CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO AÇUDE CACHOEIRA II, NO MUNICÍPIO DE SERRA TALHADA - PE, BRASIL



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Transcrição:

VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO AÇUDE CACHOEIRA II, NO MUNICÍPIO DE SERRA TALHADA - PE, BRASIL Clarisse Wanderley Souto Ferreira* (1), Camila de Sousa Lima (1), Lucas Costa de Souza Cavalcanti (1), Alessandro Herbert de Oliveira Santos. (2) Alunos do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE/PE) (1) Prof. Adjunto da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE/UAST) (2) E-mail*: clarissewsf@hotmail.com RESUMO Este trabalho teve como objetivo avaliar as características morfométricas da bacia hidrográfica do açude Cachoeira II, localizado no município de Serra Talhada, Pernambuco. Para a realização da caracterização morfométrica desta bacia foram necessárias as delimitações das áreas, dos perímetros e dos comprimentos axiais da bacia com o auxílio do software ArcGis 9.3; calculados os chamados índices de forma da bacia, traduzidos nos valores de coeficiente de compacidade (Kc), fator de forma (Kf) e índice de circularidade (Ic). Além destes valores, foram calculados também para cada bacia, os índices de declividade, altitude, densidade de drenagem (Dd) e ordem dos cursos d água. Estes índices atrelados ao clima da região, explicam a necessidade da construção de açudes e barragens para que a água permaneça disponível por mais tempo no local. PALAVRAS-CHAVE: Bacia hidrográfica, Morfometria, Modelagem. 1.INTRODUÇÃO O comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica é função de suas características geomorfológicas (forma, relevo, área, geologia, rede de drenagem, solo, dentre outros) e do tipo de cobertura vegetal (Lima, 1986). Desse modo, as características físicas e bióticas de uma bacia possuem importante papel nos processos do ciclo hidrológico, influenciando dentre outros, a infiltração, a quantidade de água produzida como deflúvio, a evapotranspiração e os escoamentos superficial e subsuperficial (Tonello, 2005). A bacia hidrográfica pode ser considerada um sistema físico onde a entrada é o volume de água precipitado e a saída é o volume de água escoado pelo exutório, 1

Tema 2- Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes considerando-se como perdas intermediárias os volumes evaporados e transpirados e também os infiltrados profundamente (Tucci, 2000). Desse modo, a área da bacia hidrográfica tem influência sobre a quantidade de água produzida como deflúvio. A forma e o relevo, no entanto, atuam sobre a taxa ou sobre o regime dessa produção de água, assim como a taxa de sedimentação (Tonello, 2005).. O caráter e a extensão dos canais (padrão de drenagem) afetam a disponibilidade de sedimentos, bem com a taxa de formação do deflúvio. Muitas dessas características físicas da bacia hidrográfica, por sua vez, são, em grande parte, controladas ou influenciadas pela sua estrutura geológica. Para investigar as características das diversas formas de relevo, as bacias hidrográficas se configuram como feições importantes, principalmente no que se refere aos estudos de evolução do modelado da superfície terrestre (Tonello, 2005). As características físicas de uma bacia constituem elementos de grande importância para avaliação do seu comportamento hidrológico, pois, ao se estabelecerem relações e comparações entre tais características e os dados hidrológicos conhecidos, podem-se determinar indiretamente os valores hidrológicos em locais nos quais faltem dados (Villela & Mattos, 1975). Segundo, Christofoletti (1970), a análise de aspectos relacionados a drenagem, relevo e geologia pode levar à elucidação e compreensão de diversas questões associadas à dinâmica ambiental local. A quantificação da disponibilidade hídrica serve de base para o projeto de planejamento dos recursos hídricos. Para isso, é necessário expressar quantitativamente, todas as características de forma, de processos e de suas interrelações. É importante ressaltar que nenhum desses índices, isoladamente, deve ser entendido como capaz de simplificar a complexa dinâmica da bacia, a qual inclusive tem magnitude temporal (Tonello, 2005). Este trabalho teve como objetivo determinar e analisar as características morfométricas da bacia hidrográfica que contribui para o Açude Cachoeira II, no município de Serra Talhada, na bacia do Pajeú, Pernambuco- Brasil. Foram avaliados os seguintes atributos: Hierarquização de drenagem, Coeficiente de compacidade (Kc), Fator de forma ( Kf), Índice de circularidade (Ic) e Densidade de drenagem (Dd). 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1. Localização e caracterização da área de estudo O estudo foi realizado na bacia hidrográfica do açude Cachoeira II, que contribui para o açude também denominado Cachoeira II, localizado no município de Serra 2

VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Talhada, Pernambuco- Brasil. A bacia hidrográfica do Açude Cachoeira II é classificada como endorréica, ou seja, formada por drenagens internas que não possuem escoamento direto até um Oceano (Christofoletti, 1980), visto que suas águas convergem para o Rio Pajeú, afluente da margem esquerda do rio São Francisco. O Açude Cachoeira II está situado na latitude 07º59 31 Sul e na longitude 38º17'54 Oeste, com uma altitude de 429 metros (Figura 1). Seu entorno é caracterizado por uma vegetação de caatinga nas encostas e nas várzeas, ocorrem pequenos sítios com plantio de palma e pasto, agricultura de sequeiro e criação de cabra, atividade predominante na região. O Açude Cachoeira II, formado principalmente pela contribuição do riacho da Cachoeira, também denominado córrego Luanda possui uma capacidade de acumulação de 21.031.000 m 3. Tem como principal uso o abastecimento público e em pequena escala, também é utilizado para a pesca. A precipitação média histórica do município fica em torno de 639 mm, segundo dados do ITEP/LAMEPE (http://www.itep.br/lamepe.asp). Na bacia de contribuição do açude Cachoeira II, com área de 39.438,56 ha, verificase a predominância de relevo variando de suavemente ondulado a suavemente montanhoso, com cotas de até 900 m. Compondo a paisagem, observa-se ainda a existência de 10 serras, com destaque para a serra da Borborema. Na bacia estão localizados dois distritos de Serra Talhada (Santa Rita e Luanda), além de 41 povoados rurais. 3

da Tema 2- Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes Braz Ria cho do Se r ra do Amargoso Serra dos Paus Br ancos Serr a Pintada Serra Red onda Riacho PAJEÚ Có rrego Boa Luanda Vista Se r ra do S aqui nho Córrego Córrego Ga vião Ba ixioda Ro çavelha Se rra da Borb ore ma Serra d a Tra vessia Riacho Mata Serra do Bom Jesus Ser ra do Mestiço Serra Branca Córrego Luanda Santa Rita Cai titu Riacho Cachoeira PARAÍBA PERNAMBUCO Lagoa do Leonardo Serra Três Pa ssagens Ser rote Vaginha Ser ra Co mprida Morto Córrego Boi Lagoa do Padre Luanda Ri acho do Serr a Grande Lagoa dos Torrões PE 365 Riacho Ri acho Belém PE 030 Lagoa das Pedras Serrote da Lagoinha Açude Cachoeira Se rra Tal ha da Açude do Saco Serro te d os Icós Serra da Caiçara Lagoa Bom Sossego Manuel A ntônio BR 232 Ser ra do Cigano A.T. BR 232 RioPajeú Açude Borborema BR 232 SERRA TALHADA Rio Paje ú PE 320 Serrote Barro Vermelho Serrote do Estreito Figura 1: Mapa com a localização do açude Cachoeira II, em Serra Talhada /PE. Fonte: CPRH, 2009 2.2. Descritores morfométricos utilizados Para a realização da caracterização morfométrica desta bacia, foram necessárias as delimitações de atributos básicos, a saber: áreas, perímetros, comprimentos axiais. A partir destes atributos foram calculados os índices de forma das bacias, traduzidos nos valores de coeficiente de compacidade (Kc), fator de forma (Kf) e índice de circularidade (Ic). Além destes valores, foram calculados também para cada bacia os índices de declividade, altitude, densidade de drenagem (Dd) e ordem dos cursos d água. Utilizou-se o software ArcGIS 9.3. 2.2.1. Hierarquia das bacias Tornou-se necessário, a hierarquização de drenagem, realizada por meio dos métodos propostos por Strahler (1952) e magnitude de drenagem, seguindo os 4

VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 parâmetros estabelecidos por Shreve (1966). A partir desta classificação inicial foi possível a análise de índices morfométricos para a bacia hidrográfica. A hierarquia fluvial consiste no processo de estabelecer a classificação de determinado curso d água no conjunto total de uma bacia hidrográfica, no qual se encontra. Esta hierarquização é realizada com a função de facilitar e tornar mais objetivo os estudos morfométricos sobre as bacias hidrográficas (Christofoletti, 1980). 2.2.2. Coeficiente de compacidade (Kc) O Coeficiente de compacidade (Kc) que é a relação entre o perímetro da bacia e a circunferência de um círculo de área igual a da bacia, foi calculado a partir da equação: Kc = 0,28. _P_ (1) A em que Kc é o coeficiente de compacidade, P é o perímetro em km e A é a área da bacia em km². Esse coeficiente é um número adimensional que varia com a forma da bacia independente do seu tamanho, assim quanto mais irregular ela for, maior será o coeficiente de compacidade, ou seja, quanto mais próxima da unidade, mais circular será a bacia e será mais sujeita a enchentes (Villela & Mattos, 1975). 2.2.3. Fator de forma (Kf) O Fator de forma (Kf) é a relação entre a largura média e o comprimento axial da bacia (da foz ao ponto mais longínquo do espigão). Ele foi calculado a partir da equação: Kf = _A_ (2) Lx² em que Kf é o fator de forma, A é a área da bacia em km² e Lx é o comprimento axial da bacia em km. Uma bacia com fator de forma baixo indica que a mesma é menos sujeita a enchentes que outra, de mesmo tamanho, porém com fator de forma maior (Villela & Mattos, 1975). 2.2.4. Índice de circularidade (Ic) O Índice de Circularidade é outro parâmetro utilizado. Ele tende para a unidade à medida que a bacia se aproxima da forma circular e diminui à medida que a forma torna-se alongada. Ele foi calculado pela equação: Ic = 12,57 _A (3) P² em que Ic é o índice de circularidade, A é a área em km² e P é o perímetro em km (Tonello, 2005). 5

Tema 2- Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes 2.2.5. Densidade de drenagem (Dd) Baseado no ordenamento dos canais também foi calculado a densidade de drenagem que é o resultado da divisão entre o comprimento total dos cursos d água pela área da bacia. Esse índice pode variar de 0,5 km.km² em bacias com drenagem pobre a 3,5 km.km² ou mais em bacias bem drenadas (Villela & Mattos, 1975). A Densidade de Drenagem é dada pela fórmula: Dd = _Lt_ (4) A onde Dd = densidade de drenagem; Lt = comprimento total dos canais (km); A = área da bacia (km²). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores de áreas, perímetros e comprimentos axiais das bacias encontram-se na Tabela 1. Tabela 1- Valores de áreas, perímetros e comprimentos axiais das bacias do Açude Cachoeira II. Perímetro (P) Área (A) Comprimento do Rio Principal (L) Comprimento Axial da Bacia (Lx) 115,677 km 394,385 km² 45,136 km 33,550 km Com a análise do sistema de drenagem da bacia (Tabela 2), verificou-se que a bacia do Açude Cachoeira II é de 5ª ordem, conforme a classificação de Strahler, o que demonstra que a bacia possui um sistema de drenagem com ramificação significativa. Sua magnitude de drenagem é de 224 segundo os parâmetros estabelecidos por Shreve, representando o total de canais de nascentes da bacia, ou seja, o número de canais de primeira ordem obtidos na classificação de Strahler. 6

VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Tabela 2- Sistema de drenagem das bacias dos Açudes Cachoeira II. Ordem Nº de canais Comprimento dos canais (Km) 1ª 224 265,281 2ª 55 85,646 3ª 12 46,529 4ª 3 38,169 5ª 1 24,355 TOTAL 295 459,980 Durante a análise da hierarquia das bacias, verificou-se que a bacia possui padrão de drenagem, variando entre o dendrítico e o paralelo, sendo este último encontrado principalmente onde há um maior controle estrutural ou nos locais de encostas mais acentuadas. O coeficiente de compacidade (kc) calculado para a bacia do Açude Cachoeira II foi de 1,63. Um coeficiente igual à unidade corresponderia a uma bacia circular e como a tendência à enchente de uma bacia será tanto maior quanto mais próximo da unidade for este coeficiente, constata-se, em relação ao Kc, que a bacia do Açude Cachoeira II, demonstra ser susceptível ao escoamento por ser mais alongada. Segundo Garcez et al.,1988, desde que outros fatores não interfiram, valores menores do índice de compacidade indicam maior potencialidade de produção de picos de enchentes elevados. Com relação ao fator de forma, a bacia do Açude Cachoeira II apresentou Kf de 0,35. Numa bacia estreita e longa, com fator de forma baixo, há menos possibilidade de ocorrência de chuvas intensas cobrindo simultaneamente toda a extensão da bacia e também, a contribuição dos tributários atinge o curso d'água principal em vários pontos ao longo do mesmo, afastando-se portanto, da condição ideal da bacia circular (Grupo de Recursos Hídricos da Universidade Federal da Bahia, 2005). Isto significa dizer que, a bacia do Cachoeira II tem um número significativo de tributários atingindo o rio principal, tornando-a susceptível ao escoamento e comprovando a análise feita para o coeficiente de compacidade. Já o índice de circularidade, calculado em 0,37 caracteriza a forma da bacia como alongada, confirmando o coeficiente de compacidade (Kc) determinado anteriormente. Seu valor se distancia da unidade, evidenciando um menor risco de grandes cheias em condições normais de pluviosidade anual, e topografia muito 7

Tema 2- Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes favorável ao escoamento superficial. O índice de densidade de drenagem estimado para a Bacia do Açude Cachoeira II foi de 1,166 km.km², o que demonstra um sistema de drenagem pobre, apesar de ter apresentado um número significativo de ramificações, conforme a classificação de Strahler. Este índice de densidade de drenagem atrelado ao clima da região, explicam a necessidade da construção de açudes e barragens para que a água permaneça disponível por mais tempo no local. A bacia tem a maior eficiência de drenagem quanto maior for essa relação (Villela & Mattos, 1975). 4. CONCLUSÕES 1. Com relação ao padrão de drenagem, a bacia apresenta padrão variando entre o dendrítico e o paralelo, sendo este último encontrado principalmente onde há um maior controle estrutural ou nos locais de encostas mais acentuadas. 2. Apesar da bacia hidrográfica do Cachoeira II possuir um sistema de drenagem com ramificações significativas, demonstra ser susceptível ao escoamento por ser mais alongada. 3. A bacia hidrográfica do Cachoeira II demonstra um sistema de drenagem pobre, com índice de densidade de drenagem estimado de 1,166 km.km². A bacia apresenta ainda susceptibilidade ao escoamento por ser mais alongada; menor risco de grandes cheias em condições normais de pluviosidade anual e topografia muito favorável ao escoamento superficial. 4. O índice de densidade de drenagem determinado para a bacia hidrográfica do Cachoeira II atrelado ao clima da região, explicam a necessidade da construção de açudes e barragens para que a água permaneça disponível por mais tempo no local. 8

VI Seminário Latino Americano de Geografia Física II Seminário Ibero Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado de Pernambuco- CPRH 2006, 2007 e 2008, Relatório de Monitoramento da Qualidade da Água de Reservatórios do Estado de Pernambuco. Christofoletti, A. 1980, Geomorfologia, 2ª edição, Editora Edgard Blucher, São Paulo 188 p. Christofoletti, A. 1970, Análise morfométrica de bacias hidrográficas no Planalto de Poços de Caldas, Tese (Livre Docência), Universidade Estadual Paulista, Rio Claro 375f. Garcez, L. N. & Alvarez, G. A. 1988, Hidrologia, 2ª edição Revista e Atualizada, Editora Edgard Blucher. Grupo de Recursos Hídricos da Universidade Federal da Bahia 2005, Apostila de Hidrologi,. Universidade Federal da Bahia, Departamento de Hidráulica e Saneamento. Disponível em: http://www.grh.ufba.br/download/2005.2/apostila(cap2).pdf Instituto Tecnológico de Pernambuco - ITEP, Laboratório de Meteorologia de Pernambuco- LAMEPE 2008. Disponível em: http://www.itep.br/lamepe.asp. Porto, R. La L. & Zahed, F. K. 1999, Bacias Hidrográficas, Escola Politécnica da USP, PHD 307, Departamento. de Engenharia Hidraúlica e Sanitária, Disponível em:http://www.ufmt.br/ppgrh/ementas/rh/apostila_bacias_hidrograficas-usp.pdf Shreve, R. L. 1966, Statistical law of stream numbers, Journal of Geology, v. 74, p. 17-37. Strahler, A.N. 1953, Hypsometric (area-altitude) analysis and erosional topography, Geological Society of America Bulletin v. 63, p. 1117-1142. Tonello, K. C. 2005, Análise Hidroambiental da Bacia Hidrográfica da Cachoeira das Pombas, Guanhães, MG, Dissertação de Mestrado, UFV. Tucci, C. E. M. 2000, Hidrologia: Ciência e Aplicação, 2ª edição, ABRH. 9

Tema 2- Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes Villela, S. M. & Mattos, A. 1975, Hidrologia Aplicada,. Editora Mc Graw Hill, São Paulo 245p. 10