HIDROGEOLOGIA DO LITORAL NORTE DO RIO GRANDE DO SUL. Nelson Luna Caicedo 1



Documentos relacionados
Karen Vendramini Itabaraci N. Cavalcante Rafael Mota Aline de Vasconcelos Silva

Utilização da Perfilagem Ótica na Avaliação de Poços Tubulares

23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

Tratamento de Águas I

PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES DE EDIFÍCIOS CAUSADAS POR AÇÕES AMBIENTAIS

Escritório Central: Av. Getúlio Vargas, 455 Centro CEP: Araquari SC Fone: (47)

A VALE. É uma empresa de mineração diversificada com foco global e negócios em logística e geração de energia.

MONITORAMENTOS DA QUALIDADE DA ÁGUA SUBTERRÂNEA NA UNIDADE DE TRATAMENTO E DESTINAÇÃO FINAL DE RESÍDUOS NO MUNICÍPIO DE RIO BRANCO-ACRE

OCORRÊNCIA DE VANÁDIO NO AQUÍFERO BOTUCATU. Samir Felício Barcha 1

t 1 t 2 Tempo t 1 t 2 Tempo

Padrões de Potabilidade da Água e Estação de Tratamento de Água

Sistemas de filtragem para irrigação. Prof. Roberto Testezlaf Faculdade de Engenharia Agrícola UNICAMP

PLANEJAMENTO DAS OBRAS DE DRAGAGEM

Águas Subterrâneas. conceitos e métodos

V AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA CONSUMIDA NO MUNICÍPIO DE CAIÇARA DO NORTE - RN

1º exemplo : Um exemplo prático para a determinação da vazão em cursos d'água

ESCOAMENTO SUPERFICIAL

Água Subterrânea Parte 2 de 2

Tema 8 Exemplos de Conflitos de Uso de Água em Ambientes Urbanos

FLUXOS SUBTERRÂNEOS E QUALIDADE DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS DA ÁREA DE IMPLANTAÇÃO DA ALÇA RODOVIÁRIA DO ESTADO DO PARÁ.

ROTEIRO DE ESTUDOS 2015 Disciplina: Ciências Ano: 9º ano Ensino: FII Nome: Atividade Regulação do 3º Bimestre Ciências

Unidade Curricular HIDRÁULICA II

Drenagem e o Sistema Solo, Água, Planta, Atmosfera

Tecnologias para disposição final de resíduos sólidos urbanos em municípios de pequeno porte. Dr. Cristiano Kenji Iwai

Física II Ondas, Fluidos e Termodinâmica USP Prof. Antônio Roque Aula 14

RELAÇÃO ENTRE CONDUTIVIDADE E SÓLIDOS TOTAIS DISSOLVIDOS EM AMOSTRAS DE ESGOTO BRUTO E DE LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO

I DESEMPENHO DE UNIDADES DE DESSALINIZAÇÃO DE ÁGUA LOCALIZADAS NO ESTADO DO CEARÁ

Pernambuco. Tabela 1: Indicadores selecionados: mediana, 1º e 3º quartis nos municípios do estado de Pernambuco (1991, 2000 e 2010)

Exercícios: Espelhos planos. 1-(PUC-CAMPINAS-SP) Um pincel de raios paralelos quando refletido por um espelho plano: a) conserva-se paralelo

RESUMO. PALAVRAS-CHAVE: Aqüíferos, Contaminação, Esgotos, Qualidade de Água. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental V - 042

Formação, composição e litologia das Geosferas -AULA 3-

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE UM SISTEMA DE DESSALINIZAÇÃO VIA OSMOSE INVERSA PARA ÁGUAS SALOBRAS. M. C. Silveira e K. B. França 1

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA Disciplina: FLG CLIMATOLOGIA I

CONSIDERAÇÕES HIDROQUÍMICAS DA FORMAÇÃO CAIUÁ NO ESTADO DO PARANÁ

ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA e MICROBIOLOGICA CERTIFICADO N 0261/2009

Objetivos da segunda aula da unidade 6. Introduzir a classificação da perda de carga em uma instalação hidráulica.

INTRODUÇÃO E CONCEPÇÃO DE SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA

SAS - UM SOFTWARE PARA CADASTRO E GERENCIAMENTO DE INFORMAÇÕES HIDROGEOLÓGICAS E CONSTRUTIVAS DE POÇOS

STD E CONDUTIVIDADE ELÉTRICA DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DO SEMIÁRIDO CEARENSE

Definição: representação matemática computacional da distribuição de um fenômeno espacial que ocorre dentro de uma região da superfície terrestre.

II-228 DESEMPENHO DE FILTROS ANAERÓBIOS SEGUNDO DIFERENTES MEIOS SUPORTE E ALTURAS DE PERCOLAÇÃO

Criosfera Gelo Marinho e Gelo de superfície

5 Captação de águas subterrâneas

DISPOSITIVO DIGITAL UTILIZANDO ARDUÍNO COMO MEDIDOR DE ULTRA VIOLETA VISÍVEL PARA QUANTIFICAR Fe 3+ DISSOLVIDO EM ÁGUA

FREE PHASE REMOVAL BY IN SITU HEATING

Maranhão. Tabela 1: Indicadores selecionados: mediana, 1º e 3º quartis nos municípios do estado do Maranhão (1991, 2000 e 2010)

Turbina eólica: conceitos

HIDROGEOLOGIA DA FAIXA COSTEIRA DE AQUIRAZ-CE

III CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS ORGÂNICOS DOMICILIARES DO MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE

Miriam Suzana Rodrigues Schwarzbach 1 & Iara Conceição Morandi 2

PROJETO E CONSTRUÇÃO DE ESTRADAS

DETERMINAÇÃO DO PH DE AMOSTRAS DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DO INSTITUTO FEDERAL CATARINENSE - CÂMPUS CAMBORIÚ. Instituto Federal Catarinense, Camboriú/SC

II REDUÇÃO E ECONOMIA DE ÁGUA NO SETOR INDUSTRIAL DE CURTUME COM O REUSO DO SEU EFLUENTE TRATADO

Estrutura física e química da Terra

Acre. Tabela 1: Indicadores selecionados: mediana, 1 o e 3 o quartis nos municípios do estado do Acre (1991, 2000 e 2010)

ESTUDO PARA AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE REÚSO E APROVEITAMENTO DA ÁGUA DE CHUVA EM INDÚSTRIA

MUNICÍPIO DE ITÁPOLIS SP

O COMPORTAMENTO HIDROQUÍMICO E HIDRODINÂMICO DE AQÜÍFERO SOB INFLUÊNCIA DO EFEITO-MARÉ

PROTENSÃO AULA 2 PONTES DE CONCRETO ARMADO

Aula 09 Análise Estrutural - Treliça Capítulo 6 R. C. Hibbeler 10ª Edição Editora Pearson -

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA PROGRAMA DE DISCIPLINA

2 Com base na situação apresentada no exercício número 1, reescreva as afirmativas incorretas, fazendo as correções necessárias, justificando-as.

AQÜÍFEROS FRATURADOS NO ESTADO DE SÃO PAULO, BR

DETERMINAÇÃO DA MASSA VOLÚMICA DE UM SÓLIDO

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

01. (UECE-1996) Um menino, parado em relação ao solo, vê sua imagem em um espelho plano E colocado à parede traseira de um ônibus.

XI QUALIDADE BACTERIOLÓGICA E FÍSICO-QUÍMICA DO MANACIAL SUBTERRÂNEO DE FEIRA DE SANTANA-BA - JUNHO 1999

I-020 REMOÇÃO DE FLUORETO DE ÁGUAS PARA ABASTECIMENTO PÚBLICO PELO PROCESSO DE OSMOSE REVERSA

Introdução à Oceanografia Física. Oceanos e Sazonalidade. Circulação e Movimentos de Massas de Água. Circulação e Movimentos de Massas de Água

Apostila de Física 31 Hidrostática

A estrutura da Terra

UMA ANÁLISE DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RESERVATÓRIO POÇÕES NO PERÍODO DE ESCASSEZ DE CHUVAS

Características das Bacias Hidrográficas. Gabriel Rondina Pupo da Silveira

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE AGRONOMIA E ENGENHARIA DE ALIMENTOS SETOR DE ENGENHARIA RURAL. Prof. Adão Wagner Pêgo Evangelista

MEDIDAS DE VAZÃO ATRAVÉS DE VERTEDORES

Encontro Gestão Eficiente de Água e Energia

Laboratório de Física I. Experiência 3 Determinação do coeficiente de viscosidade de líquidos. 26 de janeiro de 2016

Química - 9º ano. Água Potável. Atividade complementar sobre as misturas e suas técnicas de separação

05. COMUNICAÇÃO VISUAL EXTERNA

Fenômenos de Transporte

SISTEMAS HIDRÁULICOS E PNEUMÁTICOS.

INCIDÊNCIA DE ESCHERICHIA COLI

ETAPAS DO PROJECTO. Selecção e identificação do problema - um percurso longo, sinuoso e acidentado Primeira abordagem ao objecto de estudo

Noções de Topografia Para Projetos Rodoviarios

As constantes a e b, que aparecem nas duas questões anteriores, estão ligadas à constante ρ, pelas equações: A) a = ρs e b = ρl.

1.Com relação à cromatografia a gás, cite três grupos de compostos orgânicos que podem ser analisados por esta técnica.

ANALISE FISICO-QUIMICA DA ÁGUA PARA CRIAÇÃO DE ALEVINOS NA ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE PISCICULTURA DE ÁGUA DOCE EM CASTANHAL PARÁ BRASIL

Contaminação de recursos hídricos: estudo de caso do lixão de São Pedro da Aldeia (RJ)

TELAS DE SOMBREAMENTO NO CULTIVO DE HORTALIÇAS FOLHOSAS

A atmofera em movimento: força e vento. Capítulo 9 - Ahrens

I COLIFORMES E ph MÉDIAS ARITMÉTICAS, MÉDIAS GEOMÉTRICAS E MEDIANAS

ANÁLISE GEOFÍSICA, POR MEIO DE GPR, DO ESPALHAMENTO DE EFLUENTE DE FOSSA SÉPTICA NO SUBSOLO

ESTUDO DO ÍNDICE DE DENSIDADE DE SEDIMENTOS EM ÁGUAS ORIUNDAS DE POÇOS TUBULARES APLICADAS A SISTEMAS DE DESSALINIZAÇÃO VIA OSMOSE INVERSA

Análise de Regressão. Notas de Aula

IV-010 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE ÁGUA DO RIO TIMBUÍ TENDO COMO REFERÊNCIA O GRUPO DE COLIFORMES

ATIVIDADE DE ÁGUA (Aw) E REAÇÕES DE DETERIORAÇÃO

TERMO DE REFERÊNCIA: IMPLANTAÇÃO DE TRILHAS RETAS E PARCELAS EM CURVA DE NÍVEL EM FLORESTAS NA REGIÃO DE SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA.

MONITORAMENTO DA QUALIDADE DE ÁGUA PARA CONSUMO ANIMAL NO PARÂMETRO MAGNÉSIO E CONDUTIVIDADE ELÉTRICA DO NORTE DE BOA-VISTA, PB

Eixo Temático ET Recursos Hídricos MANEJO, PERCEPÇÃO E AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE CISTERNAS DO MUNICÍPIO DE ARARUNA-PB

AVALIAÇÃO DOS INDICADORES DE BALNEABILIDADE EM PRAIAS ESTUARINAS

Transcrição:

HIDROGEOLOGIA DO LITORAL NORTE DO RIO GRANDE DO SUL Nelson Luna Caicedo 1 Resumo - O presente trabalho analisa o comportamento hidrogeológico dos aqüíferos costeiros do Litoral Norte do Rio Grande do Sul, através de dados colhidos em três baterias de piezômetros, instaladas ao longo do trecho que liga os balneários de Tramandaí a Torres. Essas seções serviram para verificar a presença de aqüíferos livres e confinados, suas configurações e contornos e os mecanismos de recarga natural. As superfícies em forma de domos com contornos controlados pelos níveis do mar e da lagoa, apresentaram o mesmo formato o ano todo, diminuindo o risco de contaminação desses aqüíferos, por intrusão salina. No que diz respeito aos aspectos qualitativos, as águas dos aqüíferos dessa região, podem ser consideradas aptas ao consumo humano, desde que se façam medidas corretivas em relação à cor, presença de coliformes e salinidade junto à lagoa. Palavras-chave - Hidrogeologia, Litoral Norte, Rio Grande do Sul INTRODUÇÃO O comportamento hidrogeológico dos aqüíferos costeiros do Litoral Norte do Rio Grande do Sul, foi estudado através da implantação de três baterias de piezômetros, localizadas transversalmente ao trecho que liga os balneários de Tramandaí a Torres. Tais baterias estão localizadas entre: (1) a praia Atlântida Sul e o Passo da Lagoa; (2) a praia de Curumim e o extremo sul da lagoa Itapeva; (3) a praia de Itapeva e o extremo norte da lagoa Itapeva. Essas seções serviram para verificar a presença de aqüíferos livres e confinados, seu comportamento hidrodinâmico, bem como para caracterizar a 1 Professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, Caixa Postal 15029, CEP: 91501-970, Porto Alegre, RS. FAX: (051)316-6565. e-mail: caicedo@if.ufrgs.br X Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 1

qualidade da água subterrânea e efeitos de intrusão salina, através do estudo de análises físico-químicas e biológicas. COMPORTAMENTO HIDRODINÂMICO DOS AQÜÍFEROS A seção compreendida entre o sul da praia Atlântida Sul e o Passo da Lagoa, com 4 piezômetros multinível e profundidades médias de 12 e 24 metros, revelaram a presença dos aqüíferos, livre e confinado. Nesta seção, a distância entre o mar e o Passo da Lagoa é de aproximadamente 3.201 metros, com o nível da lagoa ficando, em média, 40 centimetros acima do nível do mar. A seção compreendida entre o balneário de Curumim e o sul da lagoa Itapeva, com 10 piezômetros multinível, revelaram a existência somente do aqüífero freático. Nesta seção, a distância entre o mar e a lagoa de Itapeva é de aproximadamente 6.085 metros. Os piezômetros têm profundidades aproximadas de 12 e 25 metros. O nível da lagoa fica em média 1,30 metros acima do nível do mar. A seção compreendida entre a praia de Itapeva e o norte da lagoa Itapeva, com 4 piezômetros simples, com profundidade média de 30 metros, revelaram, além do freático, a presença do aqüífero confinado. O nível da lagoa fica em média 1,50 metros acima do nível do mar. Todas as campanhas foram documentadas com o registro de altitude da linha de água nos piezômetros, na lagoa e no oceano. Cada piezômetro foi amarrado a uma distância horizontal, cujo zero corresponde à régua linimétrica instalada junto à lagoa. Na tabela 1, mostra-se as altitudes dos níveis dos aqüíferos nas datas correspondentes. Tabela 1. Níveis de água observados nos piezômetros Seção: Balneário Curumim - Lagoa Itapeva (aqüífero livre) Lga P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 Mar 3/2/97 1,87 1,88 1,81 3,35 5,42 6,84 7,57 7,18 6,51 4,55 1,45-0,29 5/3/97 2,03 2,11 2,01 3,43 5,58 6,97 7,64 7,22 6,54 4,91 1,50-0,08 1/4/97 1,29 1,34 1,12 2,94 4,91 6,26 6,99 6,76 6,08 4,29 1,77-0,34 2/5/97 0,99 1,16 1,10 2,92 4,85 6,25 6,93 6,81 6,15 4,31 1,91-0,16 D(m) zero 48 531 1305 1791 2443 3247 3809 4428 5049 5889 6085 Seção: Praia Atlântida Sul - Passo da Lagoa (aqüífero livre) Data Lagoa PL1 PL2 PL3 PL4 Mar X Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 2

11/4/97 0,29 0,38 3,82 3,26 1,64-0,14 2/5/97 0,33 0,32 3,89 3,33 1,64-0,07 Distância (m) zero 250 1.530 2.442 3.131 3.201 Seção: Praia de Itapeva - Lagoa Itapeva (aqüífero confinado) Data Lagoa LI1 LI2 LI3 LI4 Mar 11/4/97 1,50 2,85 7,14 7,10 1,52-0,04 2/5/97 1,21 2,85 7,02 7,05 2,53-0,02 Distância (m) zero 145 925 1.951 2.930 3.180 Foram colhidos dados de infiltração através do método dos cilindros concêntricos e logo ajustados à equação de Kostiakov (Cauduro e Dorfman, 1990) tanto para a lâmina total infiltrada, como para a velocidade de infiltração média. Na tabela 2, mostra-se o local do ensaio e as equações ajustadas. Tabela 2. Ensaio de Infiltração. Parâmetros de Kostiakov Seção: Balneário Curumim - Lagoa Itapeva Local Tipo de solo Lâmina(mm) Inf.(mm/h) I.Básica(mm/h) P1 Argila orgânica L= 8,70 t 0,29 I =151,38 t -0,71 8,35 P5 Areia quartzosa L= 6,60 t 0,85 I = 336,60 t -0,15 149,46 P7 Areia fina L= 5,50 t 0,54 I =178,20 t -0,46 21,52 P9 Areia quartzosa L= 25,30 t 0,60 I = 910,80 t -0,40 87,46 Seção: Praia Atlântida Sul - Passo da Lagoa Local Tipo de solo Lâmina(mm) Inf.(mm/h) I.Básica(mm/h) PL1 Argila orgânica L= 13,60 t 0,57 I = 465,12 t -0,43 47,31 PL3 Areia fina L= 10,40 t 0,89 I = 555,36 t -0,11 294,09 Seção: Praia de Itapeva - Lagoa Itapeva Local Tipo de solo Lâmina(mm) Inf.(mm/h) I.Básica(mm/h) LI1 Argila orgânica L= 32,50 t 0,11 I =214,50 t -0,89 6,12 LI3 Areia fina L= 29,50 t 0,54 I = 955,80 t -0,46 68,00 Foram também estimados a transmissividade e o armazenamento dos aqüíferos, através de testes de aqüífero por bombeamento conduzidos em campo. Estes parâmetros, mostrados na tabela 3, foram determinados pelo método de Cooper-Jacob (McWhorter e Sunada, 1977). X Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 3

Tabela 3. Teste de aqüífero por bombeamento Seção: Praia Atlântida Sul - Passo da Lagoa Local Aqüífero Fase do teste Q(m3/min) T(m2/min) S(-) PL1 livre recuperação 0,043 0,013 - PL3 livre recuperação 0,048 0,025 - PL1 confinado recuperação 0,017 2,6x10-4 - PL3 confinado recuperação 0,078 5,0x10-3 - Seção: Balneário Curumim - Lagoa Itapeva Local Aqüífero Fase do teste Q(m3/min) T(m2/min) S(-) P1 livre bombmento 0,034 0,031 0,0010 P3 livre recuperação 0,090 0,100 - P5 livre recuperação 0,080 0,130 - P7 livre recuperação 0,080 0,140 - P9 livre recuperação 0,010 0,007 - COMPORTAMENTO HIDROQUÍMICO DOS AQÜÍFEROS As amostras de água dos piezômetros das seções localizadas entre a praia Atlântida Sul e o Passo da Lagoa, e entre a praia de Itapeva e o norte da lagoa Itapeva, foram colhidas em 11/04/97 e analisadas depois em laboratório. Anteriormente, as amostras da seção localizada entre a praia de Curumim e o sul da lagoa Itapeva, foram colhidas e analisadas em duas ocasiões: a primeira em 15/08/96, no fim do inverno, e a segunda em 09/12/96, no inicio do verão. A tabela 4, mostra os valores dos parâmetros hidroquímicos das unidades hidrogeológicas amostradas. CONCLUSÕES Em toda a região estudada do Litoral Norte do Rio Grande do Sul, existe a ocorrência do aqüífero freático, cuja superfície em forma de domo, tem altitudes máximas na zona que corresponde à faixa de domínio da estrada do mar. Esta faixa, constitui-se, na zona de maior recarga do freático. O escoamento subterrâneo se origina na zona de recarga e vai em direção ao mar e à lagoa, permanecendo nessa situação o ano todo. Os contornos do domo são controlados pelos níveis do mar e da lagoa. O nível da lagoa fica sempre por cima do nível do mar, fazendo com que a perda de água dos aqüíferos seja maior em direção ao mar do que à lagoa. Este fato, também diminui o risco de intrusão X Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 4

salina, se continuar persistindo essa situação, podendo ser alterada pela ocupação do meio físico, ou pela retirada além da capacidade de recarga natural do freático. Tabela 4 - Dados de parâmetros hidroquímicos Seção: Praia de Curumim - Sul da Lagoa Itapeva (aqüífero livre) Lgoa 1A 2A 9A 10A Mar Cor ( mg/l-pt) 120 400 300 400 20 10 Alcal.(mg/L-CaCO3) 14.85 135,64 355,94 157,92 255,94 119,31 Dureza (mg/l - CaCo3) <5 185,4 241,02 153,47 263,68 5150 Sólidos Totais (mg/l) 147 850 986 427 406 7672 DQO (mg/l - O2) 17,19 334,31 233,87 46,77 59,04 874,03 NitrogênioTotal(mg/L - N) 3,88 8,99 3,7 3,96 3,7 3,43 Fluoreto (mg/l) 0,71 0,59 0,76 0,21 0,68 61,58 Cloreto (mg/l) 10,75 109,66 144,2 13,49 82,3 1965,5 Nitrito (mg/l - N) ND ND ND ND ND ND Nitrato (mg/l - N) 0,056 0,11 0,089 0,11 0,027 1,026 Fosfato (mg/l - P) 0,78 ND 0,15 ND 0,07 ND Sulfato (mg/l) 3,72 169,11 39,39 2,586 1,03 3058,1 Ph 7,2 6,1 6,6 6,9 7,2 7,5 Condutividade (ms/cm) 0,1 0,77 0,92 0,3 0,66 45 Turbidez (NTU) 78 80 76 95 12 24 OD (mg/l) 6,4 3,65 3,3 3,0 3,3 5,5 Salinidade (%) ND ND ND 0,01 0,01 2,9 Colif. Fecais (NPM/100ml) 10 2419 31 ND ND 90 Fe 5,68 23,32 17,96 12,01 0,92 1,30 Ca 1,28 11,14 6,55 9,67 10,79 12,05 Mg 1,90 6,93 11,41 9,67 10,54 15,33 Na 7,47 11,77 11,77 11,30 10,80 10,77 K 1,68 5,17 4,88 3,27 7,21 7,21 Seção: Praia de Itapeva - Norte da Lagoa Itapeva (aqüífero confinado) Lgoa LI-1 LI-2 LI-3 LI-4 Mar Cor ( mg/l-pt) 120 2000 60 100 150 10 Alcal.(mg/L-CaCO3) 14,85 341,24 83,41 97,69 61,61 119,31 Dureza (mg/l - CaCo3) <5 50,40 73,50 76,65 36,75 5150 Sólidos Totais (mg/l) 147 540 147 317 369 7672 DQO (mg/l - O2) 17,19 120,42 57,93 18,66 46,34 874,03 NitrogênioTotal(mg/L - N) 3,88 5,03 3,02 2,01 3,02 3,43 Fluoreto (mg/l) 0,71 2,22 0,13 0,28 0,25 61,58 X Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 5

Cloreto (mg/l) 10,75 100,85 9,39 12,57 32,42 1965,5 Nitrito (mg/l - N) ND ND ND ND ND ND Nitrato (mg/l - N) 0,056 0,210 0,030 0,110 0,031 1,026 Fosfato (mg/l - P) 0,78 0,60 ND ND ND ND Sulfato (mg/l) 3,72 1,73 0,78 2,98 4,49 3058,1 Ph 7,8 7,8 7,8 7,8 8,5 8,1 Condutividade (ms/cm) 0,060 1,050 0,194 0,221 0,253 46,1 Turbidez (NTU) 216 999 23 60 152 11 OD (mg/l) 5,54 3,37 2,66 3,10 4,10 5,30 Temperatura (ºC) 24,6 21,5 22,0 23,5 23,0 24,2 Salinidade (%) ND 0,04 ND ND 0,01 3,00 Na mesma região estudada, existem também aqüíferos confinados cujo grau de confinamento diminui de norte ao sul, até aproximadamente o eixo que liga a praia de Curumim e o extremo sul da lagoa Itapeva, onde predomina apenas o aqüífero livre. Localizado mais ao sul, além do aqüífero livre, reaparece novamente o confinado com grau de confinamento aumentando para o sul. Os dados disponíveis não permitiram explicar adequadamente tal comportamento, anômalo em relação ao que foi detectado ao norte e ao sul. Os ensaios de infiltração serviram para entender melhor o processo de recarga natural dos aqüíferos, pois valores de infiltração básica constituem bons estimadores da condutividade hidráulica vertical e da recarga. Valores encontrados junto à lagoa, onde predomina a argila orgânica, representam valores muito baixos de recarga, enquanto que valores encontrados junto à estrada do mar, onde predomina a areia fina, representam valores altos de recarga. Por causa disso é que o ápice do domo de água subterrânea encontra-se em torno da estrada do mar. Os testes de aqüífero por bombeamento feitos em várias seções, mostraram valores reais de transmissividade e armazenamento. A região contígua à lagoa, composta pela planície de inundação, foi caracterizada por alta condutividade hidráulica horizontal e baixa recarga. A região que compreende o corpo do domo, foi caracterizada por condutividade hidráulica horizontal baixa e alta recarga. A faixa junto ao mar foi caracterizada por condutividade hidráulica e recarga moderadas. No que diz respeito aos aspectos qualitativos da água dos aqüíferos dessa região, pode-se dizer que, em geral, essas águas podem ser consideradas aptas ao consumo humano, com algumas ressalvas: a) a cor, devida a presença de substâncias coloridas X Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 6

dissolvidas e coloidais, originada pela forte presença de ferro, com valores muito acima do valor limite máximo permissível, poderá ser corrigido, em parte, quando o abastecimento for feito através de poços de captação. Os piezômetros utilizados para coletar as amostras, mesmo seguindo os procedimentos de coleta, deixaram passar quantidades apreciáveis de sedimentos finos durante o bombeamento; b) a presença de coliformes deve ser encarada como um sinal de alerta, indicando a possibilidade de contaminação fecal. Tanto a água da lagoa como a água subterrânea contígua, apresentaram limites máximos de coliformes fecais, bem como de coliformes totais. Nessa região haverá necessidade de se motivar as comunidades ribeirinhas para que confinem adequadamente seus rejeitos, evitando a contaminação das águas do aqüífero; c) a salinidade é aceitável em todos os piezômetros, com exceção da salinidade junto à planície de inundação da lagoa. Tais piezômetros apresentaram teores na ordem de 0,25%, ao longo da lagoa. Desta maneira, pode-se concluir que nos meses observados, os aqüíferos não apresentaram indícios de intrusão salina. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAUDURO, F. A., DORFMAN, R. 1990. Manual de ensaios de laboratório e de campo para irrigação e drenagem. Porto Alegre: IPH/UFRGS. 216 p. McWHORTER, D.B., SUNADA, D.K. 1977. Ground-water hydrology and hydraulics. Fort Collins: Water Resources Publications. 290p. X Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas 7