O QUASE FINAL DA SAFRA DE GRÃOS 2010/11. E A CRISE?

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Transcrição:

1 O QUASE FINAL DA SAFRA DE GRÃOS 2010/11. E A CRISE? Fernando Homem de Melo 1 Professor Titular do Departamento de Economia da FEA-USP e Pesquisador da FIPE A safra de grãos, 2010/11 está terminando. Na região Centro-Sul, excetuando-se as culturas de inverno trigo e milho 2ª safra (safrinha!) as colheitas já estão terminadas. Estas foram prejudicadas pelo intenso frio. É interessante apontar que a área plantada total no Brasil aumentou consideravelmente com o passar dos meses. A primeira estimativa da CONAB Companhia Nacional de Abastecimento referente a intenção de plantio, em setembro de 2010, era de um crescimento de apenas 0,6%, conforme indicado naquele momento. Agora, de acordo com o levantamento de julho da mesma CONAB, mais abrangente em seus dados (regiões que plantam em momentos diferentes, mais tarde), o número, praticamente final, é de um crescimento da área total com grãos de 4,4% (Tabela 1). Em agosto passou a 4,7%. O que mudou? Temos argumentado que um novo período de crescimento, talvez permanente, foi iniciado, para a agropecuária brasileira, mais claramente, a partir da segunda metade da década passada, em especial na safra 2007/08. Isso, entretanto, foi interrompido pela crise econômica internacional (ainda não inteiramente resolvida) de setembro de 2008. Agora, temos a crise de 04 de agosto! Essa interrupção na retomada do crescimento, em 2009 e 2010 parece ter se encerrado com a safra 2010/11, como veremos a seguir na Tabela 1. Os preços internacionais foram analisados e indicam firmeza. 1 Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (e-mail:- fbhm@usp.br).

2 TABELA 1 ESTIMATIVAS DE ÁREA PLANTADA COM GRÃOS, SAFRAS 2009/10 E 2010/11 (1.000 has) PRODUTOS 2009/10 2010/11 VARIAÇÃO (%) Algodão 835,7 1.390,7 66,4 Amendoim 84,1 84,4 0,4 Arroz 2.764,8 2.858,1 3,4 Feijão 3.608,8 3.872,3 7,3 Milho Total 12.993,9 13.602,1 4,7 1ª safra 7.724,0 7.833,9 1,4 2ª safra 5.269,9 5.768,2 9,5 Soja 23.467,9 24.158,1 2,9 Sorgo 697,8 795,0 13,9 Trigo 2.428,0 2.149,8 11,5 Outros 534,7 587,6 9,9 TOTAL 47.415,7 49.498,1 4,4 Fontes: CONAB, Julho de 2011. Essa alteração na taxa de crescimento da área cultivada com grãos com o passar dos novos meses, de 0,6 para 4,4% (ou 4,7%), na safra

3 2010/11 é muito significativa. Como mostrado na Tabela 1, excetuando o trigo, todos os demais produtos tiveram aumentos de área cultivada. O total, de 4,4%, representa um crescimento robusto, de 2.082,4 mil hectares. Para a próxima safra, 2011/12, prevê-se novo crescimento, talvez não na mesma magnitude, mas, ainda assim, significativo. A nova crise poderá afetá-lo. O trigo, a exceção, com diminuição de área, aparentemente não está conseguindo competir com o milho 2ª safra no Paraná. Destaque-se o crescimento de 23,3% na área de milho 2ª safra no Paraná, o correspondente a 315,9 mil hectares (trigo, - 153 mil hectares). Como mostrado no Gráfico 1, a elevação dos preços aos produtores começou apenas em agosto de 2010. Naquele momento, boa parte das decisões de plantio produtos e insumos para a safra 2010/11 na região Centro-Sul já estava tomada e era pouco sujeita a alterações (o milho 2ª safra, plantado em fevereiro-março de 2011, sucedendo a soja, é outra coisa). Com as indústrias de fertilizantes e defensivos abastecidas com estoques remanescentes dos anos de crise, 2008 e 2009, os produtores das demais regiões foram capazes de aumentar suas áreas. Assim, chegamos à taxa de 4,4% (4,7%) do crescimento da área total. Os maiores destaques, pelas suas importâncias, foram algodão, arroz, feijão, milho 2ª safra e soja. Esta última, apesar da modesta taxa de crescimento de 2,9% cresceu 690,2 mil hectares (em todos os estados), para preocupação de alguns ambientalistas (a monocultura da soja!). Esse desempenho favorável do setor de grãos no Brasil ficou registrado em um volume record de 162,1 milhões de toneladas. O destaque principal continua a ser a soja com uma produção total de 75,0 milhões de toneladas, com um crescimento de 9,2% sobre a safra anterior. É muito provável que um novo crescimento ocorra na próxima safra, 2011/12, a despeito da nova crise econômica. A combinação de área maior, produção de grãos maior e bons preços resultou, segundo os dados de José Garcia Gasques do Ministério da Agricultura em um valor bruto da produção record em 2011 (dados de junho) como a seguir mostrado (vinte principais produtos)

4 GRÁFICO 1 EVOLUÇÃO DO ÍNDICE TOTAL DE PREÇOS REAIS RECEBIDOS DURANTE 2007, 2008, 2009, 2010 E 2011 (02/1990 = 100) 95,00 90,00 85,00 Í n d80,00 i c e 75,00 s 70,00 65,00 60,00 J F M A M J J A S O N D 2007 2008 2009 2010 2011 Fonte: IEA para dados básicos; nossa elaboração.

5 R$ milhões Œ 2002 : 147,7 Œ 2003 : 167,7 Œ 2004 : 166,4 Œ 2005 : 141,1 Œ 2006 : 140,9 Œ 2007 : 160,2 Œ 2008 : 183,6 Œ 2009 : 175,3 Œ 2010 : 180,4 Œ 2011 : 199,1 Com a crise, a agricultura perdeu renda bruta em 2009 e 2010, mas a recuperação em 2011 está sendo bastante expressiva, quase chegando a R$ 200 bilhões. Vejamos o que acontecerá à frente, com a nova crise internacional. O momento dessa nova crise é crucial. Ao contrário dos Estados Unidos, que estarão em período de colheita, o Brasil está iniciando o período de plantio da safra de grãos 2011/12. É parecido com a crise de setembro de 2008. Até agora, todos os indicadores eram positivos. É uma crise que afeta a confiança dos produtores na ante-véspera do novo plantio. O anúncio da

6 crise o rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos ocorreu depois do fechamento dos mercados em 04 de agosto. Estes, entretanto, anteciparam seus efeitos e, no caso, das bolsas de futuros, fecharam em baixa já no dia 04 de agosto. O que deverá acontecer? Ainda é muito cedo para previsões mais definitivas. Entretanto, há, claramente um problema de confiança às vésperas do plantio. No curto-prazo há a questão da maior aversão ao risco dos investidores financeiros em bolsas de commodities agrícolas e industriais. Para onde ir? Será esse efeito significativo? A médio-prazo é, talvez, mais importante, está o efeito dessa nova crise no crescimento econômico mundial, em especial no caso dos países emergentes, liderados pela China, grandes importadores de alimentos. Esta questão demandará mais tempo para ser avaliada. Com respeito à primeira, de maneira muito preliminar, comparamos os preços nas bolsas internacionais entre os dias 03 e 09 de agosto. Os resultados sãos os seguintes: Œ Café : 2,96% Œ Soja : 4,78% Œ Açúcar : 0,72% Œ Cacau : 0,34% Œ Algodão : 6,86% Œ Suco de Laranja : 14,93% Œ Trigo : 5,45% Œ Milho : 3,93%

7 Œ Câmbio (R$/US$) : + 4,37% Todos os preços tiveram reduções mas, excetuando-se suco de laranja, nada de extraordinário para o período, nos Estados Unidos, conhecido como mercado climático. Mais ainda, considerando-se a nossa depreciação cambial de 4,37% nesse curto período, as variações dos preços internos, positivas ou negativas, foram muito pequenas, Em resumo, pelo menos por enquanto, não há razões para pânico com relação ao desempenho da safra 2011/12. Acompanharemos isso.