Uso do Prediderm (prednisolona) associado ao micofenolato de mofetil no tratamento de anemia hemolítica imunomediada canina: relato de caso



Documentos relacionados
Anemia x agentes infecciosos ANEMIA HEMOLÍTICA. Manifestações clínicas. Anemia hemolítica imunomediada. Anemia hemolítica imunomediada

Universidade Federal do Paraná. Treinamento em Serviço em Medicina Veterinária. Laboratório de Patologia Clínica Veterinária

INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA AGUDA EM CÃES

INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA AGUDA EM GATOS

1/100. Residência /1 PROCESSO SELETIVO DOS PROGRAMAS DE RESIDÊNCIA EM ÁREA PROFISSIONAL DE 2ª FASE: PROFISSÃO 7: MEDICINA ANIMAIS

INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA CRÔNICA EM GATOS

Anemia hemolítica imunomediada não regenerativa em um cão - RELATO DE CASO - ISSN Nonregenerative immune-mediated hemolytic anemia in a dog

ANEMIA EM CÃES E GATOS

18/08/2016. Anemia e Policitemia Prof. Me. Diogo Gaubeur de Camargo

ALTERAÇÕES CLÍNICAS E LABORATORIAIS EM UM CÃO COM ANEMIA HEMOLITICA IMUNOMEDIADA: RELATO DE CASO

EFUSÃO PLEURAL EM GATOS: ACHADOS HEMATOLOGICOS E BIOQUÍMICOS PLEURAL EFFUSION IN CATS: HEMATOLOGICAL AND BIOCHEMICAL FINDINGS

GABARITO APÓS RECURSO 02. E 12. B 03. B 13. A 05. A 15. D 06. C 16. A 07. C 17. B 08. D 18. D 09. A 19. E 10. D 20. D

[ERLICHIOSE CANINA]

DOENÇAS DO SANGUE E ÓRGÃOS HEMATOPOIÉTICOS. ANEMIA Deficiência dos eritrócitos circulantes A medula óssea é responsiva? Há eritropoese?

ALTERAÇOES LABORATORIAIS RANGELIOSE: RELATOS DE CASOS

Outras Anemias: Vamos lá? NAC Núcleo de Aprimoramento científico Hemograma: Interpretação clínica e laboratorial do exame. Jéssica Louise Benelli

Material: Sangue c/edta Método..: Citometria/Automatizado e estudo morfológico em esfregaço corado

REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE MEDICINA VETERINÁRIA ISSN: Ano XI Número 21 Julho de 2013 Periódicos Semestral

I Curso de Choque Faculdade de Medicina da UFMG INSUFICIÊNCIA DE MÚLTIPLOS ÓRGÃOS MODS

Relatório de Caso Clínico

PATOLOGIA DO SISTEMA HEMATOPOIÉTICO

Análise Clínica No Data de Coleta: 05/11/2018 1/7 Prop...: JOSE CLAUDIO DE CASTRO PEREIRA Especie...: CANINA Fone...: 0

Peculiaridades do Hemograma. Melissa Kayser

Análise Clínica No Data de Coleta: 22/03/2019 1/5 Prop...: RAIMUNDO JURACY CAMPOS FERRO Especie...: CANINA Fone...: 0

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Avaliação hematológica em cães errantes da região urbana de Maringá-PR

Material: Sangue c/edta Método..: Citometria/Automatizado e estudo morfológico em esfregaço corado

ANEMIAS HEMOLÍTICAS ADQUIRIDAS. Prof. Dr. David Cavalcanti Ferreira

PROTOCOLOS DE TRATAMENTO DE DOENÇAS HEMATOLÓGICAS

Esplenomegalia, com acentuada leucocitose, em decorrência de piometra

LEUCEMIA LINFOCÍTICA CRÔNICA EM CANINO RELATO DE CASO CHRONIC LYMPHOCITIC LEUKEMIA IN DOG CASE REPORT

INFLUÊNCIA DO TEMPO DE ARMAZENAMENTO DA AMOSTRA SOBRE OS PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS DE CÃES

Medico Vet..: HAYANNE K. N. MAGALHÃES Idade...: 11 Ano(s) CRMV...: 2588 Data da conclusão do laudo.:05/08/2019

EFEITO DA CONDIÇÃO CORPORAL SOBRE A DINÂMICA DE HEMOGRAMA NO PERIPARTO DE VACAS DA RAÇA HOLANDÊS

Relatório de Caso Clínico

Data da conclusão do laudo.:12/04/2019

Relatório de Caso Clínico

ESCOLA UNIVERSITÁRIA VASCO DA GAMA MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA VETERINÁRIA ANEMIA HEMOLÍTICA IMUNOMEDIADA CANINA. Abordagem Terapêutica

HEMANGIOSSARCOMA ESPLÊNICO EM CÃO: RELATO DE CASO

No. do Exame 001/ Data Entrada..: 20/01/2017

ENFERMAGEM. DOENÇAS HEMATOLÓGICAS Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

Após a administração da dose de 2000 mg/kg do MTZ-Ms em ratas, não ocorreu morte

XI Encontro de Iniciação Científica do Centro Universitário Barão de Mauá

31/10/2013 HEMOGRAMA. Prof. Dr. Carlos Cezar I. S. Ovalle. Introdução. Simplicidade. Baixo custo. Automático ou manual.

BABESIOSE CANINA 1. Relato supervisionado da disciplina de Estágio Clínico II do curso de Medicina Veterinária da UNIJUÍ. 2

Relatório de Caso Clínico

8/10/2009. Líquidos Cavitários

1/100 RP Universidade de São Paulo 1/1 INSTRUÇÕES PROCESSO SELETIVO PARA INÍCIO EM ª FASE: GRUPO 5: VETERINÁRIA

A N E M I A S H E M O L Í T I C A S

Análise Clínica No Data de Coleta: 08/04/2019 1/7 Prop...: MARINA LEITÃO MESQUITA Especie...: CANINA Fone...: 0

Análise Clínica No Data de Coleta: 03/04/2019 1/7 Prop...: REJANE MARIA DA SILVEIRA PEREIRA

INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA EM GATOS

EXAME HEMATOLÓGICO Hemograma

Relatório de Caso Clínico

CID. Mitos e verdades. Coagulação Intravascular Disseminada. Processo secundário! CID CID/DIC

Nº 15 CASO CLÍNICO: HEPATOPATIA CRÔNICA. Julho/2015. Hepatite Canina

12/03/2018 GRANDES ANIMAIS

Fluidoterapia. Vias de Administração. Fluidoterapia. Fluidoterapia. Fluidoterapia. Fluidoterapia. Enteral Via oral Via intra retal

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

FÍGADO AVALIAÇÃO LABORATORIAL PARAA PREVENÇÃO DE DOENÇAS

Medico Vet..: REINALDO LEITE VIANA NETO. Data da conclusão do laudo.:25/04/2019

PREFEITURA MUNICIPAL DE RIO BONITO- RJ DECISÃO DOS RECURSOS CONTRA GABARITO PRELIMINAR I DOS RECURSOS

1/100. Residência /1 PROCESSO SELETIVO DOS PROGRAMAS DE RESIDÊNCIA EM ÁREA PROFISSIONAL DE 2ª FASE: PROFISSÃO 7: MEDICINA ANATOMIA PATOLÓGICA

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR

Nelson Hamerschlak, Dirceu Hamilton Cordeiro Campêlo

PROGRAMA DA DISCIPLINA

Medico Vet..: REINALDO LEITE VIANA NETO. Data da conclusão do laudo.:30/04/2019

AVALIAÇÃO LABORATORIAL DO FIGADO Silvia Regina Ricci Lucas

Meningoencefalites não-infecciosas / de causa desconhecida - Tratamento

Anemia hemolítica autoimune

TROMBOCITOPENIA EM ANIMAIS DOMÉSTICOS

LABORATÓRIO BOM JESUS

HEMOGRAMA COMPLETO

Leucemias Agudas: 2. Anemia: na leucemia há sempre anemia, então esperamos encontrar valores diminuídos de hemoglobina, hematócrito e eritrócitos.

ANEMIAS HEMOLÍTICAS. Prof. Rafael Fighera Laboratório de Patologia Veterinária Hospital Veterinário Universitário Universidade Federal de Santa Maria

DOSAGEM DE COLESTEROL HDL DOSAGEM DE COLESTEROL LDL

LABORATÓRIO LAGOA NOVA

UREIA CREATININA...: Nome...: CESAR AUGUSTO CAVALARI Prontuário.: Destino...: HZS - PS (PÓS CONSULTA)

Medico Vet..: HAYANNE K. N. MAGALHÃES Idade...: 8 Ano(s) CRMV...: 2588 Data da conclusão do laudo.:02/11/2018


Evaluation of the use of whole blood bags or blood components in dogs in veterinary clinics in Ribeirão Preto and region.

HEMOGRAMA CAROLINA DE OLIVEIRA GISELLE MORITZ

ENFERMAGEM DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS. DENGUE Aula 3. Profª. Tatiane da Silva Campos

NOVOS CONCEITOS NA MEDICINAL TRANSFUSIONAL DE CÃES E GATOS MARCIO MOREIRA SANIMVET UNVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

Análise Clínica No Data de Coleta: 05/02/2019 1/7 Prop...: RAIMUNDO JURACY CAMPOS FERRO Especie...: CANINA Fone...: 0

HEMOGRAMA, sangue total ================================================== SÉRIE BRANCA =========================================================

TUBERCULOSE HEPÁTICA EM CÃO HEPATIC TUBERCULOSIS IN DOG

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.

AVALIAÇÃO CLÍNICA, HEMATOLÓGICA E HISTOPATOLÓGICA DE TUMORES ESPLÊNICOS EM CÃES

Data da conclusão do laudo.:16/10/2018

Patrícia Ferreira, EV Banco de Sangue Veterinário

Análise Clínica No Data de Coleta: 27/08/2018 1/6 Prop...: SAMARA MARIA NEGUREIRO DE CARVALHO Especie...: CANINA Fone...

HEMOGRAMA JOELMO CORREA RODRIGUES HAILTON BOING JR.

LEPTOSPIROSE EM EQÜINO: ACHADOS CLÍNICOS E LABORATORIAIS LEPTOSPIROSIS IN EQUINE: CLINICAL AND LABORATORY FINDINGS

HEMOGRAMA COMPLETO Material: Sangue Total Método : Automação: ABX MICROS 60 REFERÊNCIAS

TRABALHO CIENTÍFICO (MÉTODO DE AUXÍLIO DIAGNÓSTICO PATOLOGIA CLÍNICA)

Hemograma Material...: SANGUE COM E.D.T.A. Equipamento: PENTRA 120 DX

HEMOGRAMA JEANI LANA FERNANDO ALVES SCHLUP

Análise Clínica No Data de Coleta: 08/04/2019 1/6 Prop...: NATHALIA RONDON BOTELHO DE CARVALHO Especie...: CANINA Fone...

PLATINOSOMOSE EM FELINO DOMÉSTICO NO ESTADO DE SANTA CATARINA RELATO DE CASO

Análise Clínica No Data de Coleta: 07/02/2019 1/4 Prop...: ELIAS FONTENELE VALDEREZ Especie...: CANINA Fone...: 0

Transcrição:

Uso do Prediderm (prednisolona) associado ao micofenolato de mofetil no tratamento de anemia hemolítica imunomediada canina: relato de caso Introdução A anemia hemolítica imunomediada (AHIM) é caracterizada pela redução no número de eritrócitos, resultante da destruição por meio de resposta autoimune (1, 2). Tais respostas são mediadas por anticorpos, as imunoglobulinas IgM e IgG e/ou complemento (3), sendo que a resposta mediada por IgM na maioria das vezes causa hemólise intravascular e a por IgG é mediada principalmente por macrófagos presentes no baço e no fígado (4). A AHIM pode ser classificada como primária ou idiopática, causa mais comum da doença, e ocorre quando os anticorpos são direcionados a eritrócitos normais; ou secundária, quando há alterações antigênicas em casos de neoplasias, drogas, vacinas e doenças infecciosas como leptospirose, babesiose e erliquiose canina (2, 3, 5). A doença ocorre mais comumente em cães do que em gatos, sendo que as raças cocker spaniel, poodle e sheepdog possuem maior predisposição genética, e a idade média de aparecimento das manifestações clínicas é por volta dos seis anos (6). As manifestações mais frequentes são fraqueza, intolerância ao exercício, apatia, anorexia, taquipneia, dispneia, êmese, diarreia e eventualmente poliúria e polidipsia. Os achados mais comuns de exame físico são mucosas pálidas, taquipneia, taquicardia, hepato/esplenomegalia (indicando aumento da atividade do sistema fagocítico mononuclear), febre e linfoadenomegalia (1, 4, 6). As alterações laboratoriais mais comuns são presença de anemia regenerativa com reticulocitose (geralmente com hematócrito inferior a 25%), leucocitose, presença de esferócitos no esfregaço sanguíneo, aumento das enzimas hepáticas, hiperbilirrubinemia, além de hemoglobinúria e/ou bilirrubinúria, auto-aglutinação e teste de Coombs positivo (1, 6), porém, cerca de 10 a 30% dos animais são negativos nesse teste (5). Cerca de 50 a 70% dos animais vão a óbito entre a primeira e a terceira semana de tratamento, na maioria das vezes, devido a tromboembolismo (4, 5, 8). O tratamento da AHIM se baseia na imunomodulação, com o objetivo de diminuir a eritrofagocitose e suprimir a produção de imunoglobulina, o qual pode ser associado a transfusões com sangue total ou concentrado de hemácias, quando necessário (7). Existe uma grande variedade de agentes imunossupressores que podem

ser utilizados como tratamento para a AHIM, como corticoesteróides, ciclosporina, ciclofosfamida, gama globulina humana, danazol, micofenolato de mofetil, azatioprina e leflunomida (2). O uso de glicocorticoides é efetivo e seus efeitos colaterais devem ser acompanhados (4). O micofenolato de mofetil inibe a produção de linfócitos T e B, através da supressão da resposta celular e da resposta imune humoral (9). Relato de caso No Complexo Veterinário da Universidade Cruzeiro do Sul, foi atendida uma cadela, da raça yorkshire, de 3 anos de idade, com histórico de hematúria, prostração, hiporexia e dor abdominal havia 3 dias, o proprietário relatou também ixodidiose. Durante o exame físico, destacava-se hipertermia (40⁰C), mucosas subictéricas e pálidas, taquipneia, taquicardia e esplenomegalia. Realizou-se hemograma, dosagens séricas de ureia, creatinina, alanina aminotransferase (ALT), fosfatase alcalina (FA), albumina e proteínas totais, além do exame ultrassonográfico abdominal. Através dos quais se destacou anemia severa (hematócrito: 17% (referência > 37%); eritrócitos: 2,28 milhões/mm³ (referência > 5,3 milhões/mm³); hemoglobina 5,8 g/dl (referência > 12,0 g/dl), trombocitopenia (129.000 µl (referência > 200.000), leucocitose por neutrofilia (leucócitos totais: 39.700/mm³ (referência < 17.000/mm³); neutrófilos segmentados: 36.127/µL (referência: < 11.500/µL) e aumento das enzimas hepáticas (ALT: 167 U/L (referência < 92 U/L); FA: 771 U/L (referência < 96 U/L) e hipoproteinemia (proteína total: 5 g/dl (referência > 5,5 g/dl), não foram notadas alterações ultrassonográficas dignas de nota. Suspeitou-se de um quadro de hemoparasitose associado à AHIM secundária. Assim, iniciou-se a terapia com doxiciclina (5 mg/kg BID), imidocarb (5 mg/kg 2 aplicações com intervalo de 15 dias entre elas), Prediderm (2 mg/kg BID), suplementação de sulfato ferroso, além de protetores gástricos e hepáticos. Após dois dias, houve discreta melhora na anemia (hematócrito: 19%; eritrócitos: 2,75 milhões/mm³; hemoglobina 6,53 g/dl), na trombocitopenia (163.300 µl), a leucocitose por neutrofilia persistiu (leucócitos totais: 35.600 mil/mm³; neutrófilos segmentados: 31.684/µL), e a anemia foi classificada como arregenerativa por meio da contagem de reticulócitos (contagem corrigida de reticulócitos: 0,80% (referência < 1%: não regenerativa)). Treze dias após o início do tratamento houve piora acentuada do quadro hematológico, com diminuição severa na contagem de eritrócitos (hematócrito: 13%; eritrócitos: 1,8 milhões/mm³; hemoglobina 4,3 g/dl), trombocitopenia (126.000 µl), e

aumento do número de leucócitos (leucócitos totais: 42.000/mm³; neutrófilos segmentados: 39.480/µL). Ao exame físico, as mucosas estavam perláceas e ictéricas. Houve a suspeita de que a AHIM não estava controlada, então, realizou-se transfusão com concentrado de hemácias, e, adicionou-se micofenolato de mofetil (15 mg/kg BID) ao tratamento. Instituído a terapia acima, houve melhora gradativa no quadro clínico e hematológico do animal e 21 dias depois do novo protocolo, a contagem de eritrócitos, plaquetas e proteína total atingiram níveis normais (hematócrito: 38%; eritrócitos: 5,58 milhões/mm³ hemoglobina 12,5 g/dl; plaquetas 262.000 µl; proteína total: 6 g/dl) e a leucocitose diminuiu (leucócitos totais: 25.000/mm³; neutrófilos segmentados: 22.250/µL). Após dez dias de quadro hematológico estável, iniciou-se a redução progressiva na dose dos imunossupressores. Três meses após o início das manifestações clínicas, o animal se mantém estável com o uso de Prediderm (0,5 mg/kg SID) e micofenolato de mofetil (3 mg/kg BID), o tratamento com sulfato ferroso foi cessado. A redução das doses dos imunossupressores ainda está sendo realizada, sem recidiva no quadro. Os efeitos colaterais relatados foram poliúria, polidipsia e polifagia. Discussão O caso descrito pode ser classificado como AHIM secundária, em decorrência da suspeita de sua associação com hemoparasitose, poderiam ter sido realizados exames mais específicos para pesquisa de doenças infecciosas (erliquiose e babesiose), porém, não houve aceitação por parte do proprietário. O aumento sérico de bilirrubina, FA e ureia, além de hipoproteinemia, trombocitopenia, auto aglutinação e aumento no tempo de coagulação estão relacionados a um prognóstico mais reservado (2, 4). No caso supracitado, apesar do animal apresentar aumento de FA, hipoproteinemia e trombocitopenia, o prognóstico foi bom. Os efeitos colaterais observados durante o tratamento foram polidipsia, poliúria e polifagia, secundários ao uso de corticosteroide em doses altas. SWANN, J.W. et al, 2011 (2) realizou estudo retrospectivo comparando diferentes tratamentos imunossupressores (prednisolona e ciclosporina, prednisolona e azatioprina e somente prednisolona) e os efeitos colaterais apresentados estavam relacionados à administração

de corticosteroide, sendo poliúria, polidipsia os mais comuns. Tais achados corroboram com o observado. WANG, A et al., 2013 (9) realizou um estudo retrospectivo comparando diferentes protocolos de imunossupressão para tratamento de AHIM e, constatou que o uso associado de prednisolona e micofenolato de mofetil apresenta resultados semelhantes aos demais protocolos (azatioprina, ciclosporina, e imunoglobulina humana associados a prednisolona). O único efeito colateral observado no grupo tratado com prednisolona e micofenolato de mofetil foi diarreia, a qual não foi observada no caso supracitado. SWANN, J.W. et al, 2013 (8) analisou 19 estudos retrospectivos sobre tratamento de AHIM e concluiu que a monoterapia utilizando prednisolona na dose de 2mg/Kg BID apresenta bons resultados quando comparada a sua associação com outros fármacos imunossupressores, os quais devem ser instituídos quando o uso isolado de prednisolona não for suficiente ou quando se busca diminuir a dose desse fármaco para minimizar os efeitos colaterais. Durante o tratamento, utilizou-se inicialmente apenas a prednisolona (2 mg/kg BID), porém, notou-se progressão do quadro de AHIM, sendo necessário a sua associação ao micofenolato de mofetil. PIEK, C. J. et al., 2011 (10) sugere que o protocolo de prednisolona e azatioprina não é mais eficaz que a monoterapia com corticosteroide no tratamento da AHIM, desse modo, optou-se pela associação da prednisolona ao micofenolato de mofetil. No estudo retrospectivo de SWANN, J.W. et al, 2011 (2) a taxa de mortalidade após um ano de tratamento foi de 80% no grupo tratado com prednisolona e azatioprina, 45% com prednisolona e ciclosporina e 40% nos animais que utilizaram somente prednisolona, no caso descrito, o animal se mantém estável após três meses de tratamento, com melhora dos efeitos colaterais ocasionados pelo uso da prednisolona após a redução da dose, ainda não se sabe qual será a sobrevida, uma vez que o animal ainda se mantém em tratamento. WANG, A et al., 2013 (9), descreveu que 67% dos animais tratados com micofenolato de mofetil sobreviveram após 60 dias de terapia, porcentagem também encontrada nos demais protocolos de imunossupressão. No caso descrito, o período de sobrevida já completou 90 dias. Em contraste com a recomendação de imunossupressão contínua por toda a vida, os resultados de dois estudos sugerem que a imunossupressão por aproximadamente três meses é suficiente (4, 7). No entanto, 10% dos casos apresentam recidiva no quadro de

AHIM após quatro anos da primeira crise hemolítica (4, 10). A diminuição das doses dos imunossupressores já foi iniciada no caso relatado, espera-se cessar o uso de medicações sem recidiva no quadro. Conclusão A proposta desse relato foi descrever um caso de AHIM tratado com associação de imunossupressores, e, baseado nos nossos achados, o uso de Prediderm na dose de 2 mg/kg - BID e de micofenolato de mofetil na dose de 15 mg/kg BID se mostrou eficaz no controle da AHIM. Referências (1) ANDRADE, S. F. et al. Anemia hemolítica em cães: Relato de caso. Colloquium Agrariae, vol 6, No 1, Jun 2010. (2) SWANN, J. W.; SKELLY B. J. Evaluation of immunosuppressive regimens for immune-mediated haemolytic anaemia: a retrospective study of 42 dogs. Journal of Small Animal Practice, vol 52, Jul 2011. (3) MORAES, L. F.; TAKAHIRA, R. K. Avaliação dos distúrbios hemostáticos e dos diferentes marcadores prognósticos clínico-laboratoriais em cães com anemia hemolítica imunomediada. Revista Veterinária e Zootecnia, vol 20, Mar 2013. (4) PIEK, C. J. et al. Idiopathic immune-mediated hemolytic anemia: Tratatment outcome and prognostic factors in 149 dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine, vol 22, 2008. (5) NELSON, R. W; COUTO, C. G. Doenças imunomediadas comuns. Em: Medicina interna de pequenos animais. Rio de Janeiro: Mosby Elsevier, 2010. Quarta edição, cap. 104 p. 1409 1416. (6) LEITE, J. H. A. C.; CARVALHO, L. C. N.; PEREIRA, P. M. Anemia hemolítica imunomediada em cães relato de três casos. Semina: ciências agrárias, vol 32, No 1, p. 319-326, mar 2011. (7) PIEK, C. J. et al Lack of evidence of a beneficial effect PF azathioprine in dogs treated with prednisolone fos idiopathic immune-mediated hemolytic anemia: a retrospective cohort study. BMC Veterinary Research, vol 7, 2011. (8) SWANN, J. W.; SKELLY, B. J. Systematic review of evidence relating to the treatment PF immune-mediated hemolytic anemia in dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine, vol 27:1, 2013.

(9) WANG, A; SMITH, J. R.; CREEVY, K. E. Treatment of canine idiopathic immunemediated haemolytic anaemia with mycophenolate mofetil and glucocorticoids: 30 cases (2007 to 2011). Journal of Small Animal Practice, vol 54, p. 399 404, Ago 2013. (10) PIEK, C.J.; VAN SPIL, W.E.; JUNIUS, G.; DEKKER, A. Lack of evidence of a beneficial effect of azathioprine in dogs treated with prednisolone for idiopathic immune-mediated haemolytic anaemia: a retrospective cohort study. Veterinary Research, 7:15, 2011.