Cadernos Jurídicos. daescola



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Transcrição:

Cadernos Jurídicos daescola dedireito Nº 01 Mar/Abr/Mai 2011

Cadernos Jurídicos da Escola de Direito da Faculdade Paranaense. - V. 1, N. 1 (mar.abr. mai., 2011) -. Curitiba: Faculdade Paranaense, 2011. 1. Direito - periódicos Este Caderno não é responsável pelas idéias emitidas nos artigos publicados, que devem ser reputadas exclusivamente aos autores. É permitida a reprodução parcial dos textos, desde que citada a fonte e o autor. Periodicidade: semestral Publicação Eletrônica Faculdade Paranaense - FAPAR Alameda Dom Pedro II, 432 - Batel CEP 80420-060 Curitiba, Paraná, Brasil Tel. (41) 3015-4601 www.fapar.edu.br Versão eletrônica da Revista: www.fapar.edu.br

Faculdade Paranaense - FAPAR Cadernos Jurídicos da Escola de Direito da Faculdade Paranaense Nº 01 Mar/Abr/Mai 2011 Curitiba, Paraná, Brasil

COMO PARTICIPAR Magistrados e/ou acadêmicos de todo o país que queiram enviar trabalho ou decisão para publicação no Cadernos Jurídicos acerca de temas atuais de interesse para a comunidade jurídica, julgados recentes de todas as instâncias, comentários e estudos sobre novas tendências jurisprudenciais e alterações legislativas diretamente ligadas à atividade jurisprudencial, devem fazê-lo juntando ao material impresso, gravação em mídia eletrônica, na versão de aplicativos de texto (*.doc, *.rtf, *.odt, *.sxf) e enviá-los para o endereço: Escola de Direito da Faculdade Paranaense - FAPAR Alameda Dom Pedro II, 432 - Batel CEP 80420-060 Curitiba, Paraná, Brasil Tel. (41) 3015-4601 www.fapar.edu.br E-mail: gerencia-fapar@unip.br Os trabalhos e decisões passarão pela avaliação da Comissão Organizadora que poderá ou não recomendar sua publicação, tendo em vista os objetivos da publicação. A publicação não implica na cessão dos direitos autorais correspondentes à IES. Faculdade Paranaense - FAPAR Conselho Editorial Provisório Direção Acadêmica Prof. Esp. Adalberto Nazareth de Almeida camargo Coordenação Pedagógica Prof. Esp. Paulo Roberto de Araújo Coordenação do Curso de Direito Prof. Me. Paulo Cipriano Coen Coordenação do Núcleo de Práticas Jurídicas Prof. Me. André Barbieri Souza Convidados para a presente edição: Corpo Docente: Guilherme Augusto Bittencourt Corrêa Eduardo Biacchi Gomes Marcelo Lebre Cruz Corpo Discente: Jeferson Alves Noronha

Sumário Apresentação...09 Marcelo Lebre Cruz Corpo Docente O Inimigo do Poder Judiciário Brasileiro a partir da Concepção de Carl Schmitt... 13 Guilherme Augusto Bittencourt Corrêa Os Direitos Fundamentais e Sociais do Trabalhador à luz do 5º, paragráfo 3º da Constituição Federal: uma análise a partir da Convenção das Pessoas com Deficiência, 2006... 31 Eduardo Biacchi Gomes e Paulo Cipriano Coen Pluralismo e Estados Pós-Nacionais: o Discurso Normalizante dos Direitos Humanos...43 Marcelo Lebre Cruz Corpo Discente O Apenamento do Estado Inerte, segundo a Teoria Funcional do Delito... 63 Jeferson Alves Noronha

8 Cadernos Jurídicos da Escola de Direito

Apresentação É com grande satisfação que iniciamos uma nova etapa na história da jovem e promissora Faculdade Paranaense (FAPAR). A instituição, que inaugurou seu curso de graduação em Direito no ano de 2006, já pôde demonstrar - por meio de inovadores projetos - que veio com um propósito diferenciado, visando uma preparação de excelência e cercada de valores humanísticos. E este é mais um destes grandes projetos. A publicação de uma revista científica é sempre festejada pela comunidade acadêmica, especialmente quando se atenta à qualidade editorial e ao rigor técnico de seus trabalhos como ocorre com a presente publicação. Cabe destacar que esta revista jurídica é fruto de um esforço coletivo, empreendido por uma equipe séria e titulada de professores, coordenadores e diretores (alguns que já passaram e outros que ainda se fazem presentes na estrutura) da Instituição. Com esta, temos em mente a criação de um veículo que propicie a discussão de teoria e jurisprudência sob uma perspectiva crítica e emancipatória. Objetivamos também ofertar aos nossos alunos e professores um canal para que possam expor suas idéias e reflexões, bem como para criar uma maior interlocução com outras instituições de Ensino Superior, nacionais e estrangeiras. Em suma: para além de representar o ápice de reflexões jurídicas já consolidadas, a revista jurídica da Faculdade Paranaense servirá de palco para a formulação e desenvolvimento de novas idéias, as quais tendem a ultrapassar as barreiras da academia rumo à sua livre propagação na sociedade. Que esta publicação (bem como as que certamente virão na sequência) possa honrar, com fidelidade, o pensamento libertário e democrático que permeia os corredores desta Instituição de Ensino. Prof. Marcelo Lebre Curitiba, PR Faculdade Paranaense 9

10 Cadernos Jurídicos da Escola de Direito

Corpo Docente

12 Cadernos Jurídicos da Escola de Direito

RESUMO O Inimigo do Poder Judiciário Brasileiro a partir da Concepção de Carl Schmitt Guilherme Augusto Bittencourt Corrêa * O presente estudo inicia-se com uma breve análise das idéias de Carl Schmitt expressadas na obra O conceito do Político. Não se traz no presente estudo a totalidade das idéias do autor alemão, mas um apanhado geral, com destaque para as idéias a respeito da presença do inimigo. Além disso, busca-se trazer no presente estudo as causas dos problemas do Poder Judiciário, demonstrando que todas elas levam à ocorrência de um problema maior ainda, representado pela morosidade do processo. Ao final, procura-se fazer uma ponte com os pensamentos de Schmitt demonstrando que estes problemas do Poder Judiciário e consequentemente a morosidade deste aparecem como verdadeiros inimigos do Poder Judiciário, inimigos estes conceituados a partir da idéia do autor alemão. PALAVRAS-CHAVE: Poder Judiciário. Inimigo em Carl Schmitt. Problemas do Poder Judiciário. Morosidade Processual. 1 INTRODUÇÃO O presente estudo tem por objetivo trazer a idéia de inimigo, tratada por Carl Schmitt em sua célebre obra O conceito do Político, 1 para os dias atuais, tentando fazer uma breve e simples relação com um grande problema e, por assim dizer, inimigo do processo e do Poder Judiciário, qual seja, o tempo do processo, ou seja, a sua excessiva duração. Ainda, demonstrar-se-á alguns outros problemas do Poder Judiciário que levam à esta morosidade * Mestre em Direito UFPR. Professor Universitário. Advogado Militante em Curitiba Paraná. 1 Carl Schmitt é sem dúvida o maior pensador político do século XX e o conceito do político é certamente de toda sua vasta bibliografia a obra mais conhecida, talvez por essa razão tenha permanecido durante um longo período como sendo o único livro do jurista traduzido para língua inglesa. SILVA, Washington Luiz. Carl Schmitt e o conceito limite do político. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0100-512x2008000200010&script=sci_arttext) no dia 23/07/2009, às 11:15 horas. Faculdade Paranaense 13

O Inimigo do Poder Judiciário Brasileiro a partir da Concepção de Carl Schmitt e que, apesar de inimigos de todos, por vezes não são enfrentados adequadamente, a fim de que se legitimem discursos e atitudes decorrentes destes mesmos problemas. Aqui não se pretende aprofundar de forma extremada nas idéias de Schmitt, uma vez que isso é comumente feito por diversos autores da área da filosofia e da teoria do direito. O intuito aqui, como o autor do presente estudo dedica-se ao estudo do processo civil, sobretudo de forma a viabilizar um maior e melhor acesso à justiça, é tentar demonstrar como a idéia de inimigo de Carl Schmitt pode ser tratada no campo do processo civil brasileiro e como estes inimigos, por vezes combatidos, acabam legitimando os discursos. Ou seja, procura-se utilizar as idéias do citado autor com o intuito de demonstrar algumas justificativas para certas situações pouco tratadas pela doutrina, situações que passam despercebidas e, que, por vezes, carecem de maiores discussões devido à existência de discursos sedimentados e silenciadores, os quais não aprofundam o debate para novas discussões. Entende-se que não há muito sentido em estudar as idéias do citado autor para seu conhecimento puro e simples. A função dos estudiosos, no caso do Direito, é procurar identificar problemas e procurar resolvê-los. No presente caso, busca-se a utilização das idéias defendidas por Carl Schmitt como forma de demonstrar e enfrentar os grandes problemas que assolam o Poder Judiciário, mas que refletem em toda a sociedade. Pensa-se que, idéias trazidas há algumas décadas possam ser trazidas à realidade atual como forma de demonstrar certas situações. Espera-se que tal trabalho não sirva somente para identificar os problemas, mas sim também como forma de enxergá-los sobre outro viés e, por meio desta nova visão, buscar novas soluções e saídas. Nas linhas abaixo, de forma breve, será demonstrado que alguns dos grandes problemas do Poder Judiciário Brasileiro, por vezes estão nas pessoas, em interesses mesquinhos, situação bem diferente da retratada por meio de discursos dos operadores jurídicos. 2 O INIMIGO EM CARL SCHMITT O citado autor teve como inspiração para suas obras suas observações pessoais durante o regime nazista. Era integrante deste partido, porém possuía grandes amigos judeus que foram perseguidos durante o regime e por isso, chegou a ser expulso do partido nazista, inclusive tendo que fugir e teve que parar de escrever o que pensava. 14 Cadernos Jurídicos da Escola de Direito

Guilherme Augusto Bittencourt Corrêa Como já dito anteriormente, aqui não se quer aprofundar especificamente no pensamento do autor, mas uma breve análise sobre seu pensamento se impõe. Em sua obra, O conceito de político, dentre as várias questões tratadas, Schmitt procura demonstrar que o político, o conceito do político, depende da existência de um inimigo. Ou seja, não há política sem inimigo. E, procura ele definir o inimigo como aquele contra quem todo um grupo luta, onde não existiria a pluralidade, 2 uma vez que todos, sem exceção, teriam o mesmo inimigo em comum. Para ele ao se admitir o pluralismo político, admitir-se-iam a existência de vários grupos, cada grupo com um inimigo diferente, faltando unidade. Desta forma, devido a esta ausência de unidade faltaria o inimigo em comum e, consequentemente faltaria também o político. 3 Em breves palavras este seria a condição para a política, qual seja, a existência de um inimigo. Ainda, importa ressaltar que na referida obra fica clara a situação de que, com a existência desse inimigo comum, muitas atitudes, contra este inimigo em comum acabam sendo legitimadas, tudo em prol da destruição deste inimigo. Schmitt fala em guerra contra este inimigo, enaltecendo que o Estado, político, possui o jus belli e, por isso, faz a guerra para destruir o inimigo. Nas situações trazidas por Schmitt ele trata efetivamente de guerra literalmente pensando, em mortes, em combate. É claro que no presente estudo não se adotará a guerra ao inimigo neste sentido, mas sim, uma guerra sem sangue, sem mortes, mas que também destrói este inimigo, que na verdade é um inimigo imaterial, mas que gera consequência materiais bastante gravosas e traumáticas. Ainda, em continuidade da análise da obra, Schmitt diz que o mundo, durante sua evolução altera as zonas de interesse. Como exemplo diz que as zonas se alteram até que se encontre uma zona neutra, em que não haja inimigos e nem conflitos. Mesmo não acreditando nisso, exemplifica dizendo que na atualidade a zona é a técnica, em que, as grandes ações dos povos, são voltadas para a obtenção da técnica e os inimigos também são desta forma definidos. 2 A unidade política é justamente, por essência, a unidade determinante, independentemente de que forças ela extrai seus últimos motivos psicológicos. Ela existe ou não existe. Quando ela existe, é a unidade suprema, isto é, aquela que determina o caso decisivo. Que o Estado seja uma unidade, e mesmo a unidade que dá a norma ou a medida, isto se baseia em seu caráter político. Uma teoria pluralista é ou a teoria política de um Estado que chega à unidade por meio de um federalismo de agremiações sociais ou então á apenas uma teoria da dissolução ou da refutação do Estado. SCHMITT, Carl. O Conceito do Político. Trad. Alvaro L. M. Valls. Petrópolis: Vozes, 1992. p. 69. 3 Esta teoria política é, sobretudo, pluralista em si mesma, isto é, ela não tem nenhum centro unitário, porém extrai seus motivos teóricos de círculos de idéias bem diversos (religião, economia, liberalismo, socialismo, etc); ela ignora o conceito central de toda teoria do Estado, o político, e não discute nem mesmo a possibilidade de que o pluralismo das agremiações pudesse conduzir a uma unidade política construída de maneira federalista; ela se atola num individualismo liberal, porque em última análise ela não faz outra coisa senão jogar uma associação contra outra, a serviço do indivíduo livre e suas livres associações, quando então todas as questões e todos os conflitos vêm a ser decididos a partir do indivíduo. Na verdade não há nenhuma sociedade política ou associação política, existe apenas uma unidade política, uma comunidade política. A possibilidade real do agrupamento de amigo e inimigo já é suficiente para criar além do meramente social-associativo, uma unidade normativa, que é algo de especificamente diferente e frente às demais associações algo de decisivo. Se esta unidade deixa de existir, mesmo na eventualidade, deixa também de existir o próprio político. SCHMITT, Carl. Idem, p. 70. Faculdade Paranaense 15

O Inimigo do Poder Judiciário Brasileiro a partir da Concepção de Carl Schmitt Por exemplo, diante da descoberta de que determinada nação conseguiu desenvolver uma bomba atômica, outras nações maiores e já detentoras desta técnica, atacam esta nação menor, com o objetivo de destruição deste inimigo, com o discurso de que os ataques são para o bem de todos, para o bem da humanidade. Porém, ao mesmo tempo em que se luta contra este inimigo e se quer destruí-lo, pensa-se que a ausência total do inimigo não é viável, já que sem este, não haverá política e nem novos conflitos, não sendo legitimadas determinadas atitudes. A idéia central, ao ver do autor do presente estudo, é a de que, muitas ações e discursos somente serão legitimados, quando da existência do inimigo, ou seja, há a necessidade de luta contra esse inimigo, contra esse mal, porém, uma destruição total desse inimigo faria com que não houvesse mais razões nem legitimação para a luta contra este mesmo inimigo. 3 O PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO 3.1 PANORAMA GERAL O Poder Judiciário aparece na Constituição de 1988 como um dos três poderes fundamentais da República. Tem como função precípua a função jurisdicional, porém, de forma residual também exerce as funções administrativa e legislativa. 4 Entende-se que o Poder Judiciário aparece como uma forma de coibir e controlar 5, 6 eventuais abusos e arbitrariedades dos demais poderes, sendo indispensável, portanto, à Constituição de um efetivo Estado Democrático. 7 4 A função típica do Poder Judiciário é a jurisdicional, ou seja, julgar aplicando a lei a um caso concreto, que lhe é posto, resultante de um conflito de interesses. Portanto, a função jurisdicional consiste na imposição da validade do ordenamento jurídico, de forma coativa, toda vez que houver necessidade. O Judiciário, porém, como os demais poderes, possui outras funções, denominadas atípicas, de natureza administrativa e legislativa. MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada. 7 ed. São Paulo: Ed. Atlas, 2007, p. 1319. 5 O Poder de apreciação da legalidade de qualquer ato da Administração Pública pelo Judiciário é determinação constitucional, logo, não se questiona a possibilidade de controle de tais atos, mas sim a operacionalização e a materialização dessa fundamental atividade estatal. FRANÇA, Phillip Gil. O controla da administração pública e sua efetividade no Estado Contemporâneo. In: Interesse Público (Revista Bimestral de Direito Público). Belo Horizonte: Editora Fórum, n. 43, p. 167-197, mai/jun. 2007, p. 192. 6 O controle jurisdicional da administração é princípio estruturante do Estado de Direito. A possibilidade de controle jurisdicional, como hoje se conhece, com influência da Constituição Americana, sobretudo de Marschall, do judicial review, aparece na Constituição da República, 1891, e sobrevive até agora. A possibilidade de controle judicial é a mola propulsora do Estado de Direito. FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Controle jurisdicional da administração pública. Revista de Direito Administrativo e Constitucional, Curitiba, n. 6, 2001. 7 O Poder Judiciário é um dos três poderes clássicos previstos pela doutrina e consagrado como poder autônomo e independente de importância crescente no Estado de Direito, pois, como afirma Sanches Viamonte, sua função não consiste somente em administrar a Justiça, sendo mais, pois seu mister é ser o verdadeiro guardião da Constituição, com a finalidade de preservar basicamente os princípios da legalidade e da igualdade, sem os princípios de organização política, incorporados pelas necessidades jurídicas na solução de conflitos. Assim, é preciso um órgão independente e imparcial para velar pela observância da Constituição e garantidor da ordem na estrutura governamental, mantendo em seus papéis tanto o Poder Federal como as autoridades dos Estados Federados, além de consagrar a regra de que a Constituição limita os poderes dos órgãos da soberania. MORAES, Alexandre de. Obra citada, p. 1318-1319. 16 Cadernos Jurídicos da Escola de Direito

Guilherme Augusto Bittencourt Corrêa Atualmente o Poder Judiciário brasileiro passa por uma crise 8 e sempre se procuram soluções e promessas milagrosas, 9 que em nada melhoram, ou muito pouco acrescentam aos graves problemas que enfrenta a justiça brasileira. Independentemente das soluções ou tentativas de solução, os problemas estão aí, dizendo alguns, inclusive, que o Poder Judiciário não está em crise, mas sim, esta em seu estado normal, ou seja, vive numa constante crise. É bem sabido da falta de estrutura do Poder Judiciário, dos problemas administrativos e em alguns casos até problemas ligado à corrupção, situações estas que afetam sobremaneira o bom funcionamento do Poder Judiciário. 10 Sendo assim, não restam dúvidas da crise, ou melhor, da existência de grandes problemas pelos quais passa o Poder Judiciário Brasileiro, problemas estes que geram graves conseqüências para a população brasileira como um todo. Essa crise do Poder Judiciário é tão notória que não são raros os discursos de autoridades políticas e judiciárias no sentido de procurar resolver tais problemas, problemas estes que serão melhor analisados abaixo. 3.2 AS POSSÍVEIS CAUSAS DOS PROBLEMAS DO PODER JUDICIÁRIO 11 Atualmente procura-se discutir em congressos, seminários, palestras, livros, artigos e nos ambientes acadêmicos quais seriam as causas do Problema que assola o Poder Judiciário. Não há dúvidas, de que mesmo com seus problemas, o Judiciário ainda parece ser o Poder de maior credibilidade. Ao que parece, não somente pelos seus méritos e acertos, mas sobretudo pelos erros, deméritos e escândalos que frequentemente são noticiados e que formam a opinião pública a respeito dos demais Poderes da República. 8 Há um consenso de que o Judiciário está em séria crise. Admitem-na até representantes de sua cúpula. Há nele um processo de deteriorização. Já não tem sido o oráculo vivo da lei, assim considerado por Blackstone. Não é mais a espada dos fracos e oprimidos e a garantia dos injustiçados, porque não tem podido, sem medo, desfraldar a bandeira da lei. BEMFICA, Francisco Vani. O Juiz, o Promotor, o Advogado. Seus poderes e deveres. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1989, p. 5. 9 Cada vez que a crise do Judiciário se agudiza através da infetividade, acesso à justiça, lentidão da máquina, etc o establishment responde com soluções ad hoc, como por exemplo, uma pífia reforma do processo civil, a lei dos juizados especiais cíveis e criminais (já em vigor) e o nefasto projeto (de poder) representado pelas súmulas vinculantes. STRECK, Lênio Luiz. Hermenêutica Jurídica e(m) Crise: Uma exploração hermenêutica da construção do direito. 3 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2001, p. 69-70. 10 A jurisdição, para se desincumbir do seu dever de prestar a tutela jurisdicional em prazo razoável, necessita de boa estrutura, ou seja, de pessoal qualificado, tecnologia e material de expediente idôneos. Para tanto, o Poder Judiciário precisa de orçamento adequado. O Estado é obrigado a reservar parte da sua receita para dotar o Judiciário de forma a lhe permitir a prestação da tutela jurisdicional de forma efetiva e célere. Portanto, o direito fundamental à duração razoável exige do Executivo uma prestação de caráter econômico. O Executivo, diante deste direito fundamental, é gravado por um dever de dotação. MARINONI, Luiz Guilherme. Direito fundamental à duração razoável do processo. In: Interesse Público (Revista Bimestral de Direito Público). Belo Horizonte: Editora Fórum, n. 51, p. 42-60, set./out. 2008, p. 50. 11 Ver: SÁ, Djanira Maria Radamés de. A atividade recursal civil na reforma do poder judiciário. São Paulo: Editora Pillares, 2006. Faculdade Paranaense 17

O Inimigo do Poder Judiciário Brasileiro a partir da Concepção de Carl Schmitt Talvez, os problemas do Poder Judiciário não sejam tão diferentes assim dos ocorridos no Legislativo e no Executivo, mas são mais mascarados, seja pela impossibilidade de um controle externo e direto da população, seja pelo formalismo e conservadorismo que assola este Poder. Tais questões são de grande importância, mas aqui não possuem espaço. Como já dito anteriormente o estudo não pretende solucionar nenhum problema, não que o autor não se preocupe com isso, mas aqui se espera apenas uma reflexão sobre o problema, ou apenas uma exposição do problema. A resolução do problema passaria por muito mais do que estas poucas páginas deste artigo, por isso a impossibilidade. O que se prega aqui é a honestidade intelectual, não se nega a incompetência do presente trabalho para a resolução de tão grave problema. Mas, sem mais delongas, passa-se à enumeração das possíveis causas dos problemas do Poder Judiciário. 3.2.1 Excesso de recursos 12 A primeira grande causa trazida pelos estudiosos é a amplitude do sistema recursal brasileiro. É evidente que no direito processual brasileiro a quantidade de recursos é enorme. Mas será, que a diminuição dos mesmos seria a solução? 13 Teríamos um processo mais célere? Mais justo? Não há como se chegar a uma resposta de certeza para esta indagação. Talvez a retirada de recursos, como ocorre na Justiça do Trabalho, em que não se tem o Agravo de Instrumento, não diminua tanto assim o tempo do processo, uma vez que a matéria que não foi alvo de recurso num primeiro momento seria em um segundo momento, juntamente com outras questões, o que também poderia levar mais tempo de análise, devido à maior amplitude deste recurso posterior. E, pensar-se numa exclusão total dos recursos seria um total absurdo, ter-se-ia uma justiça mais rápida, mas também ter-se-iam juízes donos da verdade, já que suas decisões e opiniões seriam incontestáveis e imutáveis, transformando-os, em possíveis 12 A proliferação dos recursos, assecuratórios é certo, de decisões mais aprimoradas e justas, conduz, porém, inexoravelmente ao retardamento da solução do litígio. Neste sentido ver: MARTINS, Francisco Peçanha. A crise do poder judiciário: causas e soluções. Publicado em 1999 Disponível em (http://bdjur.stj.gov.br/dspace/handle/2011/16712) em 02/08/2009, às 15:00 horas. 13 Em entrevista à revista Consulex a professora Teresa Arruda Alvim Wambier manifestou-se a respeito de uma pergunta em que a entrevistadora citava a frase do Ministro do STJ, Nilson Naves, em que este disse que para cada espirro do juiz, existe um agravo (recurso), dizendo: Não concordo integralmente com essa frase. Primeiro porque é um direito da parte recorrer. Em segundo lugar, porque os recursos não podem ser tidos como o bode expiatório das mazelas do Judiciário. Faltam juízes. Faltam recursos. Falta boa vontade. Falta tudo. E os recursos é que devem ser eliminados do sistema??? Certa feita ouvi de um renomado professor paulista uma estatística que me deixou muito impressionada. Dizia ele que, num determinado órgão colegiado de um dos então existentes Tribunais de Alçada Civil de SP, aproximadamente 64% dos agravos eram providos. Logo, parece-me que os espirros é que estavam errados. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Excesso de recursos, um bode expiatório. Entrevista disponível na íntegra em (http://www.faceb.edu.br/faceb/ RevistaJuridica/m193-003.htm) em 30/07/2009, às 10:30 horas. 18 Cadernos Jurídicos da Escola de Direito

Guilherme Augusto Bittencourt Corrêa tiranos. Além disso, poder-se-iam ter decisões rápidas, porém injustas no seu mérito, 14 o que levaria a um novo desequilíbrio no Poder Judiciário. 3.2.2 Excessivo Número de Processos para Julgar 15 Grande problema, problema este sempre levantado pelos magistrados, é o de que hoje existe um grande número de processos por juiz, o que faz com que as decisões demorem a ser proferidas. Ou se, proferidas em tempo razoável, são eivadas de muitos vícios, tudo devido a uma quantidade desumana de processos sob a responsabilidade do magistrado. Portanto, este outro problema elencado, o excessivo número de processos. Tal situação decorre, para alguns, do fato de que se ampliou o acesso à justiça, ampliou-se a tutela de direitos que até então não eram tutelados. Com a nova sociedade, voltada eminentemente para o consumo, novos conflitos surgiram, conflitos estes que bateram às Portas do Judiciário, aumentando demasiadamente o número de situações que procuram amparo nas decisões do Poder Judiciário. 3.2.3 Falta de Juízes Outra das possíveis causas que levam aos problemas do Poder Judiciário é a falta de magistrados. Por vezes notam-se situações (como nos Juizados Especiais Cíveis de Curitiba-PR) que a falta de juízes atrapalha em muito no andamento dos processos, levando à uma morosidade excessiva dos processos e, por consequência, em uma queda da qualidade dos serviços do Poder Judiciário e no descrédito deste. Na instituição acima citada, existem cinco juízes no momento, para atender a oito secretarias (serventias judciais). Somente para se ilustrar, em média são ajuizadas 35.000 (trinta e cinco mil) ações por ano, que serão, ou deveriam ser julgadas por estes cinco 14 A impugnação de qualquer providência judicial pressupõe a configuração de alguma lesividade capaz de ensejar ao litigante prejudicado o interesse de manifestar a sua insatisfação com o escopo de obter a reforma da decisão. Liebman nos fornece os contornos bem definidos do que venha a ser impugnação judicial: Do ponto de vista subjetivo, impugnação é o poder que a lei atribui a um sujeito de pedir um novo exame da causa e a pronúncia de uma nova decisão; do ponto de vista objetivo, é o ato através do qual tal poder é exercido e também o inteiro procedimento que vem iniciado com este ato. Ressalta ainda o saudoso Mestre italiano que todas as decisões, como cada ato humano, podem ser defeituosas ou equivocada. As impugnações aparecem como remédios que a lei coloca à disposição das partes para provocar o mesmo juiz, ou de instância superior, a proferir um novo juízo que se espera imune do defeito ou do erro da decisão precedente recorrida. A probabilidade de obter com o exercício desses remédios uma decisão mais justa é inerente ao fato de que a nova decisão será pronunciada em via de controle e de reexame crítico daquilo que foi colocado no juízo recorrido, acrescido da circunstância de que o novo juízo será composto por um órgão diverso (...).FIGUEIRA JR, Joel Dias. Dos Juizados Especiais Cíveis. In: FIGUEIRA JR, Joel Dias; LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1995, p. 186-187. 15 Apesar de todas as dificuldades por que passa o Poder Judiciário, tais como o excesso de processos e a falta de aparelhamento da Justiça, entre outras, o atual presidente do STJ demonstrou seu otimismo e sua fé e segundo suas próprias palavras, inabalável na Justiça brasileira. RIBEIRO, Antônio de Pádua. Razões do Marasmo Judiciário. Consulex, v. 2, n. 16, p. 5-8, abr. 1998. Entrevista concedida à Denise de Roure. Faculdade Paranaense 19

O Inimigo do Poder Judiciário Brasileiro a partir da Concepção de Carl Schmitt magistrados, ou seja, um número desumano e irracional de processos comparado ao número de magistrados. Parece evidente que a falta de magistrados é sim fator que gera grandes problemas ao Poder Judiciário. 3.2.4 Problemas Estruturais Ainda na linha dos problemas que ocasionam diversos danos ao Poder Judiciário, encontra-se o problema da estrutura física dos diversos órgãos do Poder Judiciário. Por vezes, encontram-se construções precárias, em que as condições de trabalho mostram-se prejudicadas devido a estes problemas. Também no tocante a estrutura encontra-se o problema atinente à falta de servidores e também, na falta de qualificação de tais servidores, ou seja, em algumas situações, mesmo na presença de servidores em número adequado nota-se a falta de qualificação para a realização das atividades o que, obviamente, também gera problemas no funcionamento do Poder Judiciário. Expostas essas possíveis causas, passa-se à análise propriamente dita do assunto que envolve o presente estudo. É importante destacar que todo o problema do Poder Judiciário leva a uma consequência comum, a grande morosidade dos processos, ou seja, a grande morosidade na resolução das questões levadas a juízo e consequentemente a excessiva demora na entrega da justiça. 16 Portanto, é evidente que, não importando quais são as causas dos problemas do Poder Judiciário, o que tem que se ter em mente é que o tempo 17 do processo, ou melhor, o tempo excessivo dos processos, mostra-se como o grande vilão do Poder Judiciário, ou seja, o grande inimigo. E aqui, neste ponto é que se pode fazer uma conexão com a idéia já trazida brevemente, de Carl Schmitt. 16 Acusa-se de moroso o Poder Judiciário. E tem razão o povo. A prestação da justiça, que não pode ser imediata pela necessidade e dificuldade na realização da prova, está deixando a desejar, além do nível da razoabilidade MARTINS, Francisco Peçanha. Morosidade do judiciário. Revista de Direito Renovar, Rio de Janeiro, n. 31, p. 13-19, jan./abr. 2005, p. 13. 17 O processo, enquanto meio de expressão da jurisdição, destinada a compor conflitos de interesses ou a satisfazer pretensões insatisfeitas, é influenciado pelo tempo, mantendo com ele uma relação conflituosa. Numa perspectiva, o processo deve garantir às partes oportunidades para alegarem a provarem o necessário à defesa dos seus interesses, materializando com isso, parte do conteúdo do devido processo legal e, nesta perspectiva o processo não deve prolongar-se além do necessário, sob pena de causar danos às partes e prejudicar a tutela do direito a ser protegido, tornando ineficaz o provimento jurisdicional a ser proferido. ROCHA, Silvio Luís Ferreira da; Duração razoável dos processos judiciais e administrativos. In: Interesse Público (Revista Bimestral de Direito Público). Porto Alegre: Editora Notadez, n. 39, p. 73-80, set./out. 2006, p. 73. 20 Cadernos Jurídicos da Escola de Direito