Ambiente e Saúde: Investigação e desenvolvimento para o futuro Algumas notas para concluir Viriato Soromenho-Marques Fundação Calouste Gulbenkian, Auditório 3, 7 de Abril de 2009
Índice 1. Ambiente e Saúde: um binómio com história. 2. Ambiente e Saúde na construção europeia. 3. Que prioridades de investigação num tempo de recursos decrescentes? 4. Tarefas em aberto. 2
1. Ambiente e Saúde: um binómio com história 3
Ambiente e Saúde: políticas públicas unidas desde o início 1843: Manchester Association for the Prevention of Smoke 1854: John Snow desvenda o mistério da transmissão da cólera e lança as bases da epidemiologia. 1863: Alkali Act: controlo da libertação do cloreto de hidrogénio no processo de produção do carbonato de sódio. 4
e na fundação do conceito contemporâneo de ambiente. 1956: início da grande contaminação por mercúrio em Minamata, Japão. 1962: A Silent Spring, de Rachel Carson, lança o alerta para os riscos do DDT e as bases para o New Environmentalism. 1972-73: A Comissão Nacional do Ambiente promove os primeiros estudos e acções sobre contaminação das praias da Costa do Sol. 5
2. Ambiente e Saúde na construção europeia 6
Tratado de Roma, 1957, Euratom (1) Toma medidas para a protecção dos trabalhadores e do público perante o risco da radioactividade e os riscos associados ao tratamento dos resíduos nucleares. Artigo 2 Sobre pesquisa, informação e parâmetros básicos comuns 7
Tratado de Roma, 1957, Euratom Artigo 30 (2) Definição do que são parâmetros básicos comuns para a protecção da saúde dos trabalhadores e do público Foi a base da primeira lei ambiental europeia: Directiva 59/221 8
Tratado de Roma, 1957, CEE (2) Artigo 36 (30) Limita o império da livre circulação de mercadorias a proibições ou restrições baseadas nos seguintes fundamentos: moralidade, ordem pública, segurança pública; de protecção da saúde e da vida das pessoas e animais ou preservação das plantas; de protecção do património... 9
Acto Único Europeu (1986) Título VII Ambiente (com Maastricht passou a título XVI e com Amesterdão a título XIX) Artigo 130 R (depois de Amesterdão, 174) (1) Objectivos da política europeia de ambiente: a preservação, a protecção e a melhoria da qualidade do ambiente; a protecção da saúde das pessoas; a utilização prudente racional dos recursos naturais. 10
O Tratado de Amesterdão (1997) e o Ambiente-Saúde Aumento da competência legal da Comunidade em matéria de saúde pública (Art.º 152ª [ex-art.º 129 TCE]). Defesa do consumidor como política de integração horizontal ( Art.º 153º, ex- (Art.º 129A do TCE). 11
Estratégias e financiamentos European and Environment Health Plan (2004-2010). Community Public Health Programme. Research Framework Programmes. Plano Nacional de Acção Ambiente e Saúde (PNAAS, 2008-2013). 12
3. Que prioridades de investigação num tempo de recursos decrescentes? 13
Proposta de uma tipologia Diferenciação de três domínios de acordo com diversos critérios: a) estado da arte; b) situação legislativa e sua eficácia; c) capacidades humanas e materiais instaladas. 14
(A) Investigação de alargamento e aplicação Domínios em que existe já uma ampla legislação nacional e comunitária; capacidade humana e laboratorial instalada, abundante literatura de referência. Uma grande parte dos estudos em torno da qualidade do ar, da água, dos alimentos, entre outros domínios. 15
(B) Investigação em áreas de incerteza e inovação Domínios em plena fase de I&D, mas onde a competição económica faz acelerar o passo de entrada no mercado; legislação nula ou mínima; grande pressão de interesses instalados; escassez de conhecimento, capacidades e fundos. Casos típicos: OGM; campos electromagnéticos; nanotecnologias, etc 16
(C) Investigação em áreas de impacto global e transversal Domínios com características estruturais, de alcance global, afectando a esfera (A), com crescimento transversal e não-linear. Resilientes à legislação, reclamando medidas de adaptação. Grande potencial de risco sanitário, político e estratégico O caso central será o das alterações climáticas. 17
Recomendações SIAM 2002/6 Algumas doenças transmitidas por vectores e roedores (malária, febre do Nilo-Ocidental, Leishmaniose, Febre Escaro-Nodular, Leptospirose). Embora as conclusões do estudo em apreço estejam longe de qualquer espécie de alarmismo, pode depreender-se que muitas são ainda as lacunas de investigação. 18
Casos inquietantes (1) a) No Hawaii, uma espécie de ave endémica desse território (honeycreepers) está a ser dizimada pela malária, pois o aumento das temperaturas permite aos mosquitos elevarem o seu tecto de voo dos 762 metros (valores registados na década de 1960) para os 1 500 metros actuais; 19
Casos inquietantes (2) b) o incremento em 30% dos casos de febre Dengue no Brasil, transmitida pelo mosquito Aedes, pode ter também conexão com o aumento das temperaturas; 20
Casos inquietantes (3) c) A expansão da doença da língua azul no gado doméstico europeu, quando se tratava de uma patologia restrita a África, poderá também ser considerada como um exemplo da migração de patologias induzida pelas alterações climáticas. 21
Preparar a Europa e Portugal Green Paper. Adapting to Climate Change in Europe Options for EU Action, divulgado em 29 de Junho de 2007. Natureza transversal dos impactos sobre saúde humana e animal. Impacto dinâmico e com crescimento nãolinear. 22
4. Tarefas em aberto 23
Ganhar eficácia 1. Estabelecer consensos que sejam reais e que funcionem (exemplo: serão as alterações climáticas realmente importantes para as políticas públicas em Portugal?). 2. Articulação entre entidades públicas e privadas geradoras de financiamento. 24
Aumentar a capacitação 3. Incrementar as iniciativas de disseminação de conhecimento e capacitação de quadros nas áreas do ambiente e saúde. 4. Monitorizar as políticas e medidas para garantir a sua implementação, aprendendo com os erros para as etapas seguintes. 25
Livro Investigação em Ambiente e Saúde. Desafios e Estratégias, Carlos Borrego et alia, Aveiro, Universidade de Aveiro, 2009, pp. 95-98. 26