Vacina contra a. malária desenvolvida. por portugueses. Início dos ensaios em humanos pode acontecer já em 2016 P32/33

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Transcrição:

Vacina contra a malária desenvolvida por portugueses Início dos ensaios em humanos pode acontecer já em 2016 P32/33

Portugueses estão a desenvolver uma vacina contra a malária O parasita (membrana a verde) dentro de uma célula do fígado (a roxo) Financiamento de 902 mil euros da Fundação Bill & Melinda Gates permitirá a equipa internacional, liderada por um laboratório português, continuar a testar uma potencial vacina com parasita transgénico, que já deu resultados preliminares positivos. Início dos ensaios em humanos poderá ser já em 2016

Saúde Nicolau Ferreira Uma vacina contra a malária está a ser concebida por portugueses desde 2010. Na altura, Miguel Prudêncio, investigador e líder de uma equipa no Instituto de Medicina Molecular (IMM), em Lisboa, recebeu 100 mil dólares da Fundação Bill & Melinda Gates depois de concorrer a um financiamento inicial do programa Grand Challenges Explorations. Agora, passados três anos, o investigador volta a ser premiado pela fundação, desta vez com 902 mil euros, para continuar o projecto. Se tudo correr bem, daqui a dois anos começarão os primeiros ensaios clínicos em humanos para testar uma candidata a vacina, cuja ideia nasceu em Portugal. O conceito de Miguel Prudêncio é simples. É preciso um parasita da malária de roedores, que não causa a doença em humanos, mas interage o suficiente com o sistema imunitário para provocar a imunização. Depois, é preciso inserir um gene do parasita humano no parasita de roedores, para criar uma imunização dirigida à malária humana. A ideia funcionou. O novo financiamento vai servir agora para fazer as últimas experiências preliminares, desenvolver um método de produção in vitro do parasita de roedores e ajudar a fazer a aplicação do pedido para a realização de ensaios em humanos na Holanda. Miguel Prudêncio está esperançoso, mas o investigador sabe que ainda há muitos desafios para ultrapassar, ou não fosse esta uma doença muito complexa. O parasita da malária começa por se multiplicar no fígado e vai depois para o sangue, onde causa os sintomas. A única vacina que funcionou até hoje, testada na década de 1970, utilizou parasitas atenuados por radiação, que entravam nas células do fígado, mas não conseguiam multiplicar-se. Esta técnica foi aplicada a militares norte-americanos, que tinham de ser picados pelos mosquitos, um método impossível de ser massificado, mas que resultava. Os soldados quando eram depois infectados pelo Plasmodiumfalciparum - a espécie de parasita que causa a malária mais violenta - não ficavam doentes. Sabe-se hoje que a fase no fígado provoca a activação do sistema imunitário do hospedeiro humano. A proteína circunsporozoito, que durante este estádio do parasita preenche a sua membrana externa, é a principal responsável pela imunização. Infelizmente, durante a infecção natural da doença, há algo que impede o desenvolvimento da imunidade observada nos militares americanos. "Pensa-se que durante a fase da doença no sangue haja algo que destrua o processo de imunidade, que foi desenvolvido durante a fase do fígado", diz Miguel Prudêncio ao PÚBLICO. É mais um dos mistérios da malária. Nas últimas décadas, foram feitas várias tentativas para produzir uma vacina. A de Manuel Elkin Patarroyo, um patologista colombiano, muito referida na década de 1990, revelou-se ineficaz. Ao todo, 27 vacinas chegaram aos ensaios clínicos em humanos. A RTS, S/ASOI, da GlaxoSmithKline, que utiliza parte da proteína circunsporozoito para provocar a imunidade, está na fase 111 (estudos comparativos para demonstrar a segurança, eficácia e benefício terapêutico). Mas os resultados não são animadores, a vacina dá imunidade a menos de metade das pessoas. O projecto de Miguel Prudêncio será um de muitos que ainda estão na fase prévia de experimentação no laboratório. A ideia, que nasceu quando o investigador ainda estava na equipa de Maria Mota, especialista em malária do IMM, também envolvida no desenvolvimento desta vacina, tem muitas semelhanças com a experiência da década de 1970. No fundo, o objectivo é ter um parasita que penetre o fígado, provoque uma imunização no hospedeiro, mas que não cause a infecção no sangue. O parasita usado agora chama-se "Plasmodium berghei", causa malária em roedores e foi alterado geneticamente para causar imunidade contra o Plasmodiumfalciparum - ganhou o gene que comanda o fabrico da proteína circunsporozoito do parasita humano. As experiências laboratoriais dos últimos anos, feitas em grande parte por António Mendes, investigador da equipa de Miguel Prudêncio, serviram para provar que o sistema funciona, pelo menos em laboratório. Os investigadores começaram por mostrar que o Plasmodium berghei infecta tanto células do fígado (hepatócitos) como minifígados humanos (aglomerados de hepatócitos gerados in vitro). Depois, a equipa demonstrou que os parasitas entravam no fígado "humanizado" de ratinhos, que tinham uma grande percentagem de células humanas. De seguida, utilizando ratinhos transgénicos que produzem sangue humano, verificaram que os parasitas já não conseguiam multiplicar-se neste sangue. "O parasita infecta hepatócitos humanos, mas não consegue completar o ciclo nos glóbulos vermelhos humanos", explica Miguel Prudêncio. Finalmente, a equipa analisou a capacidade deste parasita transgénico provocar imunidade. Os cientistas infectaram ratinhos normais com o Plasmodium berghei transgénico. Quando esta aplicação foi repetida cinco vezes, verificou-se que no soro destes ratinhos havia suficientes anticorpos que reagiam contra o Plasmodiumfalciparum. Num sistema in vitro, estes anticorpos bloqueavam a acção destes parasitas, impedindo-os de infectar hepatócitos humanos. A equipa encontrou também linfócitos, células do sistema imunitário, que reagiam ao parasita humano. Segundo Miguel Prudêncio, para uma vacina ser eficaz é necessário que produza estes dois tipos de resposta de imunidade. Os resultados convenceram a Fundação Bill & Melinda Gates. Parte das experiências, todas coordenadas pela equipa portuguesa, foram também realizadas em Espanha, nos Estados Unidos e na Holanda. Agora, grande parte dos próximos passos será feita na Holanda. Haverá ensaios com macacos Rhesus no Centro de Investigação Biomédico de Primatas, em Rijswijk. As experiências vão utilizar mais de uma dezena de animais para tentar repetir os resultados em ratinhos. Nos próximos 18 meses, Miguel Prudêncio

"Temos todas as razões para acreditar que os resultados experimentais [da vacina] vão ser os que estamos à espera", diz Miguel Prudêncio quer apresentar os documentos ao Comité Central sobre Investigação de Pessoas, a entidade holandesa que aprova os ensaios em humanos, que depois serão feitos na Universidade Radboud, em Nijmegen, na Holanda. É necessário reunir a informação das experiências e ter um projecto consolidado para provar que os ensaios em humanos fazem sentido. Serão necessários pelo menos 15 voluntários para estes testes. "Queríamos fazer os ensaios em Portugal", diz Miguel Prudêncio. "Mas não há precedentes deste tipo de ensaios cá e a fundação já conhece esta universidade, tem confiança e diz que assim será mais rápido." Por cá, vão ser feitos mais alguns ensaios pré-clínicos e irá ser aprimorada uma técnica para criar o Plasmodium berghei in vitro, sem necessitar dos mosquitos. Só nesta espécie é que se demonstrou que a técnica é possível, o que facilitaria muito, no futuro, a produção de uma vacina. A equipa está em contacto com a cientista que desenvolveu a técnica. É um "grande desafio", diznos Miguel Prudêncio, que garante que a produção de uma vacina demorará bem mais de dez anos - se tudo correr bem. "Temos todas as razões para acreditar que os resultados experimentais vão ser os que estamos à espera." Uma infecção complexa A malária mata entre 655.000 e 1,2 milhões de pessoas por ano, a maioria em África e no Sudeste asiático. Muitas mais adoecem, depois de serem picadas pelas fêmeas de mosquitos anófeles. Os sintomas da malária são intensos: febres altas, dores de cabeça, mal-estar geral. Há medicamentos que tratam a doença, mas o parasita transmitido pelos mosquitos foi ganhando resistências e os cientistas procuram novos químicos. A vacina é uma arma ainda mais difícil de fabricar, devido à complexidade do ciclo biológico do parasita. Quando o parasita (o Plasmodium falciparum é o mais mortal) entra na corrente sanguínea, vai para o fígado. Aqui, cada parasita atravessa algumas células (hepatócitos) até se alojar numa delas e multiplicar-se. Passados alguns dias, libertaram-se milhares de parasitas, mais pequenos, que invadem o sangue. O passo seguinte é a infecção dos glóbulos vermelhos: o parasita entra nestas células, alimenta-se da hemoglobina e multiplica-se de novo em menos de 20 células. Três dias depois, milhares de glóbulos vermelhos explodem, libertando parasitas. Em menos de um minuto, estes invadem outros glóbulos vermelhos e o ciclo repete-se. É nas explosões sincronizadas destas células que os sintomas da doença se tornam agudos. O ciclo continua até alguns parasitas começarem a evoluir para estádios sexuais. Se forem sugados por outro anófeles, acabam aí de se diferenciar em macho e fêmea, dando-se a fecundação enquanto estão no mosquito. E o ciclo recomeça. N.F.

SOBEEDESCE Miguel Prudêncio Uma equipa do Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa, liderada por Miguel Prudêncio, está a desenvolver uma vacina contra a malária (que mata entre 655 mil e 1,2 milhões por ano) e, se tudo correr bem, daqui a dois anos começarão os primeiros ensaios clínicos em humanos. Obter uma vacina é algo que o mundo procura há muito, tendo sido feitas várias tentativas nas últimas décadas para a produzir. O projecto de Miguel Prudêncio justificou um segundo financiamento da Fundação Bill & Melissa Gates no valor de 902 mil euros.

Investigação BillGatesdá 900mil a portuguesa porvacina da malária CIÊNCIA PÁG. 31

BUI Gates dá 900 mil euros a portugueses para estudar vacina contra a malária Prevenção. Projeto do Instituto de Medicina Molecular visa modificar parasita da malária que afeta roedores para que o organismo humano combata a doença. Vai agora avançar Próxima etapa é preparar a realização de ensaios clínicos

DIANA MENDES A Fundação Bill & Melinda Gates confiou e teve sucesso. Os resultados da equipa portuguesa do Instituto de Medicina Molecular (IMM) em torno de uma nova vacina contra a malária são promissores e, por isso, levaram o organismo a atribuir mais 900 mil euros à equipa para preparar a fase dos ensaios clínicos em humanos. Miguel Prudêncio, que coordena a equipa, falou com o DN e disse que a grande diferença em relação às investigações em curso tem que ver com o recurso a um parasita da malária que não infeta humanos mas roedores. Não causa a doença mas infeta as células. A sua modificação genética posterior é que gera uma resposta do sistema imunitário. A vacina que está atualmente em processo de licenciamento baseia-se no parasita que infeta humanos, mas a sua eficácia é limitada. "É de apenas 30% a40%, aquém do desejável, geralmente mais próximo de 100%, e apenas protege contra uma das espécies mais prevalentes destes parasitas." Nesta investigação, as hipóteses podem ser mais alargadas, já que "teoricamente podem ser introduzidas proteínas de duas espécies distintas num só parasita, podendo a vacina ser eficaz contra duas espécies muito prevalentes em humanos". A investigação da primeira fase, que teve um financiamento de 74 mil euros, cumpriu os três princípios essenciais: "Para já, conseguimos que o parasita dos roedores infetasse as células do fígado sem causar sintomas, mas de forma a garantir uma resposta do sistema imunitário. Depois, garantimos que o parasita não completava o ciclo nos glóbulos vermelhos e por isso não gerava doença. Por fim, conseguimos fazer as alterações genéticas ao parasita de forma a causar uma resposta do sistema imunitário." Preparação de ensaios clínicos A nova tranche leva o IMM para um nova etapa, a fase pré-clínica. "Neste momento, aquilo de que precisávamos era de ter autorização para iniciar ensaios clínicos em humanos. Este financiamento permite fazê-lo." Para isso terão de ser realizadas experiências pré-clínicas adicionais, "ensaios, preparação de um conjunto de documentação para submeter o ensaio às autoridades competentes". A estes aspetos a equipa terá de juntar outros. "Foi- -nos solicitado que tentássemos produzir estes parasitas em laboratório, em condições in vitro, quando até aqui os obtínhamos através de mosquitos". Uma fase que perdurará durante mais 18 meses, calcula a equipa. O IMM não foi até agora a única instituição nacional a receber apoio da fundação, mas também o Instituto de Higiene e Medicina Tropical, na primeira fase deste programa. A Fundação Bill & Melinda Gates apoia o trabalho de investigadores em mais de cem países, tendo já suportado gastos de 28,3 mil milhões de dólares. A malária é uma das áreas de aposta da fundação, uma vez que a doença matou mais de 655 mil pessoas em 2010, 90% das quais emáfrica. Apesar de haver tratamento e forma de prevenir a doença, falta ainda uma vacina eficaz, apesar de haver já provas de que é possível uma imunização contra o parasita. ENTREVISTA: MIGUEL PRUDÊNCIO Investigador e responsável pela equipa de investigação do IMM "Projeto tem alto risco mas elevado valor" O que traz esta investigação? Baseia-se na elaboração de um transgénico que é a modificação genética de um parasita que apenas afeta os roedores. Este não causa doença em seres humanos, apenas a infeção nas células do fígado. E a sua modificação para uma versão humana permite desencadear uma resposta imunitária do organismo podendo ser produzida uma vacina. Até aqui tem-se usado o próprio parasita humano... Sim, o que traz mais riscos e ao mesmo tempo não permite proteger contras as duas espécies que mais afetam os humanos. Neste caso podemos até ter as duas espécies num só parasita. É isso que tentaremos fazer. O que está previsto nesta fase? Vamos preparar a realização de ensaios clínicos em humanos, obtendo todas as autorizações para o fazer. Para isso temos de fazer experiências pré-clínicas adicionais. Há um conjunto de ensaios extras. Além disso, vamos tentar produzir os parasitas em laboratório sem recurso a mosquitos, o que nos per-

mitirá reduzir muito os custos associados à produção de mosquitos, infeção dos mesmos e extração do parasita. E isso permitirá uma produção em maior escala no futuro. Este tipo de apoios não são vulgares, é um sinal de que a fundação vê este projeto com otimismo? A Fundação Bill & Melinda Gates, perante estes resultados apresentados em relatório um ano depois, decidiu apoiar o projeto na fase 2. Só 10% dos projetos de fase 1 vão para a seguinte. Estão confiantes no sucesso? Acredito que este projeto vale a pena, apesar de haver risco em vários pontos. Por isso é que a fundação o classifica de alto risco mas de elevado valor.

HISTORIA DE //MGUEL PRUDENCIO. Investigador principal do Instituto de Medicina Molecular diz que financiamento da Fundação Bill & Melinda Gates é um forte apoio no caminho de vacina pon Gina pereira Gates dá um milhão para estudar malária Cerca de 900 mil euros (1,218 milhões de dólares) foram atribuídos pela Fundação Bill & Melinda Gates a um projeto português que pretende desenvolver uma vacina para a malária, doença que mata 700 mil pessoas todos os anos, sobretudo crianças da África Subsariana, e que é responsável por 200 milhões de infeções todos os anos. Em causa está um projeto que tem vindo a ser desenvolvido, nos últimos anos, por três investigadores do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa - Miguel Prudêncio, 42 anos, investigador-principal; António Mendes, 32 anos, e Maria Mota, 42 anos - e que agora pretende avançar no sentido dos ensaios clínicos em humanos. Há dois anos, o projeto já tinha sido financiado em 100 mil dólares pelo programa Grand Challenges Explorations (GCE) da Fundação Bill & Melinda Gates, uma espécie de "atirem lá o barro à parede" para ver se o conceito proposto se comprova. E a verdade é Ciência. Trabalho produzido em Portugal vai agora tentar submeter-se a ensaio clínico que os vários estudos feitos até agora em ratinhos provam que a sua estratégia está correta. Os investigadores propõem-se desenvolver uma vacina contra a malária usando um parasita que infeta apenas roedores e não causa qualquer doença em humanos. Mas que, sendo geneticamente modificado, pode ativar o sistema imunitário e ensiná-lo a combater o parasita que infeta os humanos, inibindo a infeção. Há cinco espécies de parasitas que infetam os humanos, os investigadores acreditam que esta vacina pode proteger simultaneamente contra duas delas, precisamente as mais prevalentes e mortíferas. A solidez dos resultados levou a que a Fundação Bill & Melinda Gates tenha decidido continuar a apoiar o projeto, financiando, pela primeira vez em Portugal, uma segunda fase. O objetivo é, dentro de 18 meses, ter concluído todo o processo regulatório com vista a conseguir autorização para o início do ensaio clínico, a realizar na Holanda, num centro de experiências clínicas na área da malária, com 15 a 20 pessoas. Antes disso, contudo, Miguel Prudêncio diz que terão de ser feitas algumas experiências adicionais, designadamente em macacos. E o objetivo é tentar desenvolver um sistema de culturas celulares que permita produzir os parasitas necessários à vacina em laboratório e não depender dos mosquitos, estando prevista a contratação de um especialista em cultura celular. Os investigadores estão otimistas, mas são "realistas". Há mais de 20 anos que se investiga uma vacina para a malária e só agora uma delas está em fase de pedido de licenciamento "e com uma imunização de apenas 30%". "A nossa expectativa é que esta vacina venha a ter uma eficácia superior a 90% ", diz Prudêncio, admitindo que a investigação pode levar mais 10 a 15 anos. "A nossa expectativa é que esta vacina venha a ter uma eficácia muito superior à que está agora em licenciamento, superior a 90%". Miguel Prudêncio Investigador principal IMM

Malária Um milhão para vacina portuguesa Bill Gates está determinado a acabar com a malária. E, para isso, conta com a ajuda de uma equipa de investigadores portugueses. O grupo de Miguel Prudêncio, do Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa, acaba de receber quase um milhão de euros da Fundação Bill&Melinda Gates, para o financiamento de uma vacina. Prudêncio re corre a uma estratégia inovadora - um pias modium dos roedores, que atinge o fígado humano, mas é incapaz de provocar doença - para obter resultados surpreendentes: taxas de proteção superiores a 90 por cento. A técnica passa por modificar geneticamente o parasita dos roedores, levando-o a ativar o sistema imunitário humano. Depois de estimulado, torna-se mais fácil combater o parasita da malária, responsável pela morte de 1,2 milhões de pessoas, anualmente. Com o financiamento americano, Miguel Prudêncio e António Mendes preparam o terreno para a primeira fase de ensaios clínicos, a realizar na Holanda. Apesar de otimista, Prudêncio estima que o produto só venha a estar disponível dentro de sete a dez anos. «O facto de se tratar de uma vacina de plasmodium obriga a uma administração intravenosa e não há nenhuma no mundo que seja assim.» s.sá

CIÊNCIA Investigação lusa recebe um milhão de euros Uma equipa de investigadores portugueses do Instituto de Medicina Molecular, que está a trabalhar numa vacina contra a malária há três anos, prepara-se para receber 1,2 milhões de dólares da Fundação Gates para testar a descoberta.

prato saúda investigadores NUNOCRATO MINISTRO DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA O Ministério da Educação e Ciência (MEC) saudou ontem os investigadores que receberam uma bolsa da Fundação Bill e Melinda Gates. A equipa de Miguel Prudêncio, do Instituto de Medicina Molecular, foi premiada pelo trabalho de desenvolvimento de uma vacina contra a malária. O MEC afirmou que esta é uma "investigação de topo".

SOCIEDADE Bill Cates dá 1 milhão de euros a Portugal M A Fundação Bill e Melinda Gates atribuiu 1 milhão de euros a uma equipa de cientistas portugueses. O projecto é liderado por Miguel Prudêncio, investigador do Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa, e destina-se ao desenvolvimento de uma vacina contra a malária.

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