Nº do Processo: PGJ/10/0352/2006 Requerente: Gerardo Eriberto de Morais Assunto: Retificação e acréscimo de Tempo de Serviço prestados à União Trata-se de pleito formulado pelo insígne Promotor de Justiça, Dr. Gerardo Eriberto de Morais, titular da 24ª Promotoria de Justiça da Capital, referente à solicitação de retificação e acréscimo de tempo de serviço prestados à União, para fins de aposentadoria, disponibilidade e gratificação adicional, com abrangência do período de 31-07-78 a 13-03- 84, ou seja, 2049 (dois mil e quarenta e nove) dias de tempo de serviço líquido e que a este total seja acrescentado 409 (quatrocentos e nove) dias correspondente a 20% (vinte por cento) de acréscimo decorrente de lei federal, já averbado no Departamento de Polícia Federal Com o pedido, acompanha o documento à f.06. O procedimento foi remetido à Secretaria de Recursos Humanos, que segundo informações deste Órgão Ministerial, do assento funcional do requerente constava a averbação de 2.009 dias, ou 05 (cinco) anos, 06 (seis) meses e quatro (quatro) dias de serviço prestados no Departamento de Polícia Federal. O requerente junta documento (f.07), que comprova o exercício, com o tempo de serviço líquido de 2.049 dias, ou 05 (cinco) anos, 07 (sete) meses e 14 (quatorze) dias, retificando, portanto, o anterior, que constava tão somente 2009 (dois mil e nove) dias, já averbados na Secretaria de Recursos Humanos (f. 09). 1
Distribuído o presente feito ao eminente relator, Procurador de Justiça Dr. Carlos Eduardo Contar, este proferiu despacho, encaminhando os autos à Assessoria Técnico-Jurídica (f. 12/13), que apresentou parecer (f. 18/23) favorável à averbação, inclusive de tempo ficto correspondente a 409 (quatrocentos e nove) dias, já averbados pelo órgão federal (Polícia Federal) ao qual o Requerente prestou serviços. O Douto Conselheiro Relator às f.25-28, votou pelo deferimento da retificação de tempo de serviço prestado à União, corrigidos os assentos funcionais de 2.009 dias para 2.049 dias de tempo de serviço líquido, e pelo indeferimento da averbação do acréscimo de 20% para fins de aposentadoria, com fundamento no art.40, 10º da Carta Magna, razão de sua negativa por haver vedação constitucional. Ao proferir o voto em reunião ordinária do Egrégio Conselho, o julgamento foi adiado em razão de pedido de vista deste Conselheiro. É o relatório. Em relação à retificação corresponde ao total de 2009 (dois mil e nove) dias para 2049 (dois mil e quarenta e nove) dias, à toda evidência trata-se de erro material, agora corrigido pela nova certidão emitida pelo Departamento de Polícia Federal, porquanto não houve alteração no período efetivamente prestado àquele órgão federal. O ponto controverso do pleito é o pedido correspondente ao acréscimo de 20% (vinte por cento), decorrente de lei Federal, já averbado pelo Departamento de Polícia Federal, comprovado pela certidão juntada (f. 07, verso). É certo que com a vigência da Emenda Constitucional nº 20/98, o seu artigo 40, 10 impõe que a lei não poderá estabelecer qualquer forma de contagem de tempo de contribuição fictício. Todavia, discordando do ilustre Conselheiro Relator, nosso entendimento é de que tal imperativo legal aplica-se tão somente a partir de sua entrada em vigor, não alcançando períodos anteriores, na plena vigência de leis 2
autorizadoras da contagem do tempo ficto. As justificativas para seu voto apresentadas, a nosso juízo, não dizem respeito ao caso em questão, pois tratam de situações outras. Aliás, específicamente sobre o caso em comento, o próprio Supremo Tribunal Federal já manifestou, nos seguintes termos: Ementa: - Servidor Público Estadual - Caracterização de tempo de serviço público: direito adquirido - Estabelecido, na lei, que determinado serviço se considera como tempo de serviço público, para os efeitos nela previstos, do fato inteiramente realizado nasce o direito, que se incorpora indiretamente no patrimônio do servidor, a essa qualificação jurídica de tempo de serviço, consubstanciado direito adquirido, que a lei posterior não pode desrespeitar. Recurso extraordinário conhecido, mas desprovido. Votos vencidos. 1 Em resposta a uma consulta, o Tribunal de Contas da União, através da Decisão 748/2000 Plenário, tratando do tempo ficto, acompanhando parecer do Ministério Público Especial junto àquela Corte, assim se posicionou: Consulta. Contagem em dobro de licença-prêmio, para fins de aposentadoria. Assegurada ao servidor a contagem em dobro de licença-prêmio não usufruída, ainda que ele, na data da publicação da Emenda Constitucional n 20/98, não contasse tempo de serviço suficiente para a aposentadoria voluntária pelas regras então vigentes, com fulcro no artigo 8º da aludida Emenda Constitucional, correspondente às regras de transição, ou pelas regras gerais estabelecidas no art. 40 da Constituição Federal. Para o servidor regido pela Lei nº 8.112/90, a contagem em dobro somente será possível se o direito à licença-prêmio tiver sido adquirido até 15/10/96. A data-limite para a aquisição do direito, ante a nova redação conferida ao art. 40, 10, da Constituição Federal, deve ser a de 16/12/98. Demais tempos fictos também poderão ser utilizados para efeito de aposentadoria, desde que tenham sido incorporados ao patrimônio do servidor até 16/12/98. (cópia da íntegra da decisão anexa) (destacamos) 3
No mesmo sentido, e decidindo questão idêntica, o Ministério Público do Estado de Pernambuco, assim se posicionou: O requerente faz pedido de averbação do acréscimo do tempo de serviço prestado à Polícia Federal, para efeito de Aposentadoria Especial, conforme Lei Complementar nº 51/85, referente ao período de 07/08/1978 a 19/12/1985, em que o mesmo esteve sob a égide da Lei nº 3.313/57, perfazendo um total de 538 (quinhentos e trinta e oito) dias, ou seja, 01 (um) ano, 05 (cinco) meses e 23 (vinte e três) dias. Ressalta-se que, in casu, o tempo de serviço que ora se requer à sua averbação trata-se de acréscimo de 20% (vinte por cento) do tempo de serviço junto à Polícia Federal por força da Lei Complementar nº 51/85. Não paira dúvida que a averbação pleiteada diz respeito a cômputo de tempo fictício, hoje vedado por força do 10 da EC 20/98, dizendo que: a lei não poderá estabelecer qualquer forma de contagem de tempo de contribuição fictício. Entretanto, o entendimento esposado a respeito é unânime em proteger o direito adquirido incorporado ao patrimônio do servidor, inclusive pelo Supremo Tribunal Federal, conforme se depreende da Ementa referente ao Acórdão que contém o julgamento do Recurso Extraordinário nº 82.881: Caracterização de tempo de serviço público: direito adquirido. Estabelecido, na lei, que determinado serviço se considera como tempo de serviço público, par os efeitos nela previstos, do fato inteiramente realizado nasce o direito, que se incorpora imediatamente ao patrimônio do servidor (...). No mesmo compasso é a opinião da ilustre Procuradora-Geral do Tribunal de Contas do Distrito Federal: (...) Entenda-se, de uma vez por todas, que a vedação contida na Emenda existe para impedir a contagem de novos tempos fictícios, ou seja, após a Emenda, o servidor não poderá mais adquirir novos tempos de serviço, a não ser os reais. Mas isso não quer dizer que a Emenda vedou a contagem de tempo já realizado e com esse efeito. 1 Recurso Extraordinário. Nº.52.881. São Paulo. 05/05/1976. 4
São coisas absolutamente claras e distintas. (In Reforma da Previdência, Brasília, Brasília Jurídica, 1999, pp. 164/65). De modo igual o TCU prolatou a Decisão 748/2000 Plenário, expedindo na parte final da Emenda o seguinte:... Demais tempos fictos também poderão ser utilizados para efeito de aposentadoria, desde que tenham sido incorporados ao patrimônio do servidor até 16.12.98. Nesse compasso, o tempo de serviço no total de 538 dias deve ser averbado conforme estabelecida na lei, ou seja, para fim exclusivo de aposentadoria, a teor do que dispõe a Lei Complementar nº 51/85. (cópia da íntegra da decisão anexa). É de se concluir, então, que a Emenda Constitucional n 20/98, que impede a contagem de tempo fícto, não atinge aqueles que, antes da sua vigência, prestaram serviço público, cujas leis a que estavam subordinados o previam textualmente. No caso em análise, salvo melhor juízo, não cabe ao Ministério Público Estadual a AVERBAÇÃO originária desse tempo, uma vez que averbado já está no órgão de origem do servidor e Requerente neste procedimento. Resta-nos, então, tão somente, reconhecendo a autenticidade do documento juntado, promover a averbação derivada na ficha funcional do Requerente. Caso contrário, estaremos anulando decisão de órgão federal, o que não nos compete. Eventual discussão a respeito da matéria, inclusive a legalidade do reconhecimento desse tempo ficto pelo Departamento de Polícia Federal, caberá ao Tribunal de Contas do Estado, quando da análise de eventual processo de aposentadoria do Requerente. Cabe, no caso em questão, a aplicação do princípio da presunção de legitimidade e da veracidade dos atos administrativos. Aliás, sobre o assunto, assim se posiciona Alexandre de Moraes: 5
A presunção de legitimidade do ato administrativo consiste na presunção de sua validade enquanto não houver declaração de nulidade pela autoridade competente. 2 Assim, a nosso juízo, o Conselho Superior do Ministério Público, se considerar a certidão de f. 06 autêntica, mas não concordar com a legalidade do ato administrativo que constituiu o direito de averbação do tempo fícto, a única providência possível será o encaminhamento, através de representação ao Ministério Público Federal, para que, analisando o caso, se entender cabível, propor a medida judicial adequada, visando a desconstituição do ato administrativo praticado pelo Departamento de Polícia Federal. Ante o exposto, voto no sentido de se retificar os assentos funcionais do requerente, para se fazer constar 2049 dias, ao invés de 2009 e, reconhecendo a veracidade do documento apresentado, averbar-se, ainda, 409 (quatrocentos e nove) dias, ou seja, 01 (um) ano, 01 (um) mês) e 14 (quatorze) dias, correspondente ao acréscimo legal de 20% (vinte por cento), em relação ao período de 31-07-1978 à 13-03-1984, prestados à Polícia Federal, já averbado no órgão expedidor da certidão de f. 7, verso. É como voto. Campo Grande (MS), 10 de julho de 2007. Mauri Valentim Ricciotti - Conselheiro - 2 Alexandre de Morais, in Direito Constitucional Administrativo., 3.ª ed., editora Atlas, p. 99. 6