TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO Sumários Executivos. Nova Série Avaliação do Programa Banco de Alimentos Relator Ministro Ubiratan Aguiar Brasília, Brasil, 2005
Copyright 2005, Tribunal de Contas da União Impresso no Brasil / Printed in Brazil www.tcu.gov.br Para leitura completa do Relatório, do Voto e do Acórdão n º 651/2005-TCU - Plenário, acesse a página do TCU na Internet no seguinte endereço: www.tcu.gov.br/avalicaodeprogramasdegoverno Brasil. Tribunal de Contas da União. Avaliação do Programa Banco de Alimentos / Tribunal de Contas da União ; Relator Ministro Ubiratan Aguiar. Brasília : TCU, Secretaria de Fiscalização e Avaliação de Programas de Governo, 2005. 29 p. (Sumários Executivos. Nova Série ; 4) 1. Alimento 2. Programa de governo, avaliação I. Programa Banco de Alimentos (Brasil). II. Título. Catalogação na fonte: Biblioteca Ministro Ruben Rosa
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO Ministros Adylson Motta, Presidente Walton Alencar Rodrigues, Vice-Presidente Marcos Vinicios Vilaça Valmir Campelo Guilherme Palmeira Ubiratan Aguiar Benjamin Zymler Auditores Lincoln Magalhães da Rocha Augusto Sherman Cavalcanti Marcos Bemquerer Costa Ministério Público Lucas Rocha Furtado, Procurador-Geral Paulo Soares Bugarin, Subprocurador-Geral Maria Alzira Ferreira, Subprocuradora-Geral Marinus Eduardo de Vries Marsico, Procurador Cristina Machado da Costa e Silva, Procuradora Júlio Marcelo de Oliveira, Procurador Sérgio Ricardo C. Caribé, Procurador
RESPONSABILIDADE EDITORIAL Secretário-Geral de Controle Externo Paulo Roberto Wiechers Martins Secretária de Fiscalização e Avaliação de Programas de Governo Selma Maria Hayakawa Cunha Serpa Diretora da 1ª. Diretoria Técnica da Seprog Patrícia Maria Corrêa Gerente do Projeto de Aperfeiçoamento do Controle Externo com Foco na Redução da Desigualdade Social - CERDS Glória Maria Merola da Costa Bastos EQUIPE DE AUDITORIA Bernadeth Rodrigues (coordenadora) Célio da Costa Barros Cléber da Silva Menezes Liliane Andréa de Araújo Bezerra Wladimir Dimas Pereira Lavinas Patrícia Maria Corrêa (supervisora) PROJETO GRÁFICO, CAPA E EDITORAÇÃO Grupodesign REVISÃO Eliane Vieira Martins FOTO DA CAPA Equipe de Auditoria Endereço para contato TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO Secretaria de Fiscalização e Avaliação de Programas de Governo - SEPROG SAFS, Quadra 4, Lote 1 Edifício Anexo I, Sala 456 70.042-900 - Brasília-DF seprog@tcu.gov.br Solicitação de exemplares TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO Instituto Serzedello Corrêa Centro de Documentação SAFS, Quadra 4, Lote 1 Edifício-Sede, Sala 003 70.042-900 - Brasília-DF editora@tcu.gov.br
SUMÁRIO 07 Apresentação 09 O Programa Banco de Alimentos 09 O que foi avaliado pelo TCU 10 Por que foi avaliado 10 Como se desenvolveu o trabalho 11 Recursos federais alocados ao programa 12 O que o TCU encontrou 12 A concepção e o arranjo institucional do Programa 16 A forma de implementação do Programa 17 Instrumentos de acompanhamento, monitoramento e avaliação 18 Boas práticas 19 O que pode ser feito para melhorar o desempenho do programa 19 Benefícios da implementação das recomendações do TCU para o Programa 21 Acórdão
APRESENTAÇÃO Esta publicação integra uma série de sumários executivos editados pelo Tribunal de Contas da União, que visam a divulgar para órgãos governamentais, parlamentares e sociedade civil os principais resultados das avaliações de programas governamentais realizadas pelo TCU, com o intuito de verificar o desempenho da gestão pública em áreas estratégicas do governo e em programas prioritários e relevantes para a sociedade. Os sumários executivos contêm, de forma resumida, aspectos importantes das auditorias e melhorias propostas pelo Tribunal à execução de programas. Essas medidas visam promover maior racionalidade e eficiência da administração pública, maior visibilidade aos benefícios gerados para a sociedade e subsidiar os mecanismos de responsabilização por desempenho. Este número traz as principais informações sobre a avaliação realizada no Programa Banco de Alimentos, de responsabilidade do Ministério da Justiça. O respectivo processo (TC011.308/2004-6) foi apreciado em Sessão do Plenário de 25/05/2005, sob a relatoria do Ministro Ubirattan Aguiar. Cabe ao TCU, na tarefa de fortalecer as ações de controle e a melhoria do desempenho da gestão pública, prestar informações precisas sobre a implementação dos programas de governo, para que os resultados contribuam, de forma efetiva, para a solução de problemas afetos às políticas públicas. Adylson Motta Ministro-Presidente
O PROGRAMA BANCO DE ALIMENTOS O Tribunal de Contas da União realizou, entre agosto e novembro de 2004, auditoria de natureza operacional no Programa Banco de Alimentos, selecionado em razão de sua conexão com a principal política de governo na área social, o combate à fome. O Programa tem por objetivo combater a fome por meio da recuperação de alimentos desperdiçados ao longo da cadeia produtiva, mas ainda adequados ao consumo humano. É gerido pela Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional SESAN, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MDS. O Programa opera basicamente mediante transferência financeira, via convênio, para estados e municípios que desejem implantar ou expandir seus bancos de alimentos. Os bancos operam como centrais de recebimento e processamento de doações de alimentos para distribuição a entidades assistenciais cadastradas. O Programa possui ações voltadas para o apoio à instalação de bancos de alimentos; capacitação para operacionalização e gestão de bancos de alimentos e colheita urbana; fomento ao desenvolvimento de tecnologias para a redução do desperdício de alimentos nos mercados atacadista e varejista e no consumo. O que foi avaliado pelo TCU A auditoria buscou verificar se o arranjo institucional e a concepção do Programa contribuem para o alcance dos objetivos propostos. Além disso, foram analisados os mecanismos de monitoramento e avaliação e a coerência entre sua forma de implementação do Programa e a proposta de combate à fome. Avaliação do Programa Banco de Alimentos 9
Por que foi avaliado O Programa Fome Zero é considerado um dos principais programas sociais do Governo Federal. Lançado em 2003, o Fome Zero é um conjunto de programas voltados para a construção de uma Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e para o combate à fome no País. No Programa Fome Zero, são apresentados três conjuntos de políticas articuladas entre si, cujo foco é a segurança alimentar: políticas estruturais voltadas para as causas mais profundas da fome e da pobreza; políticas específicas voltadas a atender diretamente as famílias no acesso ao alimento; políticas locais, que podem ser implantadas por prefeituras e pela sociedade. Os bancos de alimentos fazem parte das políticas locais de segurança alimentar para áreas metropolitanas. Também compõem essa política os restaurantes populares, os projetos para modernização dos equipamentos de abastecimento e o estabelecimento de novo padrão de relacionamento com as redes de supermercados. O Programa foi selecionado em razão de sua conexão com a principal política de governo na área social, o combate à fome, e da identificação de oportunidades de melhoria na concepção, no arranjo institucional, no modo de implementação e no monitoramento do programa. Como se desenvolveu o trabalho A coleta de dados foi realizada por meio de análise de documentos e de trabalhos técnicos e acadêmicos, entrevistas e questionários. Foram enviados questionários a 422 entidades assistenciais atendidas por bancos de alimentos instalados/ampliados com recursos do programa e para 10 Sumários Executivos. Nova Série
1.000 entidades assistenciais localizadas em municípios não contemplados com recursos do Programa. Os municípios não contemplados com recursos também foram pesquisados, considerando-se o critério de priorização de municípios com mais de 100.000 habitantes, estabelecido pela gerência do Programa. Durante os trabalhos de campo foram visitados 25 bancos de alimentos, públicos e privados, implantados e em implantação, no Distrito Federal e em sete estados: Bahia, Goiás, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo. Recursos federais alocados ao programa O Programa Banco de Alimentos foi incluído no Orçamento Geral da União OGU a partir do Plano Plurianual PPA 2004/2007. No entanto, em 2003, o então Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar MESA executou uma pequena parte de seus recursos com as ações do Programa. Em 2004, foram consignados R$ 4.311.700,00 para a Ação Apoio à Instalação de Bancos de Alimentos, R$ 316.400,00 para a Ação Capacitação para Operacionalização e Gestão e R$ 1.000.000,00 para a Ação Fomento ao Desenvolvimento de Tecnologias para a Redução de Desperdício de Alimentos no Mercado Atacadista, Varejista e no Consumo, totalizando a importância de R$ 5.628.100,00. Com relação ao quadriênio 2004/2007 está prevista a aplicação de R$ 11.278.300,00, incluindo os R$ 5.628.099,00 destinados ao exercício de 2004. A Tabela 1 apresenta o histórico orçamentário do Programa Banco de Alimentos nos exercícios de 2003 e 2004. Avaliação do Programa Banco de Alimentos 11
Tabela 1 - Histórico Orçamentário/Financeiro do Programa Banco de Alimentos em 2003 e 2004 Programa Banco de Alimentos (1051) Exercício Lei + Créditos (a) Execução Orçamentária (b) Execução Financeira (c) % exec. orç. (b/a) % exec. fin. (c/a) 2003 611.195 611.195 611.195 100 100 2004 5.628.099 5.549.472 4.199.165 98,6 74,6 Total 4.810.360 Previsão PPA 2004/2007 11.278.300 % de realização financeira do PPA 37,2 Fonte: Câmara dos Deputados (Banco de Dados de Acompanhamento da Execução Orçamentária e Restos a Pagar Câmara dos Deputados - atualizado até 15/01/2005. O QUE O TCU ENCONTROU A concepção e o arranjo institucional do Programa Durante a auditoria constatou-se a incerteza, por parte dos gestores municipais, da continuidade dos bancos instalados com recursos do Programa. Dois fatores principais afetam diretamente a sustentabilidade das atividades desenvolvidas pelos bancos de alimentos: a fragilidade da base legal do Programa e a falta de instrumentos que garantam o alcance de seus objetivos, como um sistema de monitoramento das atividades e de avaliação de seus resultados, bem como de uma atuação efetiva do controle social. Com relação à base legal, o Programa está insuficientemente regulamentado por um Manual de Implantação de Projetos e pelos normativos que regem os convênios federais. Importa destacar que tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 4.747/98, denominado Estatuto do Bom Samaritano, que busca estimular as doações, isentando as pessoas físicas e jurídicas doadoras das responsabilidades civis e penais por possíveis problemas causados à saúde humana decorrentes da doação. 12 Sumários Executivos. Nova Série
. fin. /a) 00,6 Quanto à garantia do alcance dos resultados, ressalta-se a ausência de critérios para priorizar municípios com vistas à celebração dos convênios, a pouca divulgação do Programa e a pouca capacitação para implantação e gestão dos bancos. Os bancos de alimentos operando no Brasil possuem características distintas e foram implantados tanto por iniciativa da sociedade civil, quanto por iniciativa pública. A participação do governo federal, a partir de 2003, acrescentou nova variável no processo de instalação dessas estruturas pelo país. Essa diversidade dificulta o mapeamento dos bancos e sua conseqüente articulação, de modo a evitar superposição de atividades e a promover intercâmbio de experiências bem sucedidas. Constatou-se a inexistência de padrão de funcionamento comum aos bancos de alimentos. Com relação ao Programa, o Manual estabelece algumas diretrizes gerais para instalação, basicamente relacionados a localização, forma de gestão, recursos humanos e fluxo de atividades. Todavia, não estão estabelecidos padrões mínimos de funcionamento. Em todos os bancos visitados foram relatados problemas na captação de doações. A pesquisa realizada aponta como principais empecilhos para o aumento das doações: falta de legislação que proteja os doadores, de visão de responsabilidade social e de divulgação das atividades dos bancos de alimentos. A conseqüência dessa escassez de doações é que alguns bancos de alimentos, tanto públicos como apoiados pela sociedade civil, operam muitas vezes com capacidade ociosa, enquanto toneladas de produtos próprios para o consumo são diariamente jogados no lixo. Até novembro de 2004 foi apoiada a instalação de 8 bancos, com orçamento de 2003, embora a Lei Orçamentária estipulasse a meta física de 40 unidades. A Coordenação do Programa considerou como principal entrave à celebração dos convênios a não disponibilização pelas prefeituras dos relatórios fiscais na forma e periodicidade exigida na Lei Avaliação do Programa Banco de Alimentos 13
de Responsabilidade Fiscal - LRF. Outro fator que prejudicou o alcance das metas foi o processo de fusão do MESA com a Secretaria do Bolsa Família no MDS, em 2003, com redefinição de prioridade programática, mudança de gestores federais e da equipe técnica e realocação física. A forma de implementação do Programa O Programa Banco de Alimentos tem como critério declarado para a celebração de convênio o fato de o município postulante ter população acima de 100 mil habitantes. Nessas condições, existem no País cerca de 239 municípios. Entretanto, constatou-se expressiva concentração de convênios em municípios localizados na Região Sudeste, com destaque para o Estado de São Paulo, onde foram celebrados 13 dos 25 convênios firmados até outubro de 2004. A Figura 1 apresenta a distribuição dos bancos implantados e em implantação pelo Governo Federal. Figura 1 - Mapa de distribuição dos bancos de alimentos implantados e em implantação pelo Governo Federal Fonte: MDS 14 Sumários Executivos. Nova Série
O critério usado pelo MDS não incorpora como fator de priorização a vulnerabilidade alimentar da população alvo nem o Índice de Desenvolvimento Humano - IDH dos municípios apoiados, que vem sendo usado em outros programas de governo para direcionar investimentos sociais. Dos 25 municípios beneficiados, apenas dois possuem IDH inferior à média brasileira, estimada em 0,766. A Região Sudeste concentrou 76% dos convênios celebrados pelo Programa, mas detém 51% dos municípios com mais de 100 mil habitantes. A Região Nordeste, na qual localizam-se 20% dos municípios com população acima de 100 mil habitantes, foi contemplada com 12% das descentralizações. Verifica-se assim, desproporção na celebração de convênios, segundo o critério declarado do Programa. Os motivos da concentração verificada em São Paulo estão relacionados à insuficiência de critérios para escolha dos municípios a serem contemplados com repasse de recursos, bem como da ausência de mecanismos de fomento por parte do MDS junto àqueles que poderiam ser definidos como prioritários. A celebração de convênios ocorre por demanda espontânea das prefeituras, desde que cumpridas as exigências da legislação. Sendo assim, aquelas mais organizadas administrativamente e com melhor conhecimento do Programa, por razões históricas e de proximidade com experiências locais, tendem a se beneficiar do Programa. Verificou-se que a falta de capacitação das equipes técnicas é um fator que impacta negativamente na implantação, operacionalização e gestão dos bancos de alimentos. Embora tenham sido celebrados 25 convênios para implantação/ampliação, os recursos previstos na ação de capacitação somente foram empenhados em dezembro de 2004. Constatou-se deficiência na avaliação das entidades assistidas sob o ponto de vista da correta manipulação dos alimentos doados e da necessidade de aporte de alimentos. Cerca de 75% das entidades pesquisadas Avaliação do Programa Banco de Alimentos 15
responderam que raramente ou nunca receberam visita dos assistentes sociais dos bancos. Com relação ao nutricionista, o padrão de resposta foi de 66,3%. Em geral, a equipe técnica visita a entidade apenas uma vez, para cadastrá-la. Os critérios usados pelos bancos de alimentos para seleção das entidades não prevêem tratamento prioritário àquelas mais carentes, sob o ponto de vista de sua capacidade financeira. Na maioria dos bancos apoiados pelo programa, o critério básico para atendimento às entidades é que ela esteja cadastrada no Conselho Municipal de Assistência Social. Não se verifica se a entidade conta com recursos municipais ou de fontes privadas. Diversos estudos acadêmicos demonstram que a grande maioria dos pobres é composta por negros e mulheres. No entanto, as entidades assistidas não mantêm cadastro com informações de cor/etnia, o que dificulta analisar se a composição de cor dos beneficiários guarda relação com o perfil da população alvo a ser atendida. Dessa forma, considera-se importante inserir, no planejamento do Programa, discussões sobre gênero e cor/etnia e sobre critérios para atendimento das entidades beneficiárias. Alguns bancos de alimentos vêm trabalhando quase que exclusivamente com captação de doação não oriunda de desperdício. Essa situação é um desvirtuamento de um dos objetivos do Programa que se constitui na redução do desperdício. O risco de que esse padrão de funcionamento se constitua em prática é de que o programa transforme-se em um sistema de distribuição de cestas básicas, a exemplo de outros já existentes. Não se pretende afirmar que seja negativa a captação de alimentos a partir de campanhas de mobilização para solidariedade. O que se deve considerar é a necessidade de que haja comprometimento dos bancos de alimentos em conscientizar potenciais doadores para a incoerência do desperdício ocorrido nesses setores frente ao número expressivo de pessoas em situação de insegurança alimentar. A Figura 2 16 Sumários Executivos. Nova Série
apresenta o total mensal de desperdício gerado nas treze centrais de abastecimento que responderam ao questionário enviado. Figura 2 Estimativa de desperdício gerado nos entrepostos em toneladas/mês Fonte: Questionários enviados pela equipe de auditoria. Deve-se esclarecer que 53% dos alimentos desperdiçados poderiam destinar-se a consumo humano. Com os dados informados pode-se concluir que 15% do desperdício gerado nos entrepostos respondentes é passível de aproveitamento e desse total apenas 32% está sendo doado a bancos de alimentos ou diretamente às entidades. Instrumentos de acompanhamento, monitoramento e avaliação O Programa Banco de Alimentos foi concebido em 2003 já prevendo em seu manual de implantação procedimentos específicos para acompanhamento, avaliação e monitoramento. Todavia, tais procedimentos não estão sendo executados, pois não foram pactuados nos convênios, dificultando a captação de informações hábeis e tempestivas capazes de aperfeiçoá-lo continuamente. Avaliação do Programa Banco de Alimentos 17
Faz-se necessária a coleta de dados sobre desempenho e, para tanto, é preciso desenvolver e distribuir aos bancos de alimentos públicos sistema informatizado de gerenciamento, que padronize e permita o envio ao MDS das informações necessárias para monitorar o Programa. A gerência do Programa enfrenta dificuldades para a realização das visitas técnicas para verificação da correta implementação do projeto conforme preceitua o Manual de Implantação dos Bancos, devido à escassez de recursos humanos e financeiros. Boas práticas Um dos objetivos das auditorias de natureza operacional é identificar boas práticas que possam ser disseminadas entre os gestores do programa auditado e entre gestores de outros programas federais. Identificaram-se boas práticas que podem contribuir para a melhoria do desempenho do Programa Banco de Alimentos. Entre elas, destacam-se: convênios com universidades para encaminhamento de estudantes de nutrição para realização do estágio obrigatório junto às entidades atendidas pelos bancos e sob supervisão da nutricionista do banco (Banco Municipal de Belo Horizonte/MG e Banco de Alimentos do Rio Grande do Sul); utilização de critério para atendimento que contempla a carência financeira da entidade (Banco Municipal de Belo Horizonte/MG); critério estabelecendo prazo de quatro meses para permanência das famílias no Programa, bem como previsão de reavaliação por assistente social para reingresso (Banco Municipal de Embu/SP); focalização em grupos socialmente vulneráveis, como quilombolas e mulheres vítimas de violência (Banco de Alimentos da Cidade de São Paulo/SP). 18 Sumários Executivos. Nova Série
O QUE PODE SER FEITO PARA MELHORAR O DESEMPENHO DO PROGRAMA Com o intuito de contribuir para a melhoria do desempenho do Programa Banco de Alimentos formularam-se recomendações à Secretaria de Segurança Alimentar, à Secretaria de Assistência Social e ao Ministério do Desenvolvimento Social, dentre as quais destacam-se: previsão de existência de conselho gestor paritário na estrutura administrativa dos bancos; envio aos conselhos gestores de material informativo sobre os objetivos, modo de atuação e boas práticas verificadas em bancos de alimentos; construção de sistema informatizado de gerenciamento para os bancos públicos de alimentos que possibilite a uniformização de informações sobre doadores, doações e instituições assistidas, contribuindo para a avaliação nacional do programa e da qualidade do gasto público federal em termos de eficácia e efetividade dos bancos apoiados; estabelecimento, nos planos de trabalho dos convênios celebrados, da elaboração de regimento interno com procedimentos mínimos de operação padronizados, com previsão de critérios para seleção de entidades, que considerem a carência material das entidades e a incorporação de discussão sobre superação de desigualdades de gênero e cor/etnia do público por elas atendido; elaboração de plano de implantação de bancos de alimentos em municípios prioritários; promoção de cursos e eventos voltados para capacitação das equipes técnicas dos municípios considerados prioritários a partir do Plano de Implantação a ser elaborado pelo Ministério, bem como a capacitação das equipes técnicas dos bancos de alimentos já instalados. BENEFÍCIOS DA IMPLEMENTAÇÃO DAS RECOMENDAÇÕES DO TCU PARA O PROGRAMA Espera-se que a implementação das recomendações e determinações resultantes da auditoria contribua para o alcance dos seguintes benefícios: melhor focalização do público alvo; introdução de discussão no Programa sobre questões de gênero e cor/etnia; estabelecimento de padrões de Avaliação do Programa Banco de Alimentos 19
qualidade para a atuação dos bancos; maior eqüidade na distribuição de bancos pelas diversas regiões do País; ampliação do controle social sobre as atividades dos bancos; melhoria da qualidade e diminuição do tempo de tramitação dos projetos apresentados pelas prefeituras; efetivo aproveitamento do desperdício gerado na localidade de atuação dos bancos; e melhoria no acompanhamento das entidades assistenciais beneficiadas. 20 Sumários Executivos. Nova Série
ACÓRDÃO Nº 651/2005 - TCU - PLENÁRIO 1. Processo TC-011.308/2004-6 c/ 01 volume 2. Grupo I Classe V Relatório de Auditoria Operacional 3. Responsáveis: Patrus Ananias de Souza (CPF n 174.864.406-87) Ministro de Estado de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, José Giácomo Baccarin (CPF n 019.834.758-82) Secretário de Segurança Alimentar e Nutricional e Fátima Regina Carneiro Cassanti (CPF n 152.680.518-90) Coordenadora Geral de Promoção de Programas de Alimentação e Nutrição 4. Unidade: Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MDS 5. Relator: Ministro Ubiratan Aguiar 6. Representante do Ministério Público: não atuou 7. Unidades Técnicas: SEPROG, 1ª SECEX, SECEX/PE, SECEX/GO e SECEX/RN 8. Advogado constituído nos autos: 9. Acórdão: VISTOS, relatados e discutidos estes autos que cuidam de Relatório de Auditoria Operacional realizada no Programa Banco de Alimentos, definido como uma das políticas locais do Programa Fome Zero, gerenciado no âmbito do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Avaliação do Programa Banco de Alimentos 21
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária, diante das razões expostas pelo Relator, em: 9.1. com fundamento no art. 250, inciso III, do Regimento Interno, recomendar ao Ministério Desenvolvimento Social e Combate à Fome que: 9.1.1. estabeleça grupo de contato de auditoria, com a participação de técnico da Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional, representante da Secretaria Federal de Controle Interno, da Secretaria Nacional de Assistência Social e do Departamento de Avaliação e Monitoramento da Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação do MDS, a fim de atuar como canal de comunicação com este Tribunal, acompanhar a implementação das recomendações desta Corte de Contas, a evolução dos indicadores de desempenho e o alcance das respectivas metas; 9.1.2. proveja a Coordenadoria Técnica do Programa Banco de Alimentos com recursos humanos e de informática que auxiliem o alcance das metas físicas fixadas no Plano Plurianual tempestivamente, priorizando as atividades desenvolvidas na etapa de celebração dos convênios, de modo a conferir-lhes maior segurança e agilidade de execução; 9.2. com fulcro no art. 250, inciso II, do Regimento Interno, determinar à Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome que informe ao Tribunal, no prazo de 60 dias, acerca do plano de ação, contemplando o prazo de implementação dos indicadores de desempenho propostos no capítulo 6 do Relatório da equipe de auditoria, bem como dê notícia da adoção das medidas necessárias à implementação das demais recomendações ora encaminhadas, informando os setores responsáveis pela consecução dessas medidas; 22 Sumários Executivos. Nova Série
9.3. com fundamento no art. 250, inciso III, do Regimento Interno, recomendar à Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome que: 9.3.1. inclua, como orientação para a estruturação administrativa dos bancos de alimentos, a existência de conselho gestor paritário, composto por representantes do poder público, do empresariado e da sociedade civil, com caráter deliberativo, com vistas a conferir maior sustentabilidade aos bancos de alimentos implantados, mediante maior participação e apoio social; 9.3.2. proponha ao Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional a inclusão do tema Banco de Alimentos na sua pauta de discussão para formulação das diretrizes da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional; 9.3.3. envie aos conselhos de segurança alimentar em funcionamento no país material informativo sobre os objetivos, modo de atuação e boas práticas verificadas em bancos de alimentos, para dotar esses conselhos de maior conhecimento sobre a atividade a ser fiscalizada; 9.3.4. integre esforços com o Mesa Brasil Sesc, nos termos do Protocolo de Intenções de 24/02/03, na implementação de bancos de alimentos, de modo a evitar a duplicidade de esforços e sobreposição de atendimentos; 9.3.5. exija do proponente dos convênios a ser celebrados a análise da base potencial de empresas doadoras de alimentos e de entidades a serem beneficiadas, bem como da potencialidade da ação voluntária, quando já existir banco de alimentos ou colheita urbana no município ou região vizinha; 9.3.6. exija como um dos itens dos planos de trabalho dos convênios a elaboração de regimento interno, ou a inclusão nos que já existem, de Avaliação do Programa Banco de Alimentos 23
procedimentos mínimos de operação padronizados, respeitando as peculiaridades de cada banco a ser implantado, bem como a previsão de critérios para seleção de entidades que levem em consideração sua carência material e a incorporação de discussão sobre superação de desigualdades de gênero e cor/etnia do público por elas atendido; 9.3.7. estimule o debate social sobre o Projeto de Lei n.º 4.747/98, conhecido como Estatuto do Bom Samaritano, que se encontra em discussão no Congresso Nacional, por intermédio, por exemplo, da promoção de eventos dos quais participem especialistas e parlamentares, como forma de encontrar alternativas que fomentem a doação de alimentos; 9.3.8. faça constar do Manual do Programa esclarecimento quanto à importância de fortalecer o controle social para a sustentabilidade dos bancos de alimentos e como mecanismo local de monitoramento e fiscalização das atividades dos bancos; 9.3.9. oriente os bancos de alimentos sobre a possibilidade de firmar parcerias com universidades públicas ou particulares para viabilizar a assistência supervisionada de estagiários de nutrição às entidades atendidas; 9.3.10. leve em consideração para a celebração de convênio, além do critério populacional, critérios, como o índice de desenvolvimento humano, que favoreçam áreas prioritárias para o combate à fome e ao desperdício; 9.3.11. divulgue o programa para os municípios com mais de 100 mil habitantes e identifique municípios prioritários para implantação do Programa, elaborando, em seguida, plano de implantação de bancos de alimentos nas diversas regiões do País, que preveja apoio a municípios prioritários para a superação de dificuldades técnicas e administrativas, em favor do maior benefício social do Programa; 24 Sumários Executivos. Nova Série
9.3.12. promova cursos e eventos de capacitação para a operação e gestão de bancos de alimentos para equipes técnicas dos municípios considerados prioritários, a partir do plano de implantação a ser elaborado pelo Ministério, bem como promova a capacitação das equipes técnicas dos banco de alimentos já instalados; 9.3.13. divulgue para os potenciais doadores, como federações de indústrias e associações de supermercados, os resultados dos trabalhos realizados pelos bancos e seu papel no combate à fome e ao desperdício, com o objetivo de incentivar as doações e fomentar maior apoio social aos bancos; 9.3.14. esclareça os bancos de alimentos apoiados com recursos do programa sobre seu papel no combate ao desperdício, descrevendo boas práticas na captação de alimentos, principalmente de frutas, legumes e verduras, e, com relação aos convênios a serem firmados, exija que figure no regimento interno dos bancos a obrigatoriedade de sua atuação como equipamento público voltado para o combate à fome e para a redução do desperdício; 9.3.15. desenvolva, em conjunto com a SAGI, e distribua aos bancos de alimentos públicos, um sistema informatizado de gerenciamento, que padronize e permita o envio ao MDS das informações necessárias para monitorar o Programa e possibilite à Secretaria o processamento dessas informações, com a finalidade de propiciar informações tempestivas para tomada de decisão e para o contínuo processo de aperfeiçoamento; 9.3.16. insira nas cláusulas de convênios para instalação ou ampliação de bancos de alimentos a obrigação de, durante sua vigência, os convenentes enviarem relatórios com os indicadores operacionais e de desempenho de suas atividades, e exija que os bancos a serem apoiados incluam em seus regimentos internos a obrigação de fornecer dados de desempenho para o MDS, quando solicitado, para que o Ministério tenha condições de acompanhar a execução das atividades dos bancos, apoiando-os quando necessário e aferindo os efeitos sociais da aplicação dos recursos repassados pela União; Avaliação do Programa Banco de Alimentos 25