A violência contra a mulher no Estado do Ceará e a aplicação da Lei Maria da Penha



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Transcrição:

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ ESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO CEARÁ Curso de Especialização em Administração Judiciária Séphora Banhos de Menezes Forte A violência contra a mulher no Estado do Ceará e a aplicação da Lei Maria da Penha Fortaleza 2008

Séphora Banhos de Menezes Forte A violência contra a mulher no Estado do Ceará e a aplicação da Lei Maria da Penha Monografia submetida à Universidade Estadual Vale do Acaraú como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialista em Administração Judiciária. Orientador: Professor MS. Pedro Carvalho de Oliveira Neto Fortaleza - 2008

Séphora Banhos de Menezes Forte A violência contra a mulher no Estado do Ceará e a aplicação da Lei Maria da Penha Monografia apresentada à Universidade Estadual Vale do Acaraú como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Administração Judiciária. Monografia aprovada em: / / Orientador: Prof. MS. Pedro Carvalho de Oliveira Neto 1º Examinador: Prof. DR. Edilson Baltazar Barreira Júnior 2º Examinador: Prof. MS. José de Anchieta Silveira Coordenador do Curso: Prof. MS. Pedro Carvalho de Oliveira Neto Fortaleza - 2008

AGRADECIMENTOS A Deus, por sua força, que me impulsionou a não desistir. Em memória de meu querido pai (Isaú) e a minha mãe (Bernadete), pelo exemplo e incentivo. Aos colegas de turma, em especial aqueles que me ajudaram quando realmente precisei. À minha família, filhos, marido e aos meus professores e orientador.

DEDICO Aos meus queridos pais. Aos meus filhos, Vítor e Mariana, para que meu esforço seja exemplo para os dois. E a todos que de alguma forma me ajudaram nessa etapa.

Ser mulher... Ser mulher, mãe, companheira e amiga, são tarefas abençoadas que Deus nos concede. A partir do momento que geramos uma vida. Lílian Menale

RESUMO Este trabalho aborda a violência contra a mulher no Estado do Ceará e a aplicação da Lei nº 11.340, de 07 de agosto 2006, conhecida como Lei Maria da Penha. Também avalia a repercussão, em termos de aplicação do Direito, após a publicação da referida lei na problemática da violência. A pesquisa visa, ainda, demonstrar como se encontra o problema da violência contra a mulher no Estado e avaliar se houve diminuição com o advento da Lei. A expectativa gerada com a aprovação da Lei Maria da Penha, a preocupação da população com a crescente violência familiar que acontece nos dias atuais e se a aplicação da lei está ocorrendo em todas as camadas da sociedade, foram fatores essenciais que influenciaram na escolha do tema. As estatísticas levantadas pelas Delegacias Especializadas demonstram a existência de alto índice de violência familiar na sociedade. ABSTRACT This work boards the violence against woman in the State of Ceará and the enforcement of law number 11.340, of August, 7th, 2006, known as Law Maria da Penha. It either evaluates the repercussion, in terms of enforcement of Law, after the publication of the referred law in the problematic of the violence. The research ains still for demonstrating how the problem of violence against woman is in the State and to evaluate if there was reduction with the advent of the law. The generated expectation with the approval of Law Maria da Penha, the concern of population with the familiar violence growing that happens in the current days and if the law enforcement is ocurring in all layers of society, they were factors that influenced in the choice of theme. The statistics registered by Specialized Police Stations demonstrate the existence of high rate of familiar violence.

SUMÁRIO 1- INTRODUÇÃO...09 2 ASPECTOS GERAIS SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER...12 2.1 Algumas formas de violência contra a mulher...15 3 A LEI 11.340/06, de 07 de agosto de 2006, LEI MARIA DA PENHA...19 3.1 Considerações sobre a Lei...21 3.2- Polêmicas acerca da Lei...22 4 A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO ESTADO DO CEARÁ...26 4.1 Alguns dados estatísticos e aplicabilidade da Lei...28 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...32 6 - REFERÊNCIAS...35 ANEXOS...38

1 - INTRODUÇÃO O tema abordado nesta pesquisa é a violência contra a mulher no Estado do Ceará e a aplicação da Lei n 11.340/06, ou Lei Maria da Penha. O advento da Lei ganhou repercussão em todo o País e a idéia desta pesquisa surgiu por haver sua aprovação gerado uma expectativa na população e por existir, presumivelmente na sociedade, uma preocupação com o aumento da violência doméstica nos lares brasileiros. Através deste trabalho se tentará demonstrar como se encontra a problemática da violência contra a mulher no Ceará. As estatísticas apontam uma elevada incidência da violência no cotidiano das mulheres cearenses. As autoridades do estado demonstram preocupação com a situação atual e com o imediato cumprimento da lei, tentando buscar ações eficazes de combate a esse tipo de violência. Prova disso foi a criação, através da Lei nº 13.925/07, de dois Juizados de Violência contra a mulher no Ceará, um em Fortaleza e outro em Juazeiro do Norte. Mesmo com os atuais avanços tecnológicos, econômicos, sociais e culturais, a violência contra a mulher, e em especial, a que ocorre no contexto doméstico e familiar, é ainda um assunto que provoca preocupação. No Ceará, a Defensoria Pública do Estado, instituição que tem a função de promover a defesa e a orientação jurídica em todos os graus aos necessitados, criou dois Núcleos de Defesa da Mulher objetivando atender as mulheres de Fortaleza. Nesses núcleos, promove-se o acesso da mulher à justiça, em particular, a que se encontra em situação de violência, prestando assistência jurídica através de orientação e consultoria acerca dos seus direitos. A violência de gênero contra a mulher tem origem nas relações assimétricas entre o sexo masculino e o feminino e pode ser definida como qualquer ato que provoque dano ou sofrimento físico, moral, psicológico ou sexual.

10 Por ocorrer, na maioria das vezes, no contexto das relações privadas interpessoais e de afeto, as agressões são consideradas naturais e até ignoradas, como se interessasse apenas às pessoas envolvidas. Estudos têm se desenvolvido sobre o assunto, alguns demonstrando o preconceito existente ao ligar a violência, quase sempre, às classes sociais menos favorecidas e às questões do desemprego, alcoolismo, ou ainda à lenda de que existem mulheres que gostam de apanhar. No entanto, observa-se através de dados estatísticos que esse tipo de violência pode ocorrer em todas as camadas sociais, dentro dos lares, sendo geralmente os agressores pessoas afetivamente ligadas à vítima, como, maridos, companheiros, pais, filhos e outros, apontando a cultura da sociedade, principalmente nos estados do Nordeste, como um dos fatores que contribui para a geração dessa violência. A aprovação da Lei nº 11.340/06, Lei Maria da Penha, no âmbito jurídico representa um avanço conseguido pela mulher, uma vez que desautorizou a aplicação da Lei nº 9099/95, que criou os Juizados Especiais Criminais, para julgar os crimes de menor potencial ofensivo, cuja pena máxima é a reclusão do agressor por dois anos ou penalizando, através de obrigações pecuniárias, onde, não se atribuía a essa problemática a devida importância. O trabalho encontra-se dividido em três capítulos. O primeiro expõe a problemática da violência contra a mulher na sociedade, apresentando, também, os tipos de violência mais comuns. No segundo capitulo faz-se um histórico sobre a pessoa de Maria da Penha e algumas considerações sobre a Lei que leva seu nome, a respeito da polêmica causada com a sua aprovação. No terceiro capítulo apresentam-se estatísticas da prática de atos de violência contra a mulher, registrados no Ceará, e como a lei está sendo aplicada.

11 Finalmente, esta pesquisa tem por objetivo divulgar a realidade da violência contra a mulher no Estado do Ceará e a importância da aplicação da Lei Maria da Penha como meio de defesa da mulher na erradicação desse tipo de violência. A metodologia aplicada na elaboração do trabalho foi a pesquisa bibliográfica, exploratória e documental.

2. ASPECTOS GERAIS SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER 12 Quem diz e o que se diz " 1 A violência é tão corriqueira que muitos homens não a identificam. É uma geração que foi criada para não levar desaforo para casa." A violência doméstica pode ser definida como qualquer ação ou conduta de familiares ou pessoas que vivem na mesma casa, que causem sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher levando, algumas vezes, à morte. Essas violências constituem crimes e podem apresentar-se de várias formas, como lesão corporal ou espancamento, ameaça, tentativa de homicídio e homicídio. A violência contra a mulher, entendida como uma relação de superioridade do homem em relação à mulher, não é um acontecimento natural, sendo decorrente do processo de socialização das pessoas, representando além de violação à sua integridade, violação aos direitos humanos. Na opinião de ROTANIA (2003: p.116), A necessidade de reforçar o poder masculino tem sido causa freqüente da violência contra as mulheres, constituindo-se numa violência de gênero, uma violência específica independente de outras categorias como classe social e raça. Segundo MIGUEL (2000: p.91), no decorrer da História a prática dos direitos humanos foi se mostrando deficiente para reconhecer a violação dos direitos da mulher. Não obstante o conjunto de leis e garantias constitucionais que dão suporte à mulher, ainda podemos vislumbrar através da mídia, registros em todo o país acerca da contínua violação de seus direitos humanos. Segundo ÂNGELO (1998: p.290), os dados sobre a violência contra as mulheres mostram uma triste estatística na história dos direitos humanos. 1 ACOSTA, Fernando. Psicólogo, Revista Isto é Ed.1812, de 30/06/2004

13 A Constituição Federal de 1988 apresenta a concepção de direitos e deveres do cidadão, propiciando, em particular, uma situação favorável ao direito da mulher, que tem respaldo no artigo 226, 8º, que prevê o compromisso do Estado para assegurar a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. Donde ser necessária uma especial releitura dos direitos humanos, de modo a contemplar as diferenças entre homens e mulheres, sem perder de vista a aspiração à igualdade social e a luta para a obtenção de sua completude. A consideração das diferenças só faz sentido no campo da igualdade. Neste sentido, o par da diferença é a identidade, enquanto o da igualdade é a desigualdade, sendo esta que se precisa eliminar. (SAFFIOTTI: 2004, p.78) Algumas mulheres, quando se encontram em situação de violência, assumem um papel de discrição para resguardar o lar sem deixar transparecer a violação de que são vítimas, escondendo esta prática criminosa da sociedade e das autoridades. Ainda pesa em suas mentes o medo de desagradar o agressor e desencadear um processo a ponto de chegar a resultados piores. Nesse caso, o medo pode favorecer o agressor, porque a mulher deixa de apresentar denúncia. Por isso, as estatísticas fogem à realidade, o que torna difícil qualquer tentativa de quantificação, pois uma parte dos acontecimentos não aparece, podendo permanecer na impunidade. Antes da lei Maria da Penha, a coragem de demonstrar o problema se deparava com a ineficácia da pena a que o agressor estava sujeito, uma vez que em certas ocasiões apenas algumas cestas básicas eram suficientes para punição. Não mais se aplica nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher as penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, como também não se permite a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa. (Conforme art. 17, da Lei nº 11.340/2006, de 07 de agosto de 2006).

14 Segundo SAFFIOTI, a violência que ocorre dentro do ambiente doméstico é muitas vezes omitida por, principalmente, dois motivos: a vergonha sentida pela vítima em relação à agressão, que pode se tornar ainda maior, caso o fato seja exposto; e o segundo motivo, diz respeito à sociedade, que de modo geral dita as regras do comportamento em relação aos problemas, tendo o silêncio como a melhor solução para o que ocorre entre quatro paredes. A incidência da violência doméstica no cotidiano das mulheres pode ser verificada por meio das estatísticas realizadas em todo o país, revelando ainda a impunidade nesses crimes. Essa violência merece especial atenção de todos. Apesar dos avanços tecnológicos, o mundo ainda se apresenta primitivo em certos aspectos. Outro problema sentido é o da discriminação, que não diz respeito a uma simples distinção, mas sim a uma série de desigualdades, que segundo CAVALCANTI (2005:p.58) induzem relações violentas entre os sexos e indicam que a prática desse tipo de violência não é fruto da natureza, mas sim do processo de socialização das pessoas. A desigualdade, a violência, a intolerância não são inerentes ao ser social. Ao contrário, o são a identidade e a diferença. Estas sim têm, por via de conseqüência, lugar ontológico assegurado. (SAFFIOTI: 2004, p.76) Segundo Anelise BOTELHO, Presidente do Conselho Estadual da Condição Feminina do Estado de São Paulo (2006): "Importante se faz mencionar que a sistemática opressão da mulher é um fato grave e trágico da nossa historia. As mulheres sempre tiveram as suas oportunidades de educação e direitos humanos básicos negados. São freqüentemente tratadas com desprezo e acabam por não compreender seu verdadeiro potencial". De acordo com pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo em 2001, com 2502 entrevistadas em todo o país, ficou comprovado que a cada 15 segundos uma mulher é espancada por um homem, uma em cada cinco brasileiras (20%) declararam ter sofrido algum tipo de violência. Na

15 maioria dos casos o agressor é o marido ou companheiro que desrespeita e viola os direitos humanos de sua esposa e companheira, 24% das mulheres relataram ter sofrido ameaças com armas, 22% reclamaram de agressões propriamente ditas e 13% de estupro conjugal ou abuso de natureza sexual. A violência doméstica não escolhe cor, classe social ou idade, é caracterizada como uma forma de violência dos direitos humanos de mulheres uma vez que as impede de desfrutar os seus direitos e das liberdades fundamentais, garantidos pela Constituição Federal, afetando a sua dignidade e auto-estima. Ainda segundo BOTELHO (2006): " O cenário da violência doméstica, no Brasil pode começar a mudar porque juntos, assim como hoje, sociedades civis e governamentais - municipais, estaduais e federais estão buscando se preparar para atender e fornecer suporte às mulheres que superaram a vergonha, o embaraço e o medo de denunciar os seus parceiros e devem criar mecanismos para coibir a violência doméstica e assim salvar milhares de vidas. 2.1 Algumas formas de violência contra a mulher A palavra violência é originada do latim vis, significando força, refere-se a constrangimento e a superioridade física. A violência está sujeita a mutações, tendo em vista que é influenciada pela época, o local, e circunstâncias em que ocorre. A violência é definida como o uso intencional de força física ou do poder real através de ameaça contra si próprio, contra outra pessoa, contra um grupo de indivíduos ou ainda uma comunidade, resultando na lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação de alguma ordem. (KRUG, 2002: p.5) A violência contra a mulher também chamada de violência doméstica, violência de gênero, violência conjugal, violência sexual, violência intrafamiliar, são termos usados para denominar o problema que atinge a integridade da mulher. Todavia, o mais utilizado para se referir ao assunto em

16 estudo é, ainda, o termo violência de gênero contra a mulher, pois caracteriza a violência praticada em razão de sua condição de mulher. (...) A violência de gênero é concebida como resultado das motivações que hegemonicamente levam sujeitos a interagirem em contextos marcados por e pela violência (...) A prática da violência doméstica e sexual emerge nas situações em que uma ou ambas as partes envolvidas em um relacionamento não cumprem os papéis e funções do gênero imaginadas como naturais pelo parceiro. Não se comportam, portanto, de acordo com as expectativas e investimentos do parceiro, ou qualquer outro ato envolvido na relação. (TELES, 2002: p.18) Na violência familiar contra a mulher as pessoas envolvidas são de uma mesma família, unidas por laços de consaguinidade ou afinidade. Pode acontecer dentro ou fora do ambiente domiciliar, sendo a primeira hipótese a mais comum. Na violência doméstica, a agressão que sofre a mulher é praticada dentro de casa ou unidade doméstica, pelo companheiro ou por qualquer outro membro da família. O foco da violência é o cenário doméstico, diferenciando-se da violência familiar por envolver pessoas não unidas por laços de parentesco. A violência doméstica inclui: o abuso físico, sexual e psicológico, sendo a mulher a principal vítima desse tipo de agressão. A violência doméstica tem um gênero: o masculino, qualquer que seja o sexo físico do/da dominante. Desta sorte, a mulher é violenta no exercício da função patriarcal ou vertical. No grupo familiar e na família não impera necessariamente a harmonia, porquanto estão presentes, com freqüência, a competição, a trapaça, a violência. Há, entretanto, uma ideologia de defesa da família, que chega a impedir a denúncia, por parte das mães, de abusos sexuais perpetrados por pais contra seus (suas) próprios (as) filhos (as), para não mencionar a tolerância, durante anos seguidos, de violências físicas com crianças, a gramática portuguesa impõe o uso do masculino, embora internacionalmente seja de cerca de apenas 10% a proporção de meninos afetados por este fenômeno. Contudo, mesmo que se tratasse de um só garoto, valeria a pena lutar contra esta violência. (SAFFIOTI: 2004, p.74)

17 No caso da violência intrafamiliar, os limites ultrapassam o domicílio e é cometida por parentes que residem em local diverso do domicílio da vítima. É o termo mais utilizado em países latinos. A violência do gênero é aquela praticada pelo homem em relação à mulher. É um fenômeno socialmente oculto pelo fato de ocorrer, geralmente, no seio da família, que de acordo com os padrões sociais preestabelecidos, deve ser preservada independentemente do sofrimento que possa estar causando. A ideologia da superioridade da instituição família provoca a omissão, tanto da sociedade como do próprio Estado. Para se entender esse tipo de violência deve-se levar em conta o caráter social das partes. Dessa feita, observa-se que a questão cultural predomina. Na opinião de BERGESCH: Para compreender o significado da violência de gênero, é imprescindível o entendimento de certos pressupostos, que embasam as relações de poder e submissão entre o sexo masculino e o feminino. A condição sexual em que o indivíduo se encontra, é que determina a participação distinta do homem e da mulher nos diversos segmentos da sociedade (2004, p.200). De acordo com a Lei nº 11.340/2006, Lei Maria da Penha, são formas de violência doméstica e familiar contra a mulher as que acontecem dentro da unidade doméstica, nas relações interpessoais, incluindo as homoafetivas, em que o agressor conviva ou tenha convivido com a mulher no mesmo domicílio, podendo compreender a violência sexual, psicológica, moral, patrimonial, etc. A agressão física pode ser entendida como qualquer conduta que afete a integridade física ou corporal da mulher, ou que lhe imponha risco de morte. É o tipo de violência mais evidente, uma vez que se torna difícil esconder o que está refletido em seu corpo. Manifesta-se através de empurrões, pancadas, bofetadas, queimaduras e outros.

18 Já a agressão psicológica é mais difícil de ser identificada. Por ser invisível aos olhos dos outros, geralmente é ignorada e desprezada. Manifestase através do desprezo, de ameaças aos filhos, insultos, injúrias, difamações, agressões morais, deixando marcas mais profundas e de difícil recuperação. O homem, sutilmente, tenta afastar a mulher do convívio social, e esta, por sua vez não identifica que a situação a que está submetida é grave. Segundo CUNHA & PINTO (2006), na violência psicológica o comportamento típico se dá quando o agente ameaça, rejeita, humilha ou discrimina a vítima, demonstrando prazer quando vê o outro se sentindo amedrontado, inferiorizado. Enquanto a religião exige que os seres humanos se amem uns aos outros, o que depende de convivência, uma vez que nem mesmo o amor materno é instintivo, a compreensão dos direitos humanos impõe que cada um respeite os demais. Amar o outro não constitui uma obrigação, mesmo porque o amor não nasce da imposição. Respeitar o outro sim, constitui um dever do cidadão, seja este outro mulher, negro, pobre. (SAFFIOTI, 2004: p.78) As conseqüências das agressões contra a mulher por parte do marido ou companheiro podem gerar danos marcantes também nos filhos que, ao presenciarem constantemente a violência, passam a sofrer transtornos psicológicos, como, por exemplo, se tornarem também futuros agressores.

3. A LEI 11.340, de 7 de agosto de 2006, LEI MARIA DA PENHA 19 A lei nº 11.340/06, foi sancionada no dia 7 de agosto de 2006, pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, batizada de Lei Maria da Penha, em homenagem a biofarmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, cearense, que, por duas vezes foi vítima de seu marido, o professor universitário Marco Antônio Heredia Viveros, cearense, que tentou assassiná-la por duas vezes, a primeira em 29 de maio de 1983, simulando um assalto e atirando em Maria da Penha com uma espingarda. Da segunda vez tentou eletrocutá-la por meio de uma descarga elétrica enquanto ela tomava banho. Em decorrência dessas tentativas de homicídio, Maria da Penha sofreu paraplegia irreversível. Tais fatos aconteceram em Fortaleza, Ceará. O caso se tornou emblemático na medida em que o réu, mesmo condenado por duas vezes (1991 e 1996), não chegou a ser preso, recorrendo sempre em liberdade. Maria da Penha se dirigiu em busca de apoio aos organismos internacionais, como, o Comitê Latino Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem), bem como o Centro para a Justiça e o Direito Internacional (Cejil). Em 2001, a Organização dos Estados Americanos (OEA) responsabilizou o Estado Brasileiro por negligência e omissão em relação à violência doméstica e recomendou a tomada de medidas com base no Caso Maria da Penha. O marido de Maria da Penha só foi preso em 2003, 20 anos após o fato, acompanhado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Todo esse movimento deu origem à criação da Lei 11.340/2006, batizada de Maria da Penha. (SOUZA & KÜMPEL, 2007) À época do crime os recursos oferecidos pela legislação brasileira para as vítimas de violência doméstica eram poucos, levando Maria da Penha a procurar ajuda e orientação às organizações não-governamentais. Em 2001, passou a fazer parte do quadro de voluntários da Associação de Parentes e Amigos de Vítimas da Violência (Apavv), aqui no Ceará, que tem a finalidade de apoiar e orientar vítimas de violência e seus familiares.

20 Várias entidades ligadas ao movimento feminista composto pelas Organizações Advocacia Cidadã pelos Direitos Humanos (Advocaci); Ações em Gênero Cidadania e Desenvolvimento (Agende), e outros, juntamente com advogadas feministas, apresentaram à Bancada feminina do Congresso Nacional e à Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) o antiprojeto de lei que definia as diversas formas de violência doméstica e familiar contra as mulheres, estabelecendo mecanismos para prevenir e coibir este tipo de violência e prestar assistência às vítimas. O pedido foi aceito pela SPM para discussão do anti-projeto, em que foi constituída uma Comissão Interministerial. A Lei nº. 11.340/2006, Lei Maria da Penha trata da violência contra a mulher no âmbito doméstico e familiar, retirando por inadequação a Lei 9.099/95 dos Juizados Especiais Criminais que julga casos classificados como crimes de menor potencial ofensivo. Por ter-se mostrado inadequada para os casos de violação de direitos humanos, a Lei 9.099/95 deixou de valer para os casos específicos de violência contra a mulher desde o dia 22 de setembro de 2006, data em que a Lei Maria da Penha entrou em vigor no Brasil, e com ela a violência contra a mulher deixou de ser caracterizada como crime de menor potencial ofensivo e a pena de detenção passou de seis meses a um ano, para de três meses a três anos. Dessa forma, as penas pecuniárias, em que os agressores eram condenados ao pagamento de multas ou cestas básicas, foram abolidas. O problema da aplicação de uma pena alternativa, é que ela acabava não tendo uma relação direta com nenhum serviço de atendimento à mulher que passou por violência. Dessa forma, a punição não gerava uma conscientização do agressor quanto ao seu ato. (BARRETO, 2007:p.15) A referida Lei criou mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, com base no disposto no 8 o do art. 226 da CF/88, na Convenção Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência Contra a Mulher, Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher e em outros tratados internacionais ratificados pela

21 República Federativa do Brasil dispondo, inclusive acerca da criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, estabelecendo medidas necessárias a assistência e proteção às mulheres que se encontram em situação de violência doméstica e familiar, conforme o artigo 17 da referida lei. Com a vigência da lei, o Brasil passou a ser um dos 89 países que contam com alguma disposição legislativa contra a violência doméstica. Atualmente existem 102 países que não adotaram dispositivos legais sobre a questão, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Espera-se que, com a aplicabilidade severa dos artigos delineados pela lei, diminuam os índices de violência, pois os dados atuais retratam uma realidade desumana e estabelecem padrões de desigualdade em pleno século XXI. 3.1 Considerações sobre a Lei A Lei Maria da Penha abrange medidas preventivas, assistenciais, punitivas, educativas e de proteção à mulher e aos filhos. Pode ser considerada como um avanço, porque engloba não somente violência física e sexual, mas também a violência psicológica, que se dá quando o agressor tenta controlar as ações da mulher, seu comportamento, suas crenças e decisões, fazendo isso por meio de ameaças e humilhações. Nesse sentido não se pode aqui olvidar da forma implícita de violência patrimonial quando a mulher é aviltada de seus bens, valores ou recursos econômicos por chantagem, manipulação, sempre acompanhado do assédio moral, e constantes humilhações que a leva à ridicularização. Sobre a Lei Maria da Penha, DIAS discorre: A lei Maria da Penha só chegou agora, cumprindo o Brasil compromissos assumidos internacionalmente. Mas Apesar da demora na sua elaboração, como saúda Sílvia Pimentel, o Brasil está de parabéns, pois se trata de instrumento legal bastante cuidadoso, detalhado e abrangente... (2007; p. 29)

22 A Lei ainda prevê medidas de integração operacional entre o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública com as áreas de assistência social, educação, habitação e saúde. Entre outras medidas, como meio de proteção às mulheres agredidas ou que corram riscos de agressão ou de vida, a lei obriga a saída do agressor de casa, a proteção dos filhos e do direito de a mulher reaver seus bens e cancelar procurações feitas em nome do agressor. A mulher tem o direito de se afastar do trabalho por seis meses, sem perder o emprego, desde que constatada a necessidade de manutenção de sua integridade física e psíquica. Ainda, na opinião de DIAS: Até o advento da Lei Maria da Penha, a violência doméstica não mereceu a devida atenção, nem da sociedade, nem do legislador e muito menos do Judiciário. Como eram situações que ocorriam no interior do lar, doce lar, ninguém interferia. Afinal, em briga de marido e mulher ninguém põe a colher! ( 2007; p.21) A Lei Maria da Penha é o primeiro diploma legal a reconhecer de forma expressa que a prática de ato ilícito praticado pelo marido contra a esposa, pelo companheiro contra a companheira, pelo pai contra a filha ou pelo padrasto contra a enteada sujeita o ofensor à condenação em indenização por perdas e danos. (SOUZA & KÜMPEL,2007) Em março de 2007, Maria da Penha foi recebida no Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, juntamente com o Procurador Geral de Justiça do Estado e alguns representantes da APAVV, onde foram discutidos aspectos financeiros e funcionais do projeto que criava o Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Com a lei Maria da Penha, foram criados mais mecanismos de proteção à mulher, os avanços são significativos, e uma das maiores novidades foi a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher.

3.2 Polêmicas acerca da lei 23 Apesar da luta e da vitória das mulheres com a aprovação da Lei Maria da Penha, há quem critique o seu conceito e a receba com desconfiança. Mas, a justiça deverá encontrar meios de conferir seu cumprimento. Segundo CUNHA (2007), a constitucionalidade da Lei Maria da Penha é questionada por parecer discriminatória, tratando a mulher como sexo frágil, deixando desprotegido o homem, presumidamente imponente. No entanto, essa diferenciação, há muito foi espancada pela Constituição Federal que, no seu art. 226, 5º, equipara os sexos em direitos e obrigações, garantindo aos dois, no 8º, proteção no caso de violência doméstica. É importante destacar que a Lei Maria da Penha não fere o princípio da igualdade preconizado no art. 5º da Constituição Federal, pois visa à proteção de mulheres que sofrem com a violência dentro de seus lares, delitos que costumam ficar na impunidade. O Art. 226, e os 5º e 8º da CF preconizam que: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. 2 Nessa linha é o pensar de Valter Foleto Santim: Como se vê, a pretexto de proteger a mulher, numa pseudopostura politicamente correta, a nova legislação é visivelmente discriminatória no tratamento de homem e mulher, ao prever sanções a uma das partes do gênero humano, o homem, 2 Igualdade Constitucional na violência doméstica. www.ibccrim.org.br 03 de outubro de 2006