Introdução ao Estudo do Direito II Título IV - Regras e sistema jurídico o meio ambiente. Luhman, consistência. princípios e regras

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Transcrição:

Introdução ao Estudo do Direito II Título IV - Regras e sistema jurídico Caracterís*cas do Sistema Jurídico: O sistema jurídico é cons*tuído por elementos que o tornam organizado e consistente, assim como substancialmente menos complexo que um o meio ambiente. Como alude Luhman, baseia-se no valor da consistência. Os elementos são princípios e regras jurídicas, organizados por um critério próprio de validade aplicável aos princípios e às regras.. Pertença vs. aplicabilidade: o conjunto de regras e princípios aplicados num sistema é maior que o conjunto dos elementos do sistema. Assim, podem ser aplicadas regras que já deixaram de vigorar ou regras provenientes de sistemas estrangeiros.. Importância: a aplicação do direito exige a organização sistemágca, valorizada no próprio ordenamento posi*vo (unidade do sistema jurídico e espírito do sistema, arts. 9º e 10º).. Formação do Sistema: a formação é paradoxal. Para que as regras e os princípios formem um sistema, é preciso que o sistema exista, e para que o sistema exista, são necessários princípios e regras. Em termos teóricos,. Produção: o sistema forma-se a par*r de uma regra de produção, que irá criar um sistema ao qual pertencerão os princípios e as regras jurídicas. A função de produção é desempenhada pela ConsGtuição. Por norma, o sistema não se forma de raíz (ex novo), recebendo, os novos sistemas, dos sistemas anteriores. Componentes do Sistema Jurídico: os sistemas são cons*tuídos por princípios e regras jurídicas.. Princípios jurídicos: os princípios podem ser programá*cos, formais ou materiais.. Princípios programágcos: definem obje*vos por forma a alcançar um fim, ganhando assim uma função orientadora (exemplo: construção de uma sociedade justa, livre e solidária). Tornam obrigatórias as condutas que permitam a*ngir esses fins e proibidas as condutas que impeçam alcançálos.. Princípios formais: como concre*zações dos programá*cos, são os princípios da jusgça, da confiança e da eficiência. Estes princípios são consgtugvos e regulagvos, não sendo possível construir direito sem eles ou regular/solucionar casos concretos.. Princípios materiais: como concre*zações dos formais, são mais ou menos congngentes. Apenas realizam uma função regulagva. - Princípio formal da jusgça: concre*za-se em princípio da igualdade (tratamento igual ao que é igual e desigual ao que é desigual) e princípio da proporcionalidade (os meios u*lizados devem ser adequados aos fins que se pretendem a*ngir). - Princípio formal da confiança: concre*za-se no principio da alteração da lei por razões obje*vas, da ignorância da lei não jus*ficar a violação e da não retroa*vidade da lei nova (não a*ngir factos anteriores). - Princípio formal da eficiência: concre*za-se, por exemplo, no princípio da alocação dos meios necessários para a*ngir obje*vos definidos.. Critério da OGmização: a medida de atuação dos princípios deve ser a máxima que for compawvel com todos os demais princípios - evitar a expressão os princípios têm peso e medida. A sua única medida de atuação deve ser a máxima compawvel com os restantes. - Princípio materiais e o critério de ogmização: dis*nguem-se dois conceitos - os rela*vos e os absolutos. Serão rela*vos quando admitem uma exceção segundo um outro princípio formal. Serão absolutos quando não admi*rem exceção segundo outro princípio.. Princípios e Regras - DisGnção: segundo a proposta de Ronald Dworkin, os princípios têm peso e importância (são aplicados em várias medidas) e podem conflituar com outros princípios (sem que haja invalidade ou revogação). As regras, por seu turno, são totalmente aplicadas ou não são aplicadas (tudo ou nada) e, quando conflituam, não podem ser ambas válidas. - Posição da regência: a regra do tudo ou nada também se aplica aos princípios, sendo estes totalmente aplicados ou não aplicados (exemplos: o princípio da não descriminação não podem ser limitado - é absoluto, logo aplicado na medida do tudo). Quanto às regras, é certo que também estas podem conflituar sem que uma delas tenha de ser considerada inválida (é o exemplo da regra especial e da regra excecional). - Axiologia dos princípios: a axiologia é o critério de dis*nção mais apropriado. Os princípios referem-se a valores estruturantes, que têm o obje*vo de o*mizar a eficiência do Direito. As

regras são concre*zações desses mesmos valores, sendo por isso norma instrumentais. Em suma, são realidades axiologicamente disgntas, ambas aptas para a resolução de conflitos.. Elementos Inferidos: tanto as regras como os princípios são dotados de posi*vidade. Na teoria, são os princípios formais as fronteiras do sistema. Na prá*ca, é o próprio sistema que define as suas fronteiras, segundo o que é necessário para completar a sua função. - Elementos implícitos: nem todos os princípios se encontram consagrados no sistema de forma explícita. Há princípios que são inferidos das concre*zações das regras jurídicas (é o mais comum). - Elementos derivados: qualquer princípio que possa ser inferido daqueles que estão consagrados é também elemento do sistema jurídico, vigorando como elemento derivado. Autonomia do Sistema: o sistema é autónomo, já que é ele mesmo quem define as regras e os princípios que o compõem. A validade é, por isso, por ele definida.. Validade e Autonomia: Segundo KELSEN e HART, há regras próprias para aferir a validade.. KELSEN e a Norma Fundamental: a regra jurídica re*ra a validade de outra regra de hierarquia superior. A regra de hierarquia máxima, a Cons*tuição, re*ra a validade de uma norma pressuposta, não escrita, a norma fundamental (é uma norma pressuposta e transcendente). É uma norma de validade.. HART e a Regra de Reconhecimento: dentro das regras jurídicas, existem regras primárias (que regulam relações e condutas) e regras secundárias (sobre normação - produção, procedimento e qualificação de normas). A regra de reconhecimento é secundária, permi*ndo aferir a validade das outras regras (decorre da prá*ca), inclusive das regras primárias. Não é uma ficção, é uma norma posigva do sistema. É uma norma de efegvidade (reconhece como direito aquilo que é aceite como tal).. Posição da regência: a autonomia é precedente à validade. Para se avaliar a validade de um sistema, é necessário averiguar a sua autonomia (subordinação a outros). Assim, se o sistema for autónomo, será válido o que este definir como válido.. Construção da Autonomia: um sistema constrói fronteiras para se separar de outros sistemas. Essa separação implica que exista uma regra de seleção no próprio sistema (definir o que pertence ao sistema S1), que determina o que é valido ou o que é inválido. O costume, em contrapar*da, poderia ser desconsiderado como fonte de direito - entende-se, ainda assim, que a pertença das regras consuetudinárias ao sistema (como define a regra de seleção) atribui ao costume o caracter de fonte do direito. - Função da regra de seleção: pretende iden*ficar o que pertence a um sistema, podendo uma regra pertencer a vários sistemas (exemplo: a proibição do homicídio pertence ao sistema jurídico a ao moral), e garan*r a iden*dade do sistema, permi*ndo uma dinâmica constante. - PosiGvação da regra: a regra não está explicitamente presente no sistema jurídico. Contudo, da leitura do ar*go 203º, re*ramos uma ideia chave: os tribunais não estão sujeitos a regras de outras ordens/sistemas, logo determina-se o que vale como direito. - Limitação da autonomia: há limites na autonomia dos sistemas, que podem resultar em subordinação. Daqui resulta, então, que as fontes válidas no sistema subordinante são validas no subordinado e que o sistema subordinado só é válido se as suas fontes forem aceites pelo subordinante. O sistema português aceita a prevalência do direito europeu, logo não é autónomo. Funcionamento do Sistema: é *da em conta a construção, a consistência e a abertura.. Construção do sistema: é autopoié*co, ou seja, produz-se a si próprio, mantém-se e cresce. Só é direito o que por si é determinado (conclusão lógica da regra de seleção, sendo esta regra que permite o crescimento e a formação do sistema - define o que é e o que não é sistema). Um sistema subordinado, em oposição, não autopoié*co, já que deve estar conforme o subordinante.. Consistência do sistema: dentro do sistema jurídico, há um princípio de consistência, logo o sistema não pode conter elementos inconsistentes (contraditórios) e elementos que não se baseiam em outros elementos do sistema. - Consistência do conteúdo dos elementos: o sistema é consistente quando qualquer obrigação pode ser cumprida sem se violar outra e quando uma permissão pode ser gozada sem violar nenhuma obrigação. Este critério, por norma, é cumprido, devido ao caráter hipotégco das regras.

- Consistência da origem dos elementos: há inconsistência quando um elemento for incompawvel com a sua fonte de produção, logo inválido. - Conflito normagvo: ocorre um conflito quando o mesmo caso é resolvido por duas regras de consequências incompawveis. O conflito só se efe*va quando não for possível revogar, invalidar ou tornar regra especial/excecional uma delas. Assim, as formas de resolução são ao nível da vigência, da invalidade e do âmbito de aplicação. Os conflitos são situações raras, já que só ocorrem quando não há resolução possível. - Resolução do Conflito: no caso de não ser possível resolver o conflito segundo as formas mais básicas (vêm do mesmo diploma, têm o mesmo campo de aplicação - não podem ser transformadas em regras excecionais/especiais), ocorre uma lacuna de colisão (conflito irresolúvel - as regras anulam-se mutuamente, não sobrando nenhuma regra). - Posição da regência: A melhor solução, relacionada com a integração de lacunas, é invalidar uma das regras conflituantes através de uma ponderação de interesses, aferindo o mais relevante. Não se cria, assim, nenhuma lacuna.. Abertura do sistema: o sistema está aberto ao meio ambiente e recebe dele influências. Está, ainda, sujeito a interferências de outros sistemas norma*vos (moral) e não norma*vos (polí*ca e economia). A receção de conceitos exteriores, para além de inevitável, leva à formação de conceitos indeterminados (exemplo: boa fé). - Flexibilidade do sistema: quanto maior for a abertura, maior a flexibilidade para solucionar casos concretos (e a dificuldade - a receção exterior dificulta a resolução). 14º Situações SubjeGvas Enunciado das fontes: A aplicação da estatuição a um poder ou a uma conduta cons*tui uma situação subjegva, que depende da regra e do operador deôn*co.. Direito relagvo: não há direito sem dever. Há sempre correspondência a uma posição jurídica passiva.. Direitos absolutos: é uma situação a*va, logo não há correlação com nenhum dever.. Colisão de direitos: ocorre quando há dois *tulares de direitos incompawveis. Será homogénea quando os direitos tenham a mesma natureza. Será heterogénea quando os direitos não tenham a mesma espécie. Exemplo:. Conflitos de deveres: quando um sujeito tem de cumprir dois deveres incompawveis. Será homogénea sempre que o dever que deve sempre cumprido é o mesmo. Será heterogéneo sempre que os deveres sejam dis*ntos.. Solução dos conflitos: a ordem jurídica fornece critérios para a resolução destes conflitos, como sejam - prevalência do interesse público, prevalência cronológica, prevalência de um sujeito detentor de um direito em detrimento do outro.. Fórmula da ponderação: na falta de critério legal, a solução recorrida deve ser uma solução de ponderação, hierarquizando os direitos/deveres conflitos, aferindo qual prevalece. Assim, irá prevalecer o direito, cujo gozo, ou o dever, cujo cumprimento, cuja razão derrote a contra-razão do outro dever ou direito incompawvel. Há que dar enfase aos interesses que cada direito/dever defende para apurar a sua prevalência. - Colisão de direitos: segundo o ar*go 335º do Código Civil, deve prevalecer o direito que seja *do como superior (no caso de serem iguais). No caso de serem diferentes, tem de se achar uma solução de compromisso (todos possam, nalguma medida, gozar o direito). - Resultados: pode acontecer que apenas o direito/dever que prevalece pode ser gozado/cumprido ou que o dever/direito que prevalece não invalida o cumprimento/gozo do dever inferior (exemplo: ser cumprido mais tarde).. Valor prima facie: a ponderação e a resolução de conflitos demonstram a inexistência de situações subje*vas absolutas, já que fica comprovado que um direito pode ceder ao gozo de outro ou um dever pode ceder ao cumprimento de outro. Assim, o *tular só pode gozar o seu direito senão houver outro direito que prevalece e cumprir o seu dever senão houver outro dever que prevaleça - pragma+c defeasibility.

Título V - Aplicação da lei no tempo 15º - Direito transitório formal: a revogação da vigência permite que se evite problemas de inconsistência (duas leis com a mesma matéria). Contudo, subsistem problemas: há situações jurídicas, emergentes da lei an*ga, que se mantém na vigência da lei nova. Há, assim, grandes diferenças entre o tempo externo de uma lei (vigência e cessação) e o tempo interno de uma lei (tempo em que a lei é aplicável). Gera-se a dúvida de que lei regula as novas situações subje*vas, sejam elas factos ou efeitos jurídicos. A lei an*ga, assim, não vigora, mas con*nua a ser aplicável (diferença entre as regras que cons*tuem o sistema jurídica e as regras que são aplicáveis a esse sistema - aplicabilidade vs. pertença). Princípios orientadores: é fundamental dis*nguir, inicialmente, se a lei nova regula factos jurídicos ou efeitos jurídicos. Os factos poderão ser instantâneos ou duradouros. Os efeitos poderão ser instantâneos (morte, abertura da sucessão) ou duradouros/situações jurídicas (efeitos do casamento, contrato de trabalho, arrendamentos). BAPTISTA MACHADO (há interesses conflituantes nesta aplicação): se se optar pelo interesse na estabilidade, não se altera o que está e mantém-se a aplicação da lei an*ga. Se se optar pelo interesse na adaptação, aplica-se a lei nova e adaptamos o regime. Ordenamento jurídico português: há dois princípios fundamentais, que permitem aferir qual a melhor opção - o princípio da não retroagvidade da lei nova (não se aplica a factos passados e a efeitos passados - logo prevalece-se o interesse na estabilidade, aplicação da lei an*ga) e o da aplicação imediata da lei nova (aplica-se a todos os factos e efeitos futuros; aplica-se a todos os factos e efeitos duradouros que *veram inicio na lei an*ga e que ainda estão em curso durante a vigência da lei nova) Consequências da não retroagvidade da lei nova: não se aplica a factos passados e a efeitos passados - logo prevalece-se o interesse na estabilidade, aplicando-se a lei angga. Consequências da aplicação da lei nova: aplica-se a todos os factos e efeitos futuros; aplica-se a todos os factos e efeitos duradouros que *veram inicio na lei an*ga e que ainda estão em curso durante a vigência da lei nova, aplicando-se a lei nova. Direito transitório: resolve problemas criados pelos conflitos das leis no tempo. Há duas variantes: o Direito transitório material (fixa-se um regime, nas demais situações que estejam em curso no momento transitório) e o Direito transitório formal (o legislador decide qual das leis se aplica nas situações específicas). Exemplo: no direito penal, aplica-se a regra que seja mais favorável ao agente. ArGgos importantes: 297º do Código Civil; ar*go 12º e 13º do Código Civil; ArGgo 12º: é uma regra de conflitos, não apresentando uma solução, fazendo a ponte para a lei na qual deverá ser procurada a solução. Metodologia da interpretação do arggo: o nº1 estabelece-se o princípio da aplicação imediata da lei nova. O nº2 contém dois regimes dis*ntos (um para quando a lei nova abstrai os factos que lhe deram origem e outro para quando a lei nova não abstrai os factos que lhe deram origem). Há, assim, duas situações: uma situação em que o `tulo tem importância (não se pode abstrair do facto que está na origem - direito de propriedade) e uma outra situação em que o Gtulo não tem importância (pode abstrair-se do facto que está na origem - contrato). Aplicação imediata da lei nova: a lei aplica-se, imediatamente, para factos jurídicos e a efeitos jurídicos futuros. Abrange, igualmente, os factos duradouros e os efeitos duradouros que transitam do domínio da lei an*ga para a lei nova. Situações Jurídicas: no caso de o Wtulo cons*tu*vo não modelar o conteúdo (o conteúdo não é dependente do Wtulo cons*tu*vo dessa situação jurídica e a lei modela diretamente o seu conteúdo), dá-se a aplicação imediata da lei nova. Por exemplo: o direito de propriedade é igual, independentemente da sua forma de cons*tuição. Sobrevigência: consiste na aplicação da lei an*ga, apesar da vigência da lei novaconforme o princípio da estabilidade. Aplica-se a lei an*ga sempre que a lei nova se refira às condições de validade de ato ou ao conteúdo de situações jurídicas que não se possam abstrair do seu Wtulo cons*tu*vo (o Wtulo cons*tu*vo modela o conteúdo da situação jurídica). Por exemplo: se o ato, no domínio da lei an*ga, era válido, então permanecerá válido no domínio da lei nova (o mesmo acontece inversamente). 1º parte do arggo 12º, nº2.

Situações em que o `tulo é relevante para definir o conteúdo: no caso de não se abstrair sobre o facto cons*tu*vo, aplica-se a lei an*ga. Por exemplo: as partes es*pularam que o preço seria pago em 12 prestações. A lei nova passa a permi*r apenas 6 prestações. Aplica-se, aqui, as 12 prestações. RetroaGvidade da Lei Nova: acontece quando a lei nova se aplica a factos já ocorridos ou a efeitos produzidos antes da sua entrada em vigor. Admissibilidade da retroagvidade: a lei nova pode ter retroa*vidade e a lei interpreta*va tem, por norma, retroa*vidade. Limites à retroagvidade: a jus*ficação subjacente aos limites tem que ver com a preservação de interesses. Não pode haver, assim, retroa*vidade rela*vamente a leis restri*vas dos direitos, liberdades e garan*as, a leis penais retroa*vas, a lei que regula tribunais criminais e a leis tributárias. Regime legal da retroagvidade: quando a lei nova tem eficácia retroa*va, esta não abrange os efeitos produzidos pelos factos que ela se des*na a regular. Regime legal da lei interpretagva: a lei interpretada tem um conteúdo que a lei interpreta*va lhe fornece - é uma ficção (entende-se que a lei interpreta*va está em vigor desde a vigência da lei interpretada). Esta retroa*vidade tem limites - situações rela*vas ao cumprimento de obrigação, sentença de caso julgado, transação e atos análogos. Leis falsamente interpretagvas: não são denominadas desta forma, no entanto, entende-se que assim seja. Aplica-se, assim, o regime do arggo 13º, nº1 do Código Civil - tem, da mesma forma, eficácia retroa*va. RetroaGvidade in mi+us: confirma a validade de um ato que era anteriormente inválido. Situações em que, apesar da invalidade do contrato, as partes estavam a cumprir o contrato. Jus*fica-se, por isso, a aplicação da retroa*vidade in mi6us. Torna-se, assim, válido com a lei nova. No entanto, pode ocorrer que esse sen*do confirma*vo de validade não seja expresso - sempre que já esteja a produzir efeitos, ainda que inválido, torna-se válido Graus de RetroaGvidade: pode variar consoante as situações que abrange. A retroa*vidade do ar*go 12º é menos ampla que a retroa*vidade prevista no ar*go 13º (os atos que ficam ressalvados da retroa*vidade são mais abrangentes no ar*go 12º que no ar*go 13º). O caso julgado, por exemplo, não pode (por norma) ser a*ngido pela retroa*vidade; exceto se, de acordo com o princípio penal, o conteúdo da lei retroa*va seja mais favorável ao agente. RetroaGvidade ordinária: quando, da retroa*vidade, ficam ressalvados os efeitos produzidos antes da sua entrada e vigor (ar*go 12º, nº1, 2º parte). RetroaGvidade agravada: quando ficam ressalvados apenas alguns efeitos, a*ngindo-se outros efeitos (ar*go 13º, nº1). RetroaGvidade quase-extrema: quando ficam ressalvados os efeitos do caso julgado, de acordo com o princípio do caso julgado (caso de retroa*vidade mais extrema do ordenamento jurídico português, em que a sentença não é suscewvel de ser alterada extraordinariamente). De acordo com o arggo 282º, nº3, 1º parte, da mesma forma que devem ser respeitados os casos julgados que tenham aplicado uma norma cons*tucional, devem ser respeitados os casos julgados que tenham aplicado normas revogadas. RetroaGvidade extrema: quando não se respeita o caso julgado. Verifica-se, apenas, nas situações em que a Lei Nova, de acordo com o princípio penal, é mais favorável ao agente - arggo 29º, nº2, 1º parte. Retroconexão: consiste na inclusão de factos passados na previsão norma*va da lei nova - os factos integram diretamente a previsão. Difere da retroa*vidade, já que esta apenas inclui fatos futuros, discu*ndo-se a aplicação destes a situações jurídicas passadas. Modalidades da Retroconexão: pode ser total ou parcial. Será total sempre que o facto ou efeito, integrado na previsão, já se verificou completamente no passado (exemplo: amnis*a). Será parcial quando a previsão da LN integrar factos ou efeitos que se produziram na vigência da lei an*ga e factos que se verificação na vigência da lei nova. Limites da Retroconexão: estende-se limites da retroa*vidade à retroconexão. Assim, onde é materialmente proibida a retroa*vidade, será também proibida a retroconexão.

Regime: a retroconexão pressupõe, sempre, a aplicação imediata da lei nova a factos ou efeitos jurídicos. Critério Suple*vo Especial: o ar*go 297º aplica-se unicamente a sucessão de leis sobre prazos, devendo estes estar em curso no momento da entrada em vigor da Lei Nova. Diminuição do Prazo: no caso de a Lei Nova estabelecer um prazo mais curto, então a Lei Nova será imediatamente aplicada aos prazos que já es*verem em curso, sendo que o prazo só se conta a par*r da entrada em vigor da lei nova. Não se aplicará esta contagem se, desde a entrada em vigor da lei nova, falte menos tempo para terminar o prazo, segundo a lei an*ga. Aumento do Prazo: se a Lei Nova ficar um prazo mais longo que aquele que era definido, a lei nova é imediatamente aplicável, descontando-se o tempo já decorrido. Campo de Aplicação: as regras descritas são tanto aplicadas a prazos fixados pelos tribunais como por qualquer outra autoridade. Limites: as regras não são aplicáveis aos prazos que tenham sido definidos pelas partes ou que sejam suple*vos, aplicando-se assim o regime geral, do ar*go 12º. Há, ainda, requisitos cumula*vos verificáveis para a aplicação do ar*go 297: se o prazo for injungvo, se houver diminuição do prazo pela LN e se a aplicação não implicar um desequilíbrio entre as partes.

Título I Inferência da Regra Jurídica 16 - Linguagem e direito: regras e linguagem: o direito constrói-se através de fontes, exprimindo-se estas através de enunciados linguísgcos. Assim, a linguagem está sempre presente no Direito, não podendo haver direito sem linguagem. Acresce que a linguagem marca a fronteira do dever ser e do direito - através da linguagem expressa-se o direito. Dimensões da Linguagem: há duas dimensões dis*ntas na linguagem - uma extensional, classificatória e conceptual e outra *pológica, intencional ou ordenatória. Assim, há uma diferença entre extensão e intensão: extensão diz respeito à realidade extralinguís*ca a que um conceito se refere; a intensão diz respeito ao sen*do de um conceito, ao que ele exprime. Dualidade da Linguagem - Gpo vs. conceito: na linguagem jurídica, os conceitos dispõem de uma extensão e uma intensão, sendo tanto a linguagem Gpológica ou intensional como a linguagem classificatória ou conceptual u*lizadas pelo legislador. A *pológica concre*za-se nos Gpos legais. A classificatória nos conceitos jurídicos. Conceitos determinados: também designados de descrigvos, são conceitos cuja extensão está determinada. Subdividem-se em normagvos e empíricos. Os normagvos são próprios de uma ordem norma*va, nomeadamente, da ordem jurídica (podem também pertencer à ordem moral, também norma*va), que só têm significado numa ordem jurídica. Os empíricos são conceitos próprios de uma realidade não norma*va. Conceitos indeterminados: são conceitos cuja extensão é variável, sendo por isso vagos. Em termos abstratos, possuem uma zona delimitada e uma zona cinzenta e de penumbra, podendo ser clara a sua referência em determinadas situações e não clara noutras situações. Preenchimento: o conceito indeterminado estará preenchido quando a situação concreta se inclua no seu núcleo e quando essa situação também possa ser incluída na zona de penumbra. Pode acontecer que seja manifestamente aplicável, quando estão preenchidos os requisitos, manifestamente não aplicável quando não estão preenchidos (a situação vai para além do halo) e nem manifestamente aplicável nem manifestamente não aplicável, na medida em que há dúvidas rela*vamente à inclusão da situação no halo de penumbra. Problema destes conceitos: a indeterminação das fronteiras torna determinados casos de diocil solução, já que a sua aplicação é feita em várias medidas - saber-se, até que ponto, a situação está ainda dentro das fronteiras do halo. ConcreGzação e Aplicação: só podem ser compreendidos e aplicados através de uma concre*zação, através da qual se ajuíze o que neles se inclui e o que deles se exclui - uma delimitação de fronteiras. Tipos legais: o Gpo corresponde a algo de exemplar ou de paradigmágco. É um modelo. Pode dis*nguir-se um Gpo médio e um Gpo consgtugvo. O médio corresponde ao que se verifica com maior frequência, o que é mais comum - exemplo: aluno médio. O consgtugvo ou de totalidade descreve uma realidade de acordo com os traços caracterís*cos e essenciais - exemplo: casa Wpica portuguesa. Redução Tipológica - classificação vs. ordenação: a diferenciação entre conceito e *po, de acordo com as linguagens, pode ser traçada. Um conceito tem uma função classificatória, procurando dis*nguir realidades. Um Gpo tem uma função ordenatória, procurando ordenar realidades de acordo com as suas caracterís*cas essenciais - o *po não pode ser definido, apenas descrito. Em termos de abstração, o conceito é mais abstrato e o Gpo é mais concreto. Conceito vs. Tipo: o conceito é fechado, exigindo a verificação de todos os seus elementos cons*tu*vos (os elementos são todos eles essenciais). O Gpo é vago, já que permite que se verifiquem diferentes configurações ou que os elementos essenciais combinem com elementos acessórios dis*ntos ou awpicos. Prevalência do Tipo: a mesma expressão pode ser considerada como um conceito ou como um *po. Contudo, na linguagem habitual, o Gpo é mais relevante, sendo a linguagem *pológica fundamentalmente *pológica. Já no caso da linguagem jurídica, cabe ao legislador fazer a escolha entre uma linguagem *pológica e uma linguagem classificatória - é frequente a escolha Gpológica, já que o legislador pretende enquadrar juridicamente certas matérias, não sendo necessária uma descrição dos elementos Wpicos do facto/situação que integra a previsão da norma. A mesma linguagem Gpológica é

u*lizada nas definições legais (apenas os elementos Wpicos). A prevalência do Gpo verifica-se nos conceitos indeterminados - estes são, na verdade, Gpos, já que há indeterminação quanto aos casos regulados. Divisio e Par++o - disgnção: a divisio consiste na divisão da extensão de um conceito (de um género nas suas espécies - cada parte cons*tui, assim, todas as caracterís*cas do conceito dividido). A par66o consiste na decomposição de um concito nas suas notas caracterís*cas, pelo que nenhum membro da par66o contém todas as caracterís*cas do conceito. Consequências: a divisio é própria de um sistema fechado e da linguagem conceptual. A par66o é própria de um sistema aberto e da linguagem *pológica Importância da disgnção: a divisio e a par66o acompanham a dis*nção entre conceito e *po, A divisio consiste na divisão de um conceito mais extenso em conceitos menos extensos. Já a par66o consiste na decomposição de um conceito nos seus elementos caracterís*cos, permi*ndo passar-se do conceito para o *po. Exemplificação da divisio: o conceito abc ficaria dividido em abc+d, abdc+e e abc+f. Exemplificação da par++o: o *po abc ficaria dividido em a, b e c. Construção de um Gpo: decompor, através da par66o o conceito nos seus elementos Wpicos e conjugar cada um deles com elementos semelhantes de outros conceitos. 17 - HermenêuGca E Direito: normagvidade da compreensão - a hermenêu*ca norma*va pretende idealizar que não há significados, mas apenas atribuições de significados, com base em certas regras. Assim, um significado de uma palavra é o seu uso na linguagem e compreender uma regra é saber aplicá-la. O significado do que se afirma explicitamente está implícito, assim, numa prá*ca social. A interpretação da fonte afigura-se como a determinação do seu significado, por forma a passar-se para a rega. A inferência só é possível através da determinação dos casos (reais ou hipoté*cos) a que a fonte é aplicável - logo, a regra é o significado prágco da fonte e a interpretação pressupõe a sua aplicação pra*ca. Regra: a interpretação não pretende traduzir um enunciado linguís*co noutro enunciado linguís*co. A regra não é, assim um enunciado, é apenas o significado da fonte - caso contrário, entrar-se-ia num ciclo interminável de interpretação. Contudo, no domínio da descrição, nada impede que a regra seja descrita. Assim, a descrição será uma paráfrase do significado da fonte, o que significa que procura tornar mais obje*vo e claro o significado da fonte, ou seja, a regra. Insere no domínio das proposições jurídicas. Relevância da pré-compreensão: a hermenêu*ca norma*va reconhece extrema importância à pré-compreensão, na medida em que é este que permite saber o que se vai compreender. HermenêuGca Jurídica - função da interpretação: a interpretação é a a*vidade através da qual se compreende a fonte. Assim, sendo o texto da lei a fonte, a regra é o conteúdo que o intérprete extrai desse texto. É, assim, a forma de se chegar à regra jurídica, compreendendo-se o sen*do do texto anteriormente problemá*co - é um processo, não um ato. Visa determinar apenas o significado prágco da fonte, fornecendo-se o que o des*natário pode ou não fazer. Interpretação e aplicação: a aplicação e a interpretação são um processo unitário. No fundo, o conhecimento, através da interpretação, permite a concre*zação e a aplicação da lei - é uma operação, applica6o. Corolários da exigência da determinação dos casos aplicáveis: a fonte não contém nenhum significado em si mesma, apenas o significado que lhe é dado ou que lhe pode ser dado. Entre a fonte e a regra só se interpõem os casos, pelo que interpretar é qualificar o caso a que esta se refere. Os casos a que a fonte é aplicável são determinados antes da sua construção - a regra constrói-se através do mundo. O conhecimento prá*co proveniente da interpretação antecede o conhecimento teórico, só sendo possível conhecer o que a fonte prescreve se se conhecer os casos a que se aplica. NormaGvidade da Interpretação: a hermenêu*ca jurídica não dispensa um método de interpretação, já que a interpretação nunca é um fim em si mesma, servindo a aplicação do direito, não é aplica*va, apenas reconstru*va e as fontes não asseguram o rigor da sua interpretação. Por estes mo*vos, afigura-se como necessária a existência de regras de interpretação. Desta forma, o intérprete vinculado à lei, está necessariamente vinculado ao método da sua interpretação, já que nenhum intérprete pode assumir as funções do legislador; a regra consgtucional está prevista no ar*go 203º,

para juízes e tribunais, valendo para qualquer intérprete. Atribui-se, assim, um caráter norma*vo à interpretação, tendo-se em conta os critérios previstos no arggo 9º do Código Civil. Função da subsunção: a subsunção é a relação entre duas extensões, quando uma delas está incluída na outra. Entende, assim, como o juízo que permite a seleção do facto da vida que é juridicamente relevante através da sua inclusão na previsão da regra jurídica. Segundo esta ideia, primeiro vem a regra e só depois se subsume a ela os factos concretos. É o processo através do qual se determinam os casos abrangidos pela fonte e se infere a regra da fonte. Como quando se chega à regra, já se passou pela subsunção, esta não é um elemento de aplicação da regra, mas sim uma construção da regra aplicável ao caso. Operação de subsunção: implica a comparação do facto concreto com o *po legal previsto na lei. Por exemplo, do conceito veículo são subsumíveis coisas como automóveis, tratores e motociclos. Natureza da subsunção: não é uma a*vidade lógica ou concetual e o juiz não é um autómato da subsunção. É, assim, um juízo valoragvo que recorre à analogia, comparando a realidade que se procura subsumir e o *po a que se refere a fonte. Subsunção e concregzação: conclui-se que a interpretação de uma fonte é a a*vidade de concre*zação, já que a subsunção consiste na comparação de um caso concreto com outro caso concreto. A a*vidade de concre*zação da fonte, por sua vez, permite inferir a regra jurídica. Deste modo, as regras são construídas no plano do caso - sem o caso, não é possível extrair a regra. Interpretação Jurídica: só pode ser realizada por quem adote um ponto de vista interno ao sistema em que se insere a fonte que se vai interpretar. Objeto da interpretação: a interpretação e as respe*vas dificuldades não se verificam quanto ao significado deôn*co da fonte, mas sim a que casos pode ser a fonte aplicável. Assimetria do Objeto: a lei pode ser dividida entre um elemento com significado determinado, a estatuição, e um elemento com significado indeterminado, a previsão. Assim, entendese que o significado atribuído à previsão tem de ser compawvel com a estatuição, pelo que a interpretação da previsão deve ser realizada em função da estatuição. Necessidade da interpretação: à par*da, a interpretação não é dispensável, sem ela não se consegue compreender a fonte. Contudo, há orientações que defendem que a interpretação pode ser dispensada se não houver uma ambiguidade no texto. Esta orientação foi incluída no sistema francês e inglês, estabelecendo-se que, caso as palavras fossem precisas e não ambíguas, é apenas necessário interpretar essas palavras no seu sen*do normas. O erro nestas orientações é o facto de se considerar que a interpretação permite serve apenas para esclarecer o que é duvidoso. Na verdade, a interpretação serve antes para se conhecer a regra. Lei interpretagva: também não dispensa a interpretação, já que para compreender a lei interpreta*va, é necessário interpretar a lei interpretada e vice-versa. Proibição da interpretação: ao longo da história, foram vários os momentos em que foi proibida a interpretação - atualmente, é *da como necessária. Ius*nianus proibiu o comentário aos Digesta, ficando os juristas proibidos de interpretar. Já no absolu*smo francês, os juízes não podiam interpretar a lei, porque essa função caberia ao único legislador - o rei. Em caso de dúvida quanto ao significado da lei, o juiz deveria consultar o legislador. Dificuldades da interpretação: há sempre dificuldades na interpretação. Ambiguidade SintáGca: ocorre quando a construção da expressão origina dúvidas sobre o seu significado. Ambiguidade SemânGca ou Polissemia de Palavras: quando a mesma palavra pode ter vários significados, dependendo do contexto em que é aplicada. Há assim um excesso de significado, frequente nas palavras e e ou. Vagueza ou porosidade: ocorre quando as palavras possuem um significado determinado, havendo objetos indubitavelmente aplicáveis, objetos indubitavelmente não aplicáveis e objetos a que talvez sejam aplicáveis. Há assim uma indefinição de fronteiras da palavra, pelo que, em oposição ao excesso de significado, há uma falta ou insuficiência na determinação do significado. Vagueza: a caracterís*ca essencial prende-se com o facto de pequenas diferenças não fazerem nenhuma diferença quanto à atribuição a eles do mesmo significado, o que significa que a vagueza está subme*da à proximidade. É própria dos conceitos indeterminados. Tem,

ainda, subjacente o paradoxo de sorites - se não é por re*rar um grão que deixa de haver um monte de areia, então o grão de areia restante após terem sido removidos todos os outros é ainda um monte de areia. É certo que, apesar de tudo, a aplicação do conceito indeterminado não exige a solução do paradoxo, implicando apenas a avaliação de, se numa situação concreta, o conceito ou o *po estão preenchidos - esta concre*zação é realizada aos saltos. Modificabilidade do significado: prende-se com o facto de as palavras poderem modificar o seu significado ao longo do tempo. Proliferação legislagva: própria da realidade jurídica, tem que ver com a grande produção legisla*va, que gera incerteza, na medida em que nunca se sabe se se está a descurar alguma outra fonte determinante. HermeGsmo da linguagem jurídica: a linguagem que nas fontes é u*lizada é de diocil compreensão por não juristas. Resolução de dificuldades: têm de ser vencidas através do recurso aos elementos da interpretação enunciados no ar*go 9º do Código Civil. 18 Interpretação da Lei. Aspetos Relevantes: a interpretação desdobra-se em três aspetos fundamentais. É necessário escolher a sua finalidade (delimitar se a finalidade é descobrir a intenção do legislador ou o significado obje*vo da lei), selecionar elementos (selecionar os elementos aos quais se vai recorrer para a*ngir essa finalidade) e inferir a regra jurídica (conjugar os vários elementos da interpretação, apurando o significado prágco da fonte a que casos esta se aplica). Caráter normagvo: a interpretação responde a uma questão do domínio do dever ser como é que a lei deve ser interpretada. Assim, tem caráter normagvo, acrescendo-se as regras específicas do arggo 9º. Finalidade da Interpretação SubjeGvismo vs. ObjeGvismo: a finalidade da interpretação pode seguir uma orientação subje*vista (procura-se a recons*tuição da intenção do legislador subjacente à produção da lei representou um estado de coisas) ou uma orientação obje*vista (procura-se determinar o significado obje*vo da lei, independentemente do obje*vo do legislador). Assim, quando a intenção do legislador coincidir com o significado objegvo da lei a dicotomia é irrelevante. Contudo, se não são coincidentes, há que resolver o conflito, optando por uma das orientações. Orientações subjegvistas: foram fundamentalmente predominantes durante o absolu*smo e nas metodologias do século XIX, como a representação da voluntas legislatoris. São nomes importantes ECKHARD, SAVIGNY e WINDSCHEID. Atualmente, são defendidas pelo originalism norte-americano, que defende que a interpretação cons*tucional deve estar conforme a intensão dos founding fathers, e por teorias que valorizam o aspeto comunica*vo da linguagem. JusGficação: nestas correntes, a procura pela intenção/vontade do legislador exige esforço e preparação que não estão ao alcance de qualquer intérprete vai contra o princípio da igualdade de todos perante a lei (ar*go 13º/1 CRP). Ainda, o conhecimento da intenção do legislador histórico é impossível, já que, nos sistemas democrá*cos, há vários intervenientes na formação da vontade comum. Por úl*mo, é importante que a lei esteja de acordo com o ambiente social, pelo que interpretar de acordo com o momento da sua produção põe em causa a efe*vidade do direito deve ser interpretada por forma a a*ngir um significado objegvo adequado às circunstâncias. Esta necessidade é especialmente visível em conceitos indeterminados, como a boa fé e os bons costumes. Jurisprudência/tribunais: nos tribunais, contudo, é frequente invocar a vontade do legislador, a propósito da finalidade da lei o que não é, exatamente, a intenção do legislador, mas sim a intenção da lei. Consequências: o facto dos des*natários conhecerem a real intenção do legislador, não permite que este possa invocar contra eles a sua intenção nem que os des*natários possam u*lizar a sua favor a intenção do legislador. Aliás, de acordo com a confiança inerente ao direito, ninguém pode ser prejudicado por uma intenção do legislador que não encontra expressão no texto. Ainda, desde que todos os des*natários fossem beneficiados com a intenção do legislador, o caráter geral da lei seria respeitado.

DisGnção dos Negócios Jurídicos: são interpretados de acordo com a proteção do declarante, que impõe a prevalência da sua vontade real (ar*go 236º/2 e 238/2 CC). Conclusões: não deve ser procurada a intenção do legislador. A função de interpretar não se confunde com a função de legislar, logo o poder jurisdicional prevalece sobre o legisla*vo (o direito é o que o juiz considera que é). Daí se infere a importância das regras interpretagvas limitam o ato da interpretação. Há ainda que reter que não a vontade do legislador pode sempre coincidir com o significado obje*vo da lei. O intérprete tem sempre de dar prevalência ao significado objegvo da lei. Orientações objegvistas: são as orientações que prevalecem, atualmente, como a representação da voluntas legis. Defende, assim, que não há con*nuidade entre a produção da lei e a sua interpretação. SemânGca vs. PragmáGca: as correntes subje*vas procuram a intenção de, ou seja, aquilo que foi querido pelo legislador (determinação da vontade do legislador), esgotando-se numa dimensão semân*ca. As correntes obje*vistas procuram a expressão de, aquilo que pode ser feito pelo des*natário da regra, cingindo-se a uma dimensão pragmágca, puramente norma*va. Direito Português: as regras estão presentes no ar*go 9º do CC. Neste, a expressão pensamento legislagvo é ambígua (tanto pode significar a intenção do legislador ou o significado obje*vo da lei). Para além disso, o ar*go tem elementos que defendem correntes objegvistas e subjegvistas. Tendências subjegvistas: a expressão pensamento legisla*vo, u*lizada no ar*go 9/2, só se poderia referir ao pensamento do legislador voluntas legis. Tendências objegvistas: é importante considerar a orientação atualista (significado atual da lei) e a historicista (significado que a lei *nha no momento da sua criação). Daqui se re*ram quatro variações dis*ntas: subjegvista historicista (significado da lei é aquele que o legislador lhe deu no momento da elaboração); subjegvista atualista (significado da lei é aquele que o legislador lhe daria se *vesse de legislar na atualidade); objegvista historicista (significado da lei é aquele que ela *nha no momento da criação); objegvista atualista (significado da lei é aquele que ela tem na atualidade). Assim, entende-se que é lógica a ligação subjegvismo com o historicismo (vontade do legislador histórico) e a ligação do objegvismo com o atualismo (significado que a lei tem na atualidade). Conclusão: o ar*go 9/1 consagra uma orientação atualista prospe*va (o significado será aquele que a lei possui no momento da interpretação). Assim, a expressão pensamento legislagvo será um voluntas legis construção do significado obje*vo da lei, aquele que ela tem no momento em que é interpretada (o significado da lei é aplica-la aplicação e interpretação como processo único). Elementos da interpretação: para a interpretação, devem ser seguidas regras específicas, denominadas de elementos da interpretação. Assim, há que, segundo Savigny, considerar: elemento gramagcal (sen*do literal da lei), elemento lógico (construção lógica da lei), elemento sistemágco (conexão sistemá*ca das regras que constam da lei), elemento histórico (mo*vo da elaboração da lei). Atualmente, entende que há que considerar a letra da lei, o que resulta da história, da teologia e da contextualização. Enunciado: em concreto, os elementos são elemento literal (sen*do da letra da lei), elemento histórico (momento em que a lei foi produzida), elemento sistemágco (enquadramento sistemá*co da lei), e o elemento teleológico (finalidade da lei). Os três úl*mos são não literais. Assim, a interpretação aplica-se a todas as leis em sengdo material e aos preceitos do ar*go 9º - não se aplica à regra (resultado da interpretação). Letra e espírito: pretende-se que o intérprete encontre o espírito da lei, através da letra, com base na sistemá*ca, na história e na teleologia. Hierarquia dos elementos: o ordenamento português estabelece duas hierarquias, quanto ao resultado e quanto ao método. A do método permite concluir que o elemento grama*cal tem primazia (só depois de determinado o basic meaning, literal, deve ser recons*tuído o deep meaning, pensamento legisla*vo, através de elementos não literais). A do resultado, pressupõe que o intérprete deve recons*tuir o pensamento legisla*vo a par*r do texto da lei, com base nos elementos não literais, devendo prevalecer o espírito sobre a letra, em caso de divergência prevalecem os não literais. Conclusão: permite concluir uma meta-regra de prevalência o que o intérprete pode fazer com a lei prevalece sobre o que a letra da lei diz.

Valor dos elementos: de acordo com o princípio da exausgvidade dos elementos, devem ser usados todos os elementos que constam do ar*go 9º. Só podem ser usados os elementos nele incluídos, de acordo com o princípio da exclusividade, e a sua u*lização não necessita de ser jus*ficada Significado literal: o primeiro passo da interpretação é apurar a análise da letra e a tenta*va de compreensão do seu significado. Historicismo vs. Atualismo: deve ser concedido o significado de acordo com o seu significado atual, embora o ar*go 9º nada elucide a respeito disso. Afinal, só essa solução pode garan*r que as leis permaneçam adequadas ao tempo em que são aplicadas. ConcreGzação: o elemento literal interpretação comporta uma dimensão sintá*ca (estrutura grama*cal da lei na sua totalidade) e uma dimensão semân*ca (significado das palavras u*lizadas no contexto e na estrutura). Dimensão semângca: consiste nas palavras que são u*lizadas, devendo o intérprete atribuir significados compa`veis entre si. São, por norma, irrelevantes o género e o número, o que implica que palavras masculinas incluam o género feminino e palavras no singular valham no plural. Quanto ao significado, as palavras podem ser de linguagem jurídica, técnica e corrente. As da linguagem jurídica devem ter o significado que o direito lhes atribui (o ramo do direito ou, na falta, o direito em geral regra da especialidade do ramo). As palavras técnicas devem dispor do significado que lhes no respe*vo ramo do conhecimento, exceto se es*verem a ser empregadas no seu sen*do mais corrente. As de linguagem corrente, devem dispor do significado do quogdiano (exceto se exista uma definição legal explícita ou implícita). Valor da letra: a letra tem um valor próprio que impõe dois limites. O primeiro, consagrado no ar*go 9/3, implica que o significado seja possível dessa lei. O segundo, do ar*go 9/2, estabelece que não é admissível um significado que não tenha o mínimo de correspondência verbal (estará para além do seu significado possível). A letra da lei é um limite. É, no entanto, um limite mínimo pode ir-se para além da mesma, apenas se exige uma correspondência mínima. Pode ir-se, assim, até onde os elementos não literais o permitam (até à interpretação restri*va ou até à interpretação extensiva). Significado provisório: o significado literal é apenas o primeiro passo na interpretação, sendo provisório e apenas hipoté*co, sendo os elementos não literais importantes para confirmar o significado da lei. A letra da lei, por sua vez, condiciona o que pode resultar dos elementos não literais. Elemento histórico: também pode ser designado de elemento genérico e corresponde à jusgficação da fonte, ou seja, que necessidades estavam a ser sa*sfeitas no momento da produção da fonte. Contém aspetos objegvos, como a situação social e jurídica, e subjegvos, a intenção do legislador. Aspetos ObjeGvos: há que ter em conta os precedentes normagvos e doutrinários e o occasio legis. Os precedentes norma*vos correspondem aos antecedentes da lei, podendo ser históricos (leis que antecedem e que forem subs*tuídas) e compara*vos (leis vigentes em outros ordenamentos). Os precedentes doutrinários têm que ver com o ambiente doutrinário. O occasio legis respeita ao conhecimento da realidade que rodeou a formação da lei (ar*go 9/1). Aspetos subjegvo: corresponde à intenção do legislador. Para tal, há que analisar as exposições oficiais, os trabalhos preparatórios (estudos), os anteprojetos e os projetos, a discussão, os preâmbulos dos diplomas legais e os relatórios explica*vos das convenções internacionais. Será, então, o que hipotegcamente for daí inferido. Aspetos evolugvo: entende-se que a interpretação tem sido dada, pela jurisprudência e pela doutrina, averigua novas necessidades, diferentes das que jus*ficaram a produção e que podem ser sa*sfeitas pela lei. Daqui resulta a diferença entre law in books e law in acgon. Elemento sistemá*co: os ins*tutos jurídicos cons*tuem um sistema, pelo que só dentro dessa conexão de sistema podem ser completamente compreendidos. A unidade do sistema jurídico exige que uma lei seja interpretada de acordo com o sistema e que só essa interpretação garante a primeira unidade (postulado e consequência). No caso de nenhuma interpretação ser conforme o sistema, há que reccorer à revogação, à invalidade, à qualificação de uma como lei excecional ou como lei especial ou à escolha de uma das regras, depois de ponderados interesses. Consagra-se no arggo 9/1.

Importância: este elemento orienta-se pelo princípio da igualdade, devendo ser tratado igual o que é igual e desigual o que é diferente. Para além disso, ter em conta o elemento sistemá*co permite resolver a ambiguidade da semân*ca das palavras. Historicismo vs. Atualismo: deve optar-se pelo elemento atualista, ou seja, ter em conta o sistema que vigora no momento da interpretação e não no momento da produção. ConcreGzação: há duas concre*zações. Rela*vamente ao contexto, o intérprete só pode interpretar depois de enquadrar a fonte no conjunto vasto em que se integra. Rela*vamente à consistência, infere-se que deve ser garan*do o princípio da consistência. Assim, é possível chegar a duas regras interpreta*vas: a posigva (atribuir à lei o significado que melhor se harmoniza com outras fontes ou preceitos) e a negagva (não atribuir à lei um significado que seja inconsistente com outros preceitos ou fontes). Relação de contexto: no enquadramento sistemá*co, nomeadamente no contexto, há que ter em conta o contexto vergcal e o contexto horizontal. No vergcal, o pressuposto é a consistência com a fonte de produção assim, há que considerar a interpretação conforme a cons*tuição, o direito europeu e o direito ordinário (o direito europeu deve ser interpretado consoante a cons*tuição e o direito nacional consoante o direito europeu) No horizontal, há ter em conta leis da mesma hierarquia e, até mesmo, preceitos da respe*va lei (ter em conta significados que regulam a mesma matéria). É importante no que toca à interpretação de leis especiais e lei excecionais, que têm de ter em consideração a lei geral. Ainda, a interpretação da lei remissiva, deve considerar a lei para a qual remete, assegurando-se a harmonia entre ambas. Princípio da consistência: decorre da unidade do sistema jurídico. É indispensável para encontrar o significado da lei no contexto da unidade e para afastar significados incompawveis. Neste sen*do, uma lei que seja uma concre*zação do princípio da jus*ça, da confiança e da eficiência ou de outro material, deve ser interpretada por forma a garan*r a maior concre*zação destes princípios. De acordo com o princípio da proximidade, a lei deve ser interpretada em conformidade com o subsistema em que se integra. Elemento teleológico: respeita à finalidade da lei, determinando que obje*vos é que a lei pode prosseguir. No fundo, é a finalidade que jus*fica a vigência. O intérprete procura descobrir a ra6o legis (ar*go 9/1). Daqui se re*ra o entendimento de que compreender a lei é perceber a que situações ela dá resposta. Relevância da estatuição: é fundamental compreender a estatuição (o que permite, proíbe ou obriga), sendo só assim possível compreender a finalidade prosseguida. Historicismo vs. Atualismo: a resposta dada pelo direito português é inequívoca. Deve ser dada prevalência às condições específicas do tempo em que a lei é aplicada, ou seja, opta-se por uma teleologia objegva e atualista, as condições polí*cas, sociais, económicas e culturais que jus*ficam a vigência no momento da interpretação. ConcreGzação: a finalidade da lei é aquela que ela prossegue em função de fatores exterior, pelo que deve ser conhecido o ambiente socioeconómico, polí*co e cultural em que a fonte é interpretada, numa procura por ogmizar a finalidade. Fatores sistémicos: devem ser considerados os princípios do sistema jurídico e do subsistema em que a fonte de integra, devendo ser interpretada conforme princípios formais e materiais que a lei concre*ze (por exemplo, a interpretação da lei incriminatória deve considerar o princípio da não retroa*vidade da lei penal). Ter em conta os princípios permite determinar a rago iuris. Assim, o intérprete deve procurar o princípio respe*vo e visar a sua o*mização. No caso de conflito entre princípios, deve optar pelo que melhor visar proteger os interesses a que a lei corresponde. Consequências: havendo duas ou mais teologias, há que optar pela que melhor se encaixar no sistema, ou seja, a que melhor permite proteger os interesses que se encontram acautelados na fonte. Regras de experiência: recorre-se, frequentemente, a regras de experiência (experiência da vida quo*diana). Estas regras são importantes, permi*ndo ao intérprete realizar a interpretação de acordo com os parâmetros que melhor correspondam à normalidade da vida em sociedade (o que a maioria das pessoas espera).