Vitor Oguri Departamento de Física Nuclear e Altas Energias Instituto de Física Armando Dias Tavares Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

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Transcrição:

Vitor Oguri Departamento de Física Nuclear e Altas Energias Instituto de Física Armando Dias Tavares Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Manaus, 27 de julho de 2015

A Óptica Geométrica Fenômenos ondulatórios A luz como um fenômeno ondulatório A descrição eletromagnética da luz O espectro da radiação do corpo negro Einstein e a quantização da luz O efeito Compton

antigos gregos - som ó audição - luz ó visão - olho recebe imagens como feixes de partículas (atomistas) - olho envia raios contínuos de luz sobre os objetos (pitagóricos) - Euclides fundamenta os fenômenos luminosos na Geometria

Snell (1621) lei da refração Fermat (1657) princípio do tempo mínimo A natureza sempre atua pelos caminhos e meios mais simples e mais rápidos. Newton (1657): decompõe a luz solar em raios de várias cores pela refração em um prisma

Tendo escurecido meu quarto e feito um pequeno orifício na minha cortina, para permitir a entrada de uma quantidade suficiente de luz do Sol, coloquei meu prisma próximo à entrada de luz, de forma que ela pudesse ser refratada sobre a parede oposta.

A equação de onda de d Alembert - fenômenos acústicos se caracterizam pela transferência de energia de uma região a outra em um líquido, sólido ou gás - resultam da comunicação dos movimentos de vibração, em última instância, dos átomos do meio - apesar da natureza discreta da matéria, o efeito pode ser descrito por alterações ou perturbações de algumas propriedades do meio, tais como: pressão de um gás, ou deslocamento dos pontos de uma corda elástica - perturbações são representadas por funções contínuas da posição (x) e do tempo (t): funções de onda Y (x,t) - funções de onda obedecem a equação de onda v velocidade de propagação

ondas monocromáticas : perfil periódico e harmônico A - amplitude l comprimento de onda n - frequência - propagação no sentido positivo do eixo x, com velocidade v = ln - intensidade da onda: I ~ A 2

modos normais de vibração (solução geral) energia: energia de cada modo modos normais comportam-se como componentes independentes que transportam a energia de uma onda

som efeito produzido por perturbações da pressão ou da densidade do ar, que fazem vibrar os tímpanos com frequências de 20 Hz a 20 khz. Os fenômenos ópticos ora eram considerados ondulatórios, ora corpuscular. Descartes (1664) - não acredita no vazio - compara a propagação da luz com a do som - considera a luz como uma pressão transmitida através de um meio perfeitamente elástico: o éter - o éter de tão rarefeito seria capaz de penetrar em todos os corpos sem ser percebido

- polêmica sobre a natureza da luz se estende até o séc. XIX - corpuscular x ondulatória - Grimaldi (1665) - difração a luz se propaga (...) não só diretamente,refrativamente e por reflexão, mas também em um certo outro modo, difrativamente. - séc. XIX: experimentos de difração e interferência - o éter é resgatado pelos partidários da visão ondulatória

Difração por uma fenda (franjas claras e escuras) padrão de franjas claras e escuras resulta da superposição de um grande número de ondas de mesmo comprimento de onda, que foram difratadas pela fenda, em uma dada região do espaço.

Experimento da dupla fenda de Young - O padrão de interferência resulta da superposição de ondas que alcançam o anteparo por dois caminhos - Se a diferença de marcha (d) for um múltiplo inteiro do comprimento de onda (l), a interferência é construtiva (franjas claras)

Maxwell (1865) - campos eletromagnéticos obedecem a equação de ondas - propagam-se no vácuo com velocidade da luz e 0 = 8,854 x 10-12 F/m m 0 = 4p x 10-7 H/m - propagam-se em um meio dielétrico com velocidade - índice de refração de um meio (n=c/v)

- fenômenos elétromagnéticos e ópticos têm a mesma natureza - ondas eletromagnéticas são transversais - intensidade proporcional ao quadrado da amplitude - ondas eletromagnéticas transportam energia e momentum - exercem pressão ao incidir sobre uma superfície

Kirchhoff (1860) - Espectroscopia óptica - espectro de linhas - espectro de bandas

Resultados dos experimentos de Kirchhoff - maior parte da radiação emitida por sólidos abaixo de 500 o C está na região não visível (infravermelho l~100mm) - perda de energia pode ser compensada por corpos vizinhos - em equilíbrio térmico: taxa de emissão = taxa de absorção - razão entre intensidade (I) da radiação emitida e fração de energia absorvida (a) só depende da temperatura função universal Para raios de mesmo comprimento de onda e mesma temperatura, a razão do poder emissivo e de absorção é a mesma para todos os corpos.

- para um corpo negro, a = 1 - Paschen (1894): frequências altas, na faixa visível (n ~ 10 14 Hz, l ~ 3mm) e temperaturas de 10 3 K lei de Wien (1896) densidade espectral de energia

Lummer, Pringsheim, Kurlbaum e Rubens (1900): frequências na faixa do infravermelho (n ~ 10 13 Hz, l ~ 50mm) lei de Rayleigh (1900)

Osciladores de Planck - osciladores das paredes da cavidade em equilíbrio térmico com a radiação eletromagnética - perda de energia dos osciladores = absorção de energia da radiação - lei de Wien - lei de Rayleigh

lei de Planck e o quantum de energia - entropia de Boltzmann: S = k ln G G - número de microestados compatíveis com um macroestado (N,V,U) N - número de constituintes (partículas) do sistema V - volume do sistema U - energia média total k = 1,38 x 10-23 J/K (constante de Boltzmann) - Planck (1900)

o quantum de energia h = 6,626 x 10-34 J.s

lei de Planck (1900)

número de estados para uma partícula ~ V/V o número de estados para N partículas G ~ variação de entropia de uma gás ideal para uma variação de volume (V 2 V 1 ) isotérmica variação de entropia da componente de frequência n da radiação de corpo negro para uma variação de volume (V 2 V 1 ) isotérmica (energia U constante) Componente de frequência n da radiação de corpo negro comporta-se como um gás de partículas de energia hn (1905).

visão corpuscular da luz luz monocromática de frequência n <-> conjunto de partículas de energia hn Bose (1924) corpúsculos de luz são partículas indistinguíveis que podem compartilhar o mesmo estado quântico fótons e partículas de spin inteiro bósons quantização da luz - > explica algumas propriedades da interação da luz com os metais, como o efeito foto-elétrico

Experimentos de Lenard (1902) função trabalho

Compton (1922) - incide raios-x sobre um alvo de grafite - teoria clássica -> sem alteração do comprimento de onda - pico com comprimento de onda maior que o incidente

Compton (1922) - fóton - leis de conservação de energia e momentum

Compton (1922) - conservação de energia - conservação de momentum

quantização da luz - > fóton - corpo negro - > energia do fóton: E = hn - efeito Compton - > momentum do fóton: p = hn/c Apesar do conceito de fóton ter tido origem no espectro do corpo negro, foi o efeito Compton que exibiu a evidência experimental que convenceu a maioria da comunidade científica, nos anos de 1920, a aceitar a existência do fóton como uma das partículas elementares da natureza.

M. H. Shamos, Great Experiments in Physics, Dover Pub. Inc., 1987. F. Caruso, V. Oguri & A. Santoro, Partículas elementares: 100 anos de descobertas, Editora Livraria da Física, 2ª edição, 2012. F. Caruso & V. Oguri, Física Moderna: origens clássicas e fundamentos quânticos, Elsevier Ed. Ltda, 2006.