ALCOOLISMO: A VIVÊNCIA DAQUELES QUE LUTAM CONTRA A DOENÇA ALCOHOLISMO: THE EXPERIENCE OF THOSE WHO FIGHT AGAINST THE DISEASE



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Transcrição:

987 ALCOOLISMO: A VIVÊNCIA DAQUELES QUE LUTAM CONTRA A DOENÇA ALCOHOLISMO: THE EXPERIENCE OF THOSE WHO FIGHT AGAINST THE DISEASE Lorena Fortunato Rodrigues de Oliveira Enfermeira. Graduada pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais Unileste. lorena_fortunato@hotmail.com Ricardo Alexandre da Silva Cobucci Enfermeiro. Especialista em Docência do Ensino Superior. rascobu@yahoo.com.br RESUMO O alcoolismo é uma doença grave caracterizado pelo consumo excessivo e prolongado do álcool, resultando em várias complicações orgânicas, psicológicas, familiares e sociais. Dentro das possibilidades de tratamento e recuperação da referida doença, destacam-se os Alcoólicos Anônimos que é uma estratégia de recuperação onde os membros compartilham suas experiências ajudando uns aos outros. O estudo objetivou analisar a percepção do alcoólatra associado ao Grupo Reencontro de Alcoólicos Anônimos no enfrentamento da doença. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo. O estudo foi realizado com 14 membros de um grupo de AA da cidade de Coronel Fabriciano - MG. Como instrumento para a coleta de dados foi elaborado um roteiro de entrevista. Os resultados obtidos revelaram que na opinião dos participantes o alcoolismo é uma doença que afeta os doentes e todos que com eles convivem, trazendo diversas interferências na vida social, familiar e profissional e que a busca de tratamento pelos Alcoólicos Anônimos foi a ultima solução encontrada por eles. PALAVRAS CHAVE: Alcoolismo. Alcoólicos Anônimos. Dependência. ABSTRACT The alcoholism is a serious disease characterized by excessive and prolonged consumption of alcohol, which results in multiple organic, psychological, familial and social complications. Within the possibilities of treatment and recovery of this disease the outstanding one is the Alcoholics Anonymous which is a strategy of recovery where the members share their experiences helping one another. The study aimed to analyze the perception of the alcohol addict associated to the group Reencontro de Alcoólicos Anônimos in fighting the disease. It is a qualitative research with descriptive approach. The study was conducted with 14 members of an AA group in the city of Coronel Fabriciano MG. An interview script was elaborated to be the data collection instrument. The results revealed that in the participants opinion the alcoholism is a disease that affects the patient and everyone who live with them bringing many interference in social life and family and that seeking for treatment at the Alcoholic Anonymous was the last solution they found. KEY WORDS: Alcoholism. Alcoholic Anonymous. Addiction INTRODUÇÃO O álcool é uma substância que acompanha a humanidade desde sua origem, como elemento de rituais religiosos, comemorações e confraternizações, tem tido também várias funções, atuando em medicamentos, perfumes e principalmente componentes de bebidas que acompanham a sociedade (GIGLIOTTI; BESSA,

988 2004). A realidade do mundo ocidental é de que pelo menos 90% da população adulta consome algum tipo de bebida alcoólica, também é real que 10% destes poderão desenvolver alguma patologia proveniente do álcool e que outros 10% se tornarão dependente da bebida (ALIANE; LOURENÇO; RONZANI, 2006). O alcoolismo é considerado um sério problema de saúde pública. Estima-se que 12,3% da população brasileira é dependente de álcool e a prevalência da dependência está na faixa etária de 18 a 24 anos, totalizando 19,2% destes (CEBRID, 2005). O consumo prejudicial de bebidas alcóolicas pode resultar em uma série de complicações como: surgimento de doenças, maior risco para os traumatismos e ferimentos, distúrbios psicológicos, conflitos familiares, problemas no ambiente de trabalho e conflitos com a lei (SCHIMIDT et al., 2010). No cenário de tratamento e recuperação dos alcoólatras destacam-se os Alcoólicos Anônimos (AA). A irmandade dos Alcoólicos Anônimos nasceu em 1935, em Akron, Estado de Ohio, nos Estados Unidos. Os AA desempenham um papel fundamental e uma estratégia muito importante na terapêutica contra o alcoolismo, sendo um recurso muito utilizado para aqueles que enfrentam a doença (CAMPOS, 2004). Trata-se de um programa de recuperação baseado em 12 passos e em 12 tradições, cujo objetivo é evitar o primeiro gole, mantendo assim sua sobriedade (CAMPOS, 2004). Fornaizer e Siqueira (2006) dizem que no Brasil a assistência ao usuário de álcool foi efetivada através do Programa Nacional de Controle dos Problemas Relacionados com o Consumo do Álcool (PRONAL), onde a atenção à saúde é dirigida especificamente para essa problemática, bem como a participação de diversos profissionais de saúde na assistência ao alcoolista e aos seus familiares. Neste cenário é que se encontra o enfermeiro como um profissional importante na prevenção de doenças e na proteção e promoção da saúde, integrando as equipes multiprofissionais, devendo atender os pacientes alcoólatras de forma integral com foco nas estratégias de redução de dados, em ações de redução do consumo e conseqüências. A assistência a estes pacientes deve ser caracterizada pela prevenção, tratamento e reinserção social dos dependentes (SOUZA; SIQUEIRA, 2005). O alcoolismo é uma condição de dependência, caracterizada por uma compulsão ao consumo do álcool de forma incontrolável e em grande volume culminado em danos orgânicos que podem trazer como conseqüência doenças graves, o que torna necessária uma preocupação efetiva de seu conhecimento, tratamento e prevenção, bem como problemas relativos ao enfrentamento da dependência, motivo pelo qual foi despertado o interesse em realizar esta pesquisa. Estudos sobre o alcoolismo são relevantes para os profissionais de saúde, inclusive o enfermeiro, assim como para a sociedade em geral, pois se fazem importantes novos elementos para a compreensão deste fenômeno, já que se trata de um problema de saúde pública. Os estudos sobre o alcoolismo ainda são pouco numerosos e explorados cientificamente diante da magnitude dos problemas acarretados pelo mesmo. A sociedade tem dificuldades em reconhecer o alcoolismo como uma doença grave. O estudo objetivou analisar a percepção do alcoólatra associado ao Grupo

989 Reencontro de Alcoólicos Anônimos no enfrentamento da doença. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo. O estudo foi realizado com membros de um grupo de AA da cidade de Coronel Fabriciano - MG. A população da pesquisa foram os membros do Grupo Reencontro de Alcoólicos Anônimos, totalizando 450 cadastrados na instituição. A entrevista foi realizada com 14 membros do grupo que compareceram as reuniões nos dias de coleta de dados, sendo que aconteceram no mês de maio e junho de 2011. O método empregado para seleção da amostra foi de amostragem por conveniência. Os critérios de inclusão dos sujeitos de pesquisa foram: ser membro do grupo supracitado, ter idade igual ou superior a 18 anos e concordar em assinar o termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um Roteiro de entrevista elaborado pela pesquisadora de acordo com os objetivos da pesquisa. Os relatos foram gravados em um dispositivo eletrônico para posterior transcrição. A entrevista foi aplicada aos participantes no mesmo local onde ocorrem as reuniões do grupo, observando e respeitando sempre a privacidade dos mesmos bem como a sua disponibilidade para participar. Foi solicitada à instituição pesquisada uma carta de autorização para realização da pesquisa. A entrevista somente teve início a partir da autorização prévia do coordenador do Comitê Trabalhando com Outros (CTO) e do membro da instituição que houvesse concordado e assinado o TCLE. Os dados foram gravados e transcritos na íntegra por intermédio do Programa de áudio Windows Media Player. A discussão ocorreu por meio da interpretação dos dados. A interpretação dos dados ocorreu através da análise das entrevistas e foi exposta por meio de textos descritivos, na seqüência foram analisados e comentados de acordo com a literatura referente ao tema da pesquisa. Conforme a Resolução n. 196 de 10 de outubro de 1996 do Conselho Nacional de Saúde que regulamenta a pesquisa com seres humanos foi fornecido aos participantes o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que foi assinado em duas vias de igual teor (BRASIL, 1996). Durante o estudo não foram divulgados quaisquer dados que identificasse o participante, seus nomes foram substituídos pela letra P e um número correspondente ao número da entrevista. RESULTADOS E DISCUSSÃO O primeiro passo para o dependente alcoólico buscar ajuda para se tratar é, na maioria das vezes, compreender o alcoolismo. A compreensão de determinadas situações está diretamente ligada às experiências de vida de cada um. Desta forma foi importante perguntar aos participantes da pesquisa como é ser um alcoólatra. Algumas das respostas obtidas foram: Ser um alcoólatra é ser uma pessoa que se entregou ao vício da bebida. Ele adquire o hábito de beber e através desse hábito de beber constantemente ele vai passando por um processo de adaptação no seu organismo e o organismo vai acostumando com a bebida e vai adaptando a esse processo

990 de beber todo dia até que ele chega na dependência. (P4) Ser alcoólatra é ser doente, é ter o hábito de fazer o uso da bebida, eu não nasci assim, mas pelo hábito de beber na juventude eu criei um vínculo com o álcool e fiquei dependente, eu sou um dependente químico do álcool. (P5) Ser alcoólatra é simplesmente ser uma pessoa doente. É uma doença que não tem cura. A cura dela é feita simplesmente através de recuperação dentro de uma sala de AA ou então em uma clínica de recuperação. (P6) O alcoólatra é uma pessoa doente né? É uma doença que geralmente a gente tem a consciência de ter, geralmente ela é hereditária, mas às vezes pode não ser, mas ser um alcoólatra é a pessoa que bebe exageradamente, compulsivamente, todos os dias como eu fazia [...] (P11) Nas repostas observa-se três núcleos que nortearam as narrativas dos participantes sendo eles a doença, o hábito e a dependência. Segundo Schmidt et al. (2010) o alcoolismo é uma doença crônica desencadeada pela intoxicação causada pelo consumo de bebidas alcoólicas. A doença é desenvolvida em cada pessoa em ritmos diferentes, isso depende das condições físicas, mentais e psicológicas, grau de tolerância ao álcool e tipo de bebida ingerida. O hábito consiste no ato rotineiro de consumir bebidas alcoólicas, em que a partir desse uso contínuo a pessoa pode se tornar dependente desta substância. Segundo Jolivet (2011), o hábito é determinado por dinamismo e automatismo, em que se desenvolve o mecanismo do ato habitual entendido assim como impulso automático para continuar até o fim um ato ou um conjunto de atos a partir do sinal que os desencadeou. Ainda, de acordo com a classificação dada, o hábito do alcoolismo se enquadra no hábito moral, sendo aquele que interfere na vontade de continuar a consumir o álcool. Aliane, Lourenço e Ronzani (2006) dizem que a dependência é o resultado de uma interação dos efeitos fisiológicos das substâncias psicoativas no cérebro e como o usuário interpreta a situação. Se uma pessoa consome uma substância e sente um efeito satisfatório, provavelmente tal ação se repetirá. A dependência alcoólica resulta em prejuízo não somente para o usuário, no que tange a saúde física e psíquica, sendo as relações familiares também prejudicadas, havendo da mesma forma envolvimento direto no cotidiano, interferindo nas atividades sociais e no trabalho. Quando indagados sobre a interação do alcoolismo em seu cotidiano, foram observadas as seguintes respostas: Foi um desastre, um verdadeiro desastre porque eu cheguei a querer separar, pedi a morte tudo isso. Eu cheguei a um ponto que eu não tinha mais vontade trabalhar, eu não participava de nada da sociedade, não participava de movimentos e depois que eu vim pro Alcoólicos Anônimos é eu fui enxergar isso [...] (P4) Ele interagiu sim em todos os aspectos, social, familiar, no trabalho, já trabalhei de ressaca. O trabalho não rendia porque eu tava de ressaca [...] eu não participei da educação dos meus filhos, eu dirigia embriagado, eu levava a vida no acaso, levava uma vida irresponsável. No social a mesma coisa, eu só ia a lugar que me interessava, se tivesse bebida eu ia se não tivesse eu não ia. (P5) Interferiu muito porque eu bebia durante o dia, no horário de trabalho, na

991 hora de estar cuidando das minhas obrigações eu estava bebendo [...] (P11) De acordo com os relatos acima se observa que a influência do álcool é muito grande sobre a vida dos usuários, constatando-se prejuízos importantes nas relações de trabalho havendo comprometimentos nas atividades laborais e com relevante repercussão nas relações familiares. O alcoolismo gera um transtorno comportamental nos dependentes, ocasionando uma inversão de prioridades dos mesmos, onde o consumo do álcool adquire maior significância do que as relações sociais, familiares e de trabalho, sendo observadas nas falas supracitadas. Para Sena et al. (2011) o alcoolismo é representado como uma doença grave, que afeta não apenas o doente, mas todos que convivem direta ou indiretamente com ele, trazendo vários prejuízos para o desenvolvimento das pessoas e para qualidade de vida e de saúde daqueles que convivem com o problema. Filizola et al. (2006) ressaltam ainda que os efeitos do alcoolismo atuam negativamente sobre todas as relações familiares e que os prejuízos sobre os filhos acarretam sérias repercussões. As estratégias de tratamento perpassam por diversos modelos, sendo o compartilhamento de experiências a que os dependentes buscam no apoio de seus pares e coragem para suportar as dificuldades do processo. Neste contexto o AA é uma estratégia onde homens e mulheres compartilham suas experiências com o álcool afim de ajudar a si mesmos e aos outros na recuperação do alcoolismo. Diante disto os participantes foram interrogados sobre os motivos de terem buscado a ajuda do AA em sua recuperação. Obteve-se as seguintes respostas: Porque eu realmente estava no fundo do poço precisando de uma ajuda e o médico me disse que eu ainda tinha chance e que meu fígado ainda não estava todo comido e o remédio que ia passar pra mim, o meu corpo físico ia melhorar, mas que o remédio para o alcoolismo não tem cura. (P6) Porque a situação ficou difícil demais, quando eu não tinha mais lugar pra por o pé em lugar nenhum no mundo eu arrisquei vim nos Alcoólicos Anônimos pra ver se dava certo [...] (P8) Porque eu não tive outra saída, não era a minha vontade. A minha vontade era de beber e não ter problema, como eu não encontrei jeito de beber sem ter problema eu cheguei a uma fase crônica da doença. Vim parar aqui não por acaso, mas vim parar aqui pra fazer minha descoberta a respeito do que nós chamamos de doença do alcoolismo e esta descoberta fez com que eu possa entender que eu era impotente perante a qualquer dose de qualquer bebida que contém o álcool e que minha estrutura é diferente daqueles que podem ou acham que podem beber controladamente [...] (P9) Nota-se através dos depoimentos apresentados que a busca dos participantes pelo AA aconteceu quando a situação ficou difícil de ser controlada por seus próprios meios. Para eles o AA foi o último recurso para se obter sucesso na recuperação da doença. Para Campos (2004) a expressão fundo do poço significa um estado de decadência física e moral em que se encontra o indivíduo, permitindo a ele uma síntese de seu estado de dependência e impotência perante o álcool, notadamente representada pela narrativa de P6.

992 Noutro momento, é possível observar que não há por parte do alcoólatra a intenção clara de abandonar o vício, uma vez que este vislumbrava uma tentativa de permanecer usando o álcool sem que o mesmo pudesse acarretar em prejuízos para sua vida, relatado na fala de P9. De acordo com Fontanella e Turato (2002) existem várias barreiras que dificultam ou impedem os dependentes de substâncias psicoativas em procurar o tratamento, sendo algumas delas considerar que o problema não é tão grave, considerar que o tratamento não seja efetivo o suficiente para que possa haver uma mudança em sua vida e não desejar abandonar o prazer de consumir a substância. As dificuldades encontradas pelos dependentes no processo de recuperação do alcoolismo são diversas, fato que, em grande número de casos é preponderante para a desistência do tratamento por parte dos dependentes. Assim, os participantes foram interrogados sobre as dificuldades encontradas no tratamento, onde foram obtidas as seguintes respostas: Então, as dificuldades foram só a abstinência nos primeiros tempos, mas isso agente voltando a pensar nos prejuízos que agente vai ter, agente consegue ter mais facilidade pra prosseguir nesse caminho. (P5) A dificuldade no começo era a abstinência, era ficar sem beber, eu achava que por ser um alcoólatra eu não iria conseguir parar de beber, mas realmente as primeiras fases, os primeiros três meses são os meses mais difíceis isso foi uma das dificuldades que eu tive [...] (P6) Através dos relatos acima nota-se que a abstinência de bebidas alcoólicas é uma etapa que dificulta o processo de recuperação do alcoolista, pois as alterações em seu organismo, referente à interrupção do uso da substância, leva-o a pensamentos negativos e a atitudes que estão fora de seu controle. Segundo Maciel e Corrêa (2004) a Síndrome de Abstinência Alcoólica (SAA) é um conjunto de sinais e sintomas que se manifestam nas pessoas que bebem de forma excessiva quando diminuem ou se abstêm totalmente da substância. É possível observar que o período de maior dificuldade, encontrada pelos participantes, são os primeiros dias de abstenção da substância. Para Luis, Lunetta e Ferreira (2008) os sintomas de abstinência se iniciam, comumente, entre 24 e 36 horas após a redução ou abandono da bebida, podendo variar esse período entre seis e 72 horas, sendo os principais deles tremores, ansiedade, insônia, náuseas e inquietação, durando em média seis a dez dias. Na recuperação de qualquer doença existe os fatores que ajudam o paciente recuperar-se delas. No alcoolismo não é diferente, vários fatores podem contribuir com o dependente alcoólico a enfrentá-lo. Percebe-se através dos seguintes depoimentos: A freqüência de reunião isso contribui né? e também levar a mensagem né? para aquela pessoa que bebe exageradamente, essas são as coisas que me ajudam. (P1) A freqüência nas reuniões. Cada vez que eu venho aqui eu me sinto bem melhor. (P3) O que mais contribui pra recuperação é mesmo a participação com o grupo e tem também um fator muito importante que é o apoio da família, o apoio

993 da família é importantíssimo. (P4) É a admissão que eu sou impotente perante o álcool [...] (P5) As narrativas apresentadas mostram que na opinião dos entrevistados a freqüência nas reuniões de AA é um fator muito importante para o enfrentamento do alcoolismo, já que permite a troca de experiências fortalecendo a sensação de bem estar. Ainda se vê a relevância do apoio familiar e do auto-reconhecimento do alcoolismo como fatores preponderantes. Ferreira (2011) diz que o efeito terapêutico do AA está nas narrativas dos exbebedores, uns para os outros, sobre suas experiências com o álcool, pois elas permitem a recuperação e reordenação da vida social de seus membros. Schenker e Minayo (2004) afirmam que no tratamento de abuso de álcool e outras drogas a abordagem familiar é, de uma forma geral, mais eficaz do que as outras. Rodrigues e Almeida (2002) revelam que a base para todo processo de recuperação é o primeiro passo proposto pelo AA, sendo ele a admissão de ser impotente perante o álcool, sem ele o processo de recuperação seria incerto. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo proporcionou observar os problemas enfrentados pelos alcoolistas relacionados ao enfrentamento da doença, já que enfrentar o alcoolismo é uma tarefa complexa tanto para o doente quanto para os indivíduos presentes e seu meio. O alcoolismo é uma doença que prejudica todas as áreas que fazem parte da vida do alcoólatra, desorientando a vida da pessoa, prejudicando as relações familiares, o trabalho e a vida social em geral. Desta forma, esta pesquisa indica a necessidade de novos estudos visando o conhecimento do cotidiano dos alcoolistas para que novas formas de intervenção para o tratamento e recuperação destes sejam propostas a fim de reduzir o problema. REFERÊNCIAS ALIANE, P. P.; LOURENÇO, L. M.; ROZANI, T. M. Estudo comparativo das habilidades sociais de dependentes e não dependentes de álcool. Rev. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 11, n.1, p. 160 171, jan./abr. 2006. Disponível em:< http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s143-7372200600010 0010&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 26 out. 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução n. 196 de 10 de outubro de 1996. Aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Diário oficial da união. Brasília, 16 out. 1996. CAMPOS, E. A. As representações sobre o alcoolismo em uma associação de exbebedores: os Alcoólicos Anônimos. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 5, p. 223 238, out. 2004. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=s0102-311x2004000500033&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 02 dez. 2010.

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