Prescrição de Medicamentos



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Transcrição:

Prescrição de Medicamentos Autora: Claudia Garcia Serpa Osorio-de-Castro Revisoras: Ana Márcia Messeder Sebrão Fernandes Erica Carvalho da Silva Alves da Silveira Marcela de Araújo Calfo A prescrição de medicamentos é um documento com valor legal pelo qual se responsabilizam, perante o paciente e sociedade, aqueles que prescrevem, dispensam e administram os medicamentos/terapêuticas ali arrolados. É regida por certos preceitos gerais, de forma a não deixar dúvida e/ou dificuldades de interpretação. No Brasil, como em outros países, existem regulamentações sobre a prescrição de medicamentos e sobre aspectos éticos a serem seguidos pelos profissionais envolvidos no processo. As principais normas que versam sobre a prescrição de medicamentos são a Lei Federal n.º 5991, de 17 de dezembro de 1973 e o Decreto n.º 3181, de 23 de setembro de 1999 que regulamenta a Lei n.º 9787, de 10 de fevereiro de 1999, bem como a Resolução CFF n.º 357, de 20 de abril de 2001, do Conselho Federal de Farmácia (CFF), que define as Boas Práticas em Farmácia. As normativas sobre prescrição versam que A prescrição deve ser clara, legível e em linguagem compreensível; A prescrição deve ser escrita sem rasura, em letra de fôrma, por extenso e legível, utilizando tinta e de acordo com nomenclatura e sistema de pesos e medidas oficiais; O documento não deve trazer abreviaturas, códigos ou símbolos. Não é permitido abreviar formas farmacêuticas ( comp. ou cap. ao invés 1

de comprimido ou cápsula ), vias de administração ( VO ou IV, ao invés de via oral ou via intravenosa ), quantidades ( 1 cx. Ao invés de 01 (uma) caixa ) ou intervalos entre doses ( 2/2 h ou 8/8 h ao invés de "a cada 2 horas" ou a cada 8 horas ). Na prescrição devem constar: Nome, forma farmacêutica e potência do fármaco prescrito (a potência do fármaco deve ser solicitada de acordo com abreviações do Sistema Internacional, evitando abreviações e uso de decimais); A quantidade total de medicamento (número de comprimidos, drágeas, ampolas, envelopes), de acordo com a dose e a duração do tratamento; A via de administração, o intervalo entre as doses, a dose máxima por dia e a duração do tratamento; Nome, endereço e telefone do prescritor de forma a possibilitar contato em caso de dúvidas ou ocorrência de problemas relacionados ao uso de medicamentos prescritos; Data da prescrição. As receitas têm validade de 30 dias, a contar da data de emissão; Em alguns casos pode ser necessário constar o método de administração (por exemplo, infusão contínua, injeção em bolo); cuidados a serem observados na administração (por exemplo, necessidade de injetar lentamente ou de deglutir com líquido); horários de administração (nos casos de possível interação alimentar ou farmacológica, visando maior comodidade, adesão ou melhora do efeito terapêutico) ou cuidados de conservação (por exemplo, a manutenção do frasco em geladeira). De acordo com as diretivas relativas à prescrição, no âmbito do Sistema Único de Saúde, o documento deve: 2

Adotar a Denominação Comum Brasileira (DCB) e, em sua ausência, a Denominação Comum Internacional (DCI). Nos serviços privados de saúde, a prescrição pode ser feita utilizando o nome genérico ou o comercial; Seguir o Decreto n.º 3181, de 23 de setembro de 1999 que regulamenta a Lei n.º 9787, de 10 de fevereiro de 1999, que dispõe sobre a intercambialidade entre medicamentos de referência ou de marca e medicamentos genéricos. O prescritor deve manifestar-se por escrito, caso não deseje permitir a intercambialidade de sua prescrição. O prescritor ainda se obriga a: Não indicar atos desnecessários ou proibidos pela legislação do País; Não receitar ou atestar de forma secreta ou ilegível, nem assinar em branco, folhas de receituários, laudos, atestados ou outros documentos médicos; Usar o receituário específico para prescrição de fármacos, inclusive os que se encontram sob controle da autoridade reguladora. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), autoridade reguladora brasileira permite a venda livre, sem necessidade de prescrição médica, de alguns grupos de medicamentos para indicações terapêuticas especificadas. Encontram-se nestas condições, respeitadas restrições em situações especificadas, os grupos: antiacneicos tópicos e adstringentes; antiácidos e antieméticos; antibacterianos tópicos; antidiarréicos; antiespasmódicos; anti-histamínicos; antiseborréicos; anti-sépticos orais, oculares, nasais, de pele e mucosas, urinários e vaginais tópicos; aminoácidos, vitaminas e minerais; antiinflamatórios. Todos os demais medicamentos necessitam de prescrição para serem dispensados ou aviados. Algumas substâncias, como hormônios, entorpecentes e psicofármacos têm seu uso controlado por legislação 3

específica, a Portaria MS/SVS n.º 344, de 12 de maio de 1998, sendo a lista destas substâncias constantemente atualizada. Substâncias entorpecentes e psicotrópicas exigem formulários de receita específicos (Notificações de Receita A e B) e se diferenciam quanto às exigências para a prescrição ambulatorial. Os fármacos da Lista A (por exemplo, opióides e derivados anfetamínicos) devem ser prescritos com a Notificação de Receita A, de cor amarela, e são fornecidos, de forma numerada e controlada, pela Vigilância Sanitária estadual. A quantidade máxima a ser prescrita corresponde a 30 dias de tratamento, não podendo conter mais que cinco ampolas no caso de medicamento para uso injetável. Os fármacos da Lista B (por exemplo, psicotrópicos e substâncias anorexígenas) exigem a Notificação de Receita B, de cor azul, feita pelo profissional, hospital ou ambulatório. A quantidade máxima a ser prescrita corresponde a 60 dias de tratamento, não podendo conter mais que cinco ampolas no caso de medicamento para uso injetável. A Lista C inclui alguns psicofármacos (anticonvulsivantes, antidepressivos, antipsicóticos, antiparkinsonianos, dissulfiram, lítio etc.); substâncias retinóicas (acitretina, adapaleno, isotretinoína e tretinoína); substâncias imunossupressoras (talidomida); substâncias anti-retrovirais e substâncias anabolizantes (androstanolona, clostebol, etilestrenol, nandrolona), somatotrofina (hormônio do crescimento humano), testosterona etc. A prescrição dos fármacos contidos nessas listas é feita em Receita de Controle Especial. Os anti-retrovirais também podem ser prescritos em Receituário do Programa das Doenças Sexualmente Transmissíveis/Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (DST/Aids) (Ver também Nota Técnica Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis/Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). Em hospitais, clínicas médicas e veterinárias, medicamentos constantes das listas A1, A2, A3, B1, B2, C2 e C3 poderão ser dispensados ou aviados 4

mediante receita privativa do estabelecimento, subscrita por profissional em exercício no mesmo. Mais recentemente, a Resolução - RDC MS/Anvisa n.º 58, de 05 de setembro de 2007 estabeleceu normas para a prescrição, dispensação e controle de substâncias psicotrópicas anorexígenas. A prescrição destas substâncias é sujeita a notificação de receita de cor azul, com validade, dentro da Unidade Federativa que concedeu a numeração, de 30 dias. Estabelece também as Doses Diárias Recomendadas (DDR) para medicamentos ou fórmulas medicamentosas, para o tratamento da obesidade, que contenham estas substâncias, e proíbe a prescrição/dispensação de fórmulas de dois ou mais medicamentos, seja em preparação separada ou em uma mesma preparação, com finalidade exclusiva de tratamento da obesidade, que contenham substâncias psicotrópicas anorexígenas associadas entre si, ou com ansiolíticos, antidepressivos, diuréticos, hormônios ou extratos hormonais e laxantes, simpatolíticos ou parassimpatolíticos. Além do médico e do odontólogo, e à exceção do farmacêutico, outros profissionais de saúde - como enfermeiros das equipes de saúde da família conforme Portaria MS/GM n.º 1625, de 10 de julho de 2007- estão habilitados a prescrever, em situações específicas, respeitadas as especificidades do prescrito e das normativas dos órgãos que regulamentam cada categoria profissional. Mas todos estão igualmente a serviço das boas práticas da prescrição. Essas práticas estão consagradas em compêndios e normas adotadas internacionalmente, face ao avanço do saber científico e à pressão da incorporação tecnológica nos sistemas de saúde. Além dos preceitos legais e normas auxiliares, a boa prescrição depende da escolha de tratamento baseada na melhor evidência disponível naquele momento, para o paciente específico, levando-se em conta a literatura publicada sobre o assunto e a realidade do sistema de saúde em que profissionais e pacientes estão incluídos. 5

Tem havido grande esforço nacional na produção e disponibilização à sociedade de documentos que reúnam informações científicas isentas e que sistematizem as evidências existentes, dentre eles: protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas, consensos de especialistas, boletins como o Boletim Brasileiro de Avaliação Tecnológica em Saúde (BRATS) elaborado em cooperação de diversos órgãos do Ministério da Saúde (MS) e disponíveis no sítio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) (www.anvisa.gov.br) e o Boletim Uso Racional: Temas selecionados disponíveis no sítio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) (http://www.opas.org.br/medicamentos/temas.cfm?id=39&codbarra=2). Estes documentos, que sistematizam a melhor evidência existente até aquele momento, podem ser de extrema utilidade na orientação quanto à conduta terapêutica mais adequada a cada paciente, de forma a preservar sua saúde, evitando riscos desnecessários para o indivíduo e mesmo para a sociedade. Uma vez realizada a escolha balizada, fundamentada em evidências inequívocas de eficácia, segurança, e melhor custo-efetividade comparada (com outras opções terapêuticas), o prescritor deve avaliar a maior aceitabilidade e conveniência para o paciente, preferencialmente, dentre as alternativas disponíveis no sistema, considerando a possibilidade de acesso do paciente e o menor custo para o sistema, preservando sua equidade. Finalmente, o prescritor obriga-se a não apenas ditar as instruções escritas, mas a passar, também por escrito, ao paciente, as orientações necessárias à boa consecução do seu tratamento, como item da prescrição. Ao farmacêutico cabe analisar e dispensar os medicamentos, etapa que inclui aviamento dos medicamentos e orientação ao paciente. Fica vedado a este profissional dispensar medicamento danoso á saúde do paciente, ou a seguir prescrição que coloca em risco o bem-estar do mesmo. Aos profissionais que administram os medicamentos e a todos que acompanham o tratamento medicamentoso até seu final, cabe zelar pelo sucesso da terapêutica, colocando sempre, e em primeiro plano, a saúde e a qualidade de vida do paciente. 6

Todos os profissionais envolvidos na prescrição de medicamentos, e não apenas quem prescreve, estão obrigados a respeitar a prescrição, desde que esta siga os preceitos legais e esteja adequadamente fundamentada em evidências. É este documento que liga os processos de trabalho desses profissionais e possibilita um patamar comum de intercâmbio de conhecimentos, de modo a trazer ganhos reais à saúde do paciente. A prescrição bem fundamentada em evidências, atenta ao estado de saúde do paciente e às provas deste estado, e incorporando as orientações necessárias para o mesmo, aliada a seus sucedâneos, a dispensação orientada, a administração correta e o uso pelo paciente, orientado e acompanhado pelos profissionais de saúde, visa garantir o chamado uso racional de medicamentos. Nas situações de ações judiciais, o documento da prescrição, bem como aqueles que comprovam o estado de saúde do paciente e, portanto, a substanciam, como, exames, perícias, laudos, são fundamentais para garantir não só o fornecimento dos medicamentos ao paciente, mas a adequação deste fornecimento, sobretudo no que diz respeito à eficácia e à segurança do medicamento para a condição que se deseja tratar. É considerada má prática o provimento de tecnologias em saúde, como os medicamentos, que sejam desnecessárias ou que tenham potencial de uso inadequado ou abusivo. Sem esta garantia, a provisão pura e simples de medicamentos pode ser danosa, ainda porque pode acontecer em quantidades inadequadas, por falta ou excesso. Como são tecnologias sofisticadas e algumas muitas vezes novas o suficiente para que seus efeitos ainda não sejam totalmente esclarecidos, a prescrição mal feita inicia um processo em que o risco ao paciente pode se manifestar mais intensamente que os benefícios propostos. Este processo pode também ser perpetuado por falhas nas demais etapas da terapêutica. Por exemplo, dispensar medicamento inadequadamente prescrito seja por desconhecimento ou por omissão das evidências e do estado real do paciente. Administrar medicamento sem conhecer as 7

suscetibilidades do medicamento e do paciente, e não acompanhar o paciente, investigando, minimamente, se ele ainda precisa usar o medicamento e que efeitos este está produzindo, são da mesma forma falhas inaceitáveis e negligenciam a boa terapêutica, não apenas perpetuando erros de processo de cuidado mas causando possível dano ao paciente. Referências: 1. ABREU, M. M. et a.l Apoios de decisão: instrumento de auxílio à medicina baseada em preferências. Uma revisão conceitual. Revista Brasileira de Reumatologia, v.46, n.4, p. 266-72, 2006. 2. ARRAIS, P. S. D.; BARRETO, M. L.; COELHO, H. L. L. Aspectos dos processos de prescrição e dispensação de medicamentos na percepção do paciente: estudo de base populacional em Fortaleza, Ceará, Brasil. Cadernos de. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.23, n.4, p.927-937, abr. 2007. 3. BERO, L.; RENNIE, D. Influences on the quality of published drug studies. International Journal of Technology Assessment in Health Care, v.12, p. 209-237, 1996. 4. BRASIL. Conselho Federal de Farmácia. Resolução 357, de 27 de abril de 2001. In: Conselho Federal de Farmácia. A Organização Jurídica da Profissão Farmacêutica Brasília, 3ª ed., 2001, 342 p. 5. BRASIL. Decreto n. o 3.181, de 23 de setembro de 1999. Regulamenta a Lei n. o 9.787, de 10 de fevereiro de 1999, que dispõe sobre a Vigilância Sanitária, estabelece o medicamento genérico, dispõe sobre a utilização de nomes genéricos em produtos farmacêuticos e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3181.htm>. Acesso em 20 jan.2009. 6. BRASIL. Lei n. o 5991, de 17 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o controle sanitário do comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5991.htm>. Acesso em 20 jan.2009. 7. BRASIL. Portaria n. o 344, de 12 de maio de 1998. Aprova o regulamento técnico sobre substancias e medicamentos sujeitos a controle especial: substancias entorpecentes, substancias entorpecentes de uso permitido somente em concentrações especiais, substancias psicotrópicas anorexígenas, substancias sujeitas a controle especial, substancias psicotrópicas, substancias retinóicas, substancias 8

imunossupressoras, substancias anti-retrovirais, substancias anabolizantes, substancias precursoras de entorpecentes e/ou psicotrópicos, insumos químicos utilizados como precursores para fabricação e síntese de entorpecentes e/ou psicotrópicos, plantas que podem originar substancias entorpecentes e/ou psicotrópicas, substancias de uso proscrito no brasil. Disponível em: <http:// e- legis.anvisa.gov.br/leis. php?id=17235&word=>. Acesso em 20 jan.2009. 8. BRASIL. Resolução - RDC n.º 249, de 05 de setembro de 2002. Publica a atualização do Anexo I, Listas de Substancias Entorpecentes, Psicotrópicas, Precursoras e Outras Sob Controle Especial, da Portaria SVS/MS n.º 344, de 12 de maio de 1998, republicada no Diário Oficial da União de 1º de fevereiro de 1999. (ementa elaborada pela CDI/MS). Disponível em: <http:// e- legis.bvs.br/leisref/public/showact.php?id=6650&mode=print_versio N>. Acesso em 20 jan.2009. 9. BRASIL. Resolução RES n.º 138, de 29 de maio de 2003. Todos os medicamentos cujos grupos terapêuticos e indicaçõesterapêuticas estão descritos no anexo: lista de grupos e indicações terapêuticas especificadas (Gite), respeitadas as restrições textuais e de outras normas legais e regulamentares pertinentes, são de venda sem prescrição médica, a exceção daqueles administrados por via parenteral que são de venda sob prescrição médica (ementa elaborada pela biblioteca/ms). Disponível em:< http:// e- legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showact.php?id=16672&mode=print_ VERSION>. Acesso em 20 jan.2009. 10. BRASIL. Resolução - RES n.º 32, de 09 de março de 2001. Os medicamentos indicados pela Anvisa como medicamentos de referência que foram registrados pelo ministério da saúde e estão sendo comercializados pela substância base ou pela denominação genérica da substância ativa empregando a denominação comum brasileira - DCB ou denominação comum internacional - DCI ou ainda a denominação descrita no chemical abstract substance (CAS), ficam dispensadas de adotar marca ou nome comercial. Disponível em: <http:// e- legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showact.php?id=1243&mode=print_ VERSION >. Acesso em 20 jan.2009. 11. BRASIL. Resolução RES n.º 47, de 28 de março de 2001. Os medicamentos genéricos de acordo com a Lei 9.787, de 1999 e Resolução Anvisa 10, de 2001, registrados ou que vierem a serregistrados junto à Agência Nacional de Vigilância, devem ter, para facilitar a sua distinção, em suas embalagens externas, o logotipo que identifica o medicamento genérico, impresso dentro de uma faixa amarela, pantone 116 C, com largura igual a um quinto da maior face total, cobrindo a face principal e as laterais da embalagem. Fica permitida a impressão de textos legais nas laterais, caso necessário. 9

Disponível em: <http:// e- legis.bvs.br/leisref/public/showact.php?id=258&mode=print_versio N>. Acesso em 20 jan.2009. 12. BRASIL. Resolução RES n.º 58, de 05 de setembro de 2007. Dispõe sobre o aperfeiçoamento do controle e fiscalização de substâncias psicotrópicas anorexígenas e dá outras providências. Disponível em: <http:// e- legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showact.php?id=28456&mode=print_ VERSION>. Acesso em 20 jan.2009. 13. BRASIL. Resolução RES n.º 63, de 27 de setembro de 2007. Publica a atualização do anexo I, listas de substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998, republicada no Diário Oficial da União de 1º de fevereiro de 1999. Disponível em: <http:// e- legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showact.php?id=28503&mode=print_ VERSION>. Acesso em 20 jan.2009. 14. BRASIL. Resolução n.º 328 de 22 de julho de 1999. In: Conselho Federal de Farmácia. A Organização Jurídica da Profissão Farmacêutica. Brasília: Conselho Federal de Farmácia, 3ª ed., 200: 385-393. 15. CONSELHO FEDERAL DE FARMACIA. Código de Ética Farmacêutico. Disponível em: <http://www.crf.org.br/legisla/regul_cod_etica.htm>. Acesso em 20 jan.2009. 16. CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Código de Ética Médico. Disponível em: http://www.cfm.org.br/codetic.htm Acesso em 20 jan.2009. 17. LEITE, S. N.; VASCONCELLOS, M. P. C. Adesão à terapêutica medicamentosa: elementos para a discussão de conceitos e pressupostos adotados na literatura. Ciência & Saúde Coletiva, v.8, n.3, p.775-782, 2003. 18. LUIZA, V. L.; GONÇALVES, C. B. C. A Prescrição Medicamentosa. In: FUCHS, F. D.; WANNMARCHER, L.; FERREIRA, M. B. Farmacologia Clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 3ª Ed., 2004, p. 86-95. 19. MILSTEIN-MOSCATI, I.; PERSANO, S.; CASTRO L.L. C. Aspectos metodológicos e comportamentais da adesão à terapêutica. In: CASTRO, L. L. C. (org.). Fundamentos de Farmacoepidemiologia. Campo Grande: AG Editora, 2000, p. 171-179. 20. NEMES, M. I. B. Aderência ao tratamento por anti-retrovirais em serviços públicos de saúde no Estado de São Paulo. Brasília: Ministério da Saúde, 2000. 171p. 10

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