Aula 5 Teoria da Tributação e Gastos Públicos Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público - Módulo Básico Profª Drª Fernanda Graziella Cardoso email: fernanda.cardoso@ufabc.edu.br Março/2014
Estrutura da aula 1. Dados sobre arrecadação do Município de São Paulo 2. Teoria da Tributação 3. Gastos Públicos Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 2
Alguns dados de São Paulo A principal fonte de receita do setor público é a arrecadação tributária. Por exemplo, no caso do município de São Paulo, para o orçamento de 2014, para uma receita estimada de 50 bilhões, a receita tributária (contando IPTU, ITBI, ISS, ICMS, IPVA e IR) estimada é de 29 bilhões. Ainda sobre o município de São Paulo, em 2013, para um total de 38 bilhões de receita, os impostos municipais que representaram a maior fonte de arrecadação foram (fonte: Indicador Paulistano CMSP, janeiro de 2014): 1. ISS, com 10 bilhões; 2. IPTU, com 5,4 bilhões. O ICMS, imposto estadual, é o segundo em termos de impacto arrecadatório relativo no município de São Paulo. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 3
Impostos com maior peso relativo nas receitas São Paulo, 2013 e 2014 fonte: SOF/ Indicador Paulistano CMSP, janeiro e fevereiro de 2014 Imposto Valor arrecadado em 2013 Valor esperado em 2014 ISS 10.027.122.464 10.774.689.288 ICMS 6.944.284.763 7.114.850.097 IPTU 5.460.473.522 6.648.709.835 IPVA 2.025.501.839 2.063.130.914 ITBI 1.415.361.738 1.480.773.443 IR 1.284.291.850 1.333.909.288 Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 4
Algumas observações Os Estados devem repassar aos municípios: 25% do ICMS, 25% da parcela do IPI transferida pela União aos Estados proporcionalmente ao valor das respectivas exportações de produtos industrializados e 50% do IPVA. Quanto ao IR, pela legislação em vigor, a União deve repassar 21,5% do IR e do IPI para o Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal (FPE) e 22,5% para o Fundo de Participação dos Municípios (FPM). A distribuição dos recursos aos Municípios é feita de acordo com o número de habitantes, onde são fixadas faixas populacionais, cabendo a cada uma delas um coeficiente individual. A distribuição dos recursos do FPE deve ser proporcional ao coeficiente individual de participação resultante do produto do fator representativo da população de cada Estado. Os índices de repasse desse fundo são calculados pelo Tribunal de Contas da União, utilizando como fatores a população e o universo da renda per capita. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 5
Teoria da tributação Para que um sistema tributário se aproxime do ideal, devem ser levados em consideração os seguintes aspectos: 1. Equidade 2. Progressividade 3. Neutralidade 4. Simplicidade Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 6
Equidade Cada indivíduo deve pagar uma contribuição considerada justa. Para definir uma parcela considerada justa, há duas abordagens: 1. Princípio do benefício; 2. Princípio da capacidade de pagamento. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 7
Equidade princípio do benefício A contribuição individual deve ser proporcional aos benefícios gerados pelo consumo do bem público. De difícil aplicação, pois as preferências diferem entre os indivíduos. Sua aplicação parcial é possível em situações em que o financiamento do serviço público ocorre diretamente por meio de tarifas ou taxas de utilização. Ex: tarifas de transporte público. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 8
Equidade princípio da capacidade de pagamento Permitiria a formulação de uma regra geral de tributação. O ônus tributário deve ser tal que garanta a equidade horizontal e a equidade vertical. Qual seria o melhor indicador para a capacidade de pagamento? Renda? Consumo? Riqueza? No geral, a literatura aponta para as vantagens, em termos de implicações distributivas, da tributação sobre a renda. No entanto, é difícil aplicar um imposto de renda realmente abrangente. É necessária também a adoção de impostos complementares sobre o consumo e a riqueza. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 9
Progressividade A progressividade ocorre quando a alíquota de tributação se eleva no mesmo sentido do aumento do nível de renda. Na situação inversa, a regressividade ocorre quando se implica uma contribuição maior à parcela da população de baixa renda relativamente ao segmento de renda mais alta. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 10
Neutralidade O sistema tributário não deve provocar distorções indesejáveis na alocação de recursos. Imposto de renda seria neutro, pois reduz, para cada indivíduo, o consumo de forma homogênea. Já o imposto sobre o consumo de determinado bem não seria neutro. Por isso, apesar de não ser neutro, o imposto sobre o consumo pode ser funcional para corrigir falhas de mercado, por exemplo. Ex: maior tributação sobre tabaco e álcool. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 11
Simplicidade Referente à facilidade de operacionalização da cobrança do tributo. É importante que o imposto seja de fácil entendimento para quem tiver que pagá-lo. Além disso, a cobrança e a arrecadação do imposto, assim como o processo de fiscalização, não devem representar custos administrativos elevados para o governo. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 12
Quem de fato paga os impostos? A existência de impostos altera os preços relativos da economia. Assim, é a resposta dos mercados dos diversos bens e serviços que determinará quem de fato pagará os tributos. Para analisar o impacto, é preciso levar em consideração: 1. Estrutura de mercado; 2. Elasticidade preço da oferta; 3. Elasticidade preço da demanda. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 13
Tipos de impostos Impostos diretos: incidem sobre o indivíduo e por isso estão associados à sua capacidade de pagamento. Impostos indiretos: incidem sobre as atividades ou bens, ou seja, sobre consumo, vendas ou posses. As bases de incidência dos impostos são: 1. Renda; 2. Patrimônio; 3. Consumo. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 14
Imposto de Renda Incide sobre todas as remunerações: salários, lucros, juros, dividendos e aluguéis. Forma de tributação direta. Classifica-se em: 1. Imposto de renda sobre a pessoa física IRPF. 2. Imposto de renda sobre a pessoa jurídica IRPJ. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 15
IRPF Cobrado em base pessoal, com isenções e alíquotas progressivas. As alíquotas do imposto são determinadas segundo as diferentes classes de renda. A renda tributável é o resultado da renda total do contribuinte, deduzida do total de abatimentos despesas médicas, dependentes, etc. Assim, a alíquota efetiva do IR corresponde ao percentual do imposto devido sobre a renda tributável. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 16
IRPF Tabela Progressiva para o cálculo mensal do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física para 2014: Até 1.787,77 isento De 1.787,78 até 2.679,29 7,5% De 2.679,29 até 3.572,43 15% De 3.572,43 até 4.463,81 22,5% Acima de 4.463,81 27,5% Fonte: Ministério da Fazenda (http://www.receita.fazenda.gov.br/aliquotas/contribfont2012a2015.htm) Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 17
IRPF Sendo um imposto pessoal, é o que melhor se adequaria aos princípios da equidade e da progressividade. Além disso, impostos retidos na fonte atendem ao critério da simplicidade. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 18
Imposto sobre o patrimônio Pode ser cobrado regularmente em função do simples ato de posse de ativos durante um determinado período. Exemplos: IPTU e IPVA. A cobrança também pode ocorrer no momento em que os ativos mudam de propriedade. Exemplo: ITBI. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 19
Imposto sobre as vendas Esse imposto indireto pode ser classificado quanto: 1. Amplitude de sua base de incidência: podem ser gerais ou especiais. 2. Estágio do processo de produção e comercialização sobre o qual incide: podem ser cobrados do produtor, do comerciante ou em todas as etapas do ciclo. 3. Forma de apuração da base de cálculo: valor total da transação ou apenas sobre o valor adicionado em cada estágio. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 20
Impostos sobre as vendas Em termos de equidade e progressividade, o imposto sobre o consumo não seria o mais indicado. Ele não discrimina as contribuições de acordo com a capacidade de pagamento de cada indivíduo. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 21
Impostos sobre as vendas Impostos em cascata versus impostos sobre valor adicionado : 1. O imposto cumulativo prejudica principalmente os produtos que passam por um maior número de etapas de produção e distribuição. 2. O imposto sobre valor adicionado, por ser neutro, é considerado uma forma mais eficiente de tributação. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 22
Exemplo 1 impacto do IPTU Para dados de 2008/2010, estimou-se que o pagamento do IPTU absorve em média 0,74% da renda familiar do paulistano (vide Revista CTEO). Para famílias com renda familiar de até R$ 900,00, é de 0,56% em média. Para famílias com renda familiar de R$ 900,00 a R$ 1.800,00, é de 0,67% em média. Para famílias com renda familiar de R$ 1.800,00 a R$ 3.000,00, é de 0,54% em média. Para famílias com renda familiar de mais de R$ 3.000,00, é de 0,77% em média. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 23
Exemplo 2 impacto do ISS Para dados de 2008/2010, estimou-se que o pagamento do ISS absorve em média 0,86% da renda familiar do paulistano (vide Revista CTEO). Para famílias com renda familiar de até R$ 900,00, é de 0,63% em média. Para famílias com renda familiar de R$ 900,00 a R$ 1.800,00, é de 0,63% em média. Para famílias com renda familiar de R$ 1.800,00 a R$ 3.000,00, é de 0,88% em média. Para famílias com renda familiar de mais de R$ 3.000,00, é de 0,88% em média. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 24
Gasto Público Medida do tamanho do governo. O governo é uma entidade que coleta recursos através de impostos. Em geral, um indivíduo é ao mesmo tempo contribuinte e beneficiário do gasto público. Há algumas funções que são consideradas típicas de governo: Saúde, Educação, Defesa Nacional, Policiamento, Regulação, Justiça e políticas assistenciais. Há outras funções que, dependendo do estágio de desenvolvimento do sistema socioeconômico, são ou podem ser consideradas responsabilidade do governo. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 25
Exemplo de indicador de tamanho do governo Retomando exemplo da aula 2 (dados do Banco Mundial sobre gastos governamentais: http://data.worldbank.org/indicator/gc.xpn.totl.gd. ZS/countries/all?display=graph Despesa (% do PIB)- pagamentos para as atividades operacionais do governo no fornecimento de bens e serviços. Inclui a remuneração dos empregados (tais como salários e ordenados), juros e subsídios, subvenções, benefícios sociais e outras despesas, como aluguel e dividendos. Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 26
Para refletir: qual deve ser o tamanho do governo? Na medida em que o gasto público aumente é importante que ele seja financiado com impostos e/ou com um aumento modesto da dívida pública, a fim de não provocar grandes impactos negativos na economia. Voltamos à discussão da aula anterior: qual deve ser o tamanho do governo? Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 27
Referências Giambiagi, Fábio; Além, Ana Cláudia. Finanças Públicas. Rio de Janeiro: Editora Campus, 4ª Edição, 2011, capítulo 1. Indicador Paulistano CMSP, janeiro de 2014 (http://www2.camara.sp.gov.br/dce/indicador_paulistano_43_janeiro_2014.pdf). Indicador Paulistano CMSP, fevereiro de 2014 (http://www2.camara.sp.gov.br/dce/indicador_paulistano_44_fevereiro_2014.pdf). Ministério da Fazenda Governo Federal (http://www.receita.fazenda.gov.br/aliquotas/contribfont2012a2015.htm). Estudo CTEO-FIPE Carga Tributária do IPTU para a Família Paulistana, Revista CTEO (http://www2.novohost.camara.sp.gov.br/dce/publicacoes/revista-cteo-n1.pdf), Câmara Municipal de São Paul, jan/dez de 2012. Estudo CTEO-FIPE Carga Tributária do ISS para a Família Paulistana, Revista CTEO, Câmara Municipal de São Paulo, jan/dez de 2012. Secretaria do Planejamento, Orçamento e Gestão do Município de São Paulo (http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/planejamento/). Curso: Tendências Contemporâneas na Gestão do Orçamento Público Aula 5: Teoria da Tributação e Gastos Públicos 28