A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E AS PERSPECTIVAS PARA O SETOR PORTUÁRIO

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Transcrição:

A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS E AS PERSPECTIVAS PARA O SETOR PORTUÁRIO KAREN VASSOLER MARTINS (UFSC) KARENVMARTINS@GMAIL.COM Rodrigo Fernandes More (Unisantos) rodrigo.more@unisantos.br A lei 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), trouxe, entre seus princípios e objetivos, questões relacionadas à responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, à priorização de soluções volltadas para a destinação ambientalmente adequada e à importância sócio-econômica dos resíduos. Tais novidades impactam na forma como a gestão e o gerenciamento de resíduos sólidos vinha sendo feita até então. Dada a abrangência da lei para os chamados resíduos de transporte, a adequação dos portos passará por uma revisão dos planos de gerenciamento de resíduos atualmente em vigor. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo levantar as perspectivas das mudanças que tendem a ocorrer com a adequação do setor à nova legislação. Por meio de uma pesquisa exploratória, foram analisados os instrumentos de referência para a elaboração dos planos de gerenciamento de resíduos sólidos, comparando-se os períodos anterior e posterior à instituição da PNRS. Conclui-se que as adequações necessárias podem ser o caminho para reestruturações que elevem a eficiência e a qualidade de serviços portuários, essenciais para a modernização do setor. Palavras-chaves: resíduos sólidos; portos; meio ambiente portuário.

1. Introdução Os resíduos sólidos que se originam nas embarcações, nas instalações portuárias e nas operações de movimentação de cargas estão entre os principais impactos ambientais das atividades portuárias. Por esse motivo, a gestão dos resíduos é procedimento importante para o controle e eliminação de situações de riscos no ambiente portuário. Com isso, o gerenciamento de resíduos sólidos torna-se uma das principais conformidades a serem atendidas pelos portos, na fase de licenciamento ambiental. Antes da instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) a gestão de resíduos era orientada por instrumentos legais e de regulação isolados. Com o advento da nova lei, ganharam destaque questões relativas a gestão integrada e responsabilidade compartilhada. Trata-se de um marco regulatório, não só pela definição de um conjunto de princípios e diretrizes a serem seguidos, como pela sua importância na conscientização ambiental da sociedade. Por meio de diretrizes voltadas para ações de não geração, redução, reutilização e reciclagem, a PNRS incentiva a melhoria dos processos produtivos e o reaproveitamento dos resíduos, o que é benéfico não só do ponto de vista ambiental como também social, dado seu potencial de geração de trabalho, e econômico, considerando os ganhos de competitividade advindos de processos mais eficientes. Para atender à nova legislação, os portos e terminais deverão adaptar seus planos de gerenciamento de resíduos. Assim, este estudo tem como objetivo identificar os desafios e as perspectivas do setor portuário considerando a necessidade de adequação de seus processos aos princípios e requisitos recepcionados e criados pela PNRS. 2. Revisão bibliográfica 2.1 Geração de resíduos sólidos nos portos Entre os principais impactos ambientais das atividades portuárias encontra-se a geração de resíduos sólidos, que se originam nas embarcações, nas instalações portuárias e nas operações de movimentação de cargas (ANTAQ, 2011). Os resíduos sólidos são definidos como material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2010). A Lei n.º 8.630 / 1993 (Lei de Modernização dos Portos) define como competências do administrador portuário a responsabilidade pela fiscalização das operações portuárias, zelando para que os serviços se realizem com regularidade, eficiência, segurança e respeito ao meio ambiente. Nesse sentido, a adequada gestão dos resíduos de origem portuária é procedimento fundamental para o controle e eliminação de situações de risco para o negócio e para a 2

população do entorno, dado o fato de que os resíduos sólidos estão relacionados a riscos ambientais, riscos a saúde humana e à saúde animal e vegetal (CORDEIRO, FERREIRA E DUARTE, 2000). Por esse motivo, entre as principais conformidades a serem atendidas pelos portos está o plano de gerenciamento de resíduos sólidos PGRS (KITZMANN E ASMUS, 2006). O PGRS pode ser definido como uma estratégia de gerenciamento englobando os resíduos sólidos de todas as embarcações que passam pelo porto e os gerados pelo próprio porto. (MONTEIRO E VENDRAMETTO, 2009). Trata-se de um documento integrante do processo de licenciamento ambiental, imposto pela Lei Nº 6.938/81, que aponta e descreve as ações relativas ao manejo de resíduos sólidos, contemplando os aspectos referentes a geração, segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento, transporte, tratamento e disposição final, bem como a proteção à saúde pública (CONAMA, 1993). Dada sua importância como dispositivo de controle ambiental, esse instrumento é parte de um Sistema Integrado de Gestão Ambiental aprimorado periodicamente (ANTAQ, 2011) e deve atender aos requisitos estabelecidos nas normas e legislação que disciplinam a questão dos resíduos de origem portuária. Até a edição da Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), o Brasil tinha sua gestão de resíduos pautada por alguns instrumentos legais e de regulação, isolados, e por ações voluntárias por parte do mercado (CORDEIRO, FERREIRA E DUARTE, 2000). As diretrizes orientadoras do tema focavam no transporte rodoviário, nas atividades industriais e de saúde, sem que houvesse um instrumento jurídico que integrasse, por exemplo, os planos de gerenciamento de resíduos com as ações de coleta seletiva; a gestão integrada de resíduos à indústria de reciclagem e à proteção da saúde pública e da qualidade ambiental. De acordo com ANTAQ (2011), o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos dos portos toma como base os seguintes instrumentos: a) Norma NBR 10004/1987 Resíduos Sólidos Classificação; b) Resolução CONAMA nº 005/1993, que estabelece normas relativas aos resíduos sólidos oriundos de serviços de saúde, portos, aeroportos, terminais ferroviários e rodoviários; c) Resolução da ANVISA Nº 56/2008; d) Lei 9.966/2000, que dispõe sobre a prevenção, o controle e a fiscalização da poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob jurisdição nacional e e) Manual Detalhado de Instalações Portuárias para Recepção de Resíduos IMO, tradução de documento produzido pela Organização Marítima Internacional disponibilizado pela ANTAQ em 2004. Entretanto, outros instrumentos relacionados à gestão de resíduos também possuem requisitos a serem atendidos nas atividades portuárias. a) Resolução CONTRAN nº 404/1968, que classifica a periculosidade das mercadorias a serem transportadas; b) Portaria MINTER Nº 53/1979, dispõe sobre o destino e tratamento de resíduos; c) NBR 7503/1982 - Ficha de emergência para transporte de cargas perigosas; 3

d) NBR 7504/1983 - Envelope para transporte de cargas perigosas. Características e dimensões; e) NBR 8418/1983 - Apresentação de projetos de aterros de resíduos industriais perigosos; f) NBR 7501/1983 - Transporte de cargas perigosas; g) NBR 12235/1987 - Armazenamento de resíduos sólidos perigosos; h) NBR 8286/1987 - Emprego da simbologia para o transporte rodoviário de produtos perigosos; i) NBR 10157/1987 - Aterros de resíduos perigosos Critérios para projetos, construção e operação; j) Resolução CONAMA Nº 06/1988, que trata da geração de resíduos nas atividades industriais; k) Decreto Federal Nº 96.044/1988, que regulamenta o transporte rodoviário de produtos perigosos; l) NBR 11174/1989 - Armazenamento de resíduos classes II (não inertes) e III (inertes); m) NBR 11175/1990 - Incineração de resíduos sólidos perigosos Padrões de desempenho (antiga NB 1265); n) Portaria INMETRO Nº 221/1991, que regulamenta a inspeção em equipamentos destinados ao transporte de produtos perigosos a granel não incluídos em outros regulamentos; o) Resolução CONAMA Nº 002/1991, que dispõe sobre o tratamento de cargas deterioradas, contaminadas, fora de especificação ou abandonadas; p) NBR 12235/1992 - Armazenamento de Resíduos Sólidos Perigosos; q) NBR 12807/1993 - Resíduos de serviço de saúde Terminologia; r) NBR 12809/1993 - Manuseio de resíduos de serviços de saúde Procedimentos; s) Resolução CONAMA Nº 09/1993, que dispõe sobre uso, reciclagem, destinação rerefino de óleos lubrificantes; t) NBR 13221/1994 - Transporte de resíduos Procedimento; u) NBR 13463/1995 - Coleta de resíduos sólidos Classificação; v) NBR 8285/1996 - Preenchimento da ficha de emergência; w) NR-25 - Resíduos industriais; x) NBR 7500/2000 - Símbolos de risco e manuseio para o transporte e armazenamento de materiais; y) Resolução CONAMA Nº 275/2001, que estabelece o código de cores para os diferentes tipos de resíduos, a ser adotado na identificação de coletores e transportadores, bem como nas campanhas informativas para a coleta seletiva; z) Resolução CONAMA Nº 283/2001, que regulamenta o tratamento e a destinação final dos resíduos dos serviços de saúde; 4

aa) Resolução ANVISA Nº 217/2001, define responsabilidades aos representantes legais e ou responsáveis direto pelas embarcações, quanto às exigências sanitárias; bb) Resolução CONAMA Nº 313/2002, que dispõe sobre o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos Industriais e cc) NBR 7500/2003 - Transporte de produtos perigosos. A PNRS, dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, traz como novidades a gestão integrada dos resíduos sólidos e a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos (GUERRA E AVZARADEL, 2011). No contexto da nova legislação, os portos e terminais deverão rever os procedimentos adotados em relação aos resíduos de modo a contemplar as exigências previstas nesse instrumento. 2.2 Política Nacional de Resíduos Sólidos A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estabeleceu um marco regulatório para a gestão dos resíduos, por meio não só da definição de um conjunto de princípios e diretrizes a serem seguidos, como por vir despertando na sociedade novas formas de consciência ambiental (BRASIL, 2011). Por meio do seu artigo 6º, a nova lei tornou obrigatórios princípios que eram propalados desde a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco 92, Rio de Janeiro): prevenção e precaução; poluidor-pagador e protetor-recebedor; visão sistêmica na gestão de resíduos, incluindo as variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública, dentre outros. Os resíduos sólidos ganharam uma classificação no artigo 13 da PNRS que permitirá uma uniformização das políticas estaduais e dos planos de gestão de resíduos sólidos nos empreendimentos, inclusive portuários. Quanto à origem, define-se como resíduos sólidos de transportes aqueles advindos de portos, aeroportos, terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários, bem como das passagens de fronteira. Tal definição abrange os resíduos sólidos gerados pelas embarcações, os advindos dos processos de movimentação física de cargas, denominados processos operacionais, e dos processos administrativos, no ambiente portuário. Outro aspecto da Lei 12.305/2010 que merece destaque é o princípio da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos (GUERRA E AVZARADEL, 2011), definida como o conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental (BRASIL, 2010). No que se refere a gestão e gerenciamento de resíduos, a diretriz de priorização de ações de não geração, redução, reutilização e reciclagem acaba por priorizar a destinação ambiental final adequada em relação a uma disposição ambiental final adequada, num claro incentivo ao desenvolvimento de sistemas ambientais e empresariais voltados para a melhoria dos processos produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos (BRASIL, 2010). Aterros sanitários, embora constituam o meio mais utilizado para disposição de resíduos submetidos a um tratamento prévio, requerem disponibilidade de espaço físico e representam possibilidade de problemas relacionados à poluição ambiental, o que deixa claro que esta opção não é a melhor alternativa (DEMAJOROVIC, 1995). 5

Além disso, a valorização de alternativas para destinação dos resíduos também se baseia no seu potencial de geração de trabalho, emprego e renda, por meio da inclusão social de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade compartilhada (BRASIL, 2011). 3. Análise dos Impactos da PNRS no setor portuário 3.1 Metodologia O presente estudo tem como objetivo identificar os desafios e as perspectivas do setor portuário considerando as necessidades de adequação de seus planos de gerenciamento de resíduos sólidos aos princípios e requisitos recepcionados e criados pela Política Nacional de Resíduos Sólidos. O problema foi abordado de forma qualitativa, com objetivo exploratório e uso de referências bibliográficas (GIL, 1991). A escolha dos métodos ocorreu em função da busca do desenvolvimento de um trabalho que proporcionasse maior familiaridade com o tema e cujo resultado permitisse considerações visando o desenvolvimento de potenciais soluções. O material analisado engloba os instrumentos legais e de regulação relacionados aos planos de gerenciamento de resíduos sólidos nos portos. Por meio de comparações das exigências e práticas antes e após a instituição da Lei 12.305/2010 foi possível concluir a respeito dos potenciais impactos da PNRS para o setor. 3.2 Impactos da Política Nacional de Resíduos Sólidos No que se refere aos resíduos gerados pelos navios, a responsabilidade do operador da embarcação, antes com ênfase em questões formais, passa a ser vista com foco nas ações de minimização dos volumes de resíduos através da redução na fonte. O recebimento de resíduos de embarcações é orientado por algumas regras básicas. O arrendatário, ou armador de um navio, ou seu representante legal autorizado, deve notificar a autoridade competente sobre as substâncias e as quantidades estimadas para descarga, o horário estimado para a chegada de uma embarcação e o tempo estimado para descarga, atracação, entre outras informações relevantes. Essa notificação deve ocorrer em tempo hábil, a fim de permitir que as instalações portuárias se preparem para a operação de descarga. Notificações realizadas de forma incorreta podem ocasionar atrasos no tempo gasto no porto para a disposição de resíduos, estendendo o tempo de liberação do navio. Mas as autoridades portuárias também podem contribuir para minimizar os contratempos fornecendo informações suficientes para os procedimentos de disposição de resíduos no porto, sendo essencial que os meios de descarga da embarcação para a costa sejam coordenados. Os navios devem entregar seus resíduos nas instalações de recepção antes de abandonar o porto, observando-se a segregação e o acondicionamento adequados. A capacidade de recepção de resíduos deve ser adequada para responder às necessidades contínuas dos navios que utilizam o porto. Porém, considerando que a informação com relação à produção de lixo por navios é pouco confiável, a definição de uma metodologia para o levantamento de quantidades de resíduos torna-se difícil. Além disso, devido às restrições de espaço, as quantidades de resíduos a serem recebidas pelos portos são limitadas. 6

Outro ponto importante é que alguns resíduos de navios não podem ser tratados como lixo comum e têm requisitos especiais de manuseio, o que faz com que muitos portos exijam algum nível de separação. Diante das dificuldades pontuadas no processo de descarga e recepção dos resíduos de navios nos portos, fica clara a importância das práticas de não geração de resíduos, preconizadas pela PNRS. Dado o risco à saúde pública que esse tipo de resíduos representa, é fundamental que essa nova visão seja reforçada. A identificação de responsabilidades sobre os resíduos gerados na movimentação de cargas demandam um mapeamento de todas as atividades desse processo. A definição de soluções adequadas dependerá das características do refugo. Para o caso de resíduos provenientes da movimentação de granéis e carga geral, há potencial de reintegração do produto no fluxo logístico por meio da destinação final diversa dos aterros, evitando custos de transporte e disposição, bem como os riscos ambientais inerentes. Para resíduos da movimentação de grãos, por exemplo, a atuação em parcerias com cooperativas ou associações de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis para o aproveitamento do material podem ser uma alternativa viável, o que também traz vantagens sociais. No caso de resíduos advindos dos processos administrativos dos portos e terminais, sua responsabilidade ocorre no exercício do papel de consumidor. Nessa posição, além do comprometimento com o adequado descarte ou retorno dos resíduos para a cadeia de suprimentos, podem ser adotados, como parte de um sistema de logística reversa, a prática de aquisição de produtos de fornecedores que tenham sistemas de logística reversa implantados. Diante do apresentado, percebe-se que necessidade de adequação que a nova lei traz para os envolvidos demanda uma análise quanto à melhoria de procedimentos, métodos e recursos empregados. Essa revisão da forma de executar determinadas atividades, visando a minimização da geração de resíduos ou a melhor solução para destinação ambientalmente adequada pode ter forte impacto sobre a qualidade e eficiência das operações. De acordo com Sordi (2005), na última década, houve um trabalho intenso nos grandes portos mundiais com o emprego de reestruturações que trouxessem como ganho o aumento da eficiência e qualidade dos serviços portuários. Esse autor ressalta que os principais recursos utilizados na promoção dessas mudanças são alterações das leis que regimentam as atividades portuárias, reestruturação de processos, mudanças de comportamento e atitudes dos envolvidos e incorporação de novas tecnologias. Sob a ótica das oportunidades trazidas com a necessidade de mudanças, a adequação das atividades portuárias à nova ordem no que se refere à gestão de resíduos sólidos pode trazer grandes contribuições para a modernização dos portos públicos. 4. Conclusão A fim de se adequar à Política Nacional de Resíduos Sólidos, os portos e terminais deverão repensar seus planos de gerenciamento para os resíduos gerados nas embarcações, nos processos operacionais e administrativos. O foco dado pela nova lei às ações de redução de geração de resíduos requer dos responsáveis pelas embarcações um papel mais amplo do que o de cumpridor de formalidades para descargas nos portos. 7

No que se refere aos resíduos gerados na movimentação de cargas, as adequações demandam um mapeamento de todas as atividades desse processo e dependerão das características do refugo. Entretanto, fica claro que as soluções demandam uma revisão da atual forma de trabalho. Com isso, há potencial para melhorias que tendem a trazer mais eficiência e qualidade para os serviços prestados. E as boas práticas também podem ser adotadas nos processos administrativos dos portos, como o adequado descarte ou retorno dos resíduos para a cadeia de suprimentos. Pensando no trabalho que vem sendo realizado nos últimos anos para reestruturar os portos brasileiros, a revisão da forma de execução das atividades para adequação à lei 12.305/2010 representa uma grande oportunidade de mudanças positivas para o setor, alinhadas aos objetivos de modernização. Referências ANTAQ. Porto Verde: modelo ambiental portuário. Brasília: ANTAQ, 2011. Disponível em: http://www.antaq.gov.br/portal/pdf/portoverde.pdf. Acesso em: 30 jul. 2011. BRASIL. Lei 8.630, de 25 de fevereiro de 1993. Dispõe sobre o regime jurídico da exploração dos portos organizados e das instalações portuárias e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8630.htm. Acesso em: 30 jul. 2011. BRASIL. Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em: 30 jul. 2011. BRASIL. Política Nacional de Resíduos Sólidos completa um ano. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2011/08/01/politica-nacional-de-residuos-solidos-completa-um-ano. Acesso em: 10 ago. 2011. CONAMA. Resolução de nº 005, de 05 de agosto de 1993. Dispõe sobre procedimentos mínimos para o gerenciamento de resíduos oriundos de serviços de saúde, portos e aeroportos. Diponível em: < http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res93/res0593.html >. Acesso em: 10 ago. 2011. CORDEIRO, E. C.; FERREIRA, C. P.; DUARTE, V. L. Gerenciamento de Resíduos sólidos em terminais portuários brasileiros: diagnóstico situacional. In: XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2000, Porto Alegre. Anais...Porto Alegre: AIDIS, 2000. DEMAJOROVIC, J. Da política tradicional de tratamenro do lixo à política de gestão dos resíduos sólidos: as novas prioridades. Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 35, n. 3, p.88-93, 1995. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo. Atlas. 1991 GUERRA, S.; AVZARADEL, P. C. S. Responsabilidade socioambiental e direito: explorando conectividades e as perspectivas a partir da política nacional de resíduos sólidos. Revista de Direito da Unigranrio. Disponível em: http://publicacoes.unigranrio.edu.br/index.php/rdugr Acesso em: 01 ago. 2011. KITZMANN, D.; ASMUS, M. Gestão ambiental portuária: desafios e possibilidades. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, v. 40, n. 6, p. 1041-60, Nov./Dez. 2006. MONTEIRO JUNIOR, J.; VENDRAMETTO, O. O tratamento Dado aos Resíduos Sólidos pela Administração do Porto de Santos. In: II International Workshop Advances in Clear Production: key elements for a sustainable world: energy, water and climate change. São Paulo. 2009. SORDI, J. O. Otimização de processos portuários a partir da aplicação de recursos de tecnologia da informação: análise do porto de Santos. egesta - Revista Eletrônica de Gestão de Negócios. v. 1, n. 2, p. 63-84, jul.-set./2005. 8