01912 ENSAIO SOBRE EDUCAÇÃO SUPERIOR DO CAMPO: CONTEXTUALIZAÇÃO DAS LICENCIATURAS EM EDUCAÇÃO DO CAMPO Hellen do Socorro de Araújo Silva- UFPA/SEDUC RESUMO Este ensaio é resultado parcial do estudo desenvolvido na tese de doutoramento da Universidade Federal do Pará (UFPA), na Linha de Pesquisa Educação, Cultura e Sociedade do Programa de Pós-Graduação em Educação. O texto versa sobre a educação superior do campo com destaque para as licenciaturas em educação do campo. A investigação teve como objetivo analisar como a educação superior do campo está apresentada e articulada nas produções teóricas das revistas no período de 2009 a 2013. A metodologia utilizada se ancora na pesquisa exploratória e revisão de literatura a partir dos levantamentos feitos no banco de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Para a coleta de informações utilizamos uma ficha contendo: título, o que trata o texto e os resultados apresentados. Após o preenchimento desta ficha iniciamos as apreciações das informações coletadas. No processo de análise realizamos a interpretação dos dados disponíveis nos resumos e em alguns casos, sendo necessária a leitura da introdução para melhor compreender o que de fato tratavam os trabalhos. Os resultados apontam que o debate da educação superior do campo se faz presente nas produções acadêmicas ainda de forma tímida, os textos lidos abordam o contexto histórico e político dos movimentos sociais ligados a terra, apresenta o processo de reivindicação do referido movimento pelo direito a educação básica e aprofunda as reclamações de forma articulada pelo direito de acesso e permanência a educação superior por meio das licenciaturas a educação do campo, mas que respeite e valorize suas identidades e diversidades. Palavras- chave: Educação Superior do Campo. Licenciatura em Educação do campo. Movimentos Sociais. INTRODUÇÃO Está análise versa sobre o estado do conhecimento feito acerca da educação superior do campo com ênfase para as licenciaturas em educação do campo, a fim de aprofundarmos as reflexões teóricas e metodológicas que estão apresentadas nas produções acadêmicas identificadas, lidas e sistematizadas. A partir destas informações o texto se norteia pela seguinte questão problema: Como a educação superior do campo está apresentada e articulada nas produções teóricas das revistas indexadas nos periódicos da CAPES? Com base nesta inquietação tivemos como objetivo analisar a educação superior do campo a partir das produções teóricas das revistas indexadas nos periódicos da CAPES no período de 2009 a 2013. As construções teórico- metodológicas estão ancoradas na pesquisa exploratória com destaque para uma revisão de literatura a partir dos textos estudados, para que pudéssemos avaliar e encontrar os resultados desta investigação.
01913 O levantamento das produções sobre educação superior do campo em articulação com as licenciaturas em educação do campo se deu nos periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), momento em que procuramos pela temática educação superior do campo, nesta procura encontramos um total de 946 artigos. Quando delimitamos pela série histórica (2009 2013) ficou um quantitativo de oitocentos e trinta e oito (838) e ao filtramos as informações para o foco da educação, obtivemos um total de cem (100) artigos dos quais realizamos a leitura dos temas e posterior a isso dos resumos, para reaproximarmos da educação do campo. Desta forma, analisamos um total de nove (9) artigos encontrados nas revistas indexadas pelas CAPES, que tiveram aproximação com a categoria central deste estudo. Os procedimentos de análise seguiram os seguintes passos: primeiro fizemos a leitura dos títulos para identificar à temática, segundo fizemos a leitura do resumo, a fim de perceber o que tratavam e quais os resultados encontrados e terceiro realizamos a análise interpretativa para verificarmos as principais temáticas definidas pelos trabalhos analisados. EDUCAÇÃO SUPERIOR DO CAMPO: AS LICENCIATURAS DO CAMPO EM DEBATE NAS REVISTAS INDEXADAS A CAPES O entendimento sobre a concepção de educação do campo tem seu marco epistemológico às reivindicações do MST que na luta pela reforma agrária, começaram a pautar em suas reivindicações o direito a educação às populações que estão ligadas a terra na busca por políticas públicas e melhores condições de vida. As licenciaturas em educação do campo são colocadas como central no debate de implementação das políticas de formação na II Conferências Nacional Por Uma Educação do Campo, que ocorreu em 2004 em Luziânia/GO. Assim quando os movimentos sociais exigiram do poder público a oferta das séries finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio, foi colocado como justificativa que havia uma insuficiência de profissionais para atuarem nas áreas especificas, daí nesta conferência se tirou como demanda ampliar as políticas de formação em educação superior que atendesse educadores do campo. O movimento envolvido na luta pelo acesso a educação superior iniciou sua defesa pelas licenciaturas por área de conhecimento, acreditando que referida mudança curricular é uma ferramenta para provocar as transformações da escola, que ao longo da
01914 história vem se mantendo de forma disciplinar, fragmentada, o que dificulta a organização do trabalho pedagógico. Diante destas reivindicações em 2007 algumas universidades públicas desenvolveram experiências pilotos de formação superior aos educadores do campo, entre aos quais se destacam: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de Brasília (UNB), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Sergipe (UFS), estas foram desafiadas a dialogar com os movimentos sociais e sindicais, a fim de reconstruir o saber acadêmico na perspectiva de considerar a pedagogia construída pelos movimentos sociais ao longo da história brasileira. Nos artigos analisados procuramos situar o diálogo entre o movimento pela educação do campo e as perspectivas de acertar com as licenciaturas em educação do campo em uma perspectiva contra-hegemônica. Nesse contexto, o artigo referente aos avanços e desafios na construção da educação do campo publicado na Revista Em Aberto no ano de 2011, há um direcionamento para a articulação dos movimentos sociais que integram o debate do Movimento Por Uma Educação do Campo, em que situa a busca por alternativas para romper com projeto educacional hegemônico que se firmaram ao longo da história brasileira, para isso formulam propostas educativas contra-hegemônicas para que os sujeitos do campo possam pautar suas ações como projeto político integrado e interdisciplinar. O texto intitulado das políticas ao cotidiano: entreves e possibilidades para a educação do campo alcançar as escolas no rural publicado em 2010 na Revista Avaliação, Políticas Públicas Educacionais, apresentam reflexões referentes a viabilidades das políticas públicas educacionais que comece a integrar o rural, como território que precisa reconhecer sua identidade e engajar-se nos movimentos que reivindicam melhores condições de vida e que compreenda a educação como um direito. Na publicação do texto Educação do Campo e desigualdades sociais e educacionais apresentado na Revista Educação e Sociedade em 2012, há um destaque para a gênese das lutas e práticas da educação do campo, critica a concentração da terra que ainda permanece com o latifúndio em nosso país, porém há evidências para as conquistas do movimento por uma educação do campo desde os anos 90 e coloca em pauta, suas discussões e dificuldades judiciais para o acesso a educação superior. Neste contexto a formação de educadores do campo em diálogo com as universidades públicas, tem como principal demanda oferecer uma educação superior em sintonia com as histórias de vida, de luta e que valorize a identidade das populações
01915 do campo. No periódico que retratou da produção do conhecimento na formação de educadores do campo publicado na Revista Em Aberto em 2011, o foco central foi a articulação entre os saberes socioculturais dos jovens que protagonizam a diversidade do campo, seu território de vivência e que na conquista pelo acesso a educação superior desafia a universidade a repensar sua forma hegemônica de construção do conhecimento. Outro exemplo apresentado nos inscritos intitulados A formação de educadores na perspectiva da educação do campo: reflexões sobre o 1º curso de Pedagogia da Terra da Via Campesina divulgado na Revista Contexto & Educação em 2010 e a relação entre universidade e movimentos sociais como princípio da construção crítica da educação do campo publicado na Revista Olhar do Professor em 2012 há uma ênfase para repensar sobre que identidade do pedagogo a universidade pretendia formar, uma vez que os sujeitos apresentavam seu vínculo com o movimento de educação vivida nos assentamentos e para isso necessitavam de uma pedagogia que viesse valorizar a práxis educativa e a pedagogia de seu movimento. Outro artigo que merece destaque nesta construção versa sobre Por uma educação do campo que contemple as parcerias nos processos formativas e as formas identitárias dos povos do campo divulgado na Revista Olhar do Professor no ano de 2012, neste ensaio se realça a importância da articulação entre os conhecimentos construídos no contexto das escolas com os saberes acadêmicos, sempre se atentando para as questões identitárias em que se consideraram as demarcações já conquistadas nas legislações educacionais. Nesse sentido, o artigo referente a educação do campo e a construção do conhecimento: tensões inevitáveis no trato com as diferenças apresentado na Educação Em Revista em 2013 traz como debate central a tensão entre a epistemologia defendida na universidade, a política de expansão de vaga na educação superior e a necessidade de construir projetos pedagógicos de curso que considerassem as licenciaturas por área de conhecimento e que construísse um currículo voltado para a alternância pedagógica com tempos destinados para o Tempo Universidade e o Tempo Comunidade. O artigo intitulado concepções e práticas de alternâncias na educação do campo: dilemas e perspectivas apresentado na Revista Estudos sobre Educação em 2011 destaca que pensar a educação superior aos sujeitos do campo é ser favorável a mudança de concepção de universidade que esteja para atender as populações que se apresentam como diferente no acesso ao conhecimento.
01916 CONSIDERAÇÕES FINAIS As reivindicações pelo direito a educação básica e superior dos sujeitos ligados a terra e as águas têm fundamentalmente seu ponto de partida no PRONERA, que apesar das dificuldades na sua execução tem no conjunto das ações realizadas garantindo alguns avanços muito importantes, como por exemplo, o curso de pedagogia da terra (MOLINA, 2002, p. 28), que foi e é desenvolvido por iniciativa dos movimentos sociais em parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e a aprovação das legislações, entre as quais destacamos a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) Nº 9.394/96, as Diretrizes Operacionais para Educação Básica das Escolas do Campo (2002), a Resolução nº 02 de 2008 e o Decreto nº. 7. 352, de 4 de novembro de 2010. Esses avanços são pontos importantes para educação do campo na estratégia de ocupar os espaços institucionais com a perspectiva de transformar programas, convênios, acordos em projeto de lei, com o objetivo de implementar tais leis no contexto da prática educativa, é o que almeja as licenciaturas em educação do campo no contexto das universidades públicas. REFERÊNCIAS BRASIL, Ministério da Educação. Decreto n. 7.352, de 04 de novembro de 2010. Dispõe sobre a política de educação do campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária- PRONERA. Diário Oficial da União, Brasília, 2010.. Diretrizes complementares. MEC/SECAD. CNE/CEB, resolução nº 2, de 28 de abril de 2008.. Diretrizes Operacionais para Educação Básica das Escolas do Campo. MEC/SECAD. CNE/CEB, nº 1, de 3 de abril de 2002.. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. MOLINA, Mônica Castagna. Desafios para os Educadores e as educadoras do campo. In: KOLLING, Edgar Jorge; OSFS, Paulo Ricardo Cerioli; CALDART, Roseli Salete (Org.). Educação do Campo: identidade e políticas públicas. Brasília, DF: articulação nacional Por Uma Educação do Campo, 2002. Coleção Por Uma Educação do Campo, n.º 4.