AULA 08. CONTEÚDO DA AULA: Teorias da Conduta (cont). Teoria social da ação (cont.). Teoria pessoal da ação. Resultado. Relação de Causalidade Início.



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Turma e Ano: Flex A (2014) Matéria / Aula: Direito Penal / Aula 08 Professora: Ana Paula Vieira de Carvalho Monitora: Mariana Simas de Oliveira AULA 08 CONTEÚDO DA AULA: Teorias da (cont). Teoria social da ação (cont.). Teoria pessoal da ação. Resultado. Relação de Causalidade Início. TEORIA DA AÇÃO (cont.) Teorias da ação Teoria social da ação A teoria social da ação não vem acompanhada de nova proposta de sistema do delito diferente do finalismo. Os autores que defenderam esse conceito de ação têm algumas propostas diferentes na culpabilidade, mas não chega a ser um sistema de delito diverso do finalismo. Como visto, a teoria social da ação apenas acrescenta um novo dado à teoria causal: a relevância social (elemento valorativo para saber se o comportamento é relevante ou não). A justificativa para esse acréscimo é tentar unir no mesmo conceito ação e omissão. Críticas: O conceito de ação da teoria social da ação acabou não prevalecendo porque, na visão da doutrina, não é neutro e em muitos casos quando se avalia a relevância social de uma conduta, antecipa-se um juízo de valor que pertence aos tipos penais. Além disso, na crítica de Zaffaroni, ações praticadas em locais isolados, que não repercutam em terceiros, não seriam ações para a teoria social da ação (exemplo de Robson Crusoé). Teoria pessoal da ação (Roxin) Também na tentativa de criar um conceito neutro capaz de abranger omissão e ação, Roxin sustenta que ação é uma manifestação da personalidade (tudo que pode ser atribuído ao ser humano como centro anímico espiritual de ação, sendo manifestação dele).

O problema desse conceito é que ele é obscuro, inclusive pelo próprio conceito de personalidade que é obscuro e difícil, trazendo aspectos conscientes e inconscientes (Juarez Cirino dos Santos). Os aspectos não domináveis do inconsciente seriam ação também. Como dito anteriormente, hoje em dia a discussão de qual é o melhor conceito de ação está em desuso, pois as diferenças práticas de um para o outro são mínimas ou inexistentes (a teoria causal não pode ser mais utilizada porque o dolo atualmente está no injusto). As causas de exclusão da ação são as mesmas para todas as teorias. Casos de ausência de ação (iguais para todas as teorias) Haverá ausência de ação sempre que o indivíduo não for dono dos seus movimentos: (i) (ii) Atos reflexos (exemplo: martelo no joelho); Força física irresistível ou coação física irresistível. Na força física irresistível o coato (coagido) funciona como mera massa mecânica nas mãos do coator. Há exclusão da ação. A coação moral irresistível é causa de exclusão da culpabilidade. Exemplo: ameaçar alguém a cometer um crime. (iii) Estado de inconsciência (sonambulismo, movimentos praticados durante o sono, etc.). Hipnose. Atualmente, de forma predominante, a hipnose não exclui a ação, pois existem pesquisas que mostram que o hipnotizado, por mais profundo que seja o estado de hipnose, não realiza condutas que sejam flagrantemente contrárias ao seu caráter (exemplo: matar alguém). O que pode acontecer na hipnose é a exclusão da culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa. As ações em curto-circuito não afastam a conduta (reações explosivas ou impulsivas não contidas pelo agente) e automatismos. Consequências de ausência de conduta Usar alguém em ausência de ação para praticar o crime nunca pode ser autoria mediata, pois nesse tipo de autoria a pessoa utilizada tem sempre que agir. Se a pessoa utilizada para cometer o crime não agiu, a autoria será direta.

Cabe estado de necessidade contra quem age em ausência de conduta, mas não legítima defesa. Exemplo: em um ataque epilético há ausência de conduta; a pessoa está no meio do ataque e machuca um terceiro que precisa contê-la para se defender. Essa contenção não é em legítima defesa, mas estado de necessidade, porquanto inexiste agressão (que precisa ser uma ação). Nos tipos de concurso necessário não se computa aquele que não pratica a conduta. Alguns tipos penais exigem um número mínimo de pessoas, elas não precisam ser imputáveis, mas necessitas pelo menos agir. Não cabe participação na ausência de conduta. A participação punível pressupõe que a exista, no mínimo, conduta típica e ilícita. RESULTADO Existem dois conceitos de resultado diferentes. Um é jurídico (resultado como lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico princípio da lesividade). Lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico vai existir em todos os delitos. Esse conceito não serve para o estudo em questão. O outro conceito de resultado é o naturalístico (resultado é modificação no mundo externo decorrente da conduta). Utilizando-se esse conceito nem todo crime terá resultado. Existem tipos penais que só descrevem uma conduta e não se preocupam com nenhum resultado. Classificação dos crimes em razão do resultado A classificação dos crimes cai bastante em provas. (i) Materiais: Resultado Consumação Nos crimes materiais o legislador descreve uma conduta e um resultado que deve acontecer para haja crime consumado. Exemplo: homicídio. Se a pessoa não morre o homicídio é tentado. (ii) Formais Resultado Consumação

O legislador descreve a conduta e o resultado, mas o resultado não precisa acontecer para que o crime se consume. Exemplo: extorsão. A partir da exigência o crime se consuma. Se o resultado acontece (pagamento do dinheiro pela extorsão) diz-se que o crime se exauriu. Nos crimes formais, até o exaurimento é possível o ingresso de partícipe. (iii) Mera conduta O legislador não descreve qualquer resultado, mas apenas a conduta. Obs.: As três hipóteses admitem tentativa. *** A ideia de resultado pertence ao tipo penal, pois o tipo pressupõe que o legislador tenha selecionado aquilo que é importante. Exemplo: crime de mera conduta violação de domicílio. O legislador não descreve qualquer resultado importante. No entanto, o legislador poderia ter escolhido algum resultado importante: além de entrar na casa é necessário o morador se assustar. O resultado é um problema dos tipos penais, inexistente antes deles. Quem diz se há ou não um resultado importante decorrente da conduta é o tipo penal. RELAÇÃO DE CAUSALIDADE Responsabilidade jurídico-pena pelo resultado de imputação! Tipos (i) Ação + relação de causalidade (física) + resultado materiais + (ii) Imputação (teoria da imputação objetiva do resultado) Para os crimes materiais é importante a análise da relação de causalidade. Já para os crimes formais e de mera conduta a relação de causalidade não é importante, pois não é necessário o resultado para que o crime seja consumado.

Para o estudo da responsabilidade penal pelo resultado, são necessárias duas etapas diversas de raciocínio. Na primeira etapa questiona-se a existência de uma relação de causalidade física ou naturalística. Uma vez que esta relação exista, partiremos então para a segunda etapa, que consiste na utilização de princípios jurídicos que indicarão se a responsabilidade pelo resultado é ou não justa. Na primeira etapa tem-se a causalidade; na segunda, imputação. Causalidade Relação de causalidade (física ou naturalística) art.13, caput, CP. Teoria da conditio sine qua non. Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Causalidade física: método de eliminação hipotética: A + B = C Tiro de Claudio Tsunami morte de Antônio Pelo procedimento de eliminação hipotética, devemos apagar em mente o antecedente que estamos pesquisamos. Se, com a eliminação, o resultado não desaparecer, então aquele antecedente não será causa do resultado. Se, entretanto, a eliminação do antecedente fizer o resultado desaparecer, aquele antecedente será causa do resultado. Deve-se trabalhar com o resultado concreto, exatamente como ele ocorreu. A + B = C Claudio tropeça, Antônio quebra Claudio morre. cai em um penhasco o galho. e fica com pendurado em um galho fino, que vai quebrar. Apaga-se B (Antônio quebra o galho). Quando se avalia se uma conduta anterior é ou não causa, deve ser considerado o resultado morte não em abstrato ( o galho quebraria de qualquer forma ), mas sim exatamente como ele ocorreu, com as circunstâncias de tempo, modo e lugar. Assim, a conduta de quebrar o galho foi causa da morte de Claudio. Se o antecedente antecipa o resultado ainda que em cinco minutos (pois o galho quebraria em cinco minutos, por exemplo) ele deve ser considerado causa.