ANÁLISE ESPACIAL DOS DEPÓSITOS QUATERNÁRIOS: IMPORTÂNCIA COMO PROTEÇÃO DA COSTA NO MUNICÍPIO DE ARACAJU - SERGIPE

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Transcrição:

ANÁLISE ESPACIAL DOS DEPÓSITOS QUATERNÁRIOS: IMPORTÂNCIA COMO PROTEÇÃO DA COSTA NO MUNICÍPIO DE ARACAJU - SERGIPE Manuela Gavazza da Silva 1, Tais Kalil Rodrigues 2, Luciana Vieira de Jesus 3, Ana Cláudia da Silva Andrade 4, Ana Amélia de Oliveira Lavenère-Wanderley 5 1 Geógrafa, Mestre em Geociências e Análise de Bacias (PGAB/UFS), São Cristóvão-SE, manuela_gavazza@yahoo.com.br 2 Geógrafa, Doutoranda em Geologia, (IGeo/UFBA), Salvador-BA, tkalilr@yahoo.com.br 3 Geóloga, Mestranda em Geociências e Análise de Bacias (PGAB)/UFS, São Cristóvão-SE, luvieira.geo@gmail.com 4 Geóloga, Professora Associada I, (DGEOL, PGAB)/UFS, São Cristóvão-SE, acsaa@ufs.br 5 Oceanógrafa, Professora Assistente, UESC, Ilhéus-BA, amelia@uesc.br RESUMO: As praias do município de Aracaju, no estado de Sergipe, perfazem uma faixa litorânea que se estende por cerca de 24 km, entre as desembocaduras do rio Sergipe, a norte e do rio Vaza- Barris, a sul. Neste trabalho foram estudadas sete praias do litoral de Aracaju (Mosqueiro, Refúgio, Náufragos, Robalo, Aruana, Atalaia e Artistas), totalizando 24 pontos amostrais. As praias apresentam baixa declividade e são bordejadas por depósitos arenosos sendo, portanto, facilmente remodeladas pelas ondas, marés, correntes e ventos. O objetivo desse trabalho é identificar e analisar a importância dos depósitos quaternários como proteção à erosão costeira nas praias do litoral de Aracaju-SE. A metodologia compreendeu trabalho de campo e de escritório. O trabalho de campo consistiu na caracterização dos depósitos quaternários (largura e altura) que bordejam as praias de Aracaju. O trabalho de escritório consistiu na elaboração dos mapas temáticos em ambiente SIG no programa de geoprocessamento ArcGis 9.3.1 a partir dos dados coletados em campo. Os resultados mostram que os depósitos quaternários que bordejam as praias de Aracaju são as dunas frontais, que apresentam dimensões (largura e altura) variadas promovendo ou não a proteção da costa aos eventos erosivos. Dessa forma, esse trabalho fornece subsídios que podem ser úteis para projetos de gestão pública e ambiental, principalmente no que diz respeito à ocupação humana próxima à linha de costa. PALAVRAS-CHAVE: dunas frontais, erosão costeira, SIG INTRODUÇÃO: A praia constitui um ambiente sedimentar costeiro, de granulometria variada. Por serem constituídas por materiais inconsolidados, as praias são retrabalhadas pela ação das ondas, marés, correntes e ventos (KING, 1972; HOEFEL, 1998). O contexto geológico de uma determinada região definirá se as praias/zonas costeiras são rochosas e resistentes, ou se são compostas por materiais inconsolidados e, portanto, facilmente erodíveis (YOUNG et al., 1996). Os aspectos geológico-geomorfológicos do litoral do Estado de Sergipe são resultantes, principalmente, das variações relativas do nível do mar, com episódios de transgressão e regressão marinha, ocorridos durante o Quaternário (BITTENCOURT et al., 1983). Segundo Hesp (2002), as dunas frontais são cristas dunares arenosas e vegetadas, formadas na retaguarda do pós-praia, sob a atuação dos ventos. No período seco, os sedimentos do pós-praia podem ser remobilizados pela ação eólica alimentando as dunas frontais. Este processo causa um déficit no balanço sedimentar do sistema praial contíguo à duna frontal. Por outro lado, as dunas frontais desempenham um papel importante na manutenção e preservação da integridade da morfologia da costa, constituindo barreiras de proteção contra a erosão costeira (CORDAZZO & SEELIGER, 1995; NORDSTROM, 2010). A erosão da duna frontal constitui fonte de sedimentos para o ambiente praial, ou seja, constitui um estoque de sedimentos. O objetivo desse trabalho é identificar e analisar a importância dos depósitos quaternários frente à erosão costeira nas praias do município de Aracaju-SE, visto que trabalhos anteriores (BITTENCOURT et al., 1983; OLIVEIRA, 2003; RODRIGUES, 2008; OLIVEIRA, 2012; SANTOS, 2012; SANTOS & ANDRADE, 2013) mostram que essa região apresenta uma dinâmica bastante instável. MATERIAL E MÉTODOS: A metodologia incluiu as seguintes etapas: levantamento bibliográfico, trabalhos de campo e de escritório. Os trabalhos de campo foram realizados na maré baixa de sizígia em agosto de 2012 (inverno chuvoso) e fevereiro de 2013 (verão seco) no litoral do município de Aracaju-SE, da foz do rio Sergipe até a foz do rio Vaza-Barris (Figura 1). Os pontos de coleta de 91

dados foram marcados com GPS de precisão de 3 m (Garmin Colorado 400t), no datum SAD 69, em intervalos de aproximadamente 1 km. Foi preenchida uma planilha em cada ponto amostral (total de 24 planilhas) contendo dados de largura e altura da duna frontal e, largura do depósito topograficamente (situado na retaguarda da duna frontal). A altura da duna frontal foi estimada visualmente e a largura foi medida com uma trena. Neste trabalho, considerou-se a altura da duna frontal, adaptado de Young et al. (1996), como sendo: (i) baixa: menor que 3m, (ii) moderada: entre 3m e 6m e (iii) alta: maior que 6m. Com relação à largura da duna frontal, tem-se: (i) estreita: menor que 10m, (ii) moderada: entre 10m e 20m e (iii) larga: maior que 20m. O depósito topograficamente foi medido do limite interno da duna frontal até a via de acesso ou até a primeira estrutura antrópica relevante, sendo considerado: (i) estreito: menor que 10m, (ii) moderado: entre 10m e 20m e (iii) largo: maior que 20m. Foi realizado, ainda, o registro fotográfico dos pontos amostrais. Os dados coletados em campo foram inseridos e integrados no programa ArcGis 9.3.1, onde foram produzidos os mapas temáticos dos depósitos quaternários, largura e altura das dunas frontais da área investigada. Figura 1 Localização da área de estudo. Em A: Estado de Sergipe no Brasil; Em B: município de Aracaju no Estado de Sergipe; Em C: praias situadas entre as desembocaduras dos rios Sergipe e Vaza Barris, Aracaju SE: Mosqueiro (1 a 6), Refúgio (7 a 11), Náufragos (12 a 14), Robalo (15), Aruana (16 a 18), Atalaia (19 a 23) e Artistas (24). Fonte: Imagem de satélite Quickbird, 2003. RESULTADOS E DISCUSSÃO: As praias do município de Aracaju-SE são bordejadas predominantemente por depósitos de origem eólica (dunas frontais) que podem ou não estar descaracterizadas por atividade antrópica. As dunas frontais apresentam alturas que variam de poucos centímetros a 5m (Figura 2) e larguras que variam de 8m a 230m. Na retaguarda das dunas frontais ocorrem depósitos topograficamente s, de ambientes de interdunas, que podem constituir terras úmidas ou não. Os depósitos topograficamente s apresentam larguras que variam de 12m a 93m. A largura total dos depósitos (somatória da largura da duna frontal e do depósito topograficamente ) é importante, pois aumenta o trecho de proteção até as vias de acesso ou primeira estrutura antrópica relevante e varia de 8m a 324m (Figura 3). As dunas frontais apresentam menores alturas nas praias do Mosqueiro, do Refúgio, dos Náufragos, da Aruana e da Atalaia. As dunas frontais mais largas encontram-se nas praias do Mosqueiro, do Refúgio, dos Náufragos, do Robalo, da Aruana e da Atalaia. Os setores com larguras mais expressivas dos depósitos eólicos encontram-se na praia da Atalaia, com 124m e 231m. Essa largura fica maior quando adicionado, ao valor do depósito eólico, o valor da largura do depósito topograficamente, podendo atingir até 324m de largura total (Figura 4A). As dunas frontais encontram-se descaracterizadas nas praias do Refúgio, dos Náufragos e da Aruana, onde foram aterradas para a construção de barracas de praia. Na praia dos Artistas, as dunas frontais foram erodidas (Figura 4B). 92

Figura 2 - Altura das dunas frontais presentes na linha de costa do município de Aracaju SE. Largura total dos depósitos Moderada: de 10m a 20m Largura total dos depósitos Moderada: de 10m a 20m Figura 3 -, largura do depósito topograficamente situado na retaguarda da duna frontal e largura total dos depósitos quaternários presentes na linha de costa do município de Aracaju SE. 93

A Aterro B Largura expressiva dos depósitos quaternários Estruturas de contenção Duna frontal C Escarpa erosiva Figura 4 Em A: Largura expressiva dos depósitos quaternários na Praia da Atalaia. Foto no período seco. Em B: Presença de aterro, de estruturas de contenção e ausência de praia seca, indicando erosão severa na Praia dos Artistas. Foto no período chuvoso. Em C: Duna frontal em erosão no ano de 2011 na Praia dos Artistas. Foto do arquivo de projeto de pesquisa. CONCLUSÕES: A área mais crítica à erosão costeira está localizada na praia do Mosqueiro, onde ocorrem as menores alturas e larguras das dunas frontais. Nesta praia, as estruturas de contenção, sem manutenção, não desempenharam o papel de proteger o litoral. As praias do Refúgio, dos Náufragos e da Aruana, que foram aterradas para a construção de barracas de praia sobre as dunas frontais, ficaram mais vulneráveis à erosão costeira, devido à falta de proteção que a duna frontal proporcionava. A presença de aterros e de estruturas de contenção situadas na retaguarda do pós-praia barram a troca de sedimentos entre o sistema praial e os depósitos quaternários. Uma vez que estes depósitos são removidos ou substituídos por estruturas mais rígidas, a praia deixa de receber sedimentos dessa fonte (duna frontal) e o processo erosivo na praia pode, então, ser intensificado. A praia dos Artistas exemplifica esta situação, apresentando indicativos de erosão severa. AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem ao PGAB/UFS, a FAPITEC/SE e a CAPES pela concessão de bolsas de mestrado e de doutorado, a Albérico Blohem de Carvalho Júnior pelo auxílio no trabalho de campo. A licença para o uso do ArgcGis 9.3.1. foi adquirida em projeto de pesquisa financiado pelo CNPq. REFERÊNCIAS: BITTENCOURT, A.C.S.P.; MARTIN, L.; DOMINGUEZ, J.M.L.; FERREIRA, Y.A. Evolução paleogeográfica quaternária da costa do Estado de Sergipe e da costa sul do estado de Alagoas. Revista Brasileira de Geociências, ano 13, v. 2, p. 93-97, 1983. CORDAZZO, C.V.; SEELIGER, U. Guia ilustrado da vegetação costeira no extremo sul do Brasil. Rio Grande: FURG, 1995. 275 p. 94

HESP, P. A gênese de cristas de praias e dunas frontais. Mercator Revista de Geografia da UFC, ano 1, v. 2, p. 119-125, 2002. HOEFEL, F.G. Morfodinâmica de praias arenosas oceânicas: uma revisão bibliográfica. Itajaí: Univali, 1998, 92 p. KING, C.A.M. Beaches and coasts. London: Edward Arnold. 1972, 570 p. NORDSTROM, K.F. Recuperação de praias e dunas. São Paulo: Oficina de Textos, 2010, 263 p. OLIVEIRA, L.S. Evolução da paisagem costeira da zona de expansão de Aracaju/SE. 2012. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de Sergipe, Aracaju. 2012, 157 p. OLIVEIRA, M.B. Caracterização integrada da linha de costa do Estado de Sergipe Brasil. 2003. Dissertação (Mestrado em Geologia) - Universidade Federal da Bahia, Salvador. 2003, 150 p. RODRIGUES, T.K. Análise das mudanças de linha de costa das principais desembocaduras do Estado de Sergipe, com ênfase no rio Sergipe. 2008. Dissertação (Mestrado em Geologia) - Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2008, 92 p. SANTOS, G.C. Dinâmica da paisagem costeira da Coroa do Meio e Atalaia Aracaju-SE. 2012. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de Sergipe, Aracaju. 2012, 152 p. SANTOS, G.C.; ANDRADE, A.C.S. Evolução da paisagem costeira da Coroa do Meio e Atalaia Aracaju-SE. Scientia Plena, 2013, 9: 1-7. YOUNG, R.S.; BUSH, D.M.; PILKEY, O.H. Evaluating shoreline change and associated risk from coastal hazards: An inexpensive qualitative approach. In: BERGER, A.R. & IAMS, W.J. (eds.). Geoindicators: Assessing Rapid Environmental Changes in Earth Systems. Rotterdam: A. A. Balkema, p. 193-206, 1996. 95