CETICISMO, MORAL E SUBJETIVIDADE: MONTAIGNE ENTRE O PIRRONISMO E A FILOSOFIA ACADÊMICA

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Transcrição:

CETICISMO, MORAL E SUBJETIVIDADE: MONTAIGNE ENTRE O PIRRONISMO E A FILOSOFIA ACADÊMICA Luiz Antonio Alves Eva Projeto de pesquisa em nível de pós-doutoramento. Resumo: Esta pesquisa pretende, com a colaboraçao de colegas brasileiros e norteamericanos, e com as condições viabilizadas pelas Universidades em que se desenvolverá, tratar da retomada do ceticismo antigo no Renascimento (seja em sua versão pirrônica ou acadêmica), especialmente por parte de Montaigne, e aprofundar a discussão sobre suas eventuais implicações nas reflexões de natureza moral nos ensaios, bem como nas suas reflexões em torno à subjetividade (nas diversas configurações conceituais pertinentes a esta temática nos Ensaios). Por um lado, pretendemos considerar o problema de saber em que medida é possível, ainda neste autor, encontrar reflexos do ceticismo como uma filosofia prática, tal como a encontramos nos antigos, e que aparentemente iria em breve desaparecer no contexto da filosofia dita moderna. Além disso, pretendemos avaliar em que medida essa apropriação é também tributária do contato de Montaigne com as fontes acadêmicas, sejam as obras de Cícero ou de Plutarco. Igualmente faz parte do escopo da pesquisa uma eventual abordagem comparativa com outros autores relevantes no mesmo contexto teórico, como Charron, Descartes, La Mothe le Vayer ou ainda Francis Bacon. Introdução e justificativa Conquanto já se tenha examinado a conexão entre o ceticismo de Montaigne, tal como apresentado na sua Apologia, e a tematização da subjetividade que se manifesta através do tema do auto-retrato, permanece uma questão relativamente inexplorada a de saber como de e como a reflexão moral própria do ceticismo antigo é incorporada nos ensaios posteriores à Apologia (marcados pela recusa da atitude estóica presente no primeiro livro). Pretendemos, assim, não apenas considerar mais detidamente outros desdobramentos da relação entre ceticismo e subjetividade em outros ensaios (como Da Exercitação ou Do

Arrependimento), mas também avançar no exame da relação entre ceticismo e moral nos Ensaios. Em que medida se pode encontrar, na reflexão de Montaigne, paralelamente ao que observamos ocorrer na sua crítica epistemológica, uma retomada do pirronismo de Sexto seja no que tange à sua crítica das morais dogmáticas, tal como a encontramos no livro III das Hipotiposes, sejam os conceitos relativos às dimensões positivas dessa reflexão moral, como a busca da ataraxía? Nossa hipótese é a de que podemos estender também aqui, em boa medida, a observação da retomada de elementos céticos em Montaigne, embora o seu exame adequado exija que levemos em conta o modo peculiar com que esses conceitos orginários do pirronismo são aclimatados nos Ensaios, seja em vista do modo como o panorama teórico prepara a recepção da leitura de Sexto, seja em vista de peculiaridades dos Ensaios. Um ponto que nos parece de especial relevância consiste na comparação entre esta e outras diversas obras do período, que se referem geralmente ao pirronismo e à filosofia acadêmica emprestando-lhes, corretamente ou não, uma espécie de continuidade filosófica. No caso de Montaigne, particularmente, é notável que nas questões de natureza epistemológica se verifique uma espécie de complementaridade entre ambas as doutrinas. Seria eventualmente essa peculiaridade extensível às reflexões de ordem moral? Se assim for, em que medida essa conciliação abarca o modo próprio como que o problema se apresenta em Cícero e, sobretudo, na tradição ciceroniana do século XVI? Que esclarecimento poderia isso aportar sobre o modo como Montaigne constrói suas reflexões em torno a fontes diversas, Plutarco, Lucrécio e o próprio Sêneca? E qual o teria papel exatamente desempenhado pela figura de Sócrates nesse contexto, para a formulação de uma reflexão moral pessoal de Montaigne? Detalhamento do Projeto: Entre os trabalhos de maior repercussão, na área de Filosofia Moderna e do Renascimento, durante as últimas décadas, certamente está a História do Ceticismo de Richard Popkin, expandida, em sua última versão, ao período que vai de Savonarola a Bayle. Popkin propôs, em linhas muito gerais, que a redescoberta do filósofo pirrônico Sexto Empírico, tardiamente traduzido ao latim, em 1562 e 1569, 2

teve um impacto imediato no ambiente de crise cultural do Renascimento (especialmente estudado no contexto dos debates entre a Reforma e a Contrareforma), que acabou por situar o problema do conhecimento na posição central que veio a ocupar, ao menos desde Descartes, na Filosofia Moderna. Desde sua primeira publicação, em 1963, essa obra deu margem a uma ampla gama de trabalhos que se posicionaram frente a ela dos mais variados modos seja questionando sua tese central (que hoje nos parece ser, todavia, amplamente aceita), 1 seja procurando rever aspectos particulares e discutir criticamente seu significado ou estendê-la para terrenos inexplorados. 2 Mas, até onde podemos avaliar, tais reações têm sempre o efeito de matizar ou rever o significado da tese central de Popkin, sem com isso pretender revogá-la. Talvez possamos dizer que a nossa própria pesquisa, tal como até aqui se tem desenvolvido, se enquadraria entre aquelas a que nos referimos como revisões de consequências pontuais ou complementações da obra de Popkin. Para não adentrarmos aqui em maiores detalhes, limitemo-nos a assinalar que, depois de termos nos ocupado principalmente da relação entre ceticismo e tematização da subjetividade, sobretudo em Montaigne e Descartes, detivemo-nos no exame das discussões céticas em torno à noção de linguagem que se ofereceu como um fio condutor privilegiado para observar uma transformação conceitual em diversas etapas. Enquanto as reflexões pirrônicas são essencialmente preocupadas em explicitar as condições segundo as quais o cético poderia coerentemente se apropriar da linguagem corrente sem contradizer sua postura filosófica, em Sanchez e Montaigne a precariedade natural da linguagem é explorada mais detidamente como uma fonte autônoma de problemas cognitivos. Finalmente, na obra de Bacon, a temática cética de seus contemporâneos é exacerbada na forma dos idola fori, mas dá origem, ao mesmo tempo, a discussões positivas sobre a necessidade de uma linguagem artificial capaz de se oferecer como instrumento adequado para o aprofundamento da ciência das Formas verdadeiras, nos moldes delineados pela sua Indução. Ora, independentemente do modo como as referências textuais, presentes especialmente nas obras de Montaigne, permitem 1 Cf., p. ex., Nelson (1965) 2 Seria impossível enumerar aqui todas as obras que se posicionaram dessa forma frente ao trabalho de Popkin. Limitemo-nos a mencionar, dentre os trabalhos de pesquisadores brasileiros, os exemplos de SMITH (2000) e MAIA NETO (2004). 3

uma aproximação direta deste aspecto da discussão filosófica sobre o tema nos vários autores, nossa pesquisa nos revelou igualmente que uma abordagem mais satisfatória dessa questão, segundo a complexidade própria com que ele se apresenta no período do Renascimento, exige agora um redimensionamento dos nossos horizontes de investigação pelo qual, ao que nos parece, seria igualmente possível compreender com maior abrangência a importância histórica da obra de Sexto, para além das suas qualidades filosóficas intrínsecas. Todavia, embora a nossa pesquisa agora pudesse igualmente estender-se a temas relacionados à crítica cética das noções de retórica e dialética no século XVI, preferimos deixar isso para um segundo momento e nos voltarmos, agora, para outros temas que já abordamos, ainda que, como se verá, sob outro prisma. Uma das consequências indiretas dessa tese de Popkin foi a de indicar que o papel do ceticismo acadêmico pareceria desempenhar, nesse processo, um papel relativamente secundário. Alguns pesquisadores reagiram a esse aspecto da sua análise procurando pôr em relevo dimensões em que o impacto da leitura das fontes acadêmicas se deixariam entrever entre os Renascentistas e Modernos. 3 E mesmo aquela que é a principal obra sistemática sobre a retomada dos Academica de Cícero no Renascimento, Cicero Scpeticus, de Charles Schmitt, não faz senão confirmar, em linhas gerais, o caráter filosoficamente decisivo da tradução das obras de Sexto na filosofia do final do Renascimento. 4 Isto não significa, naturalmente, que a obra de cética de Cícero não tenha desempenhado papel relevante na pavimentação da via intelectual, como diz Schmitt, para o acolhimento do ceticismo diretamente oriundo das fontes gregas. Essa afirmação pode, por certo, desdobrar-se em vários aspectos dignos de análise, e decerto não é dos menos importantes o exame de seu papel em vista das repercussões do assim chamado movimento humanista, que, desde o século XIV, vale-se principalmente de um modelo encontrado na obras de Cícero para constituir um certo ideal cultural concorrente com aquele representado pela filosofia ortodoxa, a saber, pela discussão escolástica em torno à obra de Aristóteles. Segundo o programa de estudos humanistas, ter-se ia deixado em segundo plano, ao menos em um primeiro momento, as preocupações filosóficas em torno à lógica e à metafísica, 3 Ver, p. ex., LIMBRICK (1977) e MAIA NETO (1997) 4 Ver, p. ex., SCHMITT (1972), p. 73 ss, p. 158. 4

para conferir um lugar privilegiado às discussões em torno à linguagem (especialmente à retórica e à gramática), à historia e, no âmbito da Filosofia, o que Cícero denominava a filosofia pr tica, ou o estudo das vidas e costumes os tópicos da virtude, do dever, da equidade, do bem, do valor moral e da utilidade, da honra e da desgraça, da recompensa e da punição como aquilo que seria adequado à formação do orador. 5 De modo geral, tem-nos parecido possível afirmar que, embora Montaigne separe pirronismo e ceticismo acadêmico como duas referências filosóficas diversas, sem perder de vista a consciência histórica de de lidar com fontes filosóficas portadoras de diferenças relevantes, ele tende todavia a interpretá-las, não como filosofias rivais ou opostas, mas sobretudo como duas variedades de uma certa orientação filosófica básica ao menos no que diz respeito a diversos aspectos conceituais centrais nessas formas de ceticismo. 6 Ainda que Montaigne, efetivamente, ocupe um lugar singular, não apenas no modo como distingue precisamente essas fontes, mas também com relação à maneira pela qual sua própria filosofia de orientação cética irá ganhar voz própria, por assim dizer, nesse mesmo contexto, tratar da filosofia acadêmica ou do pirronismo como formas relativamente indissociadas da mesma filosofia é algo que se pode constatar em diversos autores que precederam Montaigne no século XVI. 7 E, ainda que isso talvez se devesse ao limitado conhecimento das fontes, isso tampouco exclui que tal tendência possa se prolongar em uma interpretação propriamente filosófica na mesma direção, ao menos no que tange a certos temas. Seria, porém, essa harmonização sustentável no plano da filosofia moral? Como Montaigne teria particularmente compreendido esse ponto? Deveremos considerar suas reflexões sobre moral como prolongamento de alguma (ou de ambas) dessas tendências associadas ao ceticismo antigo e, em caso afirmativo, como se conciliam com suas reflexões morais próprias? Muito embora os Ensaios de Montaigne sejam, antes de mais, uma obra de Filosofia Moral, pouco se fez até aqui no sentido de avaliar quais seriam as repercussões do pirronismo de Sexto Empírico também nesse aspecto de seu 5 Ver, por exemplo, SEIGEL (1968), cap. I. A citação provém do De Oratore I, xv, 68-69; xxvii, 107-8, apud. Seigel, p. 15. 6 Tal tendência, ao que nos parece, é cada vez mais nítida nas versões mais tardias dos Ensaios.Ver nosso A Figura do Filósofo, São Paulo, Loyola, 2007, p. 32 7 Ver SCHMITT (1972), p. 70, 74 5

pensamento, 8 mas é bastante sustentável que elas se fazem presentes. Diversas passagens da Apologia de Raymond Sebond especialmente a crítica de Montaigne quanto à possibilidade de conhecimento de uma lei moral natural por meio da razão parecem diretamente inspiradas na crítica das morais dogmáticas (sobretudo do estoicismo e do epicurismo), presentes no terceiro livro das Hipotiposes e no tratado Contra os Éticos. 9 E tal parentesco, uma vez considerado em à luz do problema mais amplo de saber como Montaigne interpreta o ceticismo em face, por exemplo, de representações aparentemente dissonantes acerca da figura de Pirro, tal como as encontramos, por exemplo, na Apologia e em no início do ensaio Da Virtude 10 convidaria a um exame de como Montaigne interpreta a noção pirrônica de bios adoxastos, uma vida sem crenças. Além disso, parece possível reconhecer, no âmbito dessa discussão, algum parentesco entre a maneira como Sexto Empírico preconiza uma adesão ao phainómenon como critério de ação e o recurso de Montaigne ao costume como possuidor de um papel análogo. É necessário então examinar como se articulariam os temas da adesão ao costume, da aceitação de crenças e busca de agir conforme a natureza, neste momento de sua reflexão. Porém, para além desta sua dimensão crítica, o cético pirrônico extrai de sua postura suspensiva, tal como a encontramos formulada em Sexto Empírico, ao menos duas consequências positivas: a atitude de moderação das afecções (metriopáthia) 11 e a obtenção, por meio da suspensão do juízo, de uma condição de tranquilidade ou imperturbabilidade (ataraxía), ao menos no que se refere aos assuntos de opinião. 12 Até que ponto seria possível reconhecer reflexos destes conceitos nas reflexões de Montaigne? Entre os poucos comentadores que adentram nessa temática, C. Larmore dedicou um artigo para procurar sustentar que, a despeito dos pontos de familiaridade que encontramos entre Montaigne e Sexto, isso não se estende à noção de ataraxía. 13 E, de fato, há pelo menos uma passagem nos Ensaios que pode aqui ser lembrada como aparentemente oferecendo apoio a essa leitura:... Toda a glória que pretendo de minha vida é a 8 Um dos poucos textos a esse respeito de que tenho notícia é 9 Ver, p. ex., II, 12, 577-585, cf. HP III, 175 ss. 10 Cf. II, 12, 505; II, 29, 705-706A 11 V., p. ex., HP I, 25, 29-30. 12 V. HP I, 12, 25 et ss. 13 Larmore (2004). 6

de ter vivido tranqüilo; não segundo Metrodoro, Arcesilau ou Aristipo, mas segundo eu mesmo. Posto que a filosofia não soube encontrar nenhuma via para a felicidade que fosse boa em comum, que cada um a busque em seu particular... 14 Se não há nenhuma via para a felicidade que seja boa em comum, tampouco se poderá, ao que parece, alegar que a via cética o seja seja a via pirrônica (ainda que ela não seja aqui mencionada), seja a que nos teria legado o cético acadêmico Arcesilau. Todavia, essa é apenas uma interpretação possível desse texto, que depende, igualmente, de aceitarmos que as considerações de Sexto sobre a ataraxía tenham sido interpretadas como possuidoras de uma dimensão normativa (e não apenas como uma narração de sua experiência particular). Há, por outro lado, diversos textos, além do que mencionamos, em que Montaigne reporta o fim de sua atividade filosófica como sendo a busca da tranquilidade. E mesmo que tal concepção de tranquilidade não se possa, eventualmente, caracterizar como pirrônica, cabe ao menos levar em conta a possibilidade de que a relativização do discurso filosófico a uma experiência intrinsecamente subjetiva possa, também aqui, como ocorre em outras passagens dos Ensaios, ser parcialmente motivadora da independência intelectual com que Montaigne pretende se posicionar sobre essa questão. Para dimensionarmos adequadamente esse ponto, precisamos igualmente examinar, de modo mais amplo, outras reflexões de cunho moral, especialmente presentes no livro III, que podem sugestivamente se prestar a uma interpretação pirronizante como a idéia de moderação da vontade, tal como apresentada no ensaio 10, III (De bem conduzir sua vontade) ou as tematizações tardias do tema da tranquilidade que encontramos nos ensaios 9, III (Da vaidade) e 13, III (Da experiência). Caberia, igualmente, explorar o reflexo desta temática moral no projeto montaigneano de oferecer um retrato de si, como meio de examinar a condição humana, com o qual ela se conecta, ao menos parcialmente. No livro III das Hipotiposes, um dos argumentos que Sexto Empírico oferece para alvejar as morais de tipo dogmático reside no modo como elas se revelam impossíveis de serem postas em prática. Sustentar que o sábio seria aquele que pode ser reconhecido, diz ele, pela regularidade de suas ações, não faz senão superestimar a natureza humana e formular desejos, em vez de dizer a verdade.... E, em apoio dessa observação, cita 14 II, 16, 622C 7

Homero: Pois o espírito dos homens sobre a terra muda como o dia que o pai dos homens lhes aporta. 15 Esta idéia formulada aqui de passagem é bastante similar àquela que se tornará central nos Ensaios: por oposição à recusa das morais que desenvolvem uma idéia fantasiosa e incompatível com aquela que é efetivamente a nossa condição, é preciso retratar o homem como ele é na sua própria mutabilidade e instabilidade como o encontramos, por exemplo, no mesmo ensaio III, 2, onde seu livro se apresenta como [...] o registro de eventos diversos e mutáveis, de idéias em suspenso, e mesmo eventualmente contrárias, seja por ser eu mesmo outro, seja porque eu trato meus assuntos em outras circunstâncias ou sob um ângulo diferente... Se meu espírito pudesse se fixar, eu não me ensaiaria, eu me decidiria; mas ele est sempre em aprendizagem e posto { prova... 16 Para bem realizar um exame desse ponto, porém, parece-nos igualmente importante levar em conta que, de um modo mais claro do que se pode constatar no caso das reflexões epistemológicas, as noções morais pirrônicas são de natureza bastante distinta daquelas que se podem reconhecer associadas à postura filosófica da Nova Academia especialmente se consideramos a obra de Cícero, que é, para Montaigne, a principal fonte dessa filosofia. Como assinala Seigel, se Cicero pretende conjugar filosofia prática e retórica, como dois aspectos da formação que Cícero teria em vista no ideal da figura do orador, um dos aspectos em que essa questão se desdobra é a da relação entre sua postura céticoacadêmica e a defesa do decorum que se formula, em obras como o De Officiis, modelado a partir da concepção do estóico Panécio, pela qual se busca conciliar a virtude com a defesa do Estado. 17 Outras obras, porém, como o De Finibus e as Tusculanas, opõem o estoicismo ao que ele denomina a filosofia dos peripatéticos (e que não se resume, na verdade, a ser uma retomada da filosofia de Aristóteles, mas sim um conjunto de idéias associado à Antiga Academia por Antíoco de Ascalão, professor de Cícero que desertou do ceticismo em defesa de um dogmatismo moral no qual, por oposição aos estóicos, caberia reservar um lugar para a saúde e para a fortuna na obtenção da vida feliz). 18 É um intrincado problema o de determinar como essas posições morais se articulam no caso de 15 HP III, 243-244; Odisséia, xviii, 136-137 16 III, 2, 805B; De Officiis, I, 31. 17 Seigel (1968), pp. 18-20. 18 ibid., p. 20-21 8

Cícero ainda que, segundo o mesmo comentador, tal articulação revele uma permanente primazia da postura acadêmica:... [Cícero] nunca aderiu a nenhuma das escolas dogmáticas. Seu orador ideal seria um estóico nos momentos mais filosóficos, um peripatético na vida comum, mas fundamentalmente um cético todo o tempo... 19 Comentando a crítica de Huet a Descartes, T. Lennon opõe pirrônicos e acadêmicos afirmando que... o progama Pirrônico é moral e pragmático, cujo objetivo é a tranquilidade da ataraxía. A filosofia acadêmica é um empreendimento epistêmico cujo objetivo é a verdade. 20 Se isso pode eventualmente ser dito acerca de como a filosofia acadêmica é acolhida no século XVII (talvez sob influência do modo como será discutida por Bacon e pelo ceticismo de Sanchez), o mesmo não vale para o modo como isso se dá no século XVI (de um modo que, em certa medida, reflete problemas interpretativos análogos). O ideal de orador ciceroniano ocupa um lugar central no modelo formativo dos humanistas, desde Petrarca; um modelo que permanece, de modo geral, ocupando um lugar de primazia entre os intelectuais de formação humanista ao longo dos séculos XIV a XVI. Antes de ser lido como um autor cético, Cicero é lido, a um só tempo, como modelo retórico e como fonte das filosofias morais helenísticas latinizadas que se redescobrem em grande medida no Renascimento. Não é de modo dissociado desse ideal que os Academica de Cícero são acolhidos quando passa a crescer o interesse pela obra, sobretudo a partir da segunda metade do século XVI. É interessante notar como Omer Talon, editor e comentador dos Academica de Cícero e autor, ele próprio, de uma obra intitulada Academia, preconiza a filosofia da Nova Academia, a um só tempo como um modelo de como a filosofia pode se associar convenientemente com a eloquência e como modelo da libertas philosophandi, de liberdade de investigação filosófica (por oposição à filosofia oficial do seu tempo) tema este claramente presente no retrato do cético que nos oferece Montaigne, duas décadas mais tarde. 21 Igualmente, os Ensaios parecem revelar reminiscências de leituras de outras das principais obras que discutiram os Academica de Cícero no XVI, como Mario Nizolio e Guy de Bruès. 19 ibid., p. 29. 20 Lennon (2004), p. 135. 21 Ver Schmitt (1972) p. 81 ss., Popkin (2003), pp. 32-35 9

Não deixa de ser, assim, particularmente curioso que encontremos, por exemplo, no ensaio Da presunção, o seguinte coment rio de Montaigne sobre o tema da tranquilidade da alma: [B] O elogio que todos buscam, acerca da vivacidade e prontidão do espírito, eu o pretenderia com relação ao regramento; em vez de uma ação brilhante ou notável, ou de alguma capacidade particular, eu o pretendo a partir da ordem, harmonia e tranquilidade de opiniões e costumes. [C] Omnino, si quidquam est decorum, nihil est profecto magis quam aequabilitas universae vitae, tum singularum actionum: quam conservare non possis, si, aliorum naturam imitans, omittas tuam. 22 Tal citação provém do De Officiis, de Cícero a obra do filósofo romano mais conhecida e citada desde o final da Idade Média obra em que, como vimos, ele se inclina sobretudo em favor da filosofia estóica, e no mesmo ensaio Da presunção, construído em torno de uma retomada de um tema central da sua postura cética (a crítica da vaidade), poderemos igualmente encontrar uma discussão em torno à oposição das morais estóica e peripatética. Mais ainda, não é possível desconsiderar o modo como o próprio Montaigne, ao contrapor concepções de virtude, em II, 29, irá se inclinar favoravelmente à concepção que privilegia a uniformidade da constância; nem mesmo, sobretudo, o papel cada vez mais importante que vai assumindo a figura de Sócrates nos ensaios mais tardios (como modelo de uma virtude naturalizada e associada com o reconhecimento da ignorância). Enquanto a moral pirrônica apresenta-se, de certo modo, como uma forma de recusa de uma certa concepção de moral (capaz de conduzir a uma apropriação transformada de conceitos do discurso moral), a filosofia acadêmica, por outro lado, parece explicitar-se através de uma adoção qualificada de certas posturas morais extraídas das filosofias dogmáticas (sem todavia se confundir com elas mesmas) de um modo que, em certa medida, parece evocar a liberdade com que Montaigne, por sua vez, considera as fontes filosóficas de que se ocupa. Não se trata, decerto, de pretender que o lugar ocupado pela filosofia academica, em sua associação com o ideal de orador, no caso de Cícero, corresponda àquele que 22 II, 17, 658: Se há algo de louvável, nenhuma o é mais do que a uniformidade da conduta que não é desmentida por nenhuma ação particular, e essa uniformidade é impossível de ser mantida quando omitimos esse natural e imitamos o de outrem. 10

talvez, no caso de Montaigne, seja ainda ocupado por uma perspectiva cética. Mas esses elementos nos parecem suficientemente relevantes para examinarmos se, em algum sentido, o modelo acadêmico não se oferece, de modo transformado, como um subsídio importante para a compreensão das reflexões morais dos Ensaios mesmo quando elas se apropriam do pirronismo na esfera da moral. Objetivos, com definição e delimitação do objeto de estudo Nosso objetivo é o de produzir material teórico, na forma de textos a serem apresentados para discussão, seja em colóquios ou atividades acadêmicas próprias a serem realizadas durante o período da pesquisa, em torno aos temas acima apresentados, para posterior publicação em meios de divulgação especializados (revistas ou publicações coletivas). Nosso objeto, como acima especificamos, é a retomada das reflexões céticas clássicas em torno da moral na filosofia de Montaigne e nas demais filosofias do Renascimento; mais exatamente, o modo como se conciliam em sua obra elementos provenientes do pirronismo de Sexto Empírico e do academismo de Plutarco e de Cícero. Interessa-nos precisar a peculiaridade da retomada feita por Montaigne dessa temática, com o intuito de esclarecer o seu papel específico na transição da imagem sofrida por essa filosofia a partir da modernidade, tendo em vista o modo como logo tal tema filosófico passou a estar desarticulado de suas conotações morais originais. Metodologia a ser empregada Aprofundamento da pesquisa bibliográfica nas bibliotecas frequentadas, leitura e análise do material bibliográfico; Produção de textos teóricos destinados a apresentação oral e posteriormente a publicação em revistas especializadas ou livros científicos. Participação em seminários de pesquisa, que ocorrerão, na sua fase nacional, no Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (sejam seminários específicos sobre ceticismo, em conjunto com o professor dr. Roberto Bolzani, sejam seminários sobre Montaigne e a Filosofia do Renascimento, organizados pelo 11

professor dr. Sérgio Cardoso). Em um segundo momento, a pesquisa deverá se desenvolver em uma univeridade norte-americana (Johns Hopkins University, Baltimore-Maryland), sob a direção do prof. Richard Bett. Colaboração com atividades de pesquisa em nível de graduação e de pós graduação realizadas na Universidade de São Paulo, incluindo o oferecimento de palestras e um eventual mini-curso e a discussão com alunos sobre seus projetos. Motivação e relevância da realização do estágio no país, plano de atividades e de execução segundo o cronograma proposto. Cabe esclarecer, antes de mais, que esta pesquisa pretende se desenvolver em duas fases consecutivas: uma fase internacional (a partir de setembro de 2011, para a qual solicitaremos uma bolsa de pesquisa adequada a essa finalidade) e uma fase nacional, a ser desenvolvida na Universidade de São Paulo, de fevereiro a agosto de 2011, e é para essa fase específica do projeto que ora estamos solicitando financiamento por meio de bolsa de pesquisa de pós-doutoramento Capes/REUNI. Como dissemos, a presente pesquisa procurará, como dissemos, desenvolver e conectar aspectos isolados de outros trabalhos que anteriormente realizamos, tendo em vista a consolidação de hipóteses e a sua confontação com o trabalho de alguns dos principais especialistas internacionais do tema, na sua fase internacional. A sua fase nacional, por sua vez, a ser realizada na Universidade de São Paulo, possui uma motivação dupla: Realizar uma primeira etapa da elaboração desse material, que será submetida à apreciação da comunidade de pesquisadores do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo; Considerar perspectivas de trabalho a partir desse material observando, in loco, as modalidades de integração entre pesquisa de graduação e de pós-graduaçao (que devem ser, num segundo momento, confrontadas com as modalidades disponíveis na Universidade Johns Hopkins, tendo em vista, num momento final, a sua eventual adaptação para os processos de pesquisa realizados na Universidade Federal do Paraná). 12

O Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo possui à sua disposição (ao lado da Universidade Estadual de Campinas) as melhores bibliotecas da área de Filosofia no País, bem como um programa de pesquisa em Filosofia, tanto em nível de graduação (iniciação científica) e pós-graduação que é referência para a área no país. No que tange, em particular, à Iniciação Científica, o Departamento possui um projeto de pesquisa integrada, com a participação de vários alunos e professores em áreas diversas, que constitui igualmente uma experiência inovadora e bem-sucedida, da qual esperamos extrair elementos capazes de aprimorar nossa própria intervenção no programa de que participamos. Ademais, quanto ao conteúdo da pesquisa propriamente dita, já tive diversas oportunidades de contato com os referidos professores, Roberto Bolzani Filho e Sérgio Cardoso, desde a época em que fui aluno dos cursos de graduação e pósgraduação nessa instituição e, posteriormente, em eventos nacionais e internacionais de nossa área. Será certamente uma oportunidade bastante frutífera a de poder usufruir de um contato acadêmico cotidiano, bem como de poder compartilhar das atividades de pesquisa em grupo que eles coordenam com seus diversos orientandos. Cronograma de atividades a ser desenvolvido durante o estágio de pesquisa: período Fase 1 Março /Agosto 2011 Fase 2 Setembro / Dezembro 2011 Fase 3 Janeiro/ Abril 2012 Atividades Leitura e análise dos textos que constituem o objeto da pesquisa, na biblioteca do SCHLA/USP. Participação de atividades de seminário e de cursos ministrados no Departamento de Filosofia da USP. Possíveis intervenções na forma de mini-curso, palestra e/ou discussão com outros pesquisadores, com o propósito de elaborar o material apresentado neste projeto. Início da elaboração de texto teórico detalhado a partir das hipóteses consideradas neste projeto. Início da fase internacional da pesquisa: participação de atividades acadêmicas diversas correspondentes ao Fall Term na Universidade Johns Hopkins, como cursos, seminários, discussão com pesquisadores, em nivel de graduação e pós-graduação. Análise preliminar da bibliografia acessível nesta Universidade. Início da elaboração de texto destinado a publicação, na forma de artigo científico. Fase final da pesquisa na Universidade Johns Hopkins, correspondentes ao Spring Term. Leitura e análise de obras relevantes disponíveis no fundo bibliográfico. 13

Possível realização de seminário de pesquisa junto a demais pesquisadores em torno de temas atinentes à pesquisa. Finalização de texto científico na forma de artigo, a ser posteriormente submetido para publicação em revista científica internacional. Cabe assinalar que o presente cronograma depende ainda de fatores externos ao financiamento que aqui se está solicitando. Caso a realização da fase internacional não obtenha financiamento, pretenderemos adaptar, na medida do possível, as atividades ali previstas (notadamente no que se refere à sua maturação para produzir material científico) no âmbito da própria Universidade de São Paulo, através de uma prorrogação desta sua primeira fase. Forma de análise dos resultados Salvo engano, não nos parece possível avaliar quantitativamente o resultado produzido por uma pesquisa desta natureza. A análise qualitativa, por sua vez, será avaliada a partir do material produzido através do estágio. Bibliografia de referência ANNAS, Julia (1988), The Heirs of Socrates, Phronesis, 33, pp. 100-112 (1992). Plato the Sceptic, in Methods of Interpreting Plato and his Dialogues, Oxford Studies of Ancient Philosophy, James C. Klagge and Nicholas Smith (eds.), Oxford University Press, pp. 43-72 BETT, Richard, How ethical can an ancient sceptic be?, texte inédit présenté au colloque international sur le scepticisme de Buenos Aires en 2008. BIRCHAL, Telma. (2007) O eu nos Ensaios de Montaigne. Belo Horizonte, Editora da UFMG. BOLZANI, Roberto. Cícero Acadêmico, Kriterion, 102, ago/dez 2000, 206-224. CARDOSO, Sérgio. On Skeptical Fideism in Montaigne s Apology for Raymond Sebond, Skepticism in the Modern Age: building on the work of Richard Popkin/ edited by José R. Maia Neto, Gianni Paganini, John Christian Laursen, Leiden: Brill, 2009, pp. 71-82. CICERO De natura deorum/academica. Loeb Classical Editions, ed. H Rackham, London: Cambridge University Press, 1994. 14

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