PODER JUDICIÁRIO 1 AUTOS Nº 2010.0445.1363. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REQUERENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS. REQUERIDO: JFC PRODUÇÕES E EVENTOS LTDA. SENTENÇA. Trata-se de AÇÃO CIVIL PÚBLICA ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS em face de JFC PRODUÇÕES E EVENTOS LTDA, ambos devidamente qualificados nos autos em epígrafe. Em síntese, alega o requerente que a empresa requerida realiza eventos festivos nesta cidade e, em descumprimento a alvarás judiciais, reiteradamente tem permitido o acesso dos menores de 16 (dezesseis) anos e o consumo de bebidas alcoólicas por parte deles. Relata e indica várias oportunidades em que a requerida permitiu o acesso de menores aos eventos realizados, bem como forneceu bebidas alcoólicas a eles. Salienta que o número de seguranças e garçons não é suficiente para atender às necessidades dos ambientes em que são realizados os
PODER JUDICIÁRIO 2 eventos, o que leva à habitual ocorrência da contravenção penal de servir bebidas alcoólicas aos adolescentes presentes. Diz que o uso de álcool por parte de menores conduz a estágios degradantes e perigosos, sendo nocivo e devastador de vidas, ainda mais em se tratando de uso imoderado, como ocorre nos eventos em tela. Com base nesses argumentos, o requerente ingressou com a presente demanda e requereu, em sede de antecipação de tutela, que a requerida se abstivesse de permitir o acesso e a permanência de crianças e adolescentes a espetáculos, bailes, festas e promoções dançantes promovidos pela empresa JFC PRODUÕES E EVENTOS LTDA, sob pena de multa de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), sem prejuízo das sanções penais pela prática do crime de desobediência. No mérito, requereu a procedência do pedido para o fim de condenar a requerida à obrigação de fazer, consistente na proibição de acesso e permanência de CRIANÇAS E ADOLESCENTES a espetáculos, bailes, festas e promoções dançantes promovidos pela empresa JFC PRODUÕES E EVENTOS LTDA, sob pena de multa de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), corrigida pelo índice oficial em vigor, a ser revertida em favor do Fundo Municipal da Criança e do Adolescente, sem prejuízo das sanções penais pela prática do crime de desobediência. Requereu ainda que conste em todos os alvarás expedidos
PODER JUDICIÁRIO 3 por este juízo para regulamentar o acesso e a permanência de crianças e adolescentes nos eventos promovidos pela requerida a proibição do acesso e permanência desse público, salvo se acompanhado dos responsáveis legais. Acostou documentos às f. 23-124. Às f. 126-128, encontra-se a decisão em que o juiz condutor do feito à época deferiu o pedido de antecipação de tutela formulado na inicial. Devidamente citada no endereço fornecido pela requerida (f. 131) a representante legal da ré deixou transcorrer in albis o prazo para apresentação de defesa. lide. Instado, o requerente pugnou pelo julgamento antecipado da Vieram-me os autos conclusos para proferir sentença. É o breve relato. DECIDO. Primeiramente, tenho que o juízo da infância e juventude é competente para conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos, afetos à criança e ao adolescente, conforme disciplina o artigo 148, inciso IV do Estatuto da Criança e do Adolescente: Art. 148. A Justiça da Infância e Juventude é competente para:
PODER JUDICIÁRIO 4 ( ); IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente, observado o disposto no art. 209 ; ( ). Destaquei. Sendo assim, noto que o feito está em ordem, não se vislumbrando irregularidades a serem sanadas. Passo, pois, ao enfrentamento do meritum causae. Com base na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente, a parte autora requer a condenação da requerida ao cumprimento da obrigação de não fazer (obrigação negativa), ou seja, não permitir a entrada de crianças e adolescentes nos eventos festivos realizados por ela, garantindo-lhes assim direitos e prevenindo-as de qualquer tratamento degradante, negligente, vexatório e violento. Do cotejo dos autos, verifico que a parte ré, devidamente citada, deixou transcorrer in albis o prazo para manifestação, de forma que se mostra necessária a aplicação do efeito decorrente da revelia, qual seja, a presunção de veracidade dos fatos alegados pela parte contrária, consoante o disposto nos artigos 285 e 319 do Código de Processo Civil. Continuando, registro que a requerida constantemente vem realizando eventos festivos nesta cidade e, a fim de regularizar a entrada e permanência de menores nos festejos, comparece em juízo e solicita a expedição de alvará.
PODER JUDICIÁRIO 5 Este juízo, em várias oportunidades, atendendo ao disposto no artigo 149 e incisos do Estatuto da Criança e do Adolescente, e verificado preenchidos os requisitos legais, determinou a expedição de alvará que autorizou a entrada e permanência de adolescentes nos eventos a partir de 16 (dezesseis) anos, desacompanhados de seus pais ou responsável legal, determinando que a requerida efetivasse a fiscalização para o fim de não permitir que menores com idade inferior adentrassem no local. Além disso, por meio das decisões judiciais em questão, ficou terminantemente vedada a venda ou fornecimento de bebidas alcoólicas a menores de 18 (dezoito) anos de idade, ficando a fiscalização a cargo da empresa responsável pelo evento. Todavia, da análise da documentação carreada aos autos, observo que a empresa requerida não providenciou nenhuma medida capaz de impedir a entrada de menores de 16 (dezesseis) anos nos eventos, nem o fornecimento de bebidas alcoólicas aos mesmos, em desconformidade com a decisões judiciais proferidas. A documentação constante dos autos demonstra de forma inequívoca que a requerida, em 07 (sete) eventos realizados nesta comarca, desobedeceu a lei e as decisões judiciais, na medida em que permitiu a entrada de menores e forneceu bebidas alcoólicas a eles. A parte ré, ao descumprir tais decisões, feriu os artigos 81,
PODER JUDICIÁRIO 6 inciso II e 149, inciso II, alínea a, ambos do Estatuto da Criança e do Adolescente 1. Tribunais: A respeito do assunto, vejamos o entendimento de nossos APELAÇÃO CÍVEL. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA. ESTATUTO DA CRIANCA E DO ADOLESCENTE. PORTARIA DO JUIZO DA INFÂNCIA E JUVENTUDE. PERMANÊNCIA INDEVIDA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM EVENTO. FORNECIMENTO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS À MENORES. MULTA. 1- É dever do promotor do evento diligenciar, no sentido de adotar as medidas para fiel cumprimento das normas de proteção à criança e adolescente. 2- Constitui infração administrativa, prevista no artigo 258, do ECA, o fornecimento de bebidas alcoólicas à menores de 18 anos, bem assim a permanência deles em eventos, desacompanhados de seus responsáveis. 3- É obrigação do promotor do evento averiguar a idade de seus frequentadores. 4- A simples afirmação de não possuir condições financeiras para arcar com o valor da multa não possui o condão de eximir-se de tal obrigação, ou mesmo de reduzi-la. Apelação conhecida. Provimento negado. (TJGO. 5ª Câmara Cível. Ac. 18/02/2010. DJ 556 de 13/04/2010. P. 2009.0184.7105. Rel. Des. Alan S. De Sena Conceição). Destaquei. Com efeito, verifico que o juiz que deferiu a tutela antecipada constatou, quando de sua decisão, a presença dos requisitos exigidos pelo legislador pátrio para o deferimento da medida, ponderando que a integridade física e mental e o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes estavam sendo prejudicados pela falta rigorosa de fiscalização nos eventos patrocinados pela ré. 1 Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de: ( ); II - bebidas alcoólicas; ( ). Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de portaria, ou autorizar, mediante alvará: II a participação de criança e adolescente em: a) espetáculos públicos e seus ensaios; (...).
PODER JUDICIÁRIO 7 Nesse contexto, não houve alteração fática dessas circunstâncias, porquanto a empresa requerida, devidamente citada, sequer compareceu em juízo para se defender das alegações levantadas contra ela. Diante disso, tenho que a tutela antecipatória de mérito deve ser mantida em sua íntegra, operando-se dessa forma a proteção efetiva dos menores em desenvolvimento. ISTO POSTO, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO INICIAL, nos termos do artigo 269, inciso I, do Código de Processo Civil e artigo 3º da Lei nº 7.347/85, para o fim de condenar a requerida JFC PRODUÇÕES E EVENTOS LTDA ao cumprimento da obrigação de não fazer, consistente na proibição de acesso e permanência de crianças e adolescentes a espetáculos, bailes, festas e promoções dançantes promovidos pela referida empresa, salvo se acompanhados dos responsáveis legais. A fim de evitar o descrédito das decisões proferidas pelo Poder Judiciário, para o caso de descumprimento da presente ordem judicial, mantenho a multa de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), antes aplicada, a qual deverá ser corrigida pelo índice oficial em vigor e ser revertida em favor do Fundo Municipal da Criança e do Adolescente, sem prejuízo das sanções penais pela prática do crime de desobediência. Condeno ainda o vencido ao pagamento de custas, despesas processuais, nos termos do artigo 20, do Código de Processo Civil 2. 2 Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios. Esta verba
PODER JUDICIÁRIO 8 Determino que a escrivania conste em todos os alvarás, expedidos por este juízo para regulamentar o acesso e a permanência de crianças e adolescentes nos eventos promovidos pela requerida, a proibição do acesso e permanência deste público, salvo se acompanhados dos responsáveis legais. Publique-se, registre-se, intimem-se. Após o trânsito em julgado, arquivem-se os autos, observadas as cautelas legais. Cumpra-se. Caldas Novas, 07 de outubro de 2011. KARINNE THORMIN DA SILVA JUÍZA DE DIREITO honorária será devida, também, nos casos em que o advogado funcionar em causa própria. ( );