Autoria: Ademir Brescansin RESUMO



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REGULAMENTAÇÃO AMBIENTAL E ESTRATÉGIA: UMA ANÁLISE DA ADOÇÃO À RESTRIÇÃO DO USO DE SUBSTÂNCIAS PERIGOSAS DA DIRETIVA EUROPEIA ROHS POR FABRICANTES DE COMPUTADORES PESSOAIS ESTABELECIDOS NO BRASIL RESUMO Autoria: Ademir Brescansin O crescimento da posse de produtos eletrônicos no mundo, principalmente computadores pessoais, tanto em países desenvolvidos quanto nos países emergentes bem como o aumento das taxas de obsolescência tem levado a um aumento significativo da quantidade de resíduos perigosos ao meio ambiente e ao ser humano. Por outro lado, legislações visando mitigar danos ambientais são cada vez mais presentes nos mercados consumidores mundiais, principalmente nos países desenvolvidos. No Brasil, apesar de não existir legislação similar à diretiva europeia RoHS, observa-se que algumas empresas do setor de equipamentos eletroeletrônicos têm incorporado os requisitos dessa diretiva em seus produtos. Diante desse cenário, o objetivo deste trabalho é analisar as evidências da incorporação dos requisitos da diretiva RoHS nos computadores pessoais fabricados pelas empresas estabelecidas no Brasil, para comercialização no mercado interno e para exportação aos mercados que exigem atendimento a RoHS. A pesquisa é do tipo exploratória, fundamentada em revisão bibliográfica e documental, utilizando principalmente os relatórios de sustentabilidade disponíveis das empresas fabricantes de computadores pessoais estabelecidas no Brasil e que são associadas à Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE), entidade representativa do setor. Palavras-chave: RoHS; substâncias restritas; computadores ABSTRACT The growing ownership of electronic products, especially of personal computers, both in developed and emerging countries, added to the increasing rates of obsolescence of these products has led to a significant gorwth of the amount of hazardous waste posing threat to the environment worldwide Moreover, legislation in order to mitigate environmental damage are presently increasing in the global markets, particularly in developed countries. Although in Brazil there is no similar legislation to RoHS directive, it can be noticed that some companies of the electric and electronic equipment sector have incorporated the requirements of this directive in their products. Based on this scenario, the objective of this paper is to examine evidences of the adoptin of RoHS requirements on personal computers manufactured by companies established in Brazil for both sale in the domestic market and abroad. Due to lack of previous similar studies in Brazil, this research can be classified as an exploratory one. It was based primarely on literature and documental review taking as a major sources of information the sustainability reports of the computers manufacturers that are established in Brazil and are also members of Brazilian Electrical and Electronics Industry Association (ABINEE). Key words: RoHS; resctricted substances; computers 1/16

Introdução Com o crescimento da posse de produtos eletroeletrônicos no mundo, principalmente computadores pessoais, tanto em países desenvolvidos quanto nos países emergentes bem como o aumento das taxas de obsolescência tem levado a um aumento significativo da quantidade de resíduos com alto potencial de contaminação ambiental (YU et al., 2010). Por outro lado, legislações visando mitigar danos ambientais são cada vez mais presentes nos mercados consumidores mundiais, principalmente nos países desenvolvidos. Frente à preocupação, principalmente com relação ao aumento da quantidade de lixo eletroeletrônico, conhecido como e-waste, que poderia ser descartada de forma inadequada, a União Europeia (UE), em 27/01/2003, promulgou a diretiva 2002/95/EC que restringe o uso de determinadas substâncias perigosas em equipamentos eletroeletrônicos (EEE). Essa diretiva, denominada Diretiva RoHS (Restriction of Hazardous Substances), é um regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho da União Europeia estabelecendo prazo até 13/08/2004 para que os países membros da Comunidade Europeia (CE) fizessem a transposição dos requisitos em seus países para entrada em vigor efetivamente em 01/07/2006. As substâncias restringidas pela RoHS provocam diversos malefícios ao meio ambiente e consequentemente aos seres humanos. Dentre os principais malefícios, conforme o The European Parliament and the Council of the European Union (2003), pode-se citar: o Chumbo (Pb) comumente encontrado em soldas de placas eletrônicas, tintas, pigmentos que possuem efeito cumulativo e toxicológico em plantas animais e micro-organismos afetando o sistema nervoso e cardiovascular, o Cadmio (Cd) encontrado em revestimentos, semicondutores, contatos elétricos que é biocumulativo, tóxico e resistente a decomposição tornando-se cancerígeno e causando desmineralização óssea, o Cromo Hexavalente (Cr+6) utilizado em revestimentos anticorrosivos e plásticos metalizados que é facilmente absorvido por organismos, altamente tóxico sendo genetóxico e alergênico, o Mercúrio (Hg) encontrado em lâmpadas fluorescentes, sensores e reles que é biocumulativo e causa problemas neurológicos e danos cerebrais e as Bromobifenilas (PBB e PBDE) usadas como retardantes de chama em plásticos, revestimentos e placas eletrônicas que são biocumulativos e resistentes a decomposição tendo efeito cancerígeno e neurotóxico. No Brasil, apesar de não existir legislação similar à diretiva RoHS, observa-se que algumas empresas do setor de equipamentos eletroeletrônicos têm incorporado os requisitos dessa diretiva em seus produtos. Assim, este artigo objetiva uma análise exploratória do estágio de incorporação dos requisitos da diretiva RoHS nos computadores pessoais (PC) fabricados por empresas estabelecidas no Brasil e associadas à Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE), para comercialização tanto no mercado interno quanto para exportação aos mercados que exigem atendimento à RoHS, e está organizado da seguinte forma: revisão da literatura, abordando o mercado de computadores pessoais no Brasil, estratégias empresariais e questões ambientais e a legislação brasileira de compras públicas sustentáveis, metodologia, análise dos resultados e considerações finais, fornecendo informações que podem ser relevantes aos fabricantes de PC e outros equipamentos eletrônicos, bem como, auxiliar na formulação de políticas públicas com relação à restrição de substancias consideradas perigosas ao meio ambiente e aos seres humanos. 2/16

2 REFERENCIAL TEÓRICO Nos últimos anos diversos estudos têm tido como foco o e-waste ou lixo tecnológico ou ainda resíduo de equipamento eletroeletrônico como é comumente conhecido no Brasil, com destaque para o aumento desses resíduos na Europa (DALRYMPLE et al., 2007), da avaliação da eficiência de programas de reciclagem (NDZIBAH, 2009), da periculosidade e os problemas decorrentes do descarte inadequado (SARKIS; ZHU, 2008), dos desafios enfrentados no manejo (OTENG-ABOBIO, 2010), de suas inclusões em políticas de gestão de resíduos sólidos (ALHUMOUD; AL-KANDARI, 2008), do alcance das políticas nacionais ou regionais (BALKAU; SONNEMANN, 2010), e da implantação e gestão de sistemas de logística reversa (LAU; WANG, 2009). Mas ao que parece esta preocupação não é recente, conforme ressalta Jones (2000) que, as indústrias eletroeletrônicas japonesas, em 1998, iniciaram o banimento do chumbo das ligas de solda de forma voluntária. Com o crescimento da posse de produtos eletroeletrônicos no mundo, principalmente computadores pessoais, tanto em países desenvolvidos quanto nos países emergentes bem como o aumento das taxas de obsolescência tem levado a um aumento significativo da quantidade de resíduos com alto potencial de contaminação ambiental (YU et al., 2010). Por outro lado, legislações visando mitigar danos ambientais são cada vez mais presentes nos mercados consumidores mundiais, principalmente nos países desenvolvidos. Um exemplo é a diretiva europeia Restriction of Hazardous Substances (RoHS) que restringe, desde 1º de julho de 2006, o uso de certas substâncias perigosas tais como chumbo, mercúrio, cadmio, cromo hexavalente e dois retardantes de chama à base de bromo nos equipamentos eletroeletrônicos. Esta diretiva foi revista em junho de 2011, dando origem à RoHS 2, com vistas a contemplar novos produtos, principalmente do setor médico e industrial, bem como a previsão de inclusão de novas substâncias restritas a partir de 2014. No Brasil, apesar de não existir legislação similar à diretiva RoHS, observa-se que algumas empresas do setor de equipamentos eletroeletrônicos têm incorporado os requisitos dessa diretiva em seus produtos. Dentro desse setor, o segmento de computadores pessoais é um dos que mais tem crescido no Brasil e no mundo. Dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica - ABINEE (2013) mostram que, de 2003 a 2010, o mercado teve um crescimento de 337% saltando de 3,2 milhões para 14 milhões de unidades produzidas no Brasil. O Brasil já é o quinto maior mercado consumidor de computadores pessoais no mundo, tendo esse mercado movimentado 4,5 bilhões de dólares em 2010. Em relação ao mercado mundial, conforme o site do International Data Corporation IDC (2013), entidade utilizada inclusive pela ABINEE como referência para os dados estatísticos de computadores, o mercado global de computadores pessoais e tablets será de aproximadamente 540 milhões de produtos em 2013. 2.1 MERCADO DE COMPUTADORES PESSOAIS NO BRASIL O crescimento acentuado na produção de computadores no Brasil se deve principalmente às legislações de incentivo à inovação e produção, das quais, pode-se ressaltar a Lei nº 11.196/2005, chamada Lei do Bem, que incentiva a inovação e produção local de computadores, além de desonerar impostos sobre a cadeia produtiva. O resultado da aplicação 3/16

desta lei foi a redução drástica dos preços ao consumidor, o aumento da demanda e da produção e a redução substancial do mercado cinza, também conhecido com o mercado não oficial. (ABINEE, 2012). Hoje, 73% do mercado interno está sob o domínio de fabricantes de produtos regulares ou oficiais, sendo que até 2005, os produtos regulares representavam apenas um terço do mercado. A aprovação da Lei nº 11.077/2004, chamada Lei de Informática, permitiu a redução do IPI para as empresas fabricantes de produtos de informática que investissem em projetos, programas e atividades de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) e atendessem o chamado Processo Produtivo Básico (PPB). O fato do setor de informática ser obrigado a oferecer em contrapartida a aplicação de parcela de seu faturamento em P&D, assegura o desenvolvimento tecnológico e ambiental dos produtos que são comercializados no Brasil. Vários avanços já foram obtidos em relação aos materiais empregados, à eficiência no consumo de energia dos aparelhos e, mais recentemente, no descarte desses materiais. (ABINEE, 2012). Dados da ABINEE (2013) sistematizados na Tabela 1 mostram o crescimento do mercado de computadores pessoais no Brasil desde 2005. Tabela 1 Mercado de computadores pessoais no Brasil Vendas 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Mercado Total de PC 6.274 7.755 10.673 11.893 11.482 14.189 15.853 15.513 Desktops 5.997 7.143 9.123 8.673 7.687 7.981 7.500 6.582 Notebooks 277 612 1.551 3.219 3.795 6.208 8.353 8.931 Mercado Oficial de PC 2.695 3.471 5.896 7.568 7.321 10.180 12.049 11.939 Desktops 2.511 3.082 4.707 4.849 3.848 4.279 4.009 3.306 Notebooks 184 389 1.190 2.719 3.473 5.902 8.040 8.633 Mercado Não Oficial de PC 3.580 4.284 4.777 4.325 4.160 4.009 3.804 3.574 Desktops 3.487 4.061 4.416 3.825 3.838 3.702 3.492 3.276 Notebooks 93 222 361 500 322 307 313 298 Mercado Total de Tablets n.d 1. n.d. n.d. n.d. n.d. 113 1.140 3.086 Fonte: Adaptado de ABINEE (2013). Valores em mil unidades. Pela análise da Tabela 1 percebe-se que o mercado de tablets foi o que mais cresceu, apresentado um crescimento de 2631% nos anos de 2010 a 2012. Este produto é considerado computador segundo sua classificação NCM Nomenclatura Comum do Mercosul utilizada pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai desde 1995 para classificação de mercadorias entre os países membros (MDIC, 2013). Também percebe-se o crescimento acentuado do mercado de notebooks e uma estagnação no mercado de desktops, com valores de 3124% e 10% respectivamente, entre os anos de 2005 a 2012. 1 n.d. = não disponível 4/16

Em relação ao mercado mundial de computadores, dados do International Data Corporation IDC (2013), entidade utilizada como referência para os dados estatísticos de computadores, o mercado global de computadores pessoais e tablets será de aproximadamente 540 milhões de produtos, conforme a Figura 1. 500 Previsão Mundial - Mercado de PC e Tablet (em milhões de unidades) 400 300 Tablets 200 PC Portáteis 100 0 PC Total (Portáteis + Desktop) 2010 (real) 2011 (real) 2012 (real) 2013 (previsão) 2014 (previsão) 2015 (previsão) 2016 (previsão) 2017 (previsão) Figura 1 - Mercado global de computadores pessoais e tablets Fonte: Adaptado de International Data Corporation - IDC, (2013). Observa-se na Figura 1, que o mercado global de tablets teve um aumento significativo nos últimos anos, da mesma forma como tem acontecido no Brasil, enquanto que o mercado de notebooks, diferentemente do Brasil, manteve-se estagnado levando o mercado total, de notebooks e desktops a uma sensível queda. A adoção dos requisitos da RoHS, embora sem legislação similar no Brasil, poderá interferir de forma positiva ou negativa na competitividade dos fabricantes de computadores locais, uma vez que o decreto 7.746/2012 regulamenta as compras públicas sustentáveis que têm que se ajustar as demandas previstas nos editais de licitação, a conformidade com a RoHS é tida como desejável na aquisição de computadores. As compras públicas, segundo Biberman et al (2008), movimentam recursos estimados em 10% do PIB do país e mobilizam setores importantes da economia. Segundo Ansanelli (2008), o complexo eletroeletrônico no Brasil tem sido afetado pelas legislações ambientais internacionais, o que tem levado a maior parte das empresas brasileiras a se adequarem aos requisitos da RoHS. Por um lado, isso tem sido benéfico, pois tem gerado inovações tecnológicas incrementais de processo nas indústrias de EEE. Neste contexto, as empresas de capital estrangeiro podem estar mais avançadas do que as nacionais 5/16

em função do apoio que recebem de suas matrizes, mas este assunto ainda demanda averiguação. A referida autora também salienta que o Brasil não é um grande exportador de EEE em função das fragilidades que apresenta em segmentos importantes desta indústria e também devido à forte participação de empresas estrangeiras no mercado produtivo nacional. 2.2 ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS E QUESTÕES AMBIENTAIS Regulamentações ambientais constituem um dos mais efetivos mecanismos que permitem às empresas internalizarem os efeitos de sua atividade produtiva no meio ambiente, mas também requerem a adaptação de processos que impactam em custos, competitividade e ganhos futuros (LÓPEZ-GAMERO, MOLINA-AZORÍN e CLAVER-CORTÉS, 2010). Assim, a decisão dos fabricantes de computadores pessoais em incorporar a RoHS em seus produtos, principalmente no caso dos grandes players globais, relaciona-se diretamente com as estratégias dessas empresas, uma vez que sua atratividade e posição competitiva se modificam (PORTER, 1989), portanto, a predição sobre o comportamento dos competidores é incerta (BARNEY e HESTERTLY, 2011), afetando seu desempenho imediato e futuro e impactando a geração e sustentação de vantagens competitivas. Essa adoção pode se dar de duas formas: coercitiva, ao responder a regulamentações locais ou internacionais, ou proativa, antecipando a legislação local ou incorporando legislações não locais às suas unidades fabris, globalmente. Bilgin (2009) sugere ainda que a adoção de estratégias como pense globalmente, aja localmente por parte das empresas, promove a percepção de comprometimento local gerando o aumento da vantagem competitiva das empresas. No âmbito da competitividade, cabe ainda uma análise mais ampla do impacto das regulamentações ambientais nos níveis macro, meso e micro, caracterizando sua influência nacional e internacional (macro), setorial (meso) e da unidade de negócios (micro), com diferentes níveis de mensuração e indicadores. (IRALDO et al., 2011) Partindo de três abordagens teóricas distintas: neoclássica, hipótese de Porte e Van der Linde (1995) e baseada em recursos, Iraldo et al. (2011) analisaram os impactos das regulamentações ambientais em cada um dos níveis de atuação de uma empresa (macro, meso e micro) e categorizaram as formas de mensuração entre desempenho como prosperidade e padrão de vida no nível macro, comércio internacional e desempenho financeiro no nível meso, e desempenho mercadológico e eficiência no nível micro. Além disso, também identificaram drivers como formas de mensuração, a saber: produtividade no nível macro, investimento no nível meso e inovação no nível micro. Delmas, Hoffmann e Kuss (2011) ao analisarem 157 empresas alemãs do setor químico que foram impactadas pela regulamentação da Comunidade Europeia EC1907/2006 que trata de registro, avaliação, autorização e restrição de substâncias químicas, identificaram que a pró-atividade ambiental e vantagem competitiva são atribuíveis à mesma capacidade organizacional atribuída à capacidade de absorção, indicando ainda o papel essencial dos fundamentos organizacionais no sucesso da pró-atividade ambiental. 6/16

2.3 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE COMPRAS PÚBLICAS SUSTENTÁVEIS A relevância do tema compras públicas sustentáveis evidencia-se com a publicação do Guia de compras públicas sustentáveis: Uso do poder de compra do governo para a promoção do desenvolvimento sustentável publicado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) (BIDERMAN et al., 2008) e do Guia de Compras Públicas Sustentáveis para Administração Federal, disponibilizado no sítio do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG, 2013). Ambas as publicações abordam questões relacionadas às preocupações ambientais, ressaltando o aumento excessivo do consumo dos recursos naturais, o que tem intensificado os problemas ambientais nas escalas locais, regionais e globais, como, por exemplo, o aquecimento global e mudanças climáticas, chuva ácida, acúmulo de substâncias perigosas no ambiente, degradação das florestas, perda da biodiversidade, poluição e a escassez de água, entre outros (MPOG, 2013; BIDERMAN et al., 2008). A preocupação com o acúmulo das substâncias perigosas, citado por ambas as referências, relacionam-se diretamente ao escopo deste artigo, ou seja, a restrição das substâncias perigosas da diretiva RoHS. Os números referentes ao PIB brasileiro, bem como a importância do papel do governo fomentando a economia verde, com regras claras, vem assegurando a competitividade da indústria, principalmente nacional e as novas oportunidades de negócio, ou seja, inovando com produtos ambientalmente corretos ou verdes causando menor impacto ambiental. O Quadro 1 apresenta alguns impactos ambientais ao longo do ciclo de vida dos equipamentos de informática que devem ser observados nos critérios de compra governamentais. Produto Matéria Prima Processo Produtivo Utilização Reutilização / Reciclagem / Disposição Equipamentos de informática Plástico, metais, solventes, adesivos, etc. Impactos ambientais: uso de recursos naturais não renováveis (óleo na forma de plástico e metais pesados preciosos). Emissões de COV s, amônia, súlfur hexafluoride, que contribuem para o aquecimento global. Metais pesados e preciosos são utilizados na confecção de chips eletrônicos; estes podem ser tóxicos para os humanos, animais e persistentes no meio ambiente. Uso de solventes e substâncias tóxicas contribuem para as emissões tóxicas atmosféricas (COV s, CFC s, ODS s), além de produzir efluentes e resíduos tóxicos com solventes orgânicos, metais pesados, dentre outros 7/16 Monitores CRT ou LCD produzem radiação eletromagnética não-ionizante; existem publicações relatando riscos a saúde e a segurança, no uso destes equipamentos Embalagens e papeis são usados em demasia; plásticos não são biodegradáveis. Diversos componentes são perigosos para o meio ambiente, como: componentes elétricos (metais pesados), tubo de raios catódicos (chumbo, arsênio, mercúrio, cádmio, cloro, retardantes de chama e bifenila policlorada PCB s). Portanto a disposição inadequada pode contaminar as águas subterrâneas e as superficiais, bem como o solo Quadro 1 Síntese das matérias-primas, processo produtivo, uso, reutilização, reciclagem e disposição de equipamentos de informática.

Fonte: adaptado do Guia de compras públicas sustentáveis para administração federal (MPOG, 2013). Na análise do quadro 1, observa-se que mesmo não existindo uma legislação similar a RoHS no Brasil, algumas substancias restringidas pela diretiva RoHS são requisitos para a participação das empresas nas licitações governamentais. 3 METODOLOGIA Este trabalho caracteriza-se por se tratar de uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, envolvendo revisão da literatura e pesquisa documental. Seguindo o preconizado por Fink (1998), a revisão da literatura foi desenvolvida de forma sistemática para identificação, avaliação e interpretação do corpus teórico produzido por pesquisadores, acadêmicos e profissionais de mercado, a partir de palavras-chave pré-definidas e utilizando bases de dados eletrônicas, leis e regulamentações além de teses e dissertações. Para a pesquisa documental buscou-se a análise das informações constantes nos relatórios de sustentabilidade, disponíveis, das empresas fabricantes de computadores pessoais estabelecidas no Brasil e associadas à ABINEE, entidade representativa do setor, quais sejam: Itautec, Lenovo, Hewlett-Packard (HP), Dell, Sony, Samsung, LG e Positivo, para identificação da existência de referências à RoHS e sua contextualização. (BABBIE, 2004) 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS Nesta seção são apresentados os resultados encontrados a partir da pesquisa documental realizada nos relatórios de sustentabilidade das empresas em relação à RoHS. Itautec A Itautec adota processos de manufatura com preocupações ambientais desde 2001, razão pela qual eliminou o chumbo em seu processo fabril, bem como a produção de seus desktops, notebooks, netbooks e servidores em linha em conformidade com a RoHS desde 2007. Em março de 2012 certificou as linhas de desktops, notebooks e monitores adquiridos pela Companhia por organismo independente com base na diretiva. Para o alinhamento da sua produção à RoHS foram investidos em torno de R$ 3 milhões, na adequação de linhas de produção, e na adoção de uma nova liga de solda que substituiu o chumbo por uma liga composta de estanho, cobre e prata. A adoção de novos processos foi ampliada à cadeia de fornecedores, fazendo com que diversas empresas adequassem seus insumos à diretiva RoHS. As mudanças nos insumos e nos processos acarretaram um acréscimo de 2% nos custos de produção dos equipamentos, o qual não foi repassado ao preço final para os clientes, por razões estratégicas (ITAUTEC, 2011). Lenovo 8/16

Além de atender os requisitos da diretiva RoHS na fabricação dos seus produtos, a Lenovo também se adequou às legislações similares a esta diretiva existentes no Japão, República Popular da China, Coreia do Sul, Turquia, Ucrânia e Índia e, também, na Califórnia. Em 2011 a Lenovo se tornou a primeira fabricante de computadores a obter a certificação de produtos ambientalmente sustentáveis pela UL (Underwriters Laboratories) dos Estados Unidos. Como parte desta certificação, os produtos passam por testes rigorosos na UL, incluindo projeto para reciclagem e uso de materiais. A empresa apresenta em seu site na seção de fornecedores globais, um guia com especificações e restrições de uso de substâncias perigosas. (LENOVO, 2013). Hewlett-Packard (HP) A HP foi a primeira empresa de eletrônicos a publicar em 2003 um Código de Conduta da Indústria Eletrônica de Responsabilidade Social e Ambiental de Fornecedores. Em 2004, ela coliderou o desenvolvimento do Código de Conduta da Indústria Eletrônica (EICC), tido como padrão aplicado na cadeia de fornecimento global da indústria. Esta empresa adota voluntariamente os requisitos da RoHS em seus produtos em nível global desde 2003. A HP tem como meta se adequar voluntariamente aos requisitos da RoHS 2, num período de 6 meses antes da data limite estabelecida pela União Europeia, ou seja a partir de 2014. De acordo com sua norma interna a HP Standard 011 General Specification for the Environment, a empresa considera que a RoHS desempenha um papel importante na promoção de toda a indústria no sentido de restringir substâncias perigosas em nível mundial. Também entende que deve haver uma harmonização global destas restrições e apoia plenamente a restrição das novas substâncias propostas na revisão da diretiva RoHS e que novas substâncias devem ser incluídas futuramente na diretiva RoHS, como, por exemplo, o PVC Policloreto de Vinila, e outros retardantes de chama a base de bromo, de modo a contribuir para eliminação do cloro e bromo nos produtos eletroeletrônicos (HP, 2009). Dell A Dell declara ser uma empresa comprometida com o princípio da precaução e observa uma lista de materiais restritos para o uso que é incorporada a todas as especificações de engenharia e acordos com fornecedores. Esta empresa exige que todos os seus fornecedores assinem uma declaração de conformidade garantindo que todos os materiais atendem sua política ambiental. Esses fornecedores são auditados trimestralmente incluindo uma revisão completa de sua adesão às diretrizes de uso de materiais. Além de adotar os requisitos da RoHS em nível global, ela entende que esta regulamentação deve ser adotada por todos os países com forma de restrição de uso de substâncias perigosas. A Dell também apoia a inclusão de retardantes de chama a base de bromo e PVC nas futuras revisões da diretiva RoHS. 9/16

Antecipando-se à revisão da RoHS, a Dell efetuou até 2010 a eliminação das novas substâncias dos seu produtos incluídas na revisão da RoHS, que entra em vigor a partir de 2014, quais sejam: hexabromocyclododecane (HBCDD), bis (2-ethylhexyl) phthalate (DEHP), butyl benzyl phthalate (BBP) e dibutylphthalate (DBP). (DELL, 2012). Sony A Sony informa que adota os requisitos da diretiva RoHS em centenas de peças e materiais com as mais variadas substâncias químicas que compõem os sues produtos. Para a consecução deste propósito, a empresa criou seu próprio procedimento, intitulado SS-00259 Regulamento para gestão ambiental relacionado a substâncias controladas que são incluídas em peças e materiais, aplicável a toda a cadeia de fornecimento. Uma preocupação particular é com relação ao descarte de seus produtos em função da possibilidade de obtenção de materiais valiosos. Soma-se a esta a substituição do PVC em todas as partes que compõem peças, componentes e acessórios que são descartados após o uso. Com relação às pilhas botão que requerem uma pequena quantidade de mercúrio para evitar a geração de hidrogênio no interior da bateria, a empresa conseguiu desenvolver uma pilha botão livre de mercúrio e iniciou sua venda mundial em 2010 (SONY, 2012). Samsung Em 2004, a Samsung iniciou o "Processo de Avaliação de Eco Design", que avalia os produtos em 40 categorias, incluindo a eficiência de recursos, conservação de energia e materiais ambientalmente corretos em conformidade com normas ambientais globais como a RoHS, WEEE (Waste on Electric and Electronic Equipment) e consumo de energia, visando atender o anseio de seus consumidores por produtos eco-friendly. No final de 2008, a Samsung conquistou seis certificações ambientais: Coréia (EDP), China, EUA (EPEAT), Alemanha (Blue Angel), Suécia (TCO) e da UE (Eco-Power), incluindo impressoras, computadores, monitores, TVs, DVDs, geladeiras e máquinas de lavar, sendo o maior número de certificações conquistadas por uma única empresa de equipamentos eletroeletrônicos no mundo. A empresa declara que vai além das exigências legais para a eliminação de produtos químicos de potencial preocupação para a saúde humana ou para o ambiente e que adotou as restrição impostas pela diretiva RoHS em seus produtos. A garantia da conformidade com as exigências da RoHS faz parte do processo de certificação Eco Parceiro que inclui declaração, auditorias e testes internos. A adoção da RoHS se deu em função da exigência dos clientes, preocupação dos stakeholders, pressões de ONGs ambientalistas e organizações de consumidores, evidência de dano ao meio ambiente ou à saúde humana e, também, em função das novas propostas de legislação referente a produtos químicos de alto risco (SANSUNG, 2012). LG 10/16

A LG possui uma estratégia de produtos verdes objetivando reduzir o impacto ambiental sobre o planeta e as pessoas por meio do desenvolvimento ecologicamente correto de seus produtos em toda a cadeia produtiva. O desenvolvimento de seus produtos se dá via aplicação de eco design tendo em perspectiva substituir as substâncias perigosas, aumentar a eficiência energética e utilizar menos recursos nos processos produtivos. Além de atender as regulamentações internacionais sobre substâncias perigosas, a empresa está em processo de substituição voluntária de substâncias perigosas como o PVC e retardantes de chama a base de bromo em seus produtos desde 2007. Em 2005, a LG declarou sua intenção de não produzir produtos que contenham qualquer uma das seis substâncias perigosas restringidas pela diretiva RoHS e outras que considera danosas ao meio ambiente e aos seres humanos, tais como: cloro, amianto, compostos orgânicos de estanho, formaldeído, níquel, arsênico, compostos azo e outras substâncias que podem destruir a camada de ozônio, como Perfluorooctane Sulfonate, Pentachlorophenol and Ugilec 121, 141, DBBT, ftalatos, berílio, antimônio, selênio, VOC (LG, 2012). Positivo A Positivo não possui até o momento um relatório de sustentabilidade, mas informa que o primeiro documento do gênero deverá ser publicado em 2013. No seu site a única informação sobre questões ambientais dá conta de que desde 2012 a empresa iniciou a implantação de sistema de gestão ambiental baseado na ISO 14.001. Através de informações obtidas por meio de contato com seus representantes, apuramos que a incorporação dos requisitos da RoHS em seus produtos não se deu em função de exigências para exportação, mas para a participação nos pregões eletrônicos das compras públicas sustentáveis que impõe limites restritivos ao uso de substâncias perigosas nos produtos adquiridos pelo governo. 11/16

Um resumo dos resultados encontrados durante a pesquisa documental encontra-se no Quadro 2. Empresa (Capital) Itautec (Nacional) Lenovo (Estrangeiro) HP (Estrangeiro) Dell (Estrangeiro) Sony (Estrangeiro) Samsung (Estrangeiro) LG (Estrangeiro) Positivo (Nacional) RoHS desde Fornecedores % Prod. Estratégia 2012 100% atende RoHS 100% Preocupação ambiental nos mercados de atuação N.I. 2 Incentiva com guia de especificações de substancias perigosas 2003 100% atende RoHS Norma interna N.I. N.I. N.I. 100% atende RoHS Assinatura de conformidade e auditoria trimestral 100% atende RoHS Procedimento próprio 100% atende RoHS Certificado Eco Parceiro 100% Prioridade da companhia 100% Prioridade da companhia 100% Prioridade da companhia 100% Prioridade da companhia 100% Prioridade da companhia 2005 100% atende RoHS 100% Prioridade da companhia N.I. Sem informação < 100% Atendimento compras públicas sustentáveis Quadro 2 Quadro síntese da avaliação dos relatórios de sustentabilidade das empresas Fonte: elaborado pelos autores Outras informações relevantes Invest. 3milhões Certificação de 3ª parte Acréscimo 2% nos custos não repassados aos clientes 1ª com certificação sustentável de produtos pela UL em 2011 1ª publicar código de conduta de RSA na indústria eletrônica Atender RoHS 2 em 6 meses antes do limite Harmonização da RoHS no mundo Apoia restrição de outras substancias além da RoHS Harmonização da RoHS no mundo Em 2010, 100% produtos atendiam a RoHS 2 Substituição do PVC em todos produtos Pilha botão sem mercúrio Avaliação de ecodesign nos produtos eco friendly Eco label Utilização de ecodesign Não tem relatório de sustentabilidade Contato com representante da empresa O quadro 2 apresenta a estratégia de adoção da RoHS, pelas empresas avaliadas, bem como suas atuações junto às cadeia de fornecimento, bem como ações adicionais ao atendimento da diretiva RoHS. 2 N.I. = Não Informado 12/16

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS As empresas de capital estrangeiro, por estarem inseridas no ambiente competitivo global, mostram adotar a RoHS inicialmente para atendimento à legislação vigente do país de comercialização e expandiram para 100% de seus produtos em todos os mercados de atuação, levando esta diretriz também para seus fornecedores e parceiros comerciais. Também aproveitando a temática de conscientização dos consumidores, pressões de Organizações Não Governamentais e em meio às legislações incipientes nos mercados emergentes, adotaram-na como premissa em suas estratégias empresariais. As empresas nacionais Itautec e Positivo adotaram outras estratégias: enquanto a Itautec incorporou os requisitos da RoHS para 100% de seus produtos independentemente do mercado de atuação, a Positivo, motivada pelas compras públicas governamentais que passaram a exigir requisitos da RoHS nos produtos licitados, também passou a produzir computadores em conformidade com as exigências da diretiva. Deve ser salientado o papel importante do governo como grande comprador e, uma vez forçando requisitos sustentáveis em suas compras, poderá incentivar a inovação dos produtos, estimular a competitividade na indústria, garantindo a demanda e retorno às empresas e ainda criar produtos mais ambientalmente corretos para toda a sociedade. Tais constatações evidenciam o que foi proposto por Bilgin (2009), López-Gamero, Molina-Azorin e Claver-Cortés (2010), Iraldo et al. (2011) e Delmas, Hoffmann e Kuss (2011), ao apontar que a adoção antecipada da norma RoHS constitui mesmo uma escolha estratégica corporativa, independentemente da origem do capital da empresa, e uma escolha estratégica para geração de vantagem competitiva por diferenciação no âmbito local, visando a adequação às exigências das compras públicas. Os resultados encontrados neste estudo indicam a necessidade de um maior aprofundamento dos fatores motivadores, envolvendo entrevistas com os representantes das empresas analisadas para avaliação dos benefícios, custos, impactos e mudanças organizacionais envolvidas na adoção da RoHS. 13/16

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