Olavita e os Bichos da Água
Olavita e os Bichos da Água
Realização: Olavita e os Bichos da Água Nathália Flores, Augusto Rodrigues, Cássia Santos Camillo, Robinson Botero-Arias e Miriam Marmontel Tefé, AM IDSM e Petrobras 2013 Patrocínio:
Olavita e os bichos da água Ficha técnica Elaboração: Nathália Flores, Augusto Rodrigues, Cássia Santos Camillo, Robinson Botero-Arias e Miriam Marmontel Colaboração: Thiago Almeida Diagramação: W5 Comunicações Ilustração: Aparecido Fernandes Norberto (Cidão) Olavita e os bichos da água / Nathália Flores, Augusto Rodrigues, Cássia Santos Camillo, Robinson Botero- Arias e Miriam Marmontel; ilustrado por Aparecido Fernandes Norberto (Cidão). Tefé, AM: IDSM; Petrobras, 2013. 32p. II. ISBN: 978-85-88758-26-1 1. Peixe-boi. 2. Jacarés. 3. Quelônios. I. Flores, Nathália. II. Rodrigues, Augusto. III. Camillo, Cássia Santos. IV. Botero-Arias, Robinson. V. Marmontel, Miriam. COD: 599.5
Apresentação Que tal fazer uma incrível viagem pelos rios, lagos e matas alagadas das Reservas Mamirauá e Amanã? Embarque na canoa da dona Olavita, uma moradora de uma comunidade em Mamirauá que sabe muito sobre os bichos d'água dessa região. A dona Olavita sabe muita coisa mesmo! Ela trabalha como assistente de campo, ajudando os pesquisadores do Projeto Aquavert a entender os animais aquáticos dessa parte tão especial da Amazônia. Muito conhecimento científico, essas informações que a gente lê nos livros da escola, surgiu da união dos conhecimentos dos pesquisadores com o saber tradicional dos ribeirinhos, que nascem e crescem em meio à imensidão da natureza. Essa união de saberes é buscada pelo Instituto Mamirauá desde o início das pesquisas por aqui, na década de 1980. Boa leitura! Ou melhor: boa viagem! Equipe Aquavert Instituto Mamirauá
Olavita e os Bichos da Água 09
Olá, meu nome é Olavita. Sou moradora de uma comunidade na Reserva Mamirauá e trabalho como assistente de campo, auxiliando pesquisadores do projeto Conservação de Vertebrados Aquáticos Amazônicos, do Instituto Mamirauá. Nasci por essas bandas e conheço muito esse lugar! Desde que aprendi que o conhecimento é coisa que se deve compartilhar, não me canso de falar tudo o que sei para quem quiser aprender! 10
Na Reserva Mamirauá é assim: todo ano é esse sobe e desce de água. Na cheia, a água do rio vai subindo, subindo... daqui a pouco inunda toda a comunidade. Tudo fica diferente: a água cobre a plantação, enche o nosso campinho de futebol e, no pico da cheia, é preciso até subir o assoalho da casa e construir marombas para proteger os animais de criação. 11
Na seca a coisa muda de novo: é hora de fazer o roçado e de consertar algum estrago que a cheia tenha feito na casa. Em alguns pontos da Reserva, o nível da água fica tão baixo que é muito, muito difícil até para passar de canoa. Mas a nossa vida é assim, a comunidade já sabe como as coisas acontecem e já se prepara para as mudanças do rio. 12
Assim como as pessoas têm as suas maneiras de se adaptar à subida e descida das águas, os animais aquáticos também desenvolveram suas formas de enfrentar essa situação. Durante a cheia, o boto vermelho nada para dentro do igapó. Apesar de ser um bicho grande, o boto é ligeiro e ele pode até nadar para trás! Ele usa o bico longo para pegar peixes, mesmo nos locais mais fechados da mata alagada. Os peixes que o boto mais gosta são: bodó, sardinha, jaraqui, peixe-cachorro e piranha. 13
Uma curiosidade interessante sobre os botos é que, quando a fêmea vai dar cria, outra fêmea do bando ajuda o filhote a subir para respirar. Vocês sabiam disso? Os tucuxis vivem sempre em grupo. Diferente dos botos vermelhos, que se embrenham no igapó, os tucuxis nadam sempre em locais abertos. Eles são animais muito ativos, vivem sempre nadando pra lá e pra cá. Nunca param de se mexer, nem quando estão dormindo! 14
Aqui na Amazônia vive um monte de bicho de casco: tem jabuti, que é bicho da terra. Tem matá-matá, perema e lalá, que pouca gente conhece! Tartaruga, tracajá e iaçá, que são os mais conhecidos, vivem todos na água. Quando as águas estão altas eles se espalham pela floresta alagada em busca de frutos e sementes para comer. Quando chega a vazante, os adultos rumam para o meio do rio em busca das praias para botar seus ovos. 15
A tartaruga-da-amazônia é o maior bicho de casco da Amazônia. Vive em rios de água branca, preta e clara, pode medir mais de quatro palmos e pesar mais de 50 quilos! A fêmea põe uns 100 ovos e, dependendo do calor e das chuvas, os filhotes levam de 45 a 55 dias para nascer. A tartaruga já foi muito explorada no passado e, hoje em dia, na região da Reserva Mamirauá, é bicho muito raro de encontrar! 16
No passado, a iaçá era pouco procurada. Já nos dias de hoje, por causa da diminuição das outras espécies, é o bicho de casco mais capturado na região da Reserva Mamirauá. É um bicho pequeno, que vive mais nas águas brancas do que nas águas claras. O tempo que o filhotes de iaçá levam para nascer depende do sol e da chuva, mas eles podem ficar vários dias, até semanas, dentro da cova esperando o início das chuvas e a subida das águas para pegar o rumo do rio. 17
O tracajá é um dos bichos de casco mais apreciados por aqui, e está cada vez mais difícil para ser encontrado. Mede uns dois palmos e pesa até dez quilos. A fêmea põe de 20 a 40 ovos. Ao contrário da tartaruga e da iaçá, a fêmea de tracajá não desova só nas praias dos rios. Nas áreas de várzea, a maioria das fêmeas fica nos lagos e desova na beira de barrancos, no barro, entre folhas e até no matupá. 18
O jacaré-açu é um bicho muito preguiçoso. Ele é o maior de todos os jacarés, chegando a mais de 5 metros de comprimento. Na cheia se espalha pelos igapós, rios, lagos e praticamente não come. Já na seca, quando os peixes ficam empoçados, ele aproveita para encher a barriga! A Reserva Mamirauá é o lugar da Amazônia onde mais tem jacaré-açu: nas cabeceiras dos lagos dá pra contar mais de mil jacarés! À noite o rio parece uma cidade iluminada de tanto olho de jacaré brilhando no escuro. 19
Outro jacaré comum aqui na Reserva é o tinga. Menor que o açu, chega a 2,5 metros de comprimento, ele aparece em tudo que é cano, lago e igarapé da várzea. Na seca as fêmeas, tanto do açu quanto do tinga, fazem os ninhos e ficam por lá cuidando dos ovos, e eu não chego nem perto! Pense numas jacaroas macetas! 20
Outro bicho que gosta de ficar por aqui é o peixe-boi. Na várzea há muito alimento pra ele e é mais fácil se proteger dos predadores se escondendo embaixo de matupás. Já na vazante, os peixes-boi da região de Mamirauá fazem uma longa viagem, enfrentam o risco de serem caçados e vão para Reserva Amanã, porque na terra firme as águas são mais fundas durante a seca. O risco deles encalharem por lá é menor! 21
Vamos dar um pulo na Reserva Amanã, para conhecer um pouco das coisas de lá? As águas dos rios sobem e descem, como na várzea, mas na terra firme as roças alagam menos, algumas casas nem alagam e o pessoal já tá esperto para isso! 22
23
No refúgio de águas pretas do lago Amanã, existe um lugar especial chamado."centrinho " Aqui, comunitários locais e pesquisadores do Instituto Mamirauá trabalham para reabilitar os filhotes de peixes-boi que ficaram órfãos. Todos os dias os filhotes recebem cuidados médicos e alimentação para que, num futuro próximo, eles possam ser devolvidos aos lagos e rios da região. 24
As ariranhas vivem em grupo, sempre juntas! A mamãe amamenta suas crias e protege os filhotes dentro da loca, mas o papai também ajuda a tomar conta dos filhotes. Parente, como essa viagem cansa! Quero uma sombra para descansar só na manha da ariranha. E falando nisso é por aqui na terra firme que as ariranhas fazem suas locas. 25
A lontrinha é um bicho solitário! Lontras e ariranhas se alimentam de peixes, mas a lontrinha também gosta de comer caranguejo e camarão. 26
Aqui pelos igarapés vivem jacarés de terra firme, que gostam de andar pela floresta. O paguá tem uma cabeça avermelhada, mede um pouco mais de 1,5 metro e a fêmea sempre faz seu ninho perto de cupinzeiros para esquentar os ovos. Sabiam que dependendo da temperatura do ninho, nascem machos ou fêmeas? 27
O jacaré coroa, ou pedra, gosta de andar na terra. Os filhotes têm umas manchas amarelas na cabeça e depois de adultos ficam com a pele toda escura. Algumas pessoas dizem que esse bicho faz um barulho que faz a terra tremer, mas eu não sei disso não! 28
Gente, a conversa tá boa, mas eu tenho que pegar o caminho de volta pra minha comunidade. Viram só quanta coisa legal?! Só dá pra gostar do que a gente conhece, não é? E é só assim que a gente pode proteger os bichos! Agora é a vez de vocês espalharem pela comunidade tudo o que aprenderam na nossa viagem! Até logo, colegazinhos! 29
30