Código de Ética Local



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Transcrição:

Código de Ética de Montanhismo e Escalada de Santa Bárbara do Tugúrio - MG Comitê de Ética em Montanhismo e Escalada (CEME) VertClimb Barbacena, Fevereiro de 2010 Integrantes: Eurico P. César, Adilson S. Miranda, Mary Lopes e Wagner Vicentino Código de Ética Local O presente documento foi criado no intuito de criar diretrizes e normas para um controle sustentável e um melhor manejo da prática e utilização das vias de escalada e trilhas que se encontram no município de Santa Bárbara do Tugúrio MG, nos locais conhecidos como Biquinha, Aranha, Monte Olimpo e Jardim. Parte dele se baseia no código brasileiro de ética em escalada e no Mountain Ethics Declaration da UIAA em 2009 e parte foi criado para se adequar às características e peculiaridades locais. O objetivo é proporcionar uma prática saudável do esporte sem que haja agressões ao meio ambiente, e ainda garantir que as características do local e do estilo das vias sejam mantidas, gerando o menor impacto possível ao local. O documento se divide em diretrizes básicas sobre a ética da escalada local e a política de abertura de novas vias e/ou manutenção de vias já existentes. 1. Ética Ambiental Local 1.1. Trilhas e caminhada de aproximação Respeitar e ser cordial com a comunidade local Se deslocar em pequenos grupos (~ 10 pessoas) Andar em fila indiana Não abrir novas trilhas Evitar caminhar sobre o solo molhado (evitar erosão) Manter baixo o nível de ruído (sem gritaria, etc) Evitar mudar pedras e galhos de lugar Não depredar o local (arrancar flores, árvores, pedras, etc) Evitar abusar das frutas (bananas) do local. Consuma com moderação Será Tarefa do CEME divulgar o Código de Ética aos escaladores, tanto via lista de contatos eletrônicos quanto no site da VertClimb e fazer sua veiculação à comunidade escaladora local para que haja conhecimento em massa de tal documento e procedimentos. Será incumbido ao CEME analisar e sugerir pontos onde devam existir placas informativas, tanto em relação às áreas de escalada, como quanto ao manejo de trilhas, sinalização de vias que possam estar interditadas

tanto por motivos ambientais (vegetação endêmica, ninhos, etc) quanto por irregularidades das mesmas como vias com agarras artificiais, vias que agridam a integridade ou espaço físico de outras vias ou vias com proteções perigosas ou irregulares, com abelhas ou qualquer outro tipo de situação que ofereça perigo eminente aos seus frequentadores. 1.2. Lixo e resíduos Não jogar lixo no local Levar de volta todo lixo produzido Não fazer as necessidades fisiológicas na trilha ou próximo às áreas de escalada Enterrar os resíduos e papel higiênico Certificar-se de que não há córrego, mina d água ou nascente perto do local onde realizar as necessidades fisiológicas 1.3. Camping Só realizar camping na área já destinada à isso (base da via Orgasmatrom no setor Rock n Roll) Evitar criar novas áreas de camping Sempre que possível, faça bivaque Só utilizar fogueira no local já destinado para isso, na área de camping Não quebrar árvores para obter lenha; utilize galhos secos e caídos Certifique-se de apagar totalmente o fogo, cobrindo as cinzas com terra 2. Ética da Escalada Local 2.1. Estilo A escalada em Santa Bárbara do Tugúrio tem predominância do estilo livre, com proteções fixas (grampos e chapeletas) e pouca possibilidade de proteções móveis confiáveis. A maioria das vias é atlética, com altura variando entre 20 m a 80 m. Deve-se prestar atenção às seguintes normas: É proibido cavar agarras (deixa-las maiores ou mais profundas) É proibido fabricar agarras (criar novas agarras fazendo furos ou fendas na rocha) É proibido o uso de agarras artificiais (agarras de resina ou rocha parafusadas)

2.2. Graduação e Cadena Em Santa Bárbara do Tugúrio utiliza-se o seguinte padrão de graduação: Para vias com mais de 60 m, utiliza-se o grau geral da via em números arábicos e o grau do Crux em números romanos (Ex. 5 sup, VII C) Do terceiro ao sexto grau, utiliza-se a variação sup, e do sétimo grau em diante utilizam-se as variações A, B e C Não utilizamos o grau de exposição nas vias de Santa Barbara do Tugúrio A cadena das vias segue o seguinte padrão: Só são consideradas encadenadas as vias escaladas guiadas; vias feitas em top rope não são consideradas encadenadas O grau da via com maior peso é dado pelo escalador que a encadenou à vista (onsight) seguido pela cadena à vista com algum conhecimento prévio da via (flash onsight) Vias encadenadas com duas ou mais tentativas terão o grau sugerido O grau sugerido das vias encadenadas em red point (sacando as costuras) terão mais peso do que o das vias encadenadas de pink point (costuras já passadas) 2.3. Ética durante a Escalada Escaladores devem saber que praticam uma atividade/esporte em que existe risco de acidentes e que o socorro muitas vezes é demorado e de difícil acesso. Devem estar cientes de que se envolvem nesse tipo de atividade por sua própria vontade e que eles são os únicos responsáveis por sua segurança. Ações individuais não devem colocar em risco aqueles à sua volta e nem danificar o meio ambiente Evitar utilização excessivas de magnésio para marcar agarras e facilitar a escalada e a leitura da via As vias tem em sua maioria o estilo livre e, portanto, devem ser escaladas em livre e não em artificial Não arrancar vegetação ou pedras que possam estar presentes no decorrer das vias Avisar sobre ninhos de pássaros em vias para que essas possam ser provisoriamente interditadas Evitar descansos naturais que não façam parte da linha da via

2.4. Ética de Conquista e Manutenção de Vias Qualquer novo projeto de via deverá ser previamente consultado junto aos pioneiros do local (Eurico, Adilson, Mary e Wagner) Deve-se manter o estilo de mínimo impacto, evitando colocar proteções desnecessárias em lances tecnicamente fáceis; não mate um lance esticado Deve-se, sempre que possível, evitar proteções muito próximas, salvo extrema necessidade É Proibido o uso de furadeiras. As conquistas devem ser feitas com punho e marreta Toda via deve ser conquistada (de baixo para cima) e não equipada (de cima para baixo), salvo quando lances esticados foram feitos na conquista com pretensão de se colocar proteções intermediárias depois É proibido a criação de vias variantes (utilizar proteções de uma via já existente para criar uma nova linha) Deve-se respeitar a distância mínima de 3 a 4 m das proteções de uma via para outra via a seu lado Qualquer sugestão de alteração em um via existente deve ser consultada previamente com seu conquistador, ficando a critério dele acatar ou não a sugestão Só será considerado conquistador de uma via caso tenha colocado ao menos 30% das proteções da via Em locais onde existam fendas ou possibilidade de utilização de proteções móveis seguras, essas devem ser utilizadas e não as proteções fixas Toda conquista iniciada terá um prazo mínimo para ser concluída (1 a 3 anos) a fim de se evitar o grande número de vias inacabadas, com 2 ou 3 grampos que ficam perdidos anos e anos, sem o prosseguimento da mesma. Vencido esse prazo, o conquistador será alertado, relembrado e incentivado a dar continuidade ao projeto ou orientado a ceder a vez para algum conquistador que esteja interessado em retomar a conquista. Será levado em consideração o local da conquista, facilidade de acesso e logística da conquista assim como o interesse de outros conquistadores pelo projeto para se determinar o tempo mínimo para conclusão da via. Será fortemente desencorajado pelo CEME que um conquistador inicie um outro projeto de via em algum local onde, no mesmo, já exista uma via inacabada desse mesmo escalador. Será responsabilidade do CEME, amparado pela VertClimb, advertir formalmente, através de uma advertência por escrito, com assinatura dos membros do CEME, o comportamento inadequado de escaladores ou montanhistas, tanto no que se refere à procedimentos de conquistas, abertura de novas trilhas, degradação ambiental (remover pedras, blocos, cortar árvores ou arbustos, depredação) quanto à postura frente aos escaladores e aos membros da comunidade local da área de escalada, sendo o mesmo advertido formalmente com uma carta assinada pelos membros do CEME e pelos indivíduos que foram lesados pelo escalador, podendo ocorrer processos legais previstos por lei, dependendo da

gravidade do delito. O escalador envolvido será orientado a sanar o dano causado, seja com reflorestamento, reparo de danos e até mesmo ressarcimento financeiro aos prejudicados. Deverá ser comunicada ao CEME a necessidade de renovação ou revisão de pontos de proteção em vias locais. Será enviado um membro do CEME para averiguar a necessidade de tal procedimento e, somente após consenso entre o CEME, o conquistador da via será informado sobre a necessidade de tal procedimento. Se o procedimento for acatado pelo conquistador, caberá ao CEME fornecer o material (grampos, chapeletas, etc) assim como auxiliar no processo de re-grampeação ou análise de novos pontos de proteção. 3. Considerações Finais O presente código de ética tem a proposta de orientar os escaladores que frequentarem os setores supra citados quanto aos procedimentos a serem adotados no local e evitar possíveis condutas que não sejam bem vindas, a fim de respeitar às características locais e ao estilo implantado pelos escaladores pioneiros na região. Novas propostas devem ser apresentadas formalmente e discutidas entre os membros da VertClimb e os escaladores proponentes a fim de viabilizá-los ou não. Ressalta-se que, nos setores supra citados, prioriza-se que a escalada em rocha seja o mais limpa possível, dentro dos preceitos de segurança mínima necessária, e que o local trata-se potencialmente de um campo escola para conquistas que visam a evolução técnica e psicológica do escalador, possibilitando que o mesmo possa vivenciar técnicas e possibilidades para a abertura de novas vias. Tais condutas são encorajadas para que o capo escola de Santa Barbara do Tugúrio possa sobreviver às depredações comuns à massificação do esporte e ao mesmo tempo sirva de local de prática auto sustentável e ponto para encontro e troca de vivência e de informações de escaladores de várias partes da região.