A QUARTA COLÔNIA DE IMIGRAÇÃO ITALIANA: A VALORIZAÇÃO CULTURAL DA REGIÃO 1 MANFIO, Vanessa 2 ; BENADUCE, Gilda Maria Cabral 3 1 Trabalho de Pesquisa _UFSM 2 Acadêmica do Curso de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil. 3 Professora do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: vanessamanfio@yahoo.com.br; g.benaduce@brturbo.com.br; RESUMO O processo de colonização italiana no Rio Grande do Sul ocorreu basicamente em função de dois fatores: a ocupação das terras sulinas que eram alvos de freqüentes disputas com os espanhóis e a diversificação da economia interna do estado, (baseada na pecuária), através da produção agrícola. Os imigrantes europeus e, sobretudo, os italianos tentaram reproduzir no estado rio-grandense, a sua pátria, conservando-se seus costumes, dialetos, religião e símbolos. Sem dúvidas, criaram-se sob o espaço geográfico, paisagens culturais que apresentam códigos e símbolos dos seus colonizadores, como é o caso da Região da Quarta Colônia de Imigração Italiana. Nesta região, por tanto, os costumes, as crenças e o modo de vida italiano foi valorizado e está presente até os dias de hoje, fazendo do regional um cenário típico da cultura italiana e contribuindo também para o desenvolvimento econômico e social do lugar. Palavras-chave: Imigração Italiana; Quarta Colônia de Imigração Italiana/RS, Identidade Cultural. 1. INTRODUÇÃO A imigração italiana foi fundamental para o sucesso do Rio Grande do Sul contribuindo para o desenvolvimento da agricultura, ocupando várias regiões, nas quais, são reconhecidas e valorizadas atualmente e, sobretudo na formação étnica e cultural do povo gaúcho. A Colônia Silveira Martins, Quarta Colônia Imigração Italiana, fundada no território rio-grandese, originou os municípios de: Silveira Martins, Ivorá, Faxinal do Soturno, Nova Palma, São João do Polêsine, Dona Francisca e Pinhal Grande, compondo hoje a Quarta Colônia de Imigração Italiana. No entanto, por questões político-econômicas integram se a região mais dois municípios Restinga Seca (colonização portuguesa) e Agudo (colonização alemã), resultando na Região da Quarta Colônia de Integração, conhecida como Quarta 1
Colônia. Nesse sentido, o presente trabalho busca discutir a respeito da colonização italiana e da valorização cultural, na Região da Quarta Colônia de Imigração Italiana do Rio Grande do Sul. Cabe ressaltar que neste artigo mediante ao fato de abordar se a cultura italiana será analisado apenas os municípios de formação italiana, não entrando em detalhes a respeito da Região da Quarta Colônia de Integração, nos quais abrange os outros dois municípios de colonização não- italiana. Na Colônia Silveira Martins, assim como nos outros núcleos colônias, reproduziu-se no espaço geográfico a cultura italiana preservando-se costumes, dialetos, festas, crenças, culinária, arquitetura e, sobretudo, o apego as tradições. Atualmente a Quarta Colônia de Imigração Italiana vem apresentando um grande dinamismo local/ regional seja pelas atividades e empresas que atuam na região ou pelo desenvolvimento do turismo cultural. Sem dúvidas, o trabalho incansável, a religião e da valorização cultural tem favorecido o crescimento geoeconômico dos municípios pertencente à ex- Colônia Silveira Martins. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1 A Imigração Italiana no Rio Grande do Sul e a Região da Quarta Colônia de Imigração Italiana. A colonização italiana no Rio Grande do Sul teve por razões a ocupação das terras sulinas que eram alvos freqüentes de disputas com os espanhóis, além de fomentar a economia interna, através da produção agrícola. A partir de 1870 o governo brasileiro promove a vinda de imigrantes italianos ao estado do Rio Grande do Sul. De acordo com Saquet (2003, p. 39): [...] houve dois processos principais que provocaram interconectados a colonização italiana no Rio Grande do Sul e simultaneamente a constituição da Colônia Silveira Martins: a (geo) política e a expansão do capitalismo mercantil ou o movimento de formação de mercado interno brasileiro acompanhado pela produção da força do trabalho e do mercado de trabalho livre. (SAQUET, 2003, p. 39). Os primeiros italianos que desembarcaram no território rio-grandense receberam lotes de terras na encosta da Serra Geral fundando assim, a primeira colônia italiana no 2
estado gaúcho, denominada de Conde d Eu, atual município de Garibaldi, a segunda colônia foi fundada próxima da primeira com o nome de Dona Isabel, atual município de Bento Gonçalves. As colônias Conde d Eu e Dona Isabel foram fundadas em 1869, ambas cultivavam milho, fumo, batata, mandioca, trigo e centeio. A vinicultura também marcou a economia destas colônias, afinal o colono italiano após as refeições tinha como costume beber vinho, a produção e fabricação do vinho para consumo próprio logo achou mercado consumidor no Brasil, representando mais uma renda ao colono italiano. Atualmente esta região ainda é conhecida pelas vinícolas e pela exportação de vinho e pelo turismo. Á medida que novos imigrantes se dirigiam para o estado, novas colônias eram fundadas, como é o caso da formação da terceira colônia italiana denominada Nova Palmira ou Colônia Caxias, atual Caxias do Sul. A colônia Nova Palmira, situada nos Campos de Cima da Serra, foi ocupada rapidamente. Ficou dependente primeiramente em relação a comercialização agrícola e industrial que se desenvolvia na colônia ao município de São Sebastião do Cai, também encontrando precariedades de infra-estruturas. Desenvolveu-se economicamente baseada na indústria e comércio, atualmente Caxias do Sul, é um pólo industrial bastante dinâmico, herança cultural italiana. Posteriormente em 1877, foi fundada a Quarta Colônia Italiana, que recebeu o nome de Colônia Silveira Martins. Entretanto, esta foi fundada na região central do estado gaúcho, distante dos outros três primeiros núcleos coloniais e dos centros financeiros e econômicos do estado rio-grandense, dificultando assim, o desenvolvimento econômico desta colônia que tinha como ponto de comércio mais próximo o município de Santa Maria e de Cachoeira do Sul. Os imigrantes enviados para a Colônia Silveira Martins eram abrigados inicialmente em barracões com poucas condições de higiene e alimentação até que esperassem a demarcação, por parte do governo Imperial, dos lotes e terras cedidas aos pequenos colonos imigrantes. Porém apenas, os primeiros italianos que chegaram na Quarta Colônia ficaram instalados em Silveira Martins, constituindo assim a sede da colônia, os demais foram sendo distribuídos em áreas próximas, de mata virgem e terras devolutas, efetivando a ocupação da região central do Rio Grande do Sul com a presença dos italianos. Conforme (GIRON, L. S.; HERÉDIA, V. 2007): Os primeiros imigrantes italianos, totalizando 70 famílias, chegaram na Colônia Silveira Martins em 1877. No ano seguinte, foram instaladas mais 170 famílias no sopé da Serra Geral, colonizando esta região e áreas próximas. 3
A chegada continua de imigrantes a colônia a maioria vênetos gerou a necessidade de novos lotes de terras resultando na formação de novos núcleos interioranos próximos da sede da colônia Silveira Martins, denominados: o núcleo norte, soturno, Arroio Grande, Nova Treviso, Vale Vêneto, nas quais deram origem a Região da Quarta Colônia de Imigração Italiana, compostas hoje de sete municípios de colonização italiana: Silveira Martins, Ivorá, São João do Polêsine, Faxinal do Soturno, Dona Francisca, Nova Palma e Pinhal Grande. (Figura 1). Figura 1: Mapa de localização dos municípios da Região da Quarta Colônia de Imigração Italiana /RS. Fonte: Fundação de Economia e Estatística / Org.: MANFIO, Vanessa Sem dúvidas, a colonização italiana propiciou o desenvolvimento dos municípios pertencentes à Região da Quarta Colônia de Imigração Italiana, a formação étnica cultural da região, além de contribuindo com o sucesso do território rio-grandense. Hoje esta região originaria do Ex. Colônia de Silveira Martins apresenta um crescente desenvolvimento local/ regional. 2.2. A Quarta Colônia de Imigração Italiana e o Culturalismo. 4
As colônias de imigração italiana, possibilitaram a formação de paisagens diferentes e repletas de bens materiais e simbólicos que denotam a identidade destes lugares, bem como representam parte da história do estado do Rio Grande do Sul. A dificuldade de colonização da nova terra, o Brasil, as angustia frente às novas descobertas, a saudade da velha pátria, só foi superada mediante ao apego as tradições e a religião. Segundo Erthal (2005, p. 94): O imigrante italiano, que geralmente era do meio agrário, possuía o fator religioso como o mais relevante em sua vida, pois era o principal suporte que o impelia de lutar frente às inúmeras dificuldades vividas. Assim sendo, a religião juntamente com o isolamento das colônias italianas no sul do Brasil, contribuiu para o aprofundamento e valorização cultural nas regiões de ocupação italiana, é notório que os italianos construíram não somente uma história e o desenvolvimento econômico interno brasileiro, mas contribuíram com seus costumes e trabalho para a formação da composição e cultura do povo brasileiro e sobretudo gaúcho. Na Quarta Colônia de Imigração italiana, estão presentes hábitos e costumes italianos, conservados como uma riqueza cultural e apego sentimental, nas quais seus habitantes tem orgulho e respeito pelas tradições de um povo severo, trabalhador, religioso e afetivo. Nessa região os habitantes reproduzem a Itália e a vivência dos antepassados no local, através de um pertencionismo com o lugar, abordando um sentimentalismo frente aos ambientes e as paisagens que são molduradas conforme sua dinâmica e suas origens. Assim como ressalta Saquet: Neste lugar como em noutros os colonizadores desenvolveram práticas sociais que foram simultaneamente espaciais buscando condições para produzirem e garantirem seu(s) território(s) sua reprodução biológica e social, diariamente. Efetivaram atividades econômicas, políticas, e culturais, re-produzindo o ideário trazido da Itália e assim, geraram um modo de vida especifico daquele lugar (com traços comuns a outros lugares de colonização italiana). (SAQUET,2002,p. 35). Segundo BRUM NETO; BEZZI ( 2008), A simbologia que caracteriza o descendente de italiano em solo riograndense permite salientar alguns códigos importantes na consolidação do seu processo de identificação cultural. 5
Os imigrantes italianos que aqui chegaram tentaram reproduzir suas identidades através da reprodução da língua na oralidade e na memória coletiva. Assim, o dialeto vêneto, é destaque para ativar a memória histórica, a trajetória e os possíveis vínculos familiares desde a região do país de origem, a Itália. Ainda, conforme BRUM NETO; BEZZI, M. L. ( 2008), Essa forma de expressividade cultural denota uma devoção, considerada como idolatria e, divide opiniões, visto que, às vezes é considerada por um lado como bairrismo e, por outro, consiste em uma forma de cultuar as tradições e expressar o sentimento de identificação pela sua terra e pela cultura, ou seja, desenvolve-se um sentimento topofílico. ( BRUM NETO; BEZZI, 2008, p.145). Essa região é visivelmente o concreto e a marca da colonização italiana, mediante as características culturais como: arquitetura, gastronomia, festas, modo de vida, costumes e no simbolismo religiosos, ou aos aspectos econômicos: ocupação do rural, agricultura e pela incorporação do turismo. Toda essa beleza não seria possível de ser vivenciada se não fosse à ocupação italiana neste espaço regional e no Rio Grande do Sul. Estes códigos culturais, como por exemplo: a gastronomia, através das comidas típicas, da polenta, do formaggio 1, sopa de agnoline, risoto, foram mantidos entre os hábitos alimentares dos descendentes italianos da Região, que desencadeia muitas festas e festivais na região, entre eles o Festival do Vinho e Queijo, Jantar italiano e Mostra Gastronômica da Quarta Colônia. A religiosidade também é presença no lugar por eles habitado, pela forte fé e crença, são vários capitéis e igrejas que compõem a beleza da região e fazem parte das atrações turísticas e da imagem formada do lugar vivido. PICCIN, ( 2009) aponta que: O desenvolvimento dos municípios da Quarta Colônia é conseqüência do fator religioso, o qual manteve os italianos e seus descendentes unidos, superando o impacto inicial com o novo ambiente, pois tinham na religiosidade o modelo o qual se identificavam totalmente. ( PICCIN, 2009, p.36). 1 Formaggio significa em português Queijo. 6
O turismo rural desta região mostra uma expressão do cotidiano, da vida simples do campo através das marcas culturais e dos artefatos que reforçam o lugar como uma ambiente de sentimento e de vivência, conhecimento e experiência.traduzido nas festas, nos ambientes de lazer, a vida de uma tradição cultural. A Quarta Colônia desenvolve hoje atividades turísticas a paisagem está diretamente ligada à imagem dos lugares mostrando o processo imigratório dos europeus no Rio grande do Sul que é marca da formação do estado gaúcho. Sua cultura estabelece um atrativo e incentiva a comercialização e o consumo cultural, utilizado foi a valorização estética da paisagem natural aliada à arquitetônica e patrimônio cultural/histórico. 3. CONSIDERAÇÕES: O trabalho, a cultura e a religião italiana deixaram suas expressões no território riograndense e na formação étnica brasileira e gaúcha. As belas paisagens culturais repletas de significados e sentimentalismo de uma população trabalhadora que reproduziu no natural o valor de suas origens e hábitos, desperta o interesse de muitos estudiosos e turistas. O lugar vivido é o que desperta as novas atividades econômicas, especialmente o turismo. Assim como a cultura e hábitos italianos tornam-se uma marca econômica e social, especifica da região e dos municípios colonizados pelos italianos. Esta marca, entretanto, caracteriza a região. Assim como o orgulho e sentimentalismos dos moradores da região e descendentes de italianos, nas quais, mesmo distante do local ainda cultuam os seus valores culturais. REFERÊNCIAS BRUM NETO, H.; BEZZI, M. L. Regiões culturais: a construção de identidades culturais no Rio Grande do Sul e sua manifestação na paisagem gaúcha. Sociedade & Natureza, Uberlândia, 135-155, dez. 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. htm>. Acesso em: 28 jun. 2009. ERTHAL, D. A influência Palotina no ethos cultural das populações de imigrantes e descendentes de italianos em Vale Vêneto. 2005. 100f. Dissertação (Mestrado em Integração Latino-americana) Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2005. FUNDAÇÂO DE ECONOMIA E ESTATISTICA. Resumo estatístico do RS/ município de Nova Palma. Porto Alegre. Disponível em: http://www.fee.tche.br/sitefee/pt/content/resumo/pg_municipios_detalhe.php?municipio=nova+palma> >. Acesso em: 09 nov. 2009. GIRON, L. S.; HERÉDIA, V. Cultura e religião. In: GIRON, L. S.; HERÉDIA, V. História da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EST, 2007. 7
PICCIN, E. O Código Cultural Religião Como Uma das Manifestações da Identidade Cultural da Quarta Colônia de Imigração Italiana/RS. 2009. 148f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade federal de Santa Maria, Santa Maria, 2009. SAQUET, M. A. Colonização italiana e agricultura familiar. Porto Alegre: EST, 2002. Os tempos e os territórios da colonização italiana: o desenvolvimento econômico da Colônia de Silveira Martins (RS). Porto Alegre, EST, 2003. 8