III-114 - A VERMICOMPOSTAGEM APLICADA À ATENUAÇÃO DE CARGAS POLUIDORAS DE LIXIVIADO DE CÉLULAS ANTIGAS DE ATERRO SANITÁRIO



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Transcrição:

III-114 - A VERMICOMPOSTAGEM APLICADA À ATENUAÇÃO DE CARGAS POLUIDORAS DE LIXIVIADO DE CÉLULAS ANTIGAS DE ATERRO SANITÁRIO Geraldo Antônio Reichert (1) Engenheiro Civil. Especialista em Hidrologia pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS em 19. Curso de Especialização em Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos no Japão em 1995. Mestre em Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo IPH/UFRGS em 1999. Engenheiro do Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre - DMLU - desde 1991. Francisco Ricardo Andrade Bidone Engenheiro Civil. Mestre em Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo IPH/UFRGS. Doutor em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos - USP, em 1995. Professor Adjunto do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS. Coordenador do Grupo de Resíduos Sólidos do IPH/UFRGS. Endereço (1) : Av. da Azenha, 631 - Azenha - Porto Alegre - RS - CEP: 16-1 - Brasil - Tel: (51) 217-9111 - Fax: (51) 217.9111 - e-mail: greichert@dmlu.prefpoa.com.br RESUMO Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de se buscar soluções simples e alternativas para o tratamento de lixiviado de células antigas de aterro sanitário, contando-se com a capacidade quelante e complexante do húmus no arrefecimento das cargas poluidoras do lixiviado. Para isto foram utilizados como substratos orgânicos o composto de resíduos sólidos urbanos e uma mistura deste composto com estrume bovino. O estudo foi dividido em quatro fases distintas, sendo a eficiência da remoção de poluentes do lixiviado utilizado como líquido de rega das leiras de vermicompostagem analisada para leiras de altura tradicional de 3 cm e para leiras com o dobro desta altura, tendo estas últimas recebido o insuflamento de ar pela base. Foi testada a eficiência do processo em leiras com a presença das minhocas (durante o processo de vermicompostagem) e sem (vermicomposto pronto ou húmus). Em cada fase foram testadas quatro taxas de aplicação de lixiviado sobre as leiras, taxas estas que foram definidas com base na pluviometria média de Porto Alegre. A minhoca utilizada foi a vermelha da Califórnia, a Eisenia Foetida, pela simplicidade do seu manejo e sua fácil adaptação em cativeiro. O lixiviado utilizado com líquido de rega foi proveniente de um aterro sanitário antigo, já bastante biodegradado, por já ter passado por tratamento anaeróbio anterior no próprio aterro. Entretanto, tinha ainda altas concentrações de nitrogênio - ente 5 e 7 mg/l - e elevada DQO - entre 86 e 1.335 mg/l. O estudo foi desenvolvido através da montagem de leiras experimentais de bancada no Laboratório de Tecnologias Ambientais do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS. Foram utilizados vasos plásticos para as leiras de menor altura, e vasos cerâmicos para as demais. Os resultados, após dez meses de experimentação, mostraram que a vermicompostagem, e o vermicomposto, quando submetidos à rega com lixiviado de aterro velho, propiciam efetiva remoção das cargas orgânicas, de metais pesados e principalmente de nitrogênio total de Kjeldhal (NTK). A redução da carga de DQO ficou sempre acima de 5 %. Nas leiras de vermicompostagem e nas que contavam com aeração artificial, a remoção de carga de NTK foi superior a 89 %; e redução da carga de metais pesados foi superior a 55 % nas leiras de 2 cm de altura, e superior a % nas liras de 6 cm de altura. PALAVRAS-CHAVE: Vermicompostagem, Tratamento de Lixiviado, Eisenia Foetida, Nitrogênio, Metais Pesados. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1

INTRODUÇÃO Este trabalho contribui na busca de alternativas de baixo custo, aplicáveis à realidade brasileira, para tratamento de lixiviados de aterro sanitário velhos. Foi concebido conhecendo-se os recentes trabalhos que demonstram ser a vermicompostagem viável para tratamento de resíduos de diferentes origens, inclusive resíduos industriais perigosos ou de difícil decomposição, desde que condições ambientais mínimas exigidas pelas minhocas sejam garantidas (KNÄPPER, 1992; RIBEIRO, 1992; BIDONE, 1995; COUTINHO, 1996; VERAS, 1996; BIDONE e POVINELLI, 1996). Além de elevada carga orgânica, lixiviados de aterro sanitário apresentam altas concentrações de nitrogênio, prevalecendo as formas amoniacal e orgânica. Tratamentos anaeróbios, aos quais normalmente são inicialmente submetidos esses lixiviados, não removem o nitrogênio, que se lançado no ambiente pode levar a eutrofização dos corpos d água. O processo de nitrificação, passagem do nitrogênio para a forma mais oxidada de nitrato, só ocorre na presença do oxigênio. Como a vermicompostagem é um processo aeróbio, espera-se que ocorra a nitrificação, quando utilizada no tratamento de lixiviados. Através de mecanismos de complexação ou de quelação, o húmus ou vermicomposto pode reter certos micronutrientes. Quelação, que é uma forma de complexação, é o equilíbrio entre um íon metálico e o agente complexante, o húmus, sem que esse íon tome parte na composição química do agente complexante; ou seja, fica apenas pinçado, seqüestrado ou quelado. O húmus retém os metais com diferentes forças, sendo a seguinte a ordem crescente da energia de retenção: cádmio, mercúrio, cálcio, boro, magnésio, manganês, zinco, cobalto, níquel, cobre e chumbo (KIEHL, 1985). KIEHL (1985) descreve que em 195, o químico inglês Way, fez passar por um funil contendo húmus, um líquido de esterqueira rico em amônio (NH4+), ficando a amônia retida pelo húmus. Ocorre uma retenção físico-química denominada de adsorção, ficando os cátions metálicos e o amônio retidos eletrostaticamente pelas cargas negativas das micelas coloidais húmicas. O objetivo principal deste trabalho é a verificação da eficiência da vermicompostagem, e do húmus produzido, na remoção/atenuação de cargas poluidoras do lixiviado de aterro sanitário, principalmente nitrogênio amoniacal, matéria orgânica dificilmente biodegradável e metais pesados. Avaliou-se também a influência no processo de dois diferentes tipos de substratos orgânicos, de quatro taxas de rega, da viabilidade de utilização de oxigenação forçada em leiras mais profundas. Em função das características complexantes e quelantes do vermicomposto há indícios inequívocos da eficiência do processo no tratamento de lixiviado de aterros sanitários. A comprovação desta possibilidade foi proposta através de metodologia descrita a seguir. METODOLOGIA Para avaliar a eficácia da vermicompostagem no tratamento de lixiviado de células antigas de aterro sanitário, foram montadas leiras com diferentes tipos de substratos orgânicos, submetendo as leiras a quatro diferentes taxas de rega, aplicação do lixiviado, fazendo a rega com lixiviado durante o processo de vermicompostagem (com as minhocas) e sobre o vermicomposto pronto (sem as minhocas), e utilizando o insuflamento de ar em leiras de altura maior que a tradicional, estando todo os procedimentos descritos em REICHERT (1999). O experimento foi dividido em quatro fases distintas, ao longo de dez meses, sendo desenvolvido em bancada no Laboratório da Tecnologias Ambientais do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS. Foi utilizada a minhoca Eisenia foetida, ou vermelha da Califórnia, pela simplicidade de seu manejo e sua fácil adaptação em cativeiro. Como substratos orgânicos para a realização da vermicompostagem foram utilizados composto de resíduos orgânicos domiciliares (resultantes de processo convencional de compostagem) e uma mistura deste mesmo composto com estrume bovino seco, na proporção de 1/1 em peso. A adição do estrume bovino teve como objetivo o enriquecimento nutricional do substrato. Na tabela 1 são apresentadas as informações e características das quatro Fases do experimento, tais como a identificação de cada leira, o tipo de substrato, o peso das minhocas, o tipo de líquido de rega em cada leira e a respectiva taxa de aplicação ou rega. Na figura 1 é apresentada uma vista geral da montagem do experi- ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2

mento. Na Fase 1 utilizou-se 12 vasos plásticos com 2 cm de altura, que é a altura indicada na bibliografia como sendo ideal para a vermicompostagem. Na segunda fase, foi aplicado o lixiviado de aterro sobre quatro leiras que na Fase 1 foram regadas somente com água (V2, V5, V8 e V11). Nesta fase objetivou-se avaliar o desempenho na remoção de poluentes somente devido ao húmus, sem a presença das minhocas. Na Fase 3, objetivando avaliar a possibilidade de utilização de leiras de maior altura que as tradicionalmente utilizadas para a vermicompostagem, montou-se vasos com 6 cm de altura. Nestes últimos vasos, visando garantir as condições de oxigenação no interior das leiras, condição fundamental para a sobrevivência das minhocas que são organismos estritamente aeróbios, foi montado um mecanismo para introdução forçada de ar na instância das leiras (Figura 2). Da mesma forma como na Fase 2, a Fase 4 constituiu-se de quatro vasos cerâmicos (V21, V222, V23 e V24), que na Fase 3 receberam somente água como líquido de rega, retirandose as minhocas, e recolocando o húmus nos mesmos vasos, submetendo-se após estes vasos a aplicação de lixiviado, nas taxas apresentadas na tabela 1. Em cada uma das fases foram utilizados os dois tipos de substratos orgânicos (composto e mistura). As taxas de aplicação diária do líquido de rega, nas Fase 1 e 2, foram definidas de modo que uma delas correspondesse a chuva média do município sobre a superfície do vaso, tomando-se uma taxa menor que este valor e duas taxas maiores, ficando assim definidos quatro valores distintos de taxa de rega para cada fase. Nas Fase 3 e 4, como havia um maior volume de substrato no interior dos vasos, optou-se por manter as mesmas taxas de aplicação em termos de taxas volumétricas (L/m 3.d). Tabela 1 - Identificação e características das quatro fases da experimentação. Fase Com ou sem minhocas Vaso/Leira Tipo de substrato Peso de substrato (g) Peso de minhocas (g) Peso médio por minhoca (g) Tipo de líquido de rega Taxa de aplicação (ml/d) Taxa de aplicação (L/m 3.d) V1 Mistura 4.15 92,22,47 Lixiviado 13 V4 Mistura 4.15 92,22,48 Lixiviado 155 2 V7 Mistura 4.15 92,22,45 Lixiviado 225 3 V1 Mistura 4.15 92,22,44 Lixiviado 3 4 V3 Composto 5. 111,11,56 Lixiviado 13 1 Com V6 Composto 5. 111,11,56 Lixiviado 155 2 V9 Composto 5. 111,11,55 Lixiviado 225 3 V12 Composto 5. 111,11,61 Lixiviado 3 4 V2 Mistura 4.15 92,22,53 Água 13 V5 Mistura 4.15 92,22,48 Água 155 2 V8 Mistura 4.15 92,22,47 Água 225 3 V11 Mistura 4.15 92,22,44 Água 3 4 V2 Mistura 4.15 - - Lixiviado 13 2 Sem V5 Mistura 4.15 - - Lixiviado 155 2 V8 Mistura 4.15 - - Lixiviado 225 3 V11 Mistura 4.15 - - Lixiviado 3 4 V13 Mistura 6.2 14,,82 Lixiviado 15 13 V15 Mistura 6.2 14,,89 Lixiviado 23 2 V17 Mistura 6.2 14, 1,3 Lixiviado 33 3 V19 Mistura 6.2 14,,83 Lixiviado 44 4 V14 Composto 9.6 215,,93 Lixiviado 15 13 3 Com V16 Composto 9.6 215,,97 Lixiviado 23 2 V18 Composto 9.6 215,,91 Lixiviado 33 3 V2 Composto 9.6 215,,88 Lixiviado 44 4 V21 Composto 9.6 215,,91 Água 15 13 V22 Composto 9.6 215,,91 Água 23 2 V23 Composto 9.6 215,,88 Água 33 3 V24 Composto 9.6 215, 1,3 Água 44 4 V21 Composto 9.6 - - Lixiviado 15 13 4 Sem V22 Composto 9.6 - - Lixiviado 23 2 V23 Composto 9.6 - - Lixiviado 33 3 V24 Composto 9.6 - - Lixiviado 44 4 Nas Fases 1 e 2 os vasos eram plásticos e com 2 cm de altura útil. Nas Fases 3 e 4, utilizou-se vasos cerâmicos com 6 cm de altura e com insuflamento mecânica de ar no interior das leiras. O lixiviado bruto utilizado para a rega das leiras, nas quatro fases da pesquisa, era proveniente de células antigas de aterro sanitário - o Aterro Zona Norte de Porto Alegre. Apresentou DQO variando entre 86 e 1.335 mg/l; nitrogênio total de Kjelhahl (NTK) variando entre 5 e 7 mg/l, estando este nitrogênio quase todo na forma amoniacal (NH4+). O ph situou-se em faixa levemente alcalina. Os metais pesados, ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3

embora presentes, estavam em concentrações bastante baixas (por tratar-se lixiviado velho), ficando sempre abaixo de,16 mg/l. Por tratar-se de lixiviado de células antigas, e já submetido a tratamento anaeróbio anterior no próprio aterro, ácidos voláteis não foram detectados. O percolado dos vasos era diariamente coletado pelo fundo dos mesmos e devidamente armazenados para análise semanal composta. O lixiviado de aterro utilizado como líquido de rega das leiras, era renovado quinzenalmente, e aplicado sobre os vasos diariamente, sempre as 1 h da manhã. As análises de eficiência em cada leira, e em cada fase, foi realizada em termos de remoção de cargas, e não de concentrações. Para tanto controlou-se, além dos volumes aplicados, que eram pré-definidos, os volumes percolados pelo fundo dos vasos ou leiras. Figura 1 - Vista do experimento na Fase 3 (Na parte superior da bancada observa-se os vasos plásticos da Fase 2). À direita e abaixo, o compressor para insuflamento de ar nas leiras. Figura 2 - Detalhe da mangueira de injeção de ar na base dos vasos cerâmicos (Fases 3 e 4). ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4

RESULTADOS E DISCUSSÃO Remoção de carga de DQO Na figura 3 são apresentados os valores médios de redução percentual de carga de DQO para cada leira nas quatro diferentes fases. Redução da carga de DQO (%) 8 7 6 5 Composto 155 155 225 225 Mistura 3 3 4 5 15 2 25 3 35 Redução da carga de DQO (%) 8 7 6 5 155 Mistura 225 3 4 5 15 2 25 3 35 (a) Fase 1 - com minhocas (b) Fase 2 - sem minhocas Redução da carga de DQO (%) 8 7 6 5 15 23 23 Composto 33 33 44 44 Mistura 4 5 15 25 35 45 55 Redução da carga de DQO (%) 8 7 6 5 15 23 33 Composto 44 4 5 15 25 35 45 55 (c) Fase 3 - com minhocas (d) Fase 4 - sem minhocas Figura 3 - Eficiência de remoção de carga de DQO para as diferentes taxas de aplicação, por substrato. Houve diminuição da eficiência de redução da carga de DQO com o aumento da taxa da aplicação do lixiviado. Como as concentrações nos efluentes percolados pela base das leiras não sofreram grande influência da variação na taxa de aplicação (ver figuras do anexo), conclui-se que estas menores eficiências devem-se a maior lixiviação do substrato ocorrida com o aumento das taxas. As fases onde a aplicação do lixiviado deuse concomitantemente com a vermicompostagem (Fases 1 e 3) mostraram-se mais sensíveis ao aumento da taxa de aplicação do que as leiras somente com o húmus (sem as minhocas). As leiras com composto como substrato apresentaram melhor desempenho em relação às com mistura. Fazendo a média por substrato, para as quatro taxas de aplicação de cada fase, tem-se que na Fase 1 a remoção de DQO média nas leiras com composto foi de 7,4 %, enquanto que nas leiras com mistura, foi de 56,9 %. Na Fase 3, os valores foram de 88,9 e 77,5 % para composto e mistura, respectivamente. Talvez uma das razões que tenham contribuído para isto, é o fato de o composto estar inicialmente mais estabilizado do que a mistura, estando assim menos susceptível ao processo de lixiviação de seus constituintes orgânicos. As fases em que as minhocas não estavam presentes (Fases 2 e 4), apresentaram desempenho um pouco superior em relação às outras duas, demonstrando que a presença das minhocas, ao revolver e adiantar o estado de degradação do substrato, facilitam a lixiviação dos constituintes orgânicos, presentes no substrato e no lixiviado afluente. Nas leiras com insuflamento de ar, a média com as minhocas foi de 88,9 % de remoção de DQO, e nas leiras sem as minhocas, foi de 95,2 %, tomando-se o composto como subatrato. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5

Remoção de carga de Nitrogênio (NTK) Na figura 4 são apresentadas as reduções percentuais das cargas de nitrogênio, nas quatro fases, para as distintas taxas de aplicação de lixiviado e para os diferentes substratos utilizados. Redução da carga de NTK (%) 155 225 3 98 96 94 92 Composto Mistura 5 15 2 25 3 35 Redução da carga de NTK (%) 98 96 94 155 225 3 92 Mistura 5 15 2 25 3 35 (a) Fase 1 - com minhocas (b) Fase 2 - sem minhocas Redução da carga de NTK (%) 15 23 33 98 44 96 94 92 Composto Mistura 5 15 25 35 45 55 Redução da carga de NTK (%) 15 23 33 44 98 96 94 92 Composto 5 15 25 35 45 55 (c) Fase 3 - com minhocas (d) Fase 4 - sem minhocas Figura 4 - Eficiência de remoção de carga de NTK para as diferentes taxas de aplicação, por substrato O nitrogênio presente no lixiviado afluente estava quase que completamente na forma amoniacal, sendo o NTK praticamente igual a concentração do íon amonium (NH4+). Embora o lixiviado afluente apresentasse altas concentrações de NTK, todas as fases mostraram excelente remoção deste parâmetro. Com exceção da Fase 2, as outras tiverem remoção sempre superior a 98 %, sem diferenças significativas para os diferentes substratos sólidos e as distintas taxas de aplicação do lixiviado. A Fase 2, com leiras de menor altura, sem a presença das minhocas, e sem insuflamento de ar, embora com redução da carga de NTK superior a 92 % - considerando as quatro leiras desta Fase, a redução média de carga de NTK foi de 94,5 % -, apresentou desempenho abaixo das demais fases. Esta pequena perda de eficiência para remoção do NTK nesta fase, pode ser atribuída às saturações cíclicas a que as leiras eram submetidas, quando por um período curto de tempo a presença do oxigênio era reduzida pelo excesso de umidade. Nas leiras das Fases 1 e 3, a presença das minhocas favoreciam a oxigenação do substrato; e na Fase 4, a oxigenação era feita artificialmente. Desta forma, nestas três fases a oxigenação necessária para a remoção do NTK era garantida. A remoção da amônia foi um dos aspectos mais positivos da pesquisa. Uma alta performance neste aspecto já era esperada, uma vez que são necessárias condições aeróbias para que isto ocorra, e estas condições de aerobiose são fundamentais também para os processos de vermicompostagem. As concentrações de nitrato nos percolados efluentes demostram ter havido uma efetiva nitrificação no processo. Virtualmente ausente no lixiviado afluente, o nitrato aparece em grandes concentrações nos percolados, chegando a concentrações na ordem de até 1.4 mg/l. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6

Remoção de carga de metais pesados As eficiências de redução das cargas de metais pesados são apresentados na figura 5 para a soma das cargas dos metais Pb, Ni, Cd e Cr. De maneira geral todas as fases tiveram boa redução da carga de metais pesados ao longo da experimentação. Assim como no caso da remoção de nitrogênio, e ao contrário à redução da carga orgânica, não foi verificado diferenciação na eficiência de redução da carga de metais pesados para os dois tipos de substratos sólidos utilizados. Redução da carga de Metais Pesados (%) 8 7 6 5 Composto 155 225 Mistura 3 4 5 15 2 25 3 35 Redução da carga de Metais Pesados (%) 8 7 6 5 155 Mistura 225 3 4 5 15 2 25 3 35 (a) Fase 1 - com minhocas (b) Fase 2 - sem minhocas Redução da carga de Metais Pesados (%) 8 7 6 5 4 15 23 Composto 33 44 Mistura 5 15 25 35 45 55 Redução da carga de Metais Pesados (%) 8 7 6 5 15 23 33 Composto 44 4 5 15 25 35 45 55 (c) Fase 3 - com minhocas (d) Fase 4 - sem minhocas Figura 5 - Eficiência de remoção de carga de metais pesados para as diferentes taxas de aplicação. As Fases 2 e 4, com substrato já vermicompostado (húmus) e sem as minhocas, tiveram menores cargas percoladas de metais do que as mesmas leiras que receberam a aplicação de lixiviado durante o processo de vermicompostagem (Fases 1 e 3). Isto confirma as características do húmus ou vermicomposto descritas por BIDONE e POVINELLI (1996), ou seja, suas excelentes capacidades adsortivas e quelantes. A micela coloidal orgânica, de grande área específica, sendo carregada por cargas negativas, retém íons positivos, tipo os metais pesados; ao mesmo tempo, complexa metais, que ficam tão fortemente aprisionados (efeito quelante), que a sua extração só é conseguida em procedimentos de laboratório. As leiras de maior altura (Fases 3 e 4) tiveram melhor desempenho na redução de carga de metais, com reduções superiores a %. Como estas leiras tinham o dobro da altura das leiras das Fases 1 e 2, o lixiviado aplicado percolava ao longo de toda esta coluna de vermicomposto, estando assim por um maior tempo em contato com o húmus, e conseqüentemente, com o seu efeito adsortivo e quelante. Comparação entre as quatro fases Tomando com base os valores médios de redução de cargas por substrato, apresentados nas figuras 3 a 5, pode-se dizer que: ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 7

! para redução de carga de DQO, as leiras com composto tiveram desempenho superior às com mistura; assim como as leiras de maior altura e com insuflamento de ar tiveram maior eficiência de remoção de cargas em relação às leiras das Fases 1 e 2, para ambos os substratos. Comparando os mesmos substratos em fases com e sem as minhocas, nas leiras sem as minhocas o desempenho foi um pouco superior, na ordem de 4 % nas leiras baixas, e de 6 % nas leiras com vasos de maior altura. A menor média de remoção foi de 56,9 % para a Fase 1 com mistura, e maior de 95,2 % para a Fase 4 com composto;! a menor redução média de carga de NTK foi de 94,5 % para a Fase 2 onde o substrato era mistura. Para todos os outros substratos em todas as fases, a eficiência média foi da ordem de 99 %;! para a eficiência de remoção da soma de cargas dos metais Pb, Cd, Ni e Cr a variação da média variou de 61,6 % para mistura da Fase 1, a 96,4 % no composto com aeração na Fase 4. Os diferentes substratos, dentro de cada fase, apresentaram comportamentos semelhantes em relação a remoção da carga de metais. As leiras de maior altura e com insuflamento de ar, tiveram desempenho superior às de menor altura. Nas leiras de menor profundidade, as leiras sem minhocas (Fase 2) tiveram eficiência 13,7 % superior à média das leiras com minhocas. As Fases 1 e 4 tiveram 8 semanas de duração, e as Fases 2 e 3, 1 semanas. Em todas as leiras foi retirada uma amostra semanal composta do efluente percolado para análise. Foram realizados testes de variabilidade das eficiências de redução de cargas em cada leira, através do cálculo do coeficiente de variação C v 1,. Os resultados mostraram que para as leiras de maior altura (6 cm) e com insuflamento de ar, a variabilidade dos resultados em relação a média foram baixas (considerou-se variabilidade baixa quando C v < 1 %, conforme PIMENTEL GOMES, 1984). As figuras 6 e 8 apresentam um exemplo de alta variabilidade em relação à média (respectivamente para DQO na Fase 2 e soma de metais pesados na Fase 1), e as figuras 7 e 9 de baixa variabilidade, para DQO na Fase 4 e soma de metais na Fase 3). Redução da carga de DQO (%) 8 7 6 5 4 3 2 1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 V2 V5 V8 V11 Figura 6 - Variabilidade da redução de cargas de DQO do lixiviado na Fase 2 ao longo de 1 semanas. Leiras de 2 cm de altura, substrato de mistura e sem aeração. 1 Coeficiente de Variação C v - é definido como o desvio padrão dividido pela média, e é uma medida da variabilidade dos valores observados em relação à média. O C v nada mais é do que o desvio padrão em porcentagem da média. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 8

Redução da carga de DQO (%) 8 7 6 5 4 3 2 1 1 2 3 4 5 6 7 8 V21 V22 V23 V24 Figura 7 - Variabilidade da redução de cargas de DQO do lixiviado na Fase 4. Leiras em vasos cerâmicos de 6 cm de altura, composto como substrato, e com insuflamento de ar. Redução da carga de metais (%) 8 7 6 5 4 3 2 1 1 2 3 4 5 6 7 8 V1 V3 V4 V6 V7 V9 V1 V12 Figura 8 - Variabilidade da redução de cargas de metais pesados do lixiviado na Fase 1. Leiras de 2 cm de altura e sem insuflamento de ar. Redução da carga de metais (%) 8 7 6 5 4 3 2 1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V2 Figura 9 - Variabilidade da redução de cargas de metais pesados do lixiviado na Fase 3. Leiras com 6 cm de altura e com insuflamento de ar. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 9

Avaliando o efeito do lixiviado sobre as minhocas, comparando com as leiras que receberam somente água como rega, não foi verificado diferença na dinâmica das minhocas entre os dois tipos de líquidos (lixiviado e água) utilizados. O fato de se ter utilizado lixiviado de aterro velho, pode ser a razão para a não toxicidade do lixiviado às minhocas. O aumento das taxas de rega, também não mostraram clara relação com o desenvolvimento das minhocas. O que se verificou, para todas as taxas, e para o lixiviado e a água, foi que em todas as leiras ocorreu perda de peso das minhocas, perda de peso esta possivelmente causada pela sistemática de rega utilizada, em um único momento do dia, causando momento de saturação do subtração e diminuição da disponibilidade de oxigênio. Comparação com os limites de emissão de efluentes líquidos no Estado do Rio Grande do Sul Embora toda análise dos dados desta pesquisa tenha sido realizada em termos de cargas de efluentes, apresenta-se também uma comparação das concentrações efluentes das leiras com os limites de emissão de efluentes líquidos estabelecidos pela Portaria no 5/89 da SSMA para o Estado do Rio Grande do Sul. Observa-se uma nítida vantagem das leiras com composto como substrato para atender os limites de emissão de efluentes da SSMA para DQO e NTK. O aumento das taxas de aplicação implicou, via de regra, em diminuição da porcentagem de atendimento aos limites de emissão. Atendimento em % aos limites de DQO ocorreu somente nas leiras V3, V6, V14, V22, V23 e V24, todos tendo composto como substrato. Os limites de emissão de carga orgânica - da SSMA - para fins de comparação, foram tomados para fontes poluidoras a serem implantadas (valor mais restritivo), e para vazão inferior a 2 m3/d, vazão correspondente a um aterro sanitário de médio a grande porte. Embora a excelente biotransformação e redução de carga de NTK efluente (na ordem de 99 %), as concentrações efluentes não atendem em % os limites de emissão em todas as leiras, que é de 1 mg/l. Aqui também se verifica a vantagem das leiras com composto sobre as com mistura. A diferença das leiras de maior altura e com insuflamento de ar, porém não fica evidenciada. Nas leiras de vasos plásticos, baixa altura, obteve-se maior atendimento aos padrões de emissão nas leiras com a presença de minhocas do que naquelas onde já estava o vermicomposto, sugerindo que as minhocas exercem papel importante na remoção de NTK, pela aeração que possibilitam. Nas leiras de maior altura, esta diferença não está tão explicita, talvez porque a aeração forçada tenha suprido o papel das minhocas na Fase 4. Quanto a emissão de nitrato, nenhuma das 24 leiras, em nenhuma das fases, atendeu ao limite de emissão de 1 mg/l. Para a remoção das altas concentrações de nitrato no percolado efluente, poder-se-ia utilizar a recirculação para campos de infiltração, onde plantas específicas iriam absorver estes nutrientes solúveis. Os metais Pb, Ni, Cd e Cr foram analisados na soma de suas cargas para fins de análise de remoção de cargas neste estudo. Para fins de comparação com os limites de emissão, foram consideradas suas concentrações individualmente. Os limites máximos para Pb, Ni, Cd e Cr são respectivamente,5, 1,,,1 e,5 mg/l. Todas as leiras atenderam em % das amostras aos limites destes metais. Além da redução e atenuação destes metais nos substratos sólidos, o próprio lixiviado bruto afluente já apresentava baixas concentrações de metais, visto ser oriundo de células antigas de aterro sanitário. CONCLUSÕES 1. Os resultado obtidos demostram claramente a viabilidade da utilização da vermicompostagem, e do húmus já vermicompostado, para o tratamento de lixiviado de células antigas de aterros sanitários. Possivelmente esta técnica poderia ser utilizada para tratamento de lixiviados de aterros jovens, desde que este lixiviado sofra um pré-tratamento, utilizando-se a vermicompostagem como tratamento complementar. 2. A redução de carga de DQO ficou sempre acima de 5 %, sendo que o composto teve melhor eficiência em relação à mistura, e as leiras com insuflamento de ar tiveram desempenho bem superior em relação as leiras mais baixas; ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1

3. A redução de carga de NTK foi superior a 98 % nas Fases 1, 3 e 4, onde havia grande oxigenação, ou pela ação das minhocas, ou pelo insuflamento mecânico de ar, evidenciando ser o processo de grande viabilidade para realizar a nitrificação; 4. Embora a concentração de metais no lixiviado utilizado tenha sido pequena, obteve-se excelente redução na carga de metais destes metais. Nas leiras de 2 cm, a eficiência foi superior a 55 %, nos vasos de 6 cm superior a %, pois os íons metálicos ao atravessarem uma coluna maior, têm mais contato com o húmus e seu efeito adsortivo e quelante; 5. Para os parâmetros cujas eficiências de redução de cargas efluentes foram analisadas, somente DQO apresentou influência do aumento da taxa de aplicação de lixiviado. As eficiências de redução de NTK e metais pesados não foram afetadas pela variação das taxas, dentro da faixa de variação estudada; 6. Como com todas as taxas de aplicação de lixiviado utilizadas - 13, 2, 3 e 4 L/m3.d de taxa volumétrica em todas as fases, e 2,1, 3,3, 4,8 e 6,4 L/m2.d de taxa superficial para as Fases 1 e 2 e 8,5, 13,, 18,7 e 24,9 L/m2.d para as Fases 3 e 4 - não foi verificada variação na concentração do percolado efluente em função da variação das taxas, não se estabeleceu uma taxa ótima. Apenas a eficiência da redução de carga orgânica sofreu influência da taxa de aplicação, possivelmente pela lixiviação da grande massa orgânica presente no substrato, e não por questões relacionadas à redução da carga do lixiviado em si. Emerge, no entanto, frente aos resultados obtidos, que taxas inferiores a 6, L/m2.d, quando utilizadas leiras com 2 ou 3 cm, e inferiores a 4 L/m3.d quando utilizadas leiras de maior profundidade e com insuflamento de ar, levam a obtenção de valores tão satisfatórios quanto os obtidos nesta pesquisa; 7. Apesar das excelentes eficiências de remoção de cargas de poluentes, o processo não prescinde de um tratamento complementar para atender os padrões de emissão do Estado do Rio Grande do Sul, principalmente no que tange ao nitrato. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem o apoio do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e PROSAB (Programa de Pesquisas em Saneamento Básico), CNPq, e DMLU da Prefeitura de Porto Alegre. Este trabalho é parte de uma Dissertação de Mestrado desenvolvida no IPH/UFRGS. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BIDONE, F.R.A. 1995. A vermicompostagem dos resíduos sólidos de curtume, brutos e previamente lixiviados, utilizando composto orgânico urbano como substrato. São Carlos: Escola de Engenharia da USP. 3 p. Tese (Doutorado). 2. BIDONE, F.R.A.; POVINELLI, J. 1996. Mobilidade do metal pesado cromo durante a vermicompostagem de resíduos sólidos de curtume, codispostos com composto de lixo orgânico urbano. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE QUALIDADE AMBIENTAL. PROJETOS DE ATERROS DE RESÍDUOS E SANEAMENTO DE ÁREAS DEGRADADAS, 1996, Porto Alegre. Artigo técnicos. Porto Alegre: ABES. p.27-31. 3. COUTINHO, J.L.. 1996. Estudo da vermicompostagem de lodo sedimentado proveniente do processo de tratamento de águas residuárias de indústria de sucos cítricos. São Carlos: Escola de Engenharia da USP. 15p. Dissertação (Mestrado). 4. KIEHL, E.J. 1985. Fertilizantes orgânicos. São Paulo: Ceres. 492p. 5. KNÄPPER, C. 1992. Cascas de nozes são transformadas em adubo. Informativo Unisinos, São Leopoldo, V. 6, p.1-21. 6. PIMENTEL GOMES, F. 1984. A estatística moderna na pesquisa agropecuária. Piracicaba: POTAFOS. 157p. 7. REICHERT, G.A. 1999. A vermicompostagem aplicada ao tratamento de lixiviado de aterro sanitário. Porto Alegre: UFRGS - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental. 137p. Dissertação (Mestrado). ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 11

8. RIBEIRO, S. 1992. Considerações preliminares sobre a reciclagem de resíduos de frigoríficos através da vermicompostagem. São Leopoldo: UNISINOS, Centro de Ciências da Saúde, Curso Biologia. 37f. Trabalho de conclusão. 9. RIO GRANDE DO SUL. Secretaria Estadual da Saúde e do Meio Ambiente. 1989. Portaria n. 5/89 SSMA: Critérios e padrões de efluentes líquidos a serem observados por todas as fontes poluidoras que lançam seus efluentes nos corpos d água interiores no Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. 1. VERAS, L.R.V. 1996. A vermicompostagem de lodo de lagoas consorciado com composto de lixo orgânico urbano. São Carlos: Escola de Engenharia da USP. 124p. Dissertação (Mestrado). ANEXOS DQO percolada (mg/l) 12 8 6 4 2 V1 V3 V4 V6 V7 V9 V1 V12 1 2 3 4 5 6 7 8 Figura A.1 - Resultados de concentração de DQO aplicada e percolada nas leiras da Fase 1 12 24 2 DQO percolada (mg/l) 8 6 4 2 16 12 8 4 DQO afluente (mg/l) V2 V5 V8 V11 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 Figura A.2 - Resultados de concentração de DQO aplicada e percolada nas leiras da Fase 2 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 12

DQO percolada (mg/l) 12 8 6 4 2 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 Figura A.3 - Resultados de concentração de DQO aplicada e percolada nas leiras da Fase 3 12 DQO percolada (mg/l) 8 6 4 2 V21 V22 V23 V24 1 2 3 4 5 6 7 8 Figura A.4 - Resultados de concentração de DQO aplicada e percolada nas leiras da Fase 4 NTK percolado (mg/l) 15 75 6 45 3 15 14 12 8 6 4 2 NTK afluente (mg/l) V1 V3 V4 V6 V7 V9 V1 V12 1 2 3 4 5 6 7 8 Figura A.5 - Resultados de concentração de NTK aplicado e percolado nas leiras da Fase 1 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 13

315 14 27 12 NTK percolado (mg/l) 225 18 135 8 6 4 NTK afluente (mg/l) V2 V5 V8 V11 45 2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 Figura A.6 - Resultados de concentração de NTK aplicado e percolado nas leiras da Fase 2 NTK percolado (mg/l) 15 75 6 45 3 15 14 12 8 6 4 2 NTK afluente (mg/l) V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 Figura A.7 - Resultados de concentração de NTK aplicado e percolado nas leiras da Fase 3 15 14 12 NTK percolado (mg/l) 75 6 45 3 8 6 4 NTK afluente (mg/l) V21 V22 V23 V24 15 2 1 2 3 4 5 6 7 8 Figura A.8 - Resultados de concentração de NTK aplicado e percolado nas leiras da Fase 4 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 14