MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Nº 17599/CS



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Transcrição:

Nº 17599/CS RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS Nº 115.083/MG RECORRENTE: DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO PACIENTE: HÉLIO LÚCIO DE QUEIROZ RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RELATOR: MINISTRO LUIZ FUX LEI MARIA DA PENHA. AUDIÊNCIA PREVISTA NO ART. 16. NÃO REALIZAÇÃO. PLEITO DE NULIDADE. PARECER PELA DENEGAÇÃO DA ORDEM. PREVISÃO DA AUDIÊNCIA COMO FORMALIDADE ESTABELECIDA EM FAVOR DA VÍTIMA, AGREDIDA, NÃO EM FAVOR DO RÉU, AGRESSOR. AUSÊNCIA DE OBRIGATORIEDADE. 1. Trata-se de recurso ordinário em habeas corpus interposto pela DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO em favor de HÉLIO LÚCIO DE QUEIROZ, contra decisão do Superior Tribunal de Justiça que denegou o Habeas Corpus nº 167.898/MG, em acórdão assim ementado: HABEAS CORPUS. AMEAÇA. LEI MARIA DA PENHA. NATUREZA DA AÇÃO PENAL. REPRESENTAÇÃO DA VÍTIMA. NECESSIDADE. AUDIÊNCIA PRELIMINAR. ART. 16 DA LEI 11.340/06. NÃO REALIZAÇÃO. NULIDADE INEXISTENTE. 1. O art. 16 da Lei Maria da Penha determina que deverá ser designada uma audiência, antes do recebimento da denúncia, na qual será admitida renúncia da vítima em casos de ação penal pública condicionada à representação. 2. Contudo, tal ato processual não se reveste de caráter obrigatório, sendo providência excepcional, cuja realização deverá ocorrer se a parte manifestar interesse expresso ou tácito em renunciar à representação feita, antes do recebimento da denúncia, o que não ocorreu na espécie. 3. Habeas corpus denegado.

2. O paciente foi condenado à pena de 3 (três) meses de detenção, em regime aberto, como incurso no art. 147 do Código Penal, com a redação dada pela Lei nº 11.340/06, substituída a pena privativa de liberdade por uma medida restritiva de direitos. 3. O Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais negou provimento ao apelo defensivo e o Superior Tribunal de Justiça, como já relatado, denegou a ordem em habeas corpus. 4. Este, pois, o motivo da impetração do presente recurso ordinário, em que se sustenta, em síntese, a nulidade do processo por inobservância do disposto no art. 16 da Lei 11.343/06, uma vez que não foi dado à vítima a oportunidade de exercer o direito de retratação, em audiência especialmente designada para esse fim. 5. O parecer é pelo desprovimento do recurso. 6. Diz o artigo 16 da Lei 11.340/06: Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. 7. Somente a leitura desse dispositivo já desautoriza interpretação no sentido da obrigatoriedade de realização de audiência especificamente marcada para uma possível retratação da vítima. Dispõe, em verdade, tão só, acerca da obrigatoriedade de que a retratação, se por algum modo for sinalizada, ocorra em audiência designada para este fim.

8. Entender-se pela obrigatoriedade de haver audiência designada com o fim de permitir a retratação da vítima consistiria em benesse para o agressor, interpretação que passa ao largo dos escopos da denominada Lei Maria da Penha. 9. Antes, teve a lei, ao prever a possibilidade de retratação da vítima somente diante do magistrado, o cuidado de dar maior formalidade a ato outrora permitido até mesmo em sede policial. Teve, pois, como objetivo, proteger a vítima, afastando-a, ainda que por um pouco, das ingerências do agressor. 10. Assim, distanciando-se do real objetivo da lei, toma a defesa a audiência do artigo 16 como um ato previsto em favor do réu, agressor, quando, em verdade, sua previsão buscou proteger a vítima, agredida. 11. Neste sentido o entendimento de Guilherme de Souza Nucci 1 : Não é incomum que mulheres, quando o crime depende de representação (ex: ameaça), registrem ocorrência na delegacia de polícia, apresentem representação e, depois, reconciliadas com seus companheiros ou maridos, busquem a retratação da representação, que, alguns autores denominam de renúncia, evitando-se com isso o ajuizamento da ação penal ou o seguimento para a transação, quando viável. Por outro lado, a autêntica renúncia seria a vítima manifestar, claramente, a sua intenção em não representar. De toda forma, o art. 16 da Lei 11.340/2006 procura dificultar essa renúncia ou retratação da representação, determinando que somente será aceita se for realizada em audiência especialmente designada pelo juiz, para essa finalidade, com prévia oitiva do Ministério Público. ( ) O encaminhamento do pedido de desistência poderá ser feito pela autoridade policial, que, 1. Leis penais e processuais penais comentadas/guilherme de Souza Nucci 3. ed. rev. atual. e ampl. 2. tir. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais, 2008, págs. 1138

provavelmente, será procurada pela mulher vítima, podendo esta comparecer diretamente ao fórum, solicitando que seja designada data para tanto. Portanto, o que se pretende, em verdade, é atingir um maior grau de solenidade e formalidade para o ato, portanto, busca-se alcançar maior grau de conscientização da retratação da mulher, que afastará a punição do agressor. (Grifou-se) 12. A propósito, segue jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que adotou o entendimento de que a audiência prevista no art. 16 da Lei n. 11.340/2006 não é obrigatória, devendo ser provocada pela vítima, caso deseje, antes de recebida a denúncia: HABEAS CORPUS. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. PACIENTE CONDENADO PELA PRÁTICA DO CRIME DE LESÃO CORPORAL (ART. 129, 9º, DO CÓDIGO PENAL). AUDIÊNCIA DE RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO. DESIGNAÇÃO. AUSÊNCIA. OBRIGATORIEDADE. INEXISTÊNCIA. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO DEVIDO PROCESSO LEGAL. IMPROCEDÊNCIA. ORDEM DENEGADA. I A mera declaração de que a própria ofendida teria dado início às agressões não revela o nítido propósito de desistir do prosseguimento da ação. II - O art. 16 da Lei 11.340/2006 prevê que a audiência designada para a vítima expressar o seu desejo de renunciar à representação deve ser realizada em momento anterior ao recebimento da denúncia, o que não se verificou no caso em análise, uma vez que o suposto desejo teria sido manifestado somente na audiência de instrução e julgamento, de modo que não há falar, pois, em ofensa ao devido processo legal. III Tal disposição legal não visa beneficiar o réu, mas tem por escopo formalizar, perante o magistrado, o ato de retratação, com o objetivo de proteger a vítima, afastando-a, das ingerências do agressor. IV- Ordem denegada. (HC 109176, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 04/10/2011, DJe-220 DIVULG 18-11-2011 PUBLIC 21-11-2011)

13. Pelo exposto, manifesta-se o Ministério Público Federal pelo desprovimento do recurso ordinário. Brasília, 5 de setembro de 2012 CLÁUDIA SAMPAIO MARQUES Subprocuradora-Geral da República