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Transcrição:

Milhões de euros SUMÁRIO EXECUTIVO/RELATÓRIO Nota: O presente documento constitui o Sumário Executivo do Relatório do Mercado de Obras Públicas Os números do Mercado de Obras Públicas em 2015, uma análise estatística detalhada do durante o ano passado promovida pela AECOPS e que se encontra disponível aqui. Alerta AECOPS O colapso do investimento público em 2015 ameaça a recuperação do setor e da economia 1. Sumário Executivo O colapso Em 2015, o valor dos contratos públicos celebrados decresceu 37% face a 2014 e 36% em relação ao período 2012 2014, os anos mais duros da crise em Portugal na sequência do processo de ajustamento da Troika, que foi marcado por cortes muito acentuados no investimento em geral e no investimento público, em particular. VALOR TOTAL DOS CONTRATOS 1.800 1.600 1,5 mil M 1,5 mil M 1,6 mil M 1.400 1.200 1.000 985,7 M 800 600 400 200 0 2012 2013 2014 2015 1

Perante a dimensão acentuada e inesperada da contração no volume de contratos públicos em 2015, convém perceber: - As causas desta nova queda abrupta do investimento público: porque é que os poderes públicos travaram a expansão do investimento quando a economia dava os primeiros sinais de recuperação; - As consequências do desinvestimento do Estado, por um lado, no tecido empresarial do Setor e, por outro, no conjunto da economia e da sociedade; - As soluções e as propostas para reverter o processo de desinvestimento e de degradação do stock de capital público. Para a AECOPS: - O colapso do investimento público não era inevitável e resultou de uma má gestão dos fundos comunitários, que paralisou a capacidade de investimentos dos principais donos de obra no preciso momento em que esse investimento era mais necessário para consolidar a trajetória de crescimento da economia portuguesa e do setor da Construção; - As consequências no setor da Construção são devastadoras, existindo o risco real de uma nova onda de insolvências e de desemprego, como consequência da redução de 33% no valor médio dos contratos de obras públicas por empresa. Por outro lado, no plano macroeconómico, o forte desinvestimento público agravou o enorme défice acumulado de investimento. De facto, em termos reais e entre 2008 e 2015, a quebra acumulada do investimento em Portugal foi de 31% e na Construção de 45%. Esse défice colossal de investimento paralisa a economia e, se no curto prazo impede a recuperação económica e a criação de emprego, a médio e longo prazo enfraquece de forma estrutural a competitividade do País e das suas empresas. Nestas circunstâncias, o relançamento do investimento constitui a prioridade nacional. - Soluções e propostas. Em concreto, a AECOPS propõe aos responsáveis políticos que para 2016 se comprometam com a contratação de obras públicas no valor de 2 mil milhões de euros. Com base numa estratégia de investimento público sustentada que combine, por um lado, uma boa gestão dos fundos comunitários disponíveis com a apresentação de bons projetos no âmbito do Plano Juncker e, por outro, o reforço das verbas inscritas no PIDDAC - Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central e uma política de incentivo ao investimento privado em infraestruturas, designadamente, para atrair financiamento privado nos s financeiros internacionais para a realização de projetos e de infraestruturas rentáveis e estruturantes. Por fim, estas reflexões sobre as causas, as consequências e as propostas e soluções adquirem uma importância acrescida no quadro do início de um novo ciclo político e na expetativa de alterações na política económica que relancem o investimento e o crescimento. 2

2. Números alarmantes Da análise detalhada do valor dos contratos celebrados em 2015, cujos números chave se apresentam no quadro seguinte, ressalta: Números Chave Valor total dos contratos celebrados 2012 2013 2014 2015 1.540,1 M 1.512,2 M 1.563,2 M 985,7 M Número total de donos de obra 1.315 1.409 1.343 1.045 Número de contratos celebrados Número de empresas adjudicatárias 8.813 11.601 10.618 11.024 2.812 3.133 3.203 3.133 Valor médio contratado por dono de obra 1.171,1 1.073,2 1.164,0 943,2 Número médio de contratos por dono de obra Número médio de contratos por empresa 6,7 8,2 7,9 10,6 3,1 3,7 3,3 3,5 Valor médio contratado a cada empresa 547,7 482,7 488,0 314,6 1. O colapso do de obras públicas em 2015. O volume de contratos ficou abaixo dos mil milhões de euros, 986 mil milhões, -37% que no ano anterior, correspondendo a menos de 0.6% do valor do PIB, um novo mínimo histórico e que trava o crescimento do investimento, do emprego e da economia; 2. A reduzida dimensão dos contratos celebrados e a ausência de projetos e investimentos estruturantes, espelhando a imagem de um país sem projetos para o futuro. Inesperadamente, em 2015 não foi celebrado nenhum contrato superior a 15.5 milhões de euros e os dois maiores contratos do ano resultaram da adjudicação de duas escolas nos Açores. É surpreendente a dimensão da queda dos investimentos superiores a 10 milhões de euros. De facto, em 2015 o volume de contratos superiores a 10 milhões de euros, correspondente às classes de alvará 7, 8 e 9, ascendeu apenas a 141 milhões de euros, 14% do total. Uma situação que contrasta com a realidade de 2014, onde o volume de contratos superiores a 10 milhões de euros ultrapassou os 493 milhões de euros, 31% do total, com as adjudicações de obras superiores a 16.6 milhões de euros (classe 9) a atingirem os 250 milhões de euros. Neste sentido, a ausência de investimentos de maior dimensão explica quase 60% da queda registada em 2015. 3

Complementarmente, importa evidenciar que cinco dos 10 maiores contratos do ano foram da responsabilidade das Administrações Regionais dos Açores e da Madeira, evidenciando o reduzido nível de investimento no Continente, da Administração Central e das empresas públicas; 3. A diminuição do investimento foi particularmente significativa na área dos transportes e da hidráulica, com quebras, respetivamente, de 45% e de 66% no volume de contratos celebrados face ao ano anterior. Em particular, é notório o fraco investimento no segmento dos transportes, na ferrovia, na rodovia e nos portos e a desaceleração dos investimentos promovidos no Alqueva pela EDIA; 4. O de obras públicas retrocedeu para níveis mínimos históricos e foi alimentado quase exclusivamente por obras locais de dimensão muito reduzidas, indispensáveis para resolver problemas urgentes e pontuais, com o valor médio dos contratos a rondar os 89 mil euros. Nestas condições, por via do desinvestimento e como genericamente só foram contratadas obras indispensáveis de manutenção, podemos considerar que 2015 foi um ano perdido em termos de investimento público. 5. Menos donos de obra. O número de entidades que celebraram contratos públicos reduziu-se significativamente. Em 2015 só adjudicaram obras 1045 entidades, menos 21% que no ano anterior, correspondendo a menos 300 donos de obras a contratar no. Por outro lado, cada dono de obra celebrou, em média, cerca de 11 contratos, que não totalizaram 1 milhão de euros (943 ), correspondendo a uma quebra de 20% no valor médio adjudicado por dono de obra em relação ao ano anterior; 6. Donos de obra sem dinamismo e concursos sem dimensão capaz de dinamizar o. Em termos agregados, nenhuma entidade contratou mais de 40 milhões de euros. Por outro lado, verificou-se uma significativa redução na contratação por parte de donos de obra que tradicionalmente alimentavam o dinamismo do de obras públicas, como a Estradas de Portugal ou a Refer (atual Infraestruturas de Portugal), tendo surgido como principais protagonistas do as Câmaras Municipais, com a adjudicação de investimentos correntes de pequena e média dimensão. Se analisarmos o Top 10 dos Donos de Obra verifica-se uma situação anómala, com a CML a liderar a lista das adjudicações, seguida da Vice-Presidência do Governo Regional da Madeira e da Secretaria Regional da Educação da Ciência e Cultura dos Açores. Em contrapartida, o investimento na ferrovia não atingiu 6.4 milhões de euros, menos de metade da construção de uma escola nos Açores, enquanto o investimento rodoviário a cargo das Estradas de Portugal/Infraestruturas de Portugal quedou-se pelos 35 milhões de euros, neste caso o valor equivalente à construção de duas escolas nos Açores. 7. Forte aumento do peso relativo dos ajustes diretos no processo de contratação, uma mudança com efeitos no funcionamento do e nas condições de concorrência. Em 2015, cerca de 346 milhões de euros de obras foram contratadas em regime de ajuste direto, cerca de 35% do total, contra 23% no ano anterior. Ao invés, os contratos por concurso público, que atingiram 70% do total em 2014, caíram para os 56%. Assim e em termos absolutos, o valor da contratação através de concurso público decresceu cerca de 50%, de 1.1 mil milhões de euros em 2014, para 557 milhões em 2015. Os números evidenciam que a forte redução no investimento foi acompanhada por alterações nos procedimentos de contratação, com o aumento do peso relativo do ajuste direto em detrimento do concurso público; 4

8. Os efeitos regionais da redução do investimento públicos foram diferenciados. Na Região Autónoma dos Açores (+93%) e nos distritos de Setúbal (+38%), Viana do Castelo (+14%) e Lisboa (+7%) o volume de investimento contratado aumentou. Ao invés, em seis distritos o volume de investimento decresceu mais de 50%, nomeadamente, em Beja (-88%), Vila Real (-69%), Portalegre (-67%), Évora (-57%), Viseu (-52%) e Porto (-50%). 9. Acréscimo da concorrência no de obras públicas e uma forte redução no volume da contratação por empresa. Em 2015 o volume de contratos decresceu 600 milhões de euros, -37% em relação ao ano anterior, mas o número de empresas que celebrou contratos manteve-se estável, em torno das 3200. Como consequência, o valor médio contratado por empresa decresceu 36%, passando de 488 mil euros, em 2014, para apenas 314.6 mil, em 2015. 10. Ameaça de agravamento da crise no Setor e de uma nova onda de insolvências. A redução de 33% no valor médio dos contratos de obras públicas por empresa em 2015, se não for compensada rapidamente pela inversão da tendência, com um aumento significativo no investimento público, não deixará de induzir uma nova onda de insolvências com origem no segmento das obras públicas, contrariando as perspetivas de recuperação do Setor dinamizadas pelo investimento privado no imobiliário, em Habitação e no segmento Não Residencial. EVOLUÇÃO DOS CONCURSOS PROMOVIDOS Números Chave Número total de Concursos Promovidos 2012 2013 2014 2015 1.439 1.822 1.800 1.865 Valor total dos Concursos Promovidos 1.668,7 1.652,6 1.554,4 1.244,6 Número total de donos de obra 454 512 493 467 Valor médio promovido por dono de obra 3.675,6 3.227,7 3.153,0 2.665,0 Valor médio por concurso promovido 1.159,7,0 907,0 863,6 671,6 No essencial, em 2015, a dinâmica dos concursos promovidos, cujos números chave se apresentam no quadro anterior, acompanhou a tendência evidenciada pelos contratos celebrados, sendo que: - O valor total dos concursos promovidos atingiu os 1.245 milhões, menos 310 milhões de euros que no ano anterior, correspondendo a uma quebra de 20%; - Os concursos foram lançados por 467 donos de obra, -8% que no ano anterior, com o valor médio promovido por dono de obra a situar-se nos 2.7 milhões de euros, 15% aquém do valor médio de 2014; - O valor médio por concurso decresceu 22%: de 864 mil euros, em 2014, para 672 mil. 5

Entretanto, se analisarmos a evolução dos concursos promovidos como indicadores avançados da produção, há dois fatores que podem ter efeitos positivos em 2016: Em primeiro lugar, o valor dos concursos promovidos em 2015 (1.250 milhões de euros) foi superior em 250 milhões de euros ao dos contratos celebrados (mil milhões), o que, em condições normais, deverá conduzir a um acréscimo do investimento público contratado em 2016; Em segundo lugar, perspetiva-se que o acréscimo de investimento acima mencionado seja particularmente significativo no segmento dos transportes, resultado do acréscimo no volume das promoções, que atingiram os 480 milhões de euros, bem acima dos 275 milhões de euros dos contratos celebrados em 2015. 3. As causas do colapso do investimento Importa começar por perceber as causas da queda abrupta do investimento público em 2015 e porque é que os poderes públicos não evitaram o colapso do investimento quando a economia dava os primeiros sinais de recuperação. Entende-se que o colapso do investimento público era evitável e não resultou da crise das finanças públicas, desde logo porque, ao longo dos anos da intervenção da Troika, o valor dos contratos públicos nunca desceu abaixo dos 1.5 mil milhões de euros. O colapso foi consequência direta de uma deficiente gestão dos fundos comunitários, a qual paralisou a capacidade de investimento dos principais donos de obra, no preciso momento em que esse investimento era mais necessário para consolidar a trajetória de crescimento. O acima descrito explica a reduzida dimensão dos contratos celebrados, a inexistência de projetos e investimentos estruturantes, a ausência de contratos superiores a 15 milhões de euros e o facto de nenhum dono de obra ter celebrado contratos num montante superior a 40 milhões de euros. Considera-se ter havido uma deficiente gestão dos fundos comunitários pelos seguintes motivos: - Renegociação e gestão das verbas do QREN 2007 2013: os apoios comunitários do quadro anterior podiam ter sido concretizados até final de 2015, mas o Governo optou, regra geral, por adiar os investimentos na área das infraestruturas; - Ausência de definição de projetos concretos e estruturantes inscritos no Portugal 2020, impedindo que pudessem ser contratados em 2015; - Processo de organização das candidaturas portuguesas ao Mecanismo Interligar Europa para o financiamento europeu ao abrigo das redes transeuropeias de transportes e energia; - Ausência de um plano de ação para a concretização do Programa de Investimentos em Transportes (PETI3+) aprovado pelo Governo; - Incapacidade de desbloquear atempadamente os fundos do Portugal 2020 na área do ambiente e da eficiência energética. Em síntese, a deficiente gestão dos fundos comunitários conduziu a uma queda do investimento público tendo por base os apoios da União Europeia, o que seria fundamental para a recuperação da economia. 6

4. As propostas e soluções da AECOPS A AECOPS propõe um relançamento realista e sustentado do investimento em Engenharia Civil e em equipamentos sociais para reduzir o colossal défice de investimento, reverter o processo de degradação do stock de capital público e relançar o crescimento e o emprego. Como resultado da crise das finanças públicas, a capacidade de investimento do Estado é e vai continuar a ser limitada, não sendo possível lançar um grande programa de obras públicas. Contudo e perante as dificuldades que vão continuar a persistir, é necessário fazer escolhas acertadas, definir as prioridades e os projetos inadiáveis, aproveitar todas as oportunidades, nomeadamente de financiamento externo, para concretizar investimentos. A AECOPS defende eficiência e rigor na gestão do investimento público. Acresce que, em 2016, Portugal não pode desperdiçar as oportunidades externas e os fundos comunitários para financiar os projetos estruturantes. Nesse sentido, propõe-se uma (re)definição clara dos projetos inadiáveis com interesse nacional e internacional para serem concretizados na presente legislatura e o compromisso político da sua concretização num calendário que detalhe as várias fases de lançamento dos projetos e das obras, para garantir o seu acompanhamento e monitorização. Salienta-se que a concretização de um pipeline de projetos de investimento prontos a serem lançados é fundamental para assegurar o seu financiamento com recurso a fundos comunitários ou com o apoio de fundos comunitários como alavanca para estimular o investimento privado. Para 2016, uma estratégia de investimento público sustentada deve combinar: - A apresentação de bons projetos para serem financiados no âmbito do Plano de Investimentos Europeu (Plano Juncker); - A organização de candidaturas eficazes a financiamentos comunitários, no âmbito do Mecanismo Interligar Europa, de investimentos que possam ser enquadrados nos corredores prioritários das Redes Transeuropeias de Transportes e Energia; - A especificação dos projetos estruturantes para serem executados ao abrigo do Portugal 2020, fundos comunitários já consignados para o País para a realização de investimentos no período 2014 2020; - O reforço do financiamento e a escolha criteriosa dos projetos a inscrever no PIDDAC 2016 -Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central, investimento financiado com recurso a verbas inscritas no Orçamento de Estado; - Uma política de incentivo ao investimento privado em infraestruturas, designadamente, para atrair investimento privado nos s financeiros internacionais para a realização de projetos de infraestruturas rentáveis e estruturantes. Traduzindo em números a estratégia elencada, a AECOPS defende que os responsáveis políticos deviam comprometer-se neste ano a contratar um volume de obras públicas no valor de 2 mil milhões de euros, valor este que não pode ser considerado excessivo, pois corresponde à média do investimento público no período de forte contenção orçamental nos anos 2012 2014, acrescido de um reforço adicional de 500 milhões de euros para compensar o colapso da contratação ocorrida em 2015. O reforço proposto para a contratação pública para 2016 permitirá minorar os efeitos do colapso de 2015, bem como relançar o investimento e a criação de emprego, sem agravar o défice das contas públicas. 7