número diplóide foi 14 e o número autossômico foi 22. Os autossomos apresentaram forma submetacêntrica nos pares 1, 2 e 3; metacêntrica no par 4; subtelocêntrica no par 5 e acrocêntrica no par 6 (Fig. 1). O exemplar de Didelphis marsupialis mostrou 2n= 22 e o NF= 20. Os autossomos são todos acrocêntricos e variam de tamanho nos pares 1 a 3. Do par 4 ao 10 os tamanhos são pouco variáveis (Fig. 2). O cromossomo X nas duas espécies estudadas foi um pequeno acrocêntrico. Em Marmosa murina o par sexual foi heteromórfico ( Fig. 1), e o cromossomo Y de D. marsupialis apresentou uma forma puntiforme (Fig. 2). FIGURA 1 - Cariótipo de Marmosa murina (2n=14 e NF=22), fêmea, em coloração convencional. Foram observadas bandas RON em número de 4 na maioria das células analisadas das duas espécies estudadas variando de 3 a 6. Em M. murina (Fig. 3) foram identificadas bandas RON, no par 6, nos telômeros de braços longos e nos braços curtos de um dos pares submetacêntricos. Em D. marsupialis foram observadas bandas RON, em 2 dos pares autossômicos

90 Rev. Nordestina Biol. menores, podendo ser os pares 4, 5, 6, 7 ou 8 (Fig. 4), que devido a semelhança no tamanho não foi possível identificar com precisão. Em algumas células foram encontradas bandas RON em número de 5 ou 6, quando apresentaram marcações nos telômeros de alguns dos pares acrocêntricos maiores. FIGURA 2 Cariótipo de Didelphis marsupialis (2n=22 e NF=20), macho, em coloração convencional. FIGURA 3 Metáfase de Marmosa murina, fêmea, as setas mostram as RONs. Em destaque os pares marcados.

Vol. 18(2), 2004 91 FIGURA 4 - Metáfase de Didelphis marsupialis, macho, as setas mostram as RONs. Em destaque os 2 pares marcados; podendo ser os pares 4, 5, 6, 7, ou 8 (4 8). DISCUSSÃO O número diplóide do exemplar Marmosa murina aqui estudada é igual ao de todas as espécies do gênero, mas, o número autossômico somente coincide com M. elegans do Chile e a Marmosa cinerea do Paraná (NASCIMENTO et al., 1994). O cromossomo X, é semelhante ao de exemplares de M. cinerea e M. murina de Pernambuco (SOUSA et al., 1990), e difere de M. cinerea, da Bolívia e Venezuela; M. pusilla, da Argentina e M. murina, da Bolívia, Chile e Venezuela (REIG et al., 1977), nas quais este se apresenta como meta ou submetacêntrico. No exemplar estudado neste trabalho os cromossomos X são heteromórficos (Fig. 1), como em Caluromys philander, C. lanatus, M. cinerea e M. murina estudados por SOUSA et al. (1990). SVARTMAN (1998) observou variação interespecífica no X e no Y, em Metachirus nudicaudatus, Caluromys philander, Micoreus cinereus (= Marmosa cinerea), Philander opossum, Marmosops incanus e Didelphis marsupialis. Em espécies do gênero Marmosa existe discordância entre os autores em relação a morfologia dos pares 5 e 6. Alguns os consideram como acrocêntricos e outros como subtelocêntricos. Segundo REIG et al. (1977) existem duas hipóteses para explicar esta divergência de opiniões. A primeira, que as dificuldades estão na distinção e medição dos pequenos braços e a segunda, que seria devido a ocorrência de pequenos rearranjos cromossômicos. Pelo critério de classificação utilizado neste trabalho, a primeira hipótese foi a menos provável. Em relação as diferenças encontradas nos alossomos, especialmente no cromossômo X de todos os didelfídeos, a explicação é dada pela ocorrência de certos tipos de rearranjos, como

92 Rev. Nordestina Biol. inversão pericêntrica ou mecanismos de adição ou deleção de segmentos de heterocromatina (SOUSA et al., 1990). As bandas RON em M. murina estão presentes na região pericentromérica (braços curtos) do par 5 e nos telômeros dos braços longos do par 6. A primeira situação foi verificado por SOUSA et al. (1990) em C. philander, C. lanatus, M. cinerea e M. murina, e a segunda situação, só nas 2 últimas espécies de Marmosa, todas de Pernambuco. NASCIMENTO et al. (1994) encontraram, também, em M. cinerea, do Paraná, banda RON na região pericentromérica do par 6. Dados publicados por YONENAGA-YASSUDA et al. (1982), citam marcação pericentromérica em D. marsupialis e P. opossum, em exemplares de São Paulo. Foi constatada variação intraindividual de RONs em M. murina, em 45% das células analisadas (Fig. 3). SOUSA et al. (1990) descrevem em M. murina, de Pernambuco, bandas RON nos cromossomos submetacêntricos do par 3. No exemplar da espécie estudada não foi possível confirmar bandas nesse par. O exemplar de Didelphis marsupialis possui tanto os cromossomos autossômicos como os sexuais, semelhantes aos constatados em quase todas espécies do mesmo gênero e também em Philander opossum e P. mcilhennyl (YONENAGA-YASSUDA et al., 1982; REIG et al., 1977). Entre as espécies de 2n=22, somente D. virginiana e Lutreolina crassicaudata (REIG, et al., 1977) apresentam o cariótipo diferente, o primeiro em relação aos autossomos e par sexual e o segundo só em relação aos cromossomos sexuais, sendo sempre o X um metacêntrico e o Y um acrocêntrico. O cromossomo Y, de diminuto tamanho, é considerado por todos os autores, como acrocêntrico (Fig. 2). A forma do cromossomo Y em D. marsupialis é comumente chamada de puntiforme, e já foi descrita para os gêneros Caluromys, Marmosa, Monodelphis e Didielphis por REIG e BIANCHI (1969), REIG et al. (1977) e SOUSA et al. (1990). No exemplar de D. marsupialis as bandas RON foram encontradas em todas as células nos telômeros dos braços longos de 2 pares de cromossomos autossômicos, podendo ser alguns dos pares de 4 a 8, que possuem tamanho semelhante (Figs. 2 e 4). Em 42% das células analisadas encontrou-se de 5 a 6 bandas RON, quando surgiam nos telômeros dos braços longos de um dos cromossomos do par marcado ou em um par dos maiores acrocêntricos. Encontrou-se uma célula com três bandas RON. YONENAGA-YASSUDA et al. (1982); CASARTELL et al. (1986) e SVARTMAN (1998) constataram uma variação de RON de 2 a 8 para didelfídeos e SOUSA et al. (1990), observou uma variação de 2 a 6. Os resultados deste trabalho são similares aos preconizados por SOUSA et al. (1990), para espécies do Nordeste.

Vol. 18(2), 2004 93 AGRADECIMENTOS Agradeço a Dra. Sanae Kasahara do Departamento de Biologia da UNESP, Rio Claro-SP, pela utilização dos Laboratórios e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq, pelo suporte financeiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAKER, R.J.; HAIDUK, M.W.; ROBBINS, L.W.; CADENA, A. and KOOP, B.F. 1982. Chromosomal studies of South American bats and their systematic implications. In: MARES, M.A. and GENOWAYS, H.H., Eds., Mammalian Biology in South American. U.S.A., vol.6: 303-306. CASARTELLI, C.; ROGATTO, S. and FERRARI, I. 1986. Cytogenetic analisis of some Brazilian marsupialis (Didelphidae: Marsupialia). Can. J. Genet. Cytol. 28: 21-29. EMMONS, L.H. 1997. Neotropical rainforest mammals: a field guide. Chicago, University of Chicago Press. pp. 11-37. GRAVES, J.A.M. and WATSON, J.M. 1991. Mammalian sex chromosomes: evolution of organization and function. Cromosoma, 101: 63-68. HOWELL, W.M. and BLACK, D.A. 1980. Controlled silverstaining of nucleolus organizer region with a protective colloidal developer: a 1-step method. Experientia, 36: 1014-1015. LANGGUTH, A. and LIMA,J.F.S. 1988. The karyotype of Monodelphis americana (Marsupialia - Didelphidea). Revta. nordest. Biol., 6 (1): 1-5. MERRY, D.E.; PATHAK, S. and VANDEBERG, J.L. 1983. Differential NOR activities in somatic germ cells of Monodelphis domestica (Marsupialia, Mammalia). Cytogenet. Cell Genet., 35: 244-251. NASCIMENTO, A.P.; KAZMIERCZAK, I. and SBALQUEIRO, I.J. 1994, Padrões de heterocromatina constitutiva e banda RON em exemplares de Marmosa e Metachirus (Didelphidae). Rev. Bras. Gen., 17(3): 139. (suppl.) REIG, O.A. and BIANCHI, N.O. 1969. The occurrence of an intermediate didelphid karyotype in the short-tailed opossum (Genus Monodelphius). Experientia, 25: 1210-1211. REIG, O.A.; GARDNER, A.L.; BIANCHI, N.O. and PATTON, J.L. 1977. The cromosomes of the Didelphidae (Marsupialia) and their evolutionary significance. Biol. J. Linn. Soc., 9: 191-216. ROFE, R. and HAYMAN, D. 1985. G-banding evidence for a conserved complement in the Marsupialia. Cytog. Cell Genet., 39: 40-50. SOUSA, M.J.; MAIA, V. and SANTOS, J.F. 1990. Nuclear organizer regions, G- and C- bands in some brazilian species of Didelphidae. Rev. Brasil. Genet., 13(4): 767-775. SVARTMAN, M. 1998. Evolução cariotípica de marsupiais da família Didelphidae. Douctoral thesis, Departamento de Biologia, USP, São Paulo, SP.

94 Rev. Nordestina Biol. YONENAGA-YASSUDA, Y.; KASAHARA, S.; SOUSA, M.J. and L ABBATE, M.L. 1982. Constituitive heterocromatin, G-bands and nucleolus organizer regions in four species of Didelphidae (Marsupialia). Genetica, 58:71-72. WAINBERG, R.L. 1972. Cariologia y cariometria di Monodelphis dimidiata Wagner (Marsupialia: Didelphidae) Physis, 31(83): 327-336.