CONCLUSÃO Aos 25 dias do mês de Setembro de 2015, faço estes autos conclusos ao Juiz de Direito Eli da Costa Júnior. Eu, Marina Meiko Saiki - Escrivã(o) Judicial, escrevi conclusos. Vara: 1ª Vara Cível Processo: 0000923-16.2014.8.22.0012 Classe: Procedimento Ordinário (Cível) Requerente: Marcelino Vieira da Silva Requerido: Isaias Panta Barbosa SENTENÇA Marcelino Vieira da Silva ingressou com a presente ação de obrigação de fazer, cumulada com pedido de tutela antecipada, contra Isaias Panta Barbosa, alegando, em síntese, que as partes realizaram um negócio jurídico em junho/2009, em que o requerido cedeu todos os direitos sobre o imóvel denominado lote rural n. 49, da gleba 43, PIC/PAR Colorado, pelo valor de R$ 305.000,00. Afirmou que a título de sinal o comprador efetuou o pagamento de R$ 100.000,00 e que o requerido não cumpriu com sua parte no contrato, visto que não entregou o alvará judicial autorizando a transferência da área dos incapazes, nem outorgou procuração a fim de que o autor assumisse o financiamento. Pugnou ao final pelo cumprimento do contrato, emitindo o requerente na posse do imóvel negociado. Juntou documentos (fls. 15/448). Decisão de folha 466 determinando o bloqueio da matrícula do imóvel. Em 14/10/2014, o requerido se habilitou voluntariamente ao processo (fl. 471), apresentando defesa em 19/11/2014. Na contestação alegou o réu exceção de contrato não cumprido, uma vez que o autor não cumpriu com sua obrigação no contrato, de liquidar os financiamentos que envolvia o imóvel. Aduziu que a venda do imóvel nas condições anteriores trariam prejuízos aos menores. Requereu a condenação do autor em litigância de má-fé e a improcedência da ação. Juntou documentos (fls. 483/495). Impugnação a contestação (fls. 500/502). Em provas deferiu-se a oitiva de testemunhas. Alegações finais pelo autor (fls. 544/548) e réu (fls. 551/556). Parecer ministerial pugnando pela procedência da ação (fls. 557/569). Após, vieram-me os autos conclusos. É o relatório. Decido. Inicialmente, tenho que razão assiste ao autor, sendo o requerido revel. Pág. 1 de 6
Conforme consta dos autos o demandado compareceu ao processo em 14/10/2014, requerendo a juntada da procuração e vistas dos autos para fins de defesa. Neste momento, portanto, diante da ciência inequívoca da ação, começou a correr para o réu o prazo da contestação, a partir desta data de habilitação em Juízo. Nesta toada, verifico que o prazo de defesa do réu iniciou-se em 15/10/2014 e se escoou no dia 29/10/2014. Não obstante, a contestação foi apresentada em 19/11/2014, portanto, manifestamente intempestiva. Assim, decreto a revelia da parte ré e tomo por verdadeiros os fatos narrados na petição inicial. Concentrando-se no mérito da causa, verifico que a ação deve ser julgada procedente. De início, verifico que o contrato firmado pelas partes foi reconhecido judicialmente como válido e apto a gerar seus efeitos, uma vez que presente os requisitos legais do art. 104 do Código Civil Brasileiro (autos 0000609-12.2010.8.22.0012). Assim, descabe qualquer fundamentação quanto aos seus termos, devendo o contrato ser cumprido. Não obstante isso, verifico claramente dos autos que esta obrigação se mostra impossível de ser cumprida. Conforme consta do caderno processual, o requerido alienou o imóvel em questão também para outros interessados, inclusive com autorização judicial, no bojo do inventário, tendo estes procedido com o seu devido registro, junto ao Cartório de Imóveis. É consabido que a escritura pública, enquanto não registrada, não comprova a efetiva transferência da propriedade, ao menos, perante terceiros. No caso, como a escritura pública do autor não foi registrada no Cartório de Registro de Imóveis competente, a transferência da propriedade não ocorreu efetivamente. É o que diz a expressão popular quem não registra não é dono. Ou seja, se uma pessoa tem uma escritura de um imóvel, não levada a registro, essa pessoa não tem ainda a efetiva propriedade do imóvel. Assim, visto que no caso vertente o imóvel em questão foi alienado para terceiros de boa-fé, sendo que estes novos adquirentes levaram a registro pública a escritura, certo é que estes últimos são os novos proprietários do imóvel. O artigo 1.227 do Código Civil dispõe que os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por ato entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos.. Pág. 2 de 6
O artigo 1.245, do mesmo diploma legal, dispõe o seguinte: Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis. 1º Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como o dono do o imóvel. Sendo fato que o nosso ordenamento jurídico resguarda o adquirente do imóvel que primeiro realizar o registro, sendo este o entendimento, inclusive, da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, no Recurso Especial nº 104200-SP, cabendo ao caso somente a conversão da presente obrigação em perdas e danos, já que impossível o cumprimento do contrato, mormente a transferência da propriedade do imóvel a terceiros de boa-fé. Dispõe o art. 461 caput e parágrafo primeiro do Código de Processo Civil: Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994) 1o A obrigação somente se converterá em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994) Neste sentido: Reintegração de posse Restituição de imóvel Conversão em perdas e danos Possibilidade, uma vez que o cumprimento específico da obrigação, conquanto fisicamente possível, não se mostra viável, além de atingir terceiro estranho à lide Aplicação dos arts. 461-A c.c. 461, 1º, do CPC. Valor indenizatório, contudo, que deverá ser apurado na origem, conforme diretrizes ditadas neste acórdão Recurso parcialmente provido. (Apelação nº 0188087-57.2011.8.26.0000, Rel. Reinaldo Caldas, j. em 21.03.2012) AGRAVO DE INSTRUMENTO ARRENDAMENTO MERCANTIL LEASING AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. Pág. 3 de 6
Ação julgada improcedente, com revogação da liminar e determinação de restituição do veículo pela ré à autora. Impossibilidade de cumprimento da obrigação ante a venda do bem a terceiro de boa-fé Possibilidade de conversão de ação de obrigação de fazer em perdas e danos, nos termos do artigo 461, 1º do CPC. Decisão mantida Recurso improvido. (AI nº 0049448-25.2012.8.26.0000. Rel. Luis Fernando Nishi, j. em 29.03.2012) A propósito: Na impossibilidade material de ser cumprida a obrigação na forma específica, o juiz deverá, de ofício ou a requerimento da parte, determinar providências que assegurem o resultado prático equivalente ao adimplemento da obrigação. Dizemos impossibilidade material porque não pode o devedor esquivar-se do cumprimento da obrigação na forma específica (CPC Comentado e Legislação Extravagante, Nelson Nery Jr., Rosa Maria de Andrade Nery, 11ª ed., RT, p. 701, nota ao art. 461). Assim sendo, deve o autor ser ressarcido pelos prejuízos advindos do descumprimento das obrigações contratuais por parte do réu, haja vista a impossibilidade da transferência do bem, mormente a segunda alienação deste, devendo o promovente, na hipótese, receber o valor até então pago pelo bem (R$ 100.000,00). Ressalto, por oportuno, que não objetiva a presente sentença a análise de pedido não formulado, mas da conversão do próprio objeto da causa em quantia indenizatória. Acerca do tema, colhe-se da jurisprudência: Constatada a impossibilidade de cumprimento da tutela específica da obrigação e havendo pedido expresso do credor, a obrigação poderá ser convertida em perdas e danos, nos termos do 1º do art. 461 do CPC (TJ-MG; AGIN 1.0024.07.763918-5/0011; Belo Horizonte; Décima Sétima Câmara Cível; Rel. Des. Irmar Ferreira Campos; Julg. 12/02/2009; DJEMG 13/03/2009). Não há nulidade de sentença ante a possibilidade de conversão da obrigação de fazer em perdas e danos, mormente quando for impossível a tutela específica ou a obtenção do Pág. 4 de 6
resultado prático correspondente (art. 879 do Código Civil de 1916, C.C art. 461, 1º, do CPC). (TJMS; AC 2004.000418-4/0000-00; Bataguassu; Quinta Turma Cível; Rel. Des. Luiz Tadeu Barbosa Silva; DJEMS 19/03/2009; Pág. 18). Entrementes, demonstrada a impossibilidade de cumprimento do contrato, impõese a conversão da obrigação em perdas e danos, com o depósito do equivalente em dinheiro, corrigido e atualizado desde a data do contrato, já que ausente prova literal do pagamento. Dispositivo. Diante do exposto e do mais que dos autos constam, julgo procedente o pedido formulado na ação promovida por Marcelino Vieira da Silva contra Isaias Panta Barbosa, condenando o requerido a obrigação de fazer consistente em transferir o imóvel denominado lote rural n. 49, da gleba 43, PICPAR, Colorado. Não obstante, diante da impossibilidade de obtenção da tutela específica, mormente a venda de terceiros de boa fé, na forma do art. 461, 1º, do CPC, converto a obrigação em perdas e danos, condenando o requerido a indenizar o autor no valor de R$ 100.000,00, acrescido de juros e correção desde a data do contrato. Como consequência, declaro resolvido o mérito, nos termos do art. 269, inciso I, do CPC. Condeno o reqeurdido nas custas processuais e honorários dsucumbência no importe de 10% sobre o valor da condenação. Transitada esta em julgado, intime-se a parte requerida para cumprir a sentença, no prazo previsto no art. 475J do CPC, sob pena de execução forçada do débito e inclusão de multa de 10% prevista no mesmo diploma legal. Transcorrido o prazo da intimação, intime-se a parte exequente para que requeira o que de direito em 05 (cinco) dias, sob pena de extinção e arquivamento. P.R.I.C. -RO, quinta-feira, 22 de outubro de 2015. Eli da Costa Júnior Pág. 5 de 6
Juiz de Direito RECEBIMENTO Aos dias do mês de Outubro de 2015. Eu, Marina Meiko Saiki - Escrivã(o) Judicial, recebi estes autos. REGISTRO NO LIVRO DIGITAL Certifico e dou fé que a sentença retro, mediante lançamento automático, foi registrada no livro eletrônico sob o número 1268/2015. Pág. 6 de 6