parte 1 20/12/07 14:23 Page 7 Os Fatos A LGUNS ANOS ATRÁS, no East Side de Manhattan, não muito longe da Bloomingdale s, um homem abriu uma lanchonete onde se vendiam diet shakes, deliciosos milk shakes de chocolate com apenas 77 calorias. Bem, vou lhes contar, gordinhas vinham de toda parte e faziam fila em torno do quarteirão na hora do almoço. Só 77 calorias, e tão gostoso! Eu era uma das que tomavam dois todo dia na hora do almoço. Muitas perguntavam ao homem da lanchonete qual era a fórmula. Ele apenas sorria e dizia: Um ingrediente secreto. As gordinhas começaram a duvidar que os shakes tivessem apenas 77 calorias. Organizaram um comitê e foram até a Prefeitura (ou seja lá onde for que se faça esse tipo de queixa) e a Comissão de Alimentos e Medicações (ou seja lá quem faça
parte 1 20/12/07 14:23 Page 8 8 essa espécie de coisa) pedir uma investigação. Havia mais de 280 calorias naqueles diet shakes! Como ele pôde fazer uma coisa dessas? Como pôde mentir desse jeito?, foi um piti geral. Estou me suicidando. VOCÊ QUER VIVER NUM MUNDO ONDE UM HOMEM É CAPAZ DE MENTIR SOBRE CALORIAS? É. Vou me matar. Quando encontrarem o corpo em meu minúsculo e caríssimo apartamento conjugado, ele vai estar caído sobre este bilhete. Meu pai vai lê-lo e balançar a cabeça. Minha mãe vai levá-lo, junto com um copo de leite quente, todas as noites para a cama, e ler um trecho enquanto lentamente esfrega creme hidratante contra rugas nas mãos e no rosto. Minha irmã vai passar os olhos nele, e meus amigos... meus amigos? Não, eles não existem de verdade, desculpem. Meu nome é (ou era?) Sheila Levine. Sheila Levine? Gente com um nome desses não fica por aí se matando. O suicídio é tão antijudaico. Enquanto era viva, morava no número 211 da Rua 24 Leste, antes disso na Rua 65, antes na Rua 13 Oeste, antes em Franklin Square, Long Island, antes em Washington Heights. O que significa que existem apenas cerca de umas cem mil outras garotas judias como eu. Exatamente como eu, todas com cabelos que precisam ser alisados, narizes que precisam ser corrigidos, e todas à caça de marido. TODAS À CAÇA DE MARIDO. Bem, garotas, todas vocês beldades judias, boas novas! Sheila Levine desistiu de lutar e vai morrer. Por que uma boa menina judia faria algo tão estúpido como se matar? Por quê? Porque estou cansada. Passei dez anos de minha vida tentando me casar, e estou cansada. Agora
parte 1 20/12/07 14:23 Page 9 9 sei que nunca vai acontecer comigo. Ora, qual é, nunca tive uma chance. FATO: Nascem 103 garotas para cada 100 garotos. Bem, vocês já perceberam que sou uma das três sobrando. FATO: Muitos garotos judeus, à la Portnoy, cresceram com uma relação de amor e ódio com suas mamães judias e fazendo votos de casarem-se com uma não-judia. Assim, sou etnicamente indesejável. Louras magrelas e sem peito são in garotas judias, polonesas e italianas são out. FATO: Muitas garotas não-judias querem se casar com um garoto judeu. São encorajadas a isso pelas mães, porque rapazes judeus não bebem, não são dados a farras e são ótimos maridos. As garotas judias querem se casar com eles pelas mesmas razões, e porque maridos judeus deixam as mulheres ter empregadas. FATO: Esta é a era do homossexual judeu. Mais garotos judeus viram bichas do que meninas judias viram sapatões. ESTE PAÍS PERDEU MAIS RAPAZES JUDEUS PARA O HOMOSSE- XUALISMO DO QUE EM QUALQUER GRANDE GUERRA. FATO: Existem mais rapazes que acham o casamento ultrapassado, demodé, do que garotas. Feministas, detesto desapontá-las, mas há poucos membros da nossa classe que não desistiriam de uma reunião do grupo em troca de uma noite de núpcias. FATO: A cidade de Nova York está inundada por milhares de garotas à caça de maridos, em número bem maior que os rapazes à cata de esposas. FATO: SHEILA LEVINE NUNCA VAI CASAR. NUNCA TEVE UMA CHANCE.
parte 1 20/12/07 14:23 Page 10 10 Bem, pápi, posso ouvir você dizendo à mãmi: E daí? Ela ainda não casou. Mas o que há de tão ruim em não se casar que a levou a fazer uma coisa tão horrível? (Ela se matou, pápi. Foi essa a coisa horrível que fez. Diga logo, vai fazê-lo sentir-se melhor.) Ora vamos, seja justo. Foram mãmi e você que me ensinaram como o casamento é importante. Nascida a 12 de agosto, trinta anos atrás... Meu Deus, mas que menina bonita... Então é uma garota, Manny? Você sabe o que isso significa, tem que pagar o casamento dela... Um dia de nascida! Um dia de nascida, e já falavam em casamento. Mãmi, você costumava contar uma história: Levei Sheila ao médico com um mês de idade. Estava tão preocupada porque tinha uma pequena marca no rosto. Você sabe como acho o rosto uma coisa importante. E sabe o que ele me disse? Não se preocupe, Bernice, já terá desaparecido quando ela se casar. Casar? Olha esse negócio de novo, pápi, e eu só tinha um mês de idade. Vocês me ensinaram direitinho. Compraram bonecas, pratinhos e fogõezinhos para brincar de casinha. Eu era a mamãe, Larry Singer o papai. Olhe só para eles dois, como brincam juntinhos. Não seria maravilhoso que se casassem quando crescessem? Vocês sabem quem está falando. É a mãe da garota. Quando se ouve a palavra casamento, é sempre a mãe da garota.
parte 1 20/12/07 14:23 Page 11 11 Mas não é só culpa dos pais. Escutava isso em toda parte. Também li aqueles romances com o galã e a mocinha, e eles tinham um papai e mamãe casados. Na Arca de Noé, tudo vinha aos pares. Tudo vem aos pares, menos Sheila Levine. O que você quer ser quando crescer, Sheila?... Quero ser uma boa esposa e uma boa mamãe.... Boa menina. É, aprendi desde cedo que era melhor me casar. Uma mãe judia quer os filhos longe do exército e as filhas a caminho do altar. Desde o berço que escutamos: Será o maior dia da minha vida quando eu dançar em seu casamento.... Se ao menos vivesse o bastante para ver minhas filhas casadas, morreria feliz. Eu tentei. Tentei me casar, ter uma cama de casal tamanho gigante, toalhas douradas e um faqueiro de prata para doze pessoas. Tentei durante anos, e o que tenho? Minha velha cama de solteiro, toalhas esburacadas, porque moças solteiras compram roupas em vez de toalhas, e quatro garfos três roubados de minha mãe e um do Sardi s.