O projeto visual-gráfico das editoras universitárias públicas: exemplos da USP, Unesp, Unicamp e Unifesp Projeto Resumido de Pesquisa PIBIC 2014 Luís Guilherme Marques Ribeiro Orientadora: Marisa M. Deaecto Universidade de São Paulo Abril de 2014
Introdução As editoras universitárias brasileiras, surgidas na década de 1960, passaram por um processo de expansão e profissionalização a partir da década de 1990. Atualmente algumas dessas editoras atingiram tal nível de qualidade na produção editorial que chegam a competir com grandes editoras privadas nos mais importantes prêmios do mercado de livros. Por outro lado, a maioria das editoras universitárias, infelizmente, ainda não emprega métodos comerciais modernos, devido a problemas tanto estruturais quanto orçamentários. (HALLEWELL, 2012, pp. 698-702) Hallewell (2012, p. 701) assinala a profissionalização da Edusp, iniciada sob a direção de João Alexandre Barbosa, como um exemplo que influenciou outras editoras universitárias, tanto as mais antigas quanto as que surgiram a partir da década de 1990. Uma mudança importante diz respeito ao tratamento visual-gráfico das edições acadêmicas, que até então eram vistas como sinônimo de edições malfeitas e malcuidadas. "Nesse aspecto, quando a Edusp passou a editar com apuro estético suas obras científicas, acabou interferindo fortemente nesse segmento do mercado editorial, mostrando que até mesmo temas áridos podiam receber um tratamento de estilo que tornavam o livro mais agradável e palatável." (MARTINS FILHO, 2001, p. 91) A presente investigação se apoia na análise feita por Bufrem (2001, p. 121), que considera "inadiável a avaliação das atividades editoriais dentro das instituições de ensino superior". A autora, que se vale da noção de campo de produção cultural de Bourdieu, chama a atenção para o fato de que ainda "não se conseguiu aferir o grau de importância que essa atividade [a editoração universitária] vem ganhando pela carência de dados descritivos de sua atuação como, por exemplo, [...] como projetar condições para a melhoria de qualidade do produto editorial universitário." (BUFREM, 2001, p. 121) Discorrendo sobre os argumentos contra a adoção de normas rígidas na produção editorial, a autora aponta um caminho para pesquisas futuras: "Argumenta-se que a produção gráfica envolve criatividade e produção de sentido na construção do livro, elementos incompatíveis com a rigidez de normas. O aspecto estético deve prevalecer sobre o pragmático. Uma análise aprofundada da questão poderia envolver perspectivas variadas, multidisciplinares e enriquecedoras." (BUFREM, 2001, p. 252) A presente pesquisa se propõe a esta análise multidisciplinar, levando em conta a relevância acadêmica do tema e sua potencial aplicabilidade prática.
Objetivo O objetivo desta pesquisa é analisar o processo de amadurecimento das editoras universitárias públicas no que diz respeito ao planejamento visual-gráfico, levando em conta o valor científico e cultural da edição acadêmica. Para este fim, serão examinados os casos de quatro editoras universitárias públicas paulistas (Edusp, Editora Unesp, Editora Unicamp e Editora Fap-Unifesp), abrangendo o período de 1990 até 2014. Tal recorte se justifica tendo em vista a qualidade alcançada por tais editoras nos aspectos estético e gráfico, especialmente nos últimos anos. A análise técnica de algumas das melhores edições destas quatro editoras terá como meta desenvolver e propor paradigmas que possam não só preencher uma lacuna na bibliografia sobre o tema, mas, sobretudo, servir como referência para profissionais ligados à prática editorial universitária. Metodologia A pesquisa terá três etapas: exame técnico, entrevistas e análise final. A primeira etapa será um exame técnico do projeto visual-gráfico das principais coleções e de algumas obras avulsas publicadas pelas quatro editoras analisadas (pelo menos duas coleções de cada editora). Será feito um levantamento de suas principais características e uma análise crítica das soluções gráficas adotadas. Para este fim, será feita uma revisão bibliográfica das obras de Araújo (2008), Bringhurst (2005), Haslam (2007), Hendel (2006) e Tschichold (2007). O exame técnico irá abranger a dimensão projetual (proposta, público-alvo, coerência conceitual), a dimensão topográfica (estrutura, proporções, margens, paginação, hierarquia, distribuição), a dimensão tipográfica (coerência, visibilidade, legibilidade/leiturabilidade, fluxo de texto, pesos, alinhamento, hifenização, relação tipografia-imagem) e a dimensão iconográfica (capa, fotografias, diagramas, gráficos, representações visuais). Na segunda etapa serão feitas entrevistas com os respectivos responsáveis pela produção gráfica de cada editora, procurando entender os procedimentos, princípios e técnicas que norteiam o setor de produção editorial de cada instituição. A metodologia para as entrevistas será definida no decorrer da pesquisa, de acordo com a disponibilidade e conveniência. Essa etapa tem o intuito de compor um quadro sobre o modus operandi da divisão técnica de produção editorial em uma editora universitária pública bem-sucedida gráfica e esteticamente. Na terceira e última etapa será feita uma análise do quadro geral levantado, avaliando: em
que medida as técnicas e estilos adotados pelos produtores editoriais analisados sãomarcas de distinçãoreconhecidas pelaeditoração universitária, enquanto subcampo de um campo maior que é a editoração; e como esse subcampo entra na dinâmica e na concorrência pelo poder simbólico nesse jogo cultural.(bufrem, 2001, p.119) Os detalhes relacionados à metodologia poderão ser reajustados no decorrer da pesquisa, de acordo com as limitações e conveniências. Cronograma Tarefa\Mês 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Exame técnico X X X X X Entrevistas X X X X Análise dos dados X X Conclusões X X X Leitura da bibliografia X X X X X X X X X X X X Bibliografia ARAÚJO, Emanuel. A construção do livro: princípios da técnica de editoração. 2 ed. Rio de Janeiro: Lexicon Editora Digital, 2008. BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 1987. BRINGHURST, Robert. Elementos do estilo tipográfico; versão 3.2. Trad. André Stolarski. São Paulo: Cosac Naify, 2005. BUFREM, Leilah Santiago. Editoras Universitárias no Brasil: uma crítica para a reformulação da prática. São Paulo: Edusp/Com-Arte; Curitiba: Ed. UFPR, 2001. HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 3 ed. rev. Trad. Maria da Penha Villalobos. São Paulo: Edusp, 2012. HASLAM, Andrew. O livro e o designer II: como criar e produzir livros. Trad. Juliana A. Saad e Sergio Rossi Filho. São Paulo: Ed. Rosari, 2007.
HENDEL, Richard. O design do livro. 2 ed. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2006. MARTINS FILHO, Plinio; ROLLEMBERG, Marcelo. Edusp: um projeto editorial. São Paulo: Imprensa Oficial, 2001. TSCHICHOLD, Jan. A forma do livro: ensaios sobre tipografia e forma do livro. Trad. José Laurênio de Melo. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2007.