PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL



Documentos relacionados
Primeira Guerra Mundial

Primeira Guerra Mundial [Questões]

Fatores que contribuíram para a eclosão do conflito: 1. Concorrência econômica (choque de imperialismos):

Anuário Estatístico de Turismo

Aula 11 História 4B OS IMPERIALISMOS I

ROTEIRO DE RECUPERAÇÃO DE HISTÓRIA

TAXA DE OCUPAÇÃO HOTELEIRA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Com base na leitura dos textos I e II, o que se pede. A) EXPLIQUE o papel dos jovens nos dois momentos da história daquele país.

Ordem geopolítica e econômica

Período Joanino Quando o Brasil virou capital do Império Português

MATERIAL DE APOIO História 8ª Série

Ano lectivo de 2009/2010 Geografia 7ºano. A União Europeia

EXAME HISTÓRIA A 1ª FASE 2011 página 1/7

Política Externa do Brasil

A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL COLÉGIO PEDRO II PROFESSOR: ERIC ASSIS

TRATADO DE LISBOA EM POUCAS PALAVRAS MNE DGAE

PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL ( ) PROF. RICARDO SCHMITZ

AULA DE HISTÓRIA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL. El Sal /02/2014

Taxa de Ocupação (em %)

A Política Externa Norte-Americana na Segunda Guerra Mundial

O navio de guerra americano que está dando dor de cabeça à China

OBJETIVO º ANO E.M. MÓDULO 23 A GEOPOLÍTICA NA AMÉRICA CENTRAL

GEOGRAFIA - 3 o ANO MÓDULO 52 MERCOSUL: UMA TENTATIVA DE INTEGRAÇÃO

Imperialismo. Evandro Albuquerque de Andrade

Prof. Bosco Torres CE_16_União_Europeia 1

Professor: Eustáquio.

Primeira Guerra Mundial

HISTÓRIA - 2 o ANO MÓDULO 46 DESCOLONIZAÇÃO: ANTECEDENTES

Prof. Gabriel Rocha Sede: EBS. Percurso 13 EUA: formação e expansionismo territorial

Migrações - Mobilidade Espacial. Externas, internas, causas e consequências.

Geopolítica atual: um mundo em construção. Professora: Jordana Costa

15 anos do Ministério da Defesa. Marinha do Brasil em transformação

O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO BRASIL BRASIL REINO UNIDO 1815 BRASIL É ELEVADO A REINO UNIDO A PORTUGAL

COLÉGIO XIX DE MARÇO excelência em educação


INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA ESPANHOLA

Internacionalização de empresas Por que, Quem, Para onde, Quando, Como, Que?

9º ano Colégio Ser! Prof.ª Marilia C. Camillo PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

CURSO FORMAÇÃO CIDADÃ DEMOCRACIA REPRESENTATIVA. Victor Barau

O MOVIMENTO ESPORTIVO INGLÊS

Associativismo Social

Guerra com porta-aviões: novo nível ou fim do jogo?

Conferência FAUBAI 2016 reúne mais de 560 participantes para discutir internacionalização da educação superior

Ensino e pesquisa sobre temas de Defesa no Brasil. Profa. Dra. Adriana A. Marques

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL ( )

A COBRA VAI FUMAR : A PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Informações Ultrassecretas Desclassificadas pelas CPADs Ano de Produção: 1984

A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL ( )

2.2 - Acordos Comerciais Bilaterais

2-A expansão capitalista no século XIX ficou conhecida como imperialismo, e o domínio

Rastreamento das Pistolas Glock Apreendidas com o Crime no Rio de Janeiro entre 1998 e 2003

GRUPO I POPULAÇÃO E POVOAMENTO. Nome N. o Turma Avaliação. 1. Indica, para cada período histórico, o fluxo migratório que lhe corresponde.

A situação na região, na época, era muito precária. Havia fome, seca constante, a miséria e a violência afetava a região. A situação, somada com a

TÍTULO DO PROGRAMA. Palestina Parte 1 SINOPSE DO PROGRAMA

Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre Brasil University of New South Wales Sydney Austrália Universidade do Povo Macau - China

RELAÇÃO DOS CONTEÚDOS DE MATEMÁTICA - 8ª SÉRIE 1º E 2º TRIMESTRE

A Nação é uma sociedade política e o autor do nosso livro-texto, em sua doutrina, dispõe que a Nação se compõe de dois elementos essenciais:

Administração Teoria Geral da Administração Aula II

Protocolo sobre as preocupações do povo irlandês a respeito do Tratado de Lisboa

PARTICIPAÇÃO DO PORTO DE SANTOS SOBE PARA 30,8% NA BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA

Texto do Tratado. Acordo sobre Transportes Marítimos entre o Governo da República Federativa do Brasil e o

O surgimento da sociedade de massas. O crescimento populacional

Operários ameaçados pelo desemprego, com fracas condições de vida, salários baixos e horários pesados

Noções de Economia Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata

Reino Unido divulga Malvinas a brasileiros

Sistema de Aviação Civil Internacional

Não ã col o ilg i a g m a o m s o Es E ta t d a o d s o,, un u i n m i o m s o ho h m o e m n e s n ".. Jean Monnet

Financiamento para descentralização produtiva com inclusão social

Confucionismo As oito virtudes. Respeito aos outros Tolerância Perdão Fidelidade Devoção Confiança Dever Culto aos antepassados.

Relatório Estatístico de Pedidos de Cooperação

Independência da América Espanhola

IMPERIALISMO E NEOCOLONIALISMO NO SÉCULO XIX. MARCOS ROBERTO

Este caderno, com oito páginas numeradas sequencialmente, contém cinco questões de Geografia. Não abra o caderno antes de receber autorização.

REGIONALIZAÇÕES MUNDIAIS

Antecedentes da Primeira Guerra Mundial

ECONOMIA EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO. Prof. Thiago Gomes. Economia EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO 1. CONTEXTUALIZAÇÃO

1 Guerra Mundial e seus antecedentes. Professor Leopoldo UP

COM O GRITO DO IPIRANGA, ENCERROU-SE O PERÍODO COLONIAL, INICIANDO O BRASIL IMPÉRIO

1ª GUERRA MUNDIAL

Conteúdo para recuperação do I Semestre

Conferências, Protocolos e Acordos Ambientais. Prof.: Robert Oliveira Cabral

Rússia entre os líderes na exportação de armamentos

Defesa realiza seminário sobre o emprego das Forças Armadas na segurança dos Jogos Rio 2016

COM O GRITO DO IPIRANGA, ENCERROU-SE O PERÍODO COLONIAL, INICIANDO O BRASIL IMPÉRIO

Boletim nº VIII, Agosto de 2012 Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná Ocepar, Curitiba. agroexportações

7 Crises, embates ideológicos e mutações culturais na primeira metade do séc. XX

Segunda Revolução Industrial e o Fordismo

Manual relativo a Viagem de Menores Brasileiros ao Exterior

UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP CAMPUS JUNDIAÍ ADMINISTRAÇÃO CURSOS SUPERIORES TRADICIONAIS MERCANTILISMO E LIBERALISMO

DIDÁTICOS Aula expositiva, debate, leitura de texto; Quadro e giz, livro didático, ilustrações;

TUTORIAL 10R. Data: Aluno (a): Equipe de História HISTÓRIA. Colégio A. LIESSIN Scholem Aleichem NANDA/AGO/

Sugestão de Atividades História 9º ano Unidade 6

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

SITUAÇÃO MUNDIAL DA VITIVINICULTURA

REVOLUÇÃO RUSSA.

Apresentação. Capítulo 1. Capítulo 2. Capítulo 3. Capítulo 4. Capítulo 5. Capítulo 6. Capítulo 7

A Política Externa Brasileira: uma análise comparada do primeiro Governo Lula, com a Política Externa Independente e o Pragmatismo Responsável

GUERRA FRIA

Objetivos. Ciências Sociais. Século XIX: Configuração sócio-histórica de América Latina (I) Prof. Paulo Barrera Agosto 2012

1 Guerra Mundial e seus antecedentes

Transcrição:

PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL A Grande Guerra ou Primeira Guerra Mundial começou em agosto de 1914 e terminou em novembro de 1918. Tal evento dramático aglutinou, inicialmente, as forças aliadas da chamada Tríplice Entente, composta pelo reino da Grã-Bretanha, os impérios da Rússia e do Japão e a República da França, contra as forças da Tríplice Aliança, composta pelos impérios centrais da Alemanha e da Áustria Hungria, o império Turco-Otomano e o reino da Itália. No desenrolar do conflito, ambos os lados sofreram alterações em sua composição: a própria Itália entrou efetivamente na guerra ao lado da Tríplice Entente e não da Tríplice Aliança, e o Império Russo retirou-se da guerra em 1917 devido a graves problemas internos, ocupando seu lugar na Entente os Estados Unidos. A princípio neutro diante do conflito, o Brasil revogou a neutralidade em favor da França, Rússia, Grã- Bretanha, Japão, Portugal e Itália em junho de 1917, reconheceu o estado de guerra em novembro seguinte e enviou uma Divisão Naval em Operações de Guerra em maio de 1918. DA NEUTRALIDADE À PARTICIPAÇÃO As preocupações com uma guerra generalizada na Europa mostraram-se frequentes já no final do século XIX. Um sinal da iminência da guerra foi a corrida armamentista que se acelerou no início do século XX, conduzida em grande medida pela situação internacional que lançou as nações em uma acirrada competição. A Europa dividiu-se gradualmente em dois blocos, derivados do surgimento no cenário europeu de um Império Alemão unificado, através de alianças e contra-alianças. Tais blocos, fortalecidos por planos de estratégia e mobilização, tornaram-se mais rígidos, arrastando todo o continente europeu para a guerra através de uma série de crises internacionais. A crise final veio em 1914, com o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando da Áustria quando se encontrava em visita a Sarajevo. Quando eclodiu a guerra na Europa, o Brasil matinha relações bastante cordiais com os principais países beligerantes, como a Alemanha, que era seu principal parceiro comercial, seguida pela Inglaterra e depois França. Outro setor onde se fazia notar a influência alemã era o militar. Desde a ascensão do marechal Hermes da Fonseca ao Ministério da Guerra em 1906, o Exército brasileiro seria profundamente influenciado pela organização militar

alemã, com o envio inclusive de jovens oficiais para servirem no Exercito alemão, considerado o mais bem organizado da época. Deflagrado o conflito, o governo brasileiro adotou a completa neutralidade, fixando regras para sua observação. Ao optar pela neutralidade, o Brasil sofreu com uma série de restrições comerciais impostas pelos países beligerantes aos países neutros. Um exemplo de tal ação foi a imposição pelos países aliados da statutory list, ou lista negra, uma relação de empresas em países neutros com as quais estava proibido o comércio por manterem relação com a Alemanha. A aplicação da lista negra provocou violentos protestos contra a Inglaterra, pois as consequências foram desastrosas para a economia brasileira. Tais protestos, dirigidos ao Itamaraty ou diretamente ao presidente da República, vinham principalmente de associações comercias que contavam com capitais alemães, como por exemplo firmas exportadoras de café, que foram incluídas na lista negra e exigiam a interferência constante do Itamaraty junto aos cônsules ingleses. A dificuldade de comércio com a Europa abriu amplas oportunidades para a entrada de produtos norte-americanos, possibilitando o crescimento dos Estados Unidos como principal parceiro econômico das nações latino-americanas, especialmente do Brasil. Outra implicação da guerra que afetou negativamente a economia brasileira do período foi a crise dos transportes marítimos, devido à falta crescente de navios de comércio e aos riscos da navegação para o exterior, o que dificultou ainda mais a exportação do café, limitando seus mercados consumidores. O posicionamento do Brasil no conflito mundial, além de problemas comerciais, suscitou um intenso debate que dividiu a opinião de intelectuais e políticos entre aliadófilos, neutrais e germanófilos. Eram evidentes, todavia, as simpatias pelos Aliados. A própria invasão da Bélgica pelos alemães em agosto de 1914, logo no início da guerra, provocou uma moção apresentada à Câmara dos Deputados pelo parlamentar Irineu Machado na qual o Brasil se colocava contrário à ação alemã, por tratar-se de clara violação de tratados e desconsideração das leis internacionais. A fundação, no ano seguinte, da Liga Brasileira pelos Aliados marcou claramente a preferência pela causa das nações da Entente. Para presidente da entidade foi escolhido Rui Barbosa, e para vice, o ensaísta e crítico literário José Veríssimo. Também integravam a Liga Graça Aranha, Barbosa Lima, Olavo Bilac e Manuel Bonfim. Entre os simpatizantes dos impérios centrais, a voz mais ativa era do deputado Dunshee de Abranches, que, quando do início do conflito, ocupava o posto de presidente da Comissão

de Diplomacia da Câmara. Na visão de Abranches, a origem do conflito era puramente comercial e econômica, e tinha como objetivo a destruição da prosperidade nacional da Alemanha. Abranches criticou a ingenuidade dos aliadófilos que acreditavam no discurso inglês de defesa da civilização contra a barbárie, considerando fruto da propaganda britânica as denúncias de violências praticadas nas invasões alemãs à Bélgica e França. Tal postura acabou levando à sua renúncia à posição de presidente da Comissão de Diplomacia. Quanto aos que defendiam uma posição neutra, seu principal argumento residia no fato de que a posição aliadófila significava um alinhamento automático aos Estados Unidos, o que colocava o Brasil em uma posição de dependência em relação àquele país. A manutenção da neutralidade também foi defendida pela imprensa carioca no início do conflito, justificada pela tradição pacifista nacionalista, e contava com figuras de destaque na opinião pública, como Assis Chateaubriand, Vicente de Carvalho, Jackson de Figueiredo, Azevedo Amaral, Carlos Laet e Alberto Torres. À medida que o conflito se expandia pela Europa, propostas de alianças diplomáticas surgiram entre as nações americanas, como a idéia de um Tratado Pan-Americano, sugerida pelo presidente norte americano Woodrow Wilson com o objetivo de garantir a independência política e a integridade territorial de todos os países das Américas. Outra iniciativa foi a realização da Conferência Pan-Americana em Washington, com o objetivo de discutir uma reação hemisférica em caso de ameaça de ataques de submarinos alemães. As negociações diplomáticas não prosseguiram, e a realização da conferência em Washington tornou-se inviável com o decorrer da guerra; já o Tratado Pan-Americano enfrentou dificuldades, como o posicionamento do ministro brasileiro Lauro Müller, que defendia a continuidade da neutralidade brasileira, embora a opinião pública nacional se inclinasse à adesão às forças da Entente. Em janeiro de 1917, o quadro ficou mais complicado, quando o governo alemão resolveu declarar guerra submarina irrestrita com a finalidade de bloquear o comércio aliado. O governo brasileiro protestou, declarando não aceitar o bloqueio; já o governo norteamericano rompeu relações diplomáticas com a Alemanha. A ruptura de relações diplomáticas dos Estados Unidos foi seguida de um convite do presidente norte-americano Woodrow Wilson às nações neutras para que estas acompanhassem tal atitude e também rompessem relações com a Alemanha. O Brasil não aceitou o convite, e por isso enfrentou severas críticas da imprensa brasileira, que exigia a mudança de posição do país no conflito.

Alguns meses depois, os Estados Unidos declararam guerra à Alemanha, no mesmo momento em que o Brasil, após o torpedeamento do vapor brasileiro Paraná por submarinos alemães, decidiu romper relações diplomáticas e comerciais com a Alemanha, em 11 de abril de 1917. A ação brasileira incluiu também declarar sem efeito os exequatur de todos os funcionários consulares alemães. Após o afundamento do Paraná, o ministro Lauro Müller ficou em uma situação difícil. O rompimento de relações com a Alemanha não era suficiente, e crescia a pressão para a entrada do Brasil na guerra. A ascendência germânica do ministro e a oposição da opinião pública à sua atuação no ministério levaram à sua saída da pasta em 3 de maio de 1917. Dois dias após assumiu o ministério Nilo Peçanha, admirador do aliadófilo Rui Barbosa. A entrada do novo ministro foi decisiva para a mudança da posição brasileira, para a qual contribuiu também o torpedeamento dos vapores brasileiros Tijuca e Lapa por submarinos alemães. Após as agressões alemãs, o governo brasileiro pediu e obteve do Congresso autorização para declarar sem efeito o decreto que estabelecia a neutralidade brasileira na guerra dos Estados Unidos contra o Império Alemão e para utilizar os 46 navios mercantes alemães ancorados em portos nacionais. O posicionamento ao lado dos Estados Unidos ficou claro, ressaltado na mensagem de Nilo Peçanha enviada em 2 de junho aos governos estrangeiros, justificando a revogação da neutralidade pelas práticas de solidariedade continental características da política externa brasileira. Também foram utilizadas como justificativa a Doutrina Monroe e a amizade tradicional com os Estados Unidos. A revogação da neutralidade em favor da França, Rússia, Grã-Bretanha, Japão, Portugal e Itália foi decretada ainda em junho de 1917 e apontou como justificava a reincidência de ataques de submarinos alemães a vapores brasileiros. O reconhecimento do estado de guerra com o Império Alemão se deu após o torpedeamento do vapor brasileiro Macau e do aprisionamento de seu comandante. A lei de guerra foi sancionada em 16 de novembro de 1917, e proibiu aos alemães no Brasil todo comércio com o exterior, bem como o transporte de carga inimiga em navios nacionais e a remessa de fundos para o exterior. Foram cassadas também as licenças para o funcionamento de companhias de seguro e bancos alemães. A entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial como nação beligerante colocou-o em um seleto grupo junto com os Estados Unidos e as repúblicas centro-americanas, uma

vez que Uruguai, Peru, Equador e Bolívia apenas romperam relações diplomáticas com a Alemanha, e Argentina, Chile, México, Venezuela e Paraguai mantiveram-se neutros. Já como nação beligerante, o Brasil participou da Conferência Interaliada em Paris, realizada de 30 de novembro a 3 de dezembro de 1917, tendo como representante Olinto de Magalhães, ministro plenipotenciário junto ao governo francês. Nesse momento, o governo brasileiro resolveu participar efetivamente do conflito, através do envio de forças de guerra. A participação brasileira na Primeira Guerra ao lado das forças aliadas consistiu no envio de uma divisão naval composta dos scouts Rio Grande do Sul e Bahia, dos destroyers Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Santa Catarina, e do transporte de guerra Belmonte. Sob o nome de Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG), e sob o comando geral do contra-almirante Pedro Max de Frontin, a divisão partiu com destino à Europa em 16 de maio de 1918. Outras providências tomadas pelo governo brasileiro foram o envio de nove oficiais aviadores da Marinha e do Exército para auxiliar nos combates aéreos, e de uma missão chefiada pelo deputado e médico Nabuco de Gouveia à França, composta de médicos-cirurgiões que, auxiliados por um corpo de estudantes e de soldados do Exército, constituíram o Hospital do Brasil para o tratamento de feridos de guerra. A instituição continuou prestando assistência aos feridos mesmo depois de encerrado o conflito. Após muitas dificuldades técnicas, a Divisão Naval brasileira chegou a Dacar, onde a guarnição brasileira foi vítima de uma epidemia de gripe espanhola. Apenas parte da esquadra conseguiu seguir viagem e chegar a seu destino, o porto de Gibraltar, um dia antes do armistício (11 de novembro de 1918) que encerrou a Primeira Guerra Mundial. Apesar de uma atuação inexpressiva militarmente, o Brasil foi o único país da América do Sul a participar do conflito, o que garantiu sua presença na Conferência de Paz, que seria realizada em 1919 em Versalhes, e na organização da Liga das Nações. Implicações importantes da Primeira Guerra Mundial no Brasil foram a consolidação da política externa brasileira voltada para os Estados Unidos e a desilusão com civilização Belle Époque que marcou o pós-guerra, anunciando o declínio da cultura europeia e a aurora do novo mundo representado pela América. Luciana Fagundes

FONTES: BARRETO, F. Sucessores; BUENO, C. Política; GARAMBONE, S. Primeira; VINHOSA, F. Brasil.