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Transcrição:

P.º R. P. 262/2008 SJC-CT- Incumprimento da obrigação de registar. Emolumento em dobro. Qualificação do pedido de registo de aquisição fundada em doação. Obrigações fiscais. Recurso hierárquico de conta. DELIBERAÇÃO 1 Em 4 de Novembro de 2008 deu entrada na.conservatória do Registo Predial do o pedido de registo de aquisição do prédio descrito sob o n.º 5519, da freguesia de, concelho do.com base em certidão da escritura de doação celebrada em 8 de Setembro de 2008, na qual outorgaram como donatário António.e como doadores os pais deste, Maria..e António.dos Santos,titulares inscritos. Além do aludido documento foram ainda apresentadas duas certidões do Serviço de Finanças do Bairro, passadas em 30 de Outubro do referido ano, nas quais consta que a liquidação ainda não foi notificada ao interessado. Os documentos que instruíram o pedido de registo, subscrito pelo notário que presidiu à celebração da aludida escritura, foram enviados por telecópia, com a declaração de conformidade com o original, nos termos do disposto no artigo 6.º da Portaria n.º621/2008, 18 de Julho. 2 Após a elaboração do registo em termos definitivos, o senhor notário foi notificado pela Conservatória para proceder ao pagamento de mais 250, em face do prescrito no n.º 1 do artigo 8.º-D do CRP. Pagamento que, de imediato, o referido notário satisfez embora manifestando a sua discordância uma vez que a doação está sujeita ao pagamento de imposto do selo e não tendo ainda o interessado sido notificado da liquidação o prazo para promover o registo ainda não começou a correr. Assim, o pedido não foi apresentado fora do prazo legal razão pela qual não pode ser aplicada a coima correspondente ao dobro do emolumento devido por incumprimento de uma obrigação ainda inexistente. Consequentemente, pede que a quantia em causa lhe seja devolvida, porque indevidamente cobrada. 3 Como não viu satisfeita a sua pretensão, o requerente, inconformado com o entendimento propugnado pela Senhora Conservadora acerca da contagem do 1

início do prazo e dos seus efeitos na aplicação do Regulamento Emolumentar, interpõe o presente recurso hierárquico de conta alegando, em síntese, o seguinte: 3.1 A doação é uma aquisição gratuita de imóveis sujeita a imposto de selo artigo 1.º, n.º 3, alínea a), do CIS conjugado com a verba 1.2 da TGIS. O sujeito passivo tem de participar o facto ao Serviço de Finanças da área da residência, por força do disposto no artigo 26.º, n.º 1, do CIS, competindo a liquidação aos serviços centrais da DGCI, como decorre do preceituado no artigo 25.º, n.º1, do mesmo Código. A doação de pais a filhos beneficia da isenção ao abrigo do prescrito no artigo 6.º, alínea c), do citado código, mas tal isenção tem de ser reconhecida pelo chefe do Serviço das Finanças. Logo, só a partir da notificação ao sujeito passivo da respectiva liquidação do imposto é que se sabe se tem ou não que cumprir a obrigação fiscal principal, que se consubstancia no pagamento da colecta. 3.2 Havendo imposto a pagar a contagem daquele prazo só se inicia com o pagamento, não havendo, então, o prazo inicia-se com a notificação da liquidação ao sujeito passivo da obrigação tributária. Em 30 de Outubro de 2008, o donatário não tinha sido notificado da liquidação pelo que o prazo para requerer o registo ainda não se tinha iniciado 1. 3.3 Nestes termos, o signatário não cometeu qualquer contra-ordenação e, sendo assim, a conta impugnada deve ser reelaborada e ordenada a devolução da quantia paga em excesso, vale por dizer, 250 Euros. 4 Os argumentos expendidos pelo recorrente não demoveram a Senhora Conservadora que sustenta a decisão proferida com base nos argumentos que aqui se dão por integralmente reproduzidos, dos quais destacamos, particularmente, os seguintes: 4.1 Se para efeitos de qualificação do registo em causa em termos definitivos é suficiente comprovar que o processo de liquidação do imposto foi instaurado, como decorre do preceituado no n.º 3 do artigo 72.º do CRP, não fará qualquer sentido 1 A actuação concreta do recorrente revela alguma contradição com a tese que defende, pois, embora entenda que o início do prazo para pedir o registo depende da notificação da liquidação, veio antes da verificação dessa ocorrência promover o registo em causa. 2

aplicar-se ao caso a segunda parte do n.º 1 do artigo 8.º-C do CRP e contar o prazo de 30 dias a partir da data do pagamento das obrigações fiscais. 4.2 Por conseguinte, o referido registo devia ter sido promovido nos trinta dias subsequentes à sua titulação e como tal não se verificou deve ser cobrado o emolumento em dobro de harmonia com o disposto no n.º 1 do artigo 8.º-D do CRP. Consequentemente, mantém o entendimento de que a conta do respectivo acto se encontra correctamente elaborada não havendo, por isso, lugar à restituição de qualquer quantia. 5 Relatada a matéria de facto pertinente bem como as posições em confronto e revelando-se apropriado o meio processual utilizado 2, a legitimidade das partes 3, a 2 Nos termos do disposto no n.º 1 do artigo 147.º-C do Código do Registo Predial (CRP), assiste ao interessado o direito de impugnar a conta dos actos, devido a erro na liquidação da conta ou na aplicação do regulamento emolumentar. A referida impugnação pode ser levada a efeito mediante interposição de recurso hierárquico ou impugnação judicial. Sendo a conta impugnada mediante interposição de recurso é-lhe aplicável, com as devidas adaptações, o disposto nos artigos 141.º, n.º1, 142.º, 142.º-A e 144.º, todos do CRP. 3 O recorrido salienta que a legitimidade para impugnar a conta lhe advém do facto de o pagamento do agravamento emolumentar ser da sua responsabilidade enquanto titulador, por força do prescrito no artigo 8.º-D, n.º 3, do CRP. Apesar de reconhecermos que o recorrido tem legitimidade, não cremos, porém, que se deva ir por aí. Com efeito, é entendimento deste Conselho que o disposto na alínea b), n.º 1, do artigo 8.º-B, do CRP, só entrou em vigor no dia 1 de Janeiro de 2009, por força do disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 36.º do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho, pelo que, ao tempo, o titulador ainda não era sujeito da obrigação de registar. Contudo, nos termos do disposto no artigo 39.º, n.º 2, alínea b), do CRP, na redacção introduzida pelo artigo 1.º do citado Decreto-Lei n.º 116/2008, o notário tem legitimidade para requerer o registo e, por isso, tem igualmente legitimidade não só para impugnar a qualificação desfavorável que eventualmente recaia sobre o pedido de registo como também a conta dos actos, uma vez que sendo devido o emolumento em dobro o apresentante é responsável pelo seu pagamento, como decorre da análise conjugada do disposto no n.º 3 do artigo 8.º-D e do n.º 3 do artigo 151.º, ambos do CRP. 3

tempestividade do recurso e a inexistência de outras questões prévias ou prejudiciais que obstem ao conhecimento do mérito do presente recurso, passamos à sua apreciação que vai consubstanciada na seguinte Deliberação 1 A inscrição de aquisição fundada em doação é efectuada em termos definitivos mediante a apresentação da certidão da escritura ou de documento particular autenticado e do documento comprovativo de que se encontra instaurado o respectivo processo de liquidação e dele consta o prédio a que o registo se refere artigo 947.º do Código Civil e artigos 43.º, n.º 1, e 72.º, n.º 3, ambos do Código do Registo Predial 4. 2 Os factos submetidos a registo obrigatório por força do prescrito no artigo 8.º-A devem ser peticionados no prazo fixado no artigo 8.º-C 5, isto é, 4 A doação é uma aquisição gratuita sujeita a imposto de selo porque enquadrável no disposto na alínea a), n.º 3, do artigo 1.º do Código do Imposto do Selo (CIS), aprovado pela Lei n.º 150/99, de 11 de Setembro, e na verba n.º 1.2 da Tabela Geral do Imposto do Selo. Por força do disposto no n.º 1 do artigo 26.º do CIS, o beneficiário de qualquer transmissão gratuita sujeita a imposto deve proceder à participação ao serviço de finanças (ou noutro local, previsto em lei especial), da doação que envolva a transmissão de bens, com base na qual é instaurado o processo de liquidação cfr. o n.º 1 do artigo 27.º do citado Código. Para efeitos registrais, o imposto do selo nas transmissões gratuitas considera-se assegurado desde que esteja instaurado o respectivo processo de liquidação e dele conste o prédio a que o registo se refere, como decorre do disposto no n.º 3 do artigo 72.º do CRP. Acresce, ainda, que tratando-se de doação de pais a filhos a transmissão beneficia da isenção subjectiva prevista na alínea e) do artigo 6.º do CIS, devendo ser averbada no documento ou no título a disposição legal que a prevê, em conformidade com o prescrito no artigo 8.º do citado Código. 5 O prazo fixado neste preceito conta-se nos termos do artigo 279.º do Código Civil, uma vez que, tendo em conta a unidade do sistema jurídico, o pedido de registo se integra no processo de registo e não faria sentido que o regime aplicável ao prazo de apresentação do pedido fosse diverso do regime dos prazos dos demais actos que integram aquele processo, 4

a partir da data da titulação do facto ou da data do pagamento das obrigações fiscais quando este deva ocorrer depois da titulação, ou, ainda, em determinados casos, da data da participação do facto ao serviço competente, sob pena de o apresentante dever entregar o emolumento em dobro nos termos do disposto no n.º 1 do artigo 8.º-D do Código do Registo Predial 6. 3 O prazo para promover o registo de aquisição fundada em transmissão gratuita é de trinta dias a contar da data da participação do correspondente facto, uma vez que a elaboração definitiva deste registo não depende do pagamento efectivo das obrigações fiscais cfr. o n.º 1 do artigo 8.º-C do citado Código 7. designadamente do prazo de elaboração do respectivo registo consagrado no artigo 75.º, n.º 1, do CRP. 6 A adopção de um regime de registo predial obrigatório visa potenciar, no mais curto espaço de tempo possível, a coincidência entre a realidade física, a substantiva e a registral, contribuindo, por esta via, para aumentar a segurança no comércio jurídico imobiliário. Para o efeito, o legislador criou uma série de mecanismos, designadamente, a fixação de prazos (curtos em regra, 30 dias a partir da titulação), para promoção do registo (sob pena de o seu incumprimento determinar a aplicação de uma sanção pecuniária), e a indicação dos sujeitos da obrigação de registar, a par de alguns incentivos atinentes à gratuitidade de determinados registos desde que sejam promovidos até 2 de Dezembro de 2011 cfr. o disposto no artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho. 7 O n.º 1 do artigo 8.º-C prescreve que «Salvo o disposto nos números seguintes ou disposição legal em contrário, o registo deve ser pedido no prazo de 30 dias a contar da data em que tiverem sido titulados os factos ou da data do pagamento das obrigações fiscais quando este deva ocorrer depois da titulação». A dúvida que, com pertinência, aqui foi suscitada gira em torno da interpretação a conceder à parte final da norma transcrita abrangerá ela o pagamento de todas e quaisquer obrigações fiscais, como o elemento meramente literal permite sustentar, ou estariam no espírito do legislador apenas as que demandem uma qualificação minguante do correspondente acto de registo, se faltar a prova do respectivo pagamento? O legislador desta Reforma quis que o registo predial fosse efectuado com a maior celeridade possível, por isso estabeleceu prazos apertados, mas razoáveis para obtenção dos documentos necessários para o registo (artigo 43.º do CRP), para que o mesmo fosse promovido sem qualquer cominação legal. 5

Assim, não dependendo de qualquer diligência posterior à sua titulação o registo deve ser promovido no prazo de trinta dias contados a partir daquela; dependendo do pagamento de obrigações fiscais que deva ocorrer depois da titulação o referido prazo só começa a correr após este pagamento, uma vez que só nesse momento o interessado está em condições de pedir, com êxito, o registo correspondente. Tendo o interessado necessidade de apresentar um documento comprovativo do pagamento de obrigações fiscais cujo prazo de emissão ele não controla não seria aceitável responsabilizá-lo pelo incumprimento de uma obrigação dependente ainda da acção de terceiros, daí que o prazo só possa começar a correr a partir da data em que a obrigação é exercitável, isto é, da data em que o obrigado à promoção do registo esteja em condições de cumprir, com sucesso. Mas aplicar-se-á este entendimento a todos os casos em que o pagamento das obrigações fiscais deva ocorrer após a titulação do facto ou haverá situações em que se justifique que a norma plasmada na parte final do citado n.º 1 do artigo 8.º-C não seja interpretada em termos literais? Parece-nos que, relativamente a determinadas situações, é imperioso que se proceda a uma interpretação restritiva da norma em causa. A interpretação restritiva, como ensina Baptista Machado, in Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador, 2008, pág.186, deve ter lugar quando o intérprete conclui que o legislador adoptou um texto que diz mais do que aquilo que se pretendia dizer. Então a ratio legis terá uma palavra decisiva. O intérprete não se deve deixar arrastar pelo alcance aparente do texto, mas deve restringir este em termos de o tornar compatível com o pensamento legislativo, isto é, com a ratio legis. O argumento em que assenta este tipo de interpretação costuma ser expresso da seguinte forma: cessante ratione legis cessat eius dispositio (lá onde termina a razão de ser da lei termina o seu alcance). Parece-nos, assim, que o mais razoável será diferir o início da contagem do prazo para a «data do pagamento das obrigações fiscais» apenas quando a falta de prova do seu pagamento influa, decisivamente, na qualificação do registo peticionado. Sempre que a elaboração do registo definitivo do facto em causa não dependa da comprovação do pagamento das obrigações fiscais não deve também o início do prazo para a sua promoção ficar dependente da prova de tal pagamento esta dependência só faz sentido desde que tenha influência na qualificação do registo peticionado, em termos definitivos. Daqui resulta inequivocamente que o elemento literal, neste tocante, é mais amplo do que o sentido real o que obriga a uma limitação ou restrição atendendo aos elementos extraliterais da interpretação. A lei fiscal concede ao donatário a possibilidade de promover a liquidação junto do Serviço de Finanças até final do terceiro mês seguinte ao do nascimento da obrigação tributária (artigo 26.º, n.ºs 1 e 3, do CIS). 6

4 Tratando-se de transmissões gratuitas a favor de quem beneficie da isenção subjectiva prevista no artigo 6.º do CIS, o correspondente registo deve ser promovido no prazo de trinta dias a contar da titulação do facto. 5 Assim, visto que o acto de registo em causa se enquadra na previsão do número anterior, verifica-se que o mesmo foi peticionado fora do prazo legal, devendo o apresentante entregar o emolumento em dobro 8, pelo que a conta ora impugnada se encontra correctamente efectuada, não havendo, por isso, lugar à devolução de qualquer quantia. Em face do exposto, é entendimento deste Conselho que o presente recurso hierárquico de conta não merece provimento. Afigurando-se-nos de afastar a intenção do legislador do registo predial reduzir (ou pretender colidir com) tal prazo, deve antes proceder-se à harmonização dos dois prazos, dirigidos ao mesmo interessado, da seguinte forma: os trinta dias consagrados na parte final do n.º 1 do artigo 8.º-C do CRP só começam a correr, in casu, da data da participação tempestiva daquela obrigação no serviço competente, não sendo exigível a prova do pagamento das obrigações fiscais que, literalmente, resultaria da norma interpretanda. Nestes termos, para o registo obrigatório da aquisição fundada na doação basta que esteja instaurado o processo de liquidação e dele conste o prédio a que o registo se refere como decorre do disposto no n.º 3 do artigo 72.º do CRP, e, sendo assim, o início do prazo previsto no n.º 1 do artigo 8.º-C há-de começar a correr logo que o interessado esteja em condições de requerer o registo em termos definitivos. No caso em apreço os autos, o recorrente procedeu à titulação do facto em 8 de Setembro de 2008 devendo promover o correspondente registo no prazo de trinta dias a contar da data da titulação, mas tal só veio a acontecer em 4 de Novembro de 2008 pelo que ultrapassou claramente o prazo concedido pela lei, e sendo assim é-lhe aplicável a sanção correspondente à prática do acto em momento posterior ao devido, que se encontra prevista no n.º 1 do artigo 8.º-D do CRP. 8 No ponto VI do Despacho n.º 74/2008, proferido em 18 de Julho de 2008 pelo Presidente do Instituto dos Registos e do Notariado, consta o entendimento de que deve ser cobrado o agravamento emolumentar previsto no n.º 1 do artigo 8.º-D a quem apresenta o registo, independentemente de se tratar ou não do sujeito da obrigado à sua promoção, nos termos do n.º 3 do artigo 151.º do CRP. 7

2009. Deliberação aprovada em sessão do Conselho Técnico de 27 de Fevereiro de 21.04.2009. Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, relatora. Esta deliberação foi homologada pelo Exmo. Senhor Presidente em 8