A Lei 10.216/2001 e o Código Penal análise.

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Transcrição:

A Lei 10.216/2001 e o Código Penal análise. Luciana C. Paiotti Figueredo Juíza de Direito Responsável pelo julgamento das execuções das Medidas de Segurança e pelas visitas correicionais dos Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Período janeiro a setembro de 2009 Objetivos Expor as regras do Código Penal para a aplicação das Medidas de Segurança. Expor as regras da Lei n. 10216/2001 aplicáveis às Medidas de Segurança. Propor nova interpretação do art. 97, do CP, o qual impõe a aplicação de Medidas de Segurança de internação aos inimputáveis que praticaram crimes apenados com reclusão. 1

Inimputáveis Art. 26, do CP - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Imputabilidade É a capacidade de a pessoa entender que o fato é ilícito e de agir de acordo com esse entendimento. 2

Aplicação das Medidas de Segurança Prática de um fato típico e antijurídico (crime) Periculosidade Periculosidade Mera estimativa Conceito indeterminado, amplo. Interface entre direito e medicina. 3

Natureza das Medidas de Segurança Sanção penal com caráter preventivo e curativo. Não há caráter retributivo, ou seja, não há castigo. Espécies de Medidas de Segurança Art. 97, do CP - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial. 4

Reclusão e Detenção Art. 33, do CP- A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. Exemplos de Penas Homicídio simples Art. 121 - Matar alguém: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. Lesão corporal Art. 129 - Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. Furto Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Art. 32, da Lei n. 9.605/98 Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos, nativos ou exóticos. Pena detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. Assédio sexual Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. Pena detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. 5

Lei n. 10.216/2001 Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Código Penal X Lei n. 10.216/2001 Código Penal internação se o crime for apenado com reclusão. Lei n. 10.216/01 internação somente se não houver outra terapêutica possível. 6

Conclusão Diante da ocorrência de um crime praticado por pessoa portadora de doença mental, a definição da espécie de Medida de Segurança, a partir de uma interpretação harmônica do Código Penal e da Lei n. 10.2106/01, implica na avaliação tanto da periculosidade quanto do melhor tratamento possível. Jurisprudência Agravo em Execução Penal n. 990.10.073457-1, Tribunal de Justiça de São Paulo Rel. Des. Antonio Manssur, 23/06/2010. Recurso em sentido Estrito n. 2010.003899-0/00, TJ Mato Grosso do Sul, Rel. Des. Marilza Lucia Fortes, 25/05/2010. 7

Execução das Medidas de Segurança Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial. Prazo 1º - A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 (um) a 3 (três) anos. Perícia médica 2º - A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo fixado e deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz da execução. Desinternação ou liberação condicional 3º - A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional devendo ser restabelecida a situação anterior se o agente, antes do decurso de 1 (um) ano, pratica fato indicativo de persistência de sua periculosidade. Art. 17, da Resolução n. 113/2010, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) O juiz competente para a execução da medida de segurança, sempre que possível buscará políticas antimanicomiais, conforme sistemática da Lei n. 10216, de 06 de abril de 2001. 8