PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE FAUNA DA PCH SANTO ANTONIO DO CAIAPÓ



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Transcrição:

DA PCH SANTO ANTONIO DO CAIAPÓ RELATÓRIO 2013

LISTA DE FIGURAS Figura 1. Pontos amostrais utilizados durante o Programa de Monitoramento da Fauna fase pós-enchimento na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó. A = Ponto 1; B = Ponto 2; C = Ponto 3; D = Ponto 4; E = Ponto 5 e F = Ponto 6.... 12 Figura 2. Metodologia de busca ativa noturna através da inspeção de microhábitats e sítios reprodutivos, utilizada durante o Programa de Monitoramento da Fauna na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó.... 14 Figura 3. Armadilha de interceptação e queda utilizada para a amostragem de répteis e anfíbios.... 15 Figura 4. Metodologia utilizada para captura dos exemplares representantes da mastofauna de pequenos porte não voador. A = Armadilha de arame com desarme do tipo gancho Ponto; B = Armadilha Sherman; C = Preparo da isca ed = Soltura de exemplares coletados.... 17 Figura 5. Metodologias utilizadas para amostragem de mamíferos de médio e grande porte durante o Programa de Monitoramento da Fauna na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó. A = Montagem de câmeras fotográficas e B = Transectos... 18 Figura 6. Procedimentos adotados em campo:: A = Montagem das redes de neblina; B = Manejo dos morcegos capturados com redes de neblina; B = Anotações das medidas biométricas aferidas; D= Soltura no final de cada noite amostral.... 23 Figura 7. Procedimentos adotados em campo para coleta de exemplares da ornitofauna durante o Programa de Monitoramento da Fauna. A e B = Rede de neblina; C = Avistamento.... 25 Figura 8. Curva de dominância dos anfíbios registrados durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó realizada em outubro de 2013.... 27 Figura 9. Curva de dominância dos répteis registrados durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó realizada em outubro de 2013.... 32 2

Figura 10. Representatividade dos métodos de amostragens considerados durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó, realizada em agosto de 2013.... 33 Figura 11. Curva de acumulação de espécies observadas e esperadas (Jack 1) para a fauna de anfíbios e répteis durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó, realizada em outubro de 2013.... 34 Figura 12. Curva de acumulação de espécies observadas e estimadas (Jackknife 1) para a fauna de anfíbios e répteis registrada durante quatro campanhas de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó.... 35 Figura 13. Dendrograma da análise de agrupamento (Cluster Analysis) para os pontos amostrados durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó, realizada em outubro de 2013.... 40 Figura 14. Registro fotográfico de anfíbios e répteis registrados durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó.... 42 Figura 15. Curva do coletor comparativo com o registro de espécies durante os monitoramentos pré e pós-enchimento na área de influência da PCH Santo Antônio do Caiapó.... 43 Figura 16. Composição mastofaunística em relação às ordens de acordo com o número de espécies coletados durante a quarta campanha do Programa de Monitoramento da Fauna na área de influencia... 43 Figura 17. Composição mastofaunística em relação às famílias de acordo número de espécies coletados durante a quarta campanha do Programa de Monitoramento da Fauna na área de influencia... 44 Figura 18. Riqueza estimada de espécies de acordo com a campanha de monitoramento. As barras representam o intervalo de confiança de 95%.... 45 Figura 19. Índice de similaridade Bray-Curtis para assembléia de mastofauna coletados ao longo do Programa de Monitoramento da Fauna na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó..... 47 Figura 20. Registros da ordem Artiodactyla durante o Programa de Monitoramento da Fauna na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó. (A) rastro de Tayassu pecari 3

(queixada); (B) e (C) rastro e registro fotográfico de Mazama gouazoubira (veadocatingueiro).... 52 Figura 21. Rastros da ordem Carnivora encontrados nos transectos realizado durante o Programa de Monitoramento da Fauna, na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó.... 53 Figura 22. Registro de exemplares encontrados da ordem Cingulata encontrados durante o Programa de Monitoramento da Fauna na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó. A = Visualização direta da espécie Cabassous unicinctus (Tatu-de-rabo-molecomum; B = Rastro encontrado da espécie Dasypus novemcinctus (Tatu-galinha) e C = Toca da espécie Priodontes mximus (Tatu-canastra).... 54 Figura 23. Registros da ordem Didelphimorphia encontrados durante o Programa de Monitoramento da Fauna na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó.... 55 Figura 24. Vestígios da espécie Tapirus terrestris (anta) encontrados durante o Programa de Monitoramento da Fauna na área de influência da PCH Santo Antônio do Caiapó.... 56 Figura 25. Registro da espécie Cebus libidinosus (macaco-prego) durante o Programa de Monitoramento da Fauna ao longo da área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó.... 57 Figura 26. Registro da espécie Hydrochoerus hydrochaeris (Capivara) durante o Programa de Monitoramento da Fauna ao longo da área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó.... 57 Figura 27. Frequência das espécies capturadas nas quatro campanhas do Programa de Monitoramento na PCH Santo Antônio do Caiapó do Caiapó... 60 Figura 28. Espécies de morcegos capturadas durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó: A = Anoura caudifer; B = Artibeus planirostris; C = Carollia perspicillata =; D = Glossophaga soricina. E= Platyrrhinus lineatus... 60 Figura 29. Gráficos: A = Abundância e Riqueza; B = Índice de diversidade de Shannon- Wiener (H ) e sua respectiva equitabilidade (J ). Siglas: AJ = Ambiente Justafluvial; CE = Cerradão; CT = Cerrado Típico).... 63 Figura 30. Guildas Tróficas dos morcegos capturados na quarta campanha do Programa de Monitoramento dos quirópteros da PCH Santo Antônio do Caiapó.... 65 4

Figura 31. Curva de rarefação da riqueza observada, contrastada com o esforço amostral na PCH Santo Antônio do Caiapó. Simbologia: = desvio padrão (preto) e intervalo de confiança (vermelho).... 67 Figura 32. Síntese qualitativa e quantitativa das aves capturadas na quarta campanha do Programa de Monitoramento da Fauna na PCH Santo Antônio do Caiapó... 78 Figura 33. Índices de riqueza e de equitabilidade obtidas na quarta campanha do Programa de Monitoramento da Fauna na PCH Santo Antônio do Caiapó.... 80 Figura 34. Índices de similaridade de Cluster, a partir dos dados de presença e ausência, dos ambientes amostrados. Ambiente: PA- Pasto; MC- Mata Ciliar; MG- Mata de Galeria; ME- Mata Seca; CD- Cerrado Denso; CE- Cerrado Típico; e, AH- Hídrico... 81 Figura 35. Exemplares avistados de Arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) durante a quarta campanha do Programa de Monitormaento de Fauna na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó.... 83 Figura 36. A= Celeus flavescens (pica-pau-de-cabeça-amarela) B= Arremon taciturnus (ticotico-de-bico-preto) C= Eucometis penicillata (pipira-da-taoca D=... 84 Figura 37. Rastro da espécie Tapirus terrestris (Anta), da ordem Perissodactyla.... 86 Figura 38. Toca da espécie Priodontes maximus (tatu-canastra) da ordem Cingulata.... 86 5

LISTA DE TABELAS Tabela 1. Pontos amostrais para o Programa de Monitoramento da fauna terrestre no âmbito da PCH Santo Antônio do Caiapó, com suas respectivas localidades, coordenadas geográficas (Formato da posição UTM UPS / Datum do mapa Sth Amrcn 69)... 11 Tabela 2. Dados qualiquantitativos dos anfíbios registrados durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó, realizada em agosto de 2013.... 28 Tabela 3. Dados qualiquantitativos dos répteis registrados durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó, realizada outubro de 2013.... 30 Tabela 4. Qualitativo geral das espécies de anfíbios e répteis registradas ao longo das quatro amostragens nas áreas de influência da PCH Santo Antônio do Caiapó.... 36 Tabela 5. Abundância, riqueza, diversidade, equitabilidade e dominância entre os pontos amostrados durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó, realizada em outubro de 2013.... 39 Tabela 6. Dados de riqueza, abundância e diversidade em quatro campanhas realizadas na PCH Santo Antônio do Caiapó.... 46 Tabela 7. Índice de similaridade Bray-Curtis para a mastofauna coletada ao longo do Programa de Monitoramento da Fauna na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó... 46 Tabela 8. Mamíferos terrestres registrados de acordo com cada campanha de monitoramento realizada na área de Influência da PCH Santo Antônio do Caiapó.... 48 Tabela 9. Lista das espécies, abundância e respectiva guilda alimentar predominante dos morcegos capturados na PCH Santo Antônio do Caiapó.... 59 Tabela 10. Dados de riqueza (S), abundância (N), diversidade, esforço de captura (m 2.h) e eficiência amostral (indivíduos/m 2.h) ao longo das quatro campanhas realizadas na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó.... 62 Tabela 11. Lista de espécies catalogadas na área de influência da PCH Santo Antônio do Caiapó. Ordem sistemática e nomeclatura conforme CBRO (2011). (MC) Mata Ciliar, (MG) Mata de Galeria, (ME) Mata Seca, (CD) Cerradão, (CE) Cerrado Típico, (PA) Pasto, (AH) 6

Hídrico, e (PD) Peridomiciliar; (DVF) dependência de vegetação florestal (SILVA, 1995); e, (R) espécie residente e (E) endêmica do Brasil (CBRO, 2011)... 69 Tabela 12. Pontos de amostragem das áreas de soltura para o monitoramento da Mastofauna e Herpetofauna durante o Programa de Monitoramento da Fauna.... 85 Tabela 13. Anfíbios e répteis registrados nas áreas de soltura da PCH Santo Antônio do Caiapó.... 87 7

ÍNDICE 1. APRESENTAÇÃO... 9 2. INTRODUÇÃO... 9 3. OBJETIVOS... 10 3.1. OBJETIVO GERAL... 10 3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS... 10 4. MATERIAIS E METODOS... 10 ÁREA DE COLETA... 10 5. METODOLOGIA... 12 5.1. HERPETOFAUNA... 12 5.2. MASTOFAUNA... 16 5.3. QUIROPTEROFAUNA... 21 5.4. ORNITOFAUNA... 24 6. RESULTADOS... 26 6.1. HERPETOFAUNA... 26 6.2. MASTOFAUNA... 42 6.3. QUIROPTEROS... 58 6.4. ORNITOFAUNA... 68 7. MONITORAMENTO DAS ÁREAS DE SOLTURA... 84 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 88 9. ANEXOS... 95 9.1. ANEXO I... 95 9.2. ANEXO II... 96 10. EQUIPE TÉCNICA... 98 8

1. APRESENTAÇÃO Este documento apresenta os resultados consolidados das campanhas do Programa Básico Ambiental da PCH Santo Antônio do Caiapó, considerando as atividades realizadas em quatros campanhas ao longo dos anos de 2012 a 2013: 1ª Campanha (maio de 2012; chuva); 2ª Campanha (setembro de 2012; seca); 3ª Campanha (março de 2013; chuva); 4ª Campanha (outubro de 2013/seca), sendo duas no período pré-enchimento e duas no período pós-enchimento do reservatório. A quanta campanha foi realizada em os dias 14 a 21 de Outubro. O presente estudo visa assim avaliar espacialmente e temporalmente as assembléias da fauna (Herpetofauna, Mastofauna, Quiropterofauna e Ornitofauna) residentes na área de influencia do estudo. 2. INTRODUÇÃO O acelerado processo de ocupação da área central do Brasil, incluindo a construção de hidrelétricas, aberturas de estradas e a expansão agropecuária, causam profundas alterações das condições ambientais naturais, cujas consequências para a sustentabilidade econômica da área, principalmente em longo prazo, são desconhecidas (KLINK & MACHADO, 2005). A expansão do setor hidrelétrico no Cerrado tem sido um fator de grande importância na alteração da paisagem natural e no processo de extinção de espécies, podendo representar uma séria ameaça à conservação da biodiversidade regional, caso seus impactos ambientais não sejam devidamente avaliados (PAVAN, 2001). Estratégias de conciliação entre as necessidades humanas e conservação da biodiversidade são primordiais para o sucesso dos planos de conservação (PRIMACK & RODRIGUES, 2001). Os processos de monitoramento são necessários a fim de maximizar os esforços de conservação a nível local, especialmente em regiões onde existem poucos dados sobre diversidade, abundância e distribuição das espécies (SILVANO & SEGALLA, 2005). 9

3. OBJETIVOS 3.1. OBJETIVO GERAL Dar continuidade ao monitoramento da Fauna na área de influência direta e indireta da Pequena Central Hidrelétrica - PCH Santo Antônio do Caiapó, objetivando assim, conhecer e avaliar as assembléias de vertebrados terrestres, analisando os possíveis impactos decorrentes da implantação do empreendimento. Obtendo dados para subsidiar ações de manejo direcionadas às espécies diretamente afetadas pela implantação do empreendimento. Os dados reunidos servirão como subsídios para promover, se necessário, ações de manejo que possam ser implantadas para a conservação das populações presentes na AID do empreendimento. 3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Avaliar as assembléias de vertebrados terrestres (Táxons: Herpetofauna; Mastofauna pequeno, médio e grande porte; Quirópteros e Ornitofauna) residente da área de influencia do empreendimento quanto a sua distribuição espaço-temporal; Avaliar os descritores ecológicos e funcionais; 4. MATERIAIS E METODOS ÁREA DE COLETA A área de influência da PCH Santo Antônio do Caiapó se insere nos domínios do bioma Cerrado, e é caracterizada por um mosaico de diferentes formações vegetais, sendo predominantes os ambientes modificados, caracterizados pelo uso extensivo do solo para o desenvolvimento de atividades relacionadas à agropecuária. Quanto aos remanescentes de vegetação primária que contemplam a área de influência do empreendimento destacam-se a ocorrência de faixas descontínuas de formações justafluviais (Mata Ciliar e Mata de Galeria), florestais 10

(Mata Seca e Cerradão), e de vegetação aberta (Cerrado Típico). Para avaliar a fauna terrestre (Táxons: Herpetofauna; Mastofauna pequeno, médio e grande porte; Quirópteros e Ornitofauna) foram selecionados seis sítios de amostragem permanentes e sítios aleatórios dentro dos seis sítios amostrais (Tabela 1) Tabela 1. Pontos amostrais para o Programa de Monitoramento da fauna terrestre no âmbito da PCH Santo Antônio do Caiapó, com suas respectivas localidades, coordenadas geográficas (Formato da posição UTM UPS / Datum do mapa Sth Amrcn 69). Pontos Descrição da área Coordenadas/UTM P1 MATA CILIAR / MATA DE GALERIA 22K 458070/8183186 P2 MATA SECA 22K 459153/8182234 P3 CERRADÃO 22K 460381/8178452 P4 CERRADO TÍPICO / CERRADÃO 22K 461054/8175916 P5 CERRADÃO 22K 463486/8176445 P6 MATA DE GALERIA 22K 468544/8171769 E A A F B D B 11

C D E F Figura 1. Pontos amostrais utilizados durante o Programa de Monitoramento da Fauna fase pós-enchimento na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó. A = Ponto 1; B = Ponto 2; C = Ponto 3; D = Ponto 4; E = Ponto 5 e F = Ponto 6. 5. METODOLOGIA 5.1. HERPETOFAUNA Técnicas de Amostragem Para o levantamento da herpetofauna foi utilizada uma combinação de métodos diretos e indiretos de amostragem: armadilhas de interceptação e queda (pitfall traps; CECHIN & MARTINS, 2000; RIBEIRO-JÚNIOR et al., 2011), procura visual e auditiva (HEYER et al., 1994), visitas a sítios propícios para a reprodução de anfíbios, encontros ocasionais e coleta por terceiros. Foram considerados todos os exemplares avistados, ouvidos (anfíbios) e capturados durante a realização do monitoramento. Os indivíduos, cuja identificação não foi possível no campo e os que 12

foram encontrados mortos ou que morreram durante o manuseio foram fixados e depositados na Coleção Herpetológica da Universidade Estadual de Goiás. As nomenclaturas utilizadas para as espécies de anfíbios e répteis obedeceram ao padrão utilizado pela Sociedade Brasileira de Herpetologia (BÉRNILS & COSTA, 2011; SEGALLA et al., 2012) e pelo Museu Americano de História Natural (FROST, 2013). Procura Visual e/ou Acústica O método de procura visual e auditiva foi realizado tanto durante o dia quanto à noite. Foram feitos deslocamentos a pé em busca de anfíbios e répteis que estivessem em atividade ou abrigados, através da inspeção de cupinzeiros, cascas das árvores, troncos caídos, serapilheira, dentre outros possíveis locais de abrigo deste grupo (Figura 2). Atenção especial foi dada às áreas com vegetação natural e/ou sob baixo grau de antropização, locais que podem fornecer informações e observações relevantes sobre este grupo (Martins & Oliveira, 1998). Para os anfíbios, foram realizadas visitas a sítios reprodutivos como riachos, lagos e poças temporárias, principalmente durante a noite, onde muitas espécies congregam-se nesses ambientes para a reprodução, e durante o dia para a observação de girinos e espécies diurnas. A inclusão do registro acústico durante os transectos representa um método comumente usado para o monitoramento de comunidades de anfíbios. Este método pode ser usado para estimar a abundância relativa de machos, a composição de espécies, o uso do hábitat de reprodução, fenologia reprodutiva das espécies e para detecção de espécies crípticas (SEBER, 1986; ZIMMERMAN, 1994). Armadilhas de Interceptação e Queda (Pitfall) com barreiras (Drift Fence) Este método consiste na instalação de baldes enterrados (pitfall) de forma que a sua abertura permaneça ao nível do solo e interligados por cercas-guia (driftfences; CORN, 1994). As lonas são mantidas em posição vertical através do auxílio 13

de estacas de madeira. Em cada área amostral foram instaladas duas estações de armadilhas, cada estação formada por cinco baldes de 30 litros dispostos radialmente em forma de Y e interligados por uma barreira de lona plástica de 5m x 50 cm, correspondendo a um esforço amostral médio de 10 recipientes por área e um total de 60 recipientes (Figura 2). Os baldes tiveram o fundo perfurado para evitar o acúmulo de água, em caso de chuva. Ao término da campanha, os baldes e as lonas foram retirados. Figura 2. Metodologia de busca ativa noturna através da inspeção de microhábitats e sítios reprodutivos, utilizada durante o Programa de Monitoramento da Fauna na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó. Encontros Ocasionais e Coletas por Terceiros O método de encontros ocasionais corresponde ao encontro de anfíbios e répteis vivos ou mortos durante outras atividades que não a amostragem pelos demais métodos ou trazidos por terceiros. Estes métodos são úteis principalmente para obtenção do registro de serpentes. 14

Figura 3. Armadilha de interceptação e queda utilizada para a amostragem de répteis e anfíbios. Análises dos Dados A dominância nos pontos amostrados foi estimada pelo Índice de Berger- Parker (MAGURRAN, 1988), dividindo o número de indivíduos da espécie mais abundante pelo número total de indivíduos na amostra. Este índice considera a maior proporção da espécie com maior número de indivíduos. Posteriormente, as dominâncias foram representadas por meio de Curvas do Componente de Dominância ou Diagrama de Whittaker, obtidas através da ordenação das espécies a partir das mais abundantes para as mais raras no eixo das abscissas e colocando o logaritmo das abundâncias no eixo das ordenadas. Assim, o comprimento da curva indica a riqueza de espécies e a sua inclinação permite uma medida de equabilidade. Curvas maiores e menos inclinadas possuem mais espécies e maior equabilidade, ou seja, menor dominância (MAGURRAN, 2004). A riqueza de anuros foi analisada por curvas de riqueza estimada e acumulada de espécies (GOTELLI & COWELL, 2001). O estimador não paramétrico Jackknife de primeira ordem (Jack 1) foi utilizado para estimar a riqueza de anfíbios, 15

sendo utilizados como unidades amostrais os dias de coleta. Esse método oferece uma estimativa de riqueza mais acurada da comunidade e produz intervalos de confiança com base nas espécies raras (Krebs, 1999), sendo usado a fim de reduzir os viés de tamanho das amostras e projetar o número real de espécies em um dado hábitat amostrado (ROSENQEIG et al., 2003). Para o cálculo da Diversidade de espécies nos diferentes pontos de amostragem, foi utilizado o Índice de Shannon-Wienner (H ), baseado na abundância relativa das espécies. Este índice assume que os indivíduos são coletados aleatoriamente de uma grande e infinita população, assumindo também que todas as espécies estão apresentadas na amostra. A diferença na composição de espécies entre os pontos amostrados foi determinada pela aplicação do Coeficiente de Similaridade de Bray-Curtis (ZAR, 1999), com posterior análise de agrupamento (Cluster Analysis). 5.2. MASTOFAUNA Para o grupo de pequenos mamíferos, as metodologias de amostragem realizadas durante o monitoramento foram por captura com armadilhas de arame com desarme do tipo gancho e armadilhas Sherman. Foram instaladas 150 armadilhas posicionadas durante oito noites consecutivas e vistoriadas diariamente, perfazendo um esforço amostral de 1.200 armadilhas/campanha. As iscas utilizadas para atraí-los foram compostas por uma mistura de abacaxi, paçoca de amendoim e óleo de fígado de bacalhau (Emulsão Scott ). Esta combinação de ingredientes teve o intuito de atrair os pequenos mamíferos de diferentes preferências alimentares (frugívoros, granívoros e carnívoros). Como forma complementar foi utilizado armadilha de queda pitfall (descrita na metodologia de herpetofauna utilizada para captura de anfíbios). Os espécimes capturados foram transferidos para um saco de contensão e encaminhado à base de campo, onde foi realizada a triagem, ou seja, foram fotografados, identificados, sexados, pesados e as medidas externas realizadas, como: comprimento total (CT); comprimento da cauda (CA); comprimento entre a 16

porção inferior do meato auditivo e a extremidade superior do ouvido externo, medida essa conhecida como orelha interna (OI); comprimento da pata posterior sem considerar a unha, conhecida como pé sem unha (Ps/u) e comprimento da pata posterior considerando a unha, conhecida como pé com unha (Pc/u). Após a triagem os espécimes foram soltos no mesmo sítio da captura (Figura 4). A B B A C D Figura 4. Metodologia utilizada para captura dos exemplares representantes da mastofauna de pequenos porte não voador. A = Armadilha de arame com desarme do tipo gancho Ponto; B = Armadilha Sherman; C = Preparo da isca ed = Soltura de exemplares coletados. Mamíferos de médio e grande porte Para a realização do monitoramento da mastofauna de médio e grande porte, foram empregadas as metodologias de visualização direta e armadilhas fotográficas (Figura 5), com um esforço amostral de 8h/dia/observador, perfazendo um total de 144h/campanha, sendo dois observadores para oito dias de campo. A visualização 17

direta em campo foi realizada através da realização de transectos percorridos em períodos diurno e noturno. Quando os animais eram avistados ou suas vocalizações identificadas, registrava-se o nome da espécie e as coordenadas geográficas com a localização do avistamento. Os registros observados foram fotografados sempre que possível. Além disso, também foi assinalada a presença de pegadas, pêlos, fezes, carcaças e restos alimentares. Os vestígios encontrados foram fotografados e identificados com o auxílio de guias específicos (BECKER & DALPONTE, 1991; EMMONS & FEER, 1999). O uso de Armadilhamento Fotográfico (Câmeras Trap permite o registro de qualquer espécie que se locomova na sua frente, funcionando 24 horas por dia. Esta armadilha consiste de um sensor de calor e movimento acoplado a uma máquina fotográfica, quando algum animal atravessa o raio de ação do sensor, a máquina dispara e fotografa a espécie que se desloca a sua frente (SILVEIRA et al., 2003). As armadilhas foram alocadas em árvores, próximo a trilhas feitas pelos próprios animais ou perto de cursos d água, ou seja, em locais onde, provavelmente, haja maior movimentação à procura de alimento e água. A captura de imagens foi realizada causando o mínimo de stress possível aos animais. Esse método auxiliou na identificação de espécies furtivas e de hábitos crepuscular e noturno, corroborando a presença de determinadas espécies através de imagens. A Figura 5. Instalação de câmeras fotográficas. Metodologia utilizada para amostragem de mamíferos de médio e grande porte durante o Programa de Monitoramento da Fauna na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó. 18

Análise dos dados Entre os dados obtidos foi analisada a composição da mastofauna através dos descritores ecológicos utilizando como indicadores básicos a abundância, abundância relativa (%). A riqueza foi avaliada utilizando o estimador de riqueza Jackknife 1ª Ordem. Foram calculados os índices de diversidade Shannon-Wiener e eqüitabilidade em cada ponto de coleta, segundo KREBS (1989). A similaridade entre as unidades amostrais foi calculada de acordo com Magurran (2004). Para determinar a categoria de constância de cada táxon foi empregada a equação de Dajoz (1978). Descritores ecológicos Para avaliar a abundância foi utilizada a frequência relativa (%), sendo esta calculada através da formula: Onde: E = número total da espécie estudada; N = número total dos espécimes coletados. Para estimar a riqueza foi utilizado o estimador Jack-Knife 1 através do programa Estimates 8.2 (COLWELL, 2009), baseados na abundância (raridade) ou número de espécies representadas por 1 (sigletons) ou 2 (doubletons) indivíduos. Através da observação do comportamento da curva, é possível fazer uma previsão de quantas espécies que não foram coletadas ainda podem vir a serem descobertas (DIAS, 2004). 19

O índice de diversidade Shannon-Wiener foi calculado através do programa estatístico Biodiversity Professional (1997) H ' S i 1 ( pi) log( pi) Onde: H = índice de diversidade de Shannon-Wiener; p i = probabilidade de ocorrência da espécie i na amostra. A uniformidade na distribuição das espécies foi medida pela eqüitabilidade, calculada através da seguinte fórmula: J ' H' H ' máx Onde: H = índice de diversidade de Shannon-Wiener; H máx = logaritmo da riqueza local. O valor J varia de 0 (nenhuma eqüitabilidade) até 1 (máxima eqüitabilidade). Para avaliar similaridade qualitativa entre os pontos de coleta foi utilizado o coeficiente de similaridade Bray-Curtis Metric a partir dos dados de presença e ausência das espécies por unidade amostral. Os cálculos foram realizados com auxilio do programa Krebs (Krebs 1989) e Biodiversity Professional (1997). 20

Para o calculo da constância foi utilizada a metodologia proposta por Dajoz (1978), através da fórmula: Onde: C = valor de constância da espécie; p = número de locais que contêm a espécie; P = número total de locais amostrados. -Status de Conservação O status de conservação das espécies registradas é apresentado de acordo com duas listas da fauna ameaçada de extinção: a) MMA Ministério do Meio Ambiente - IN nº 3/03 e Machado et al. (2005) presente no livro vermelho da IUCN International Union for Conservation of Nature, 2008; b) Lista Vermelha (red list) IUCN International Union for Conservation of Nature, 2012. Os dados obtidos foram analisados em observância à Instrução Normativa n. 146 do IBAMA de 10 de janeiro de 2007 e a taxonomia das espécies registradas baseadas na nomenclatura proposta por Reis et al. (2010) para marsupiais e mamíferos de médio e grande porte e Bonvicino et al. (2008) para roedores. 5.3. QUIROPTEROFAUNA Foi utilizada a metodologia tradicional para o levantamento da fauna de morcegos envolvendo a montagem de redes de neblina (mist nets) em locais como trilhas e áreas semiabertas no interior da vegetação. As redes permaneceram armadas de quatro a seis horas consecutivas desde o crepúsculo vespertino. Em cada noite amostral foram utilizadas 10 redes que mediam 12 m de comprimento por 21

2,5 m de altura. As redes foram vistoriadas em intervalos de 30 minutos e os morcegos capturados foram retirados das redes e transferidos para sacos individuais de algodão. Os animais foram manipulados no campo onde foram realizadas anotações da biometria e a identificação dos espécimes (Figura 6). De cada animal capturado foram registados os seguintes dados: espécie, data da captura, sexo, estado reprodutivo, peso e tamanho do antebraço (Anexo II). Os morcegos foram separados por guildas alimentares nas seguintes categorias: nectarívoro, frugívoro, insetívoro, onívoro, carnívoro e hematófago. Esta classificação baseou-se no hábito predominante de cada espécie, embora a maioria dos morcegos possa utilizar mais de um item alimentar (GARDNER 1977). A identificação taxonômica foi realizada de acordo com a literatura especializada (VIZZOTO & TADDEI, 1973; GREGORIN & TADEI, 2002; GARDNER, 2008) e a nomenclatura utilizada para as espécies seguiu a lista de SIMMONS (2005), com exceção para o reconhecimento específico de Artibeus planirostris proposto por LIM et al. (2004). Os morcegos capturados tiveram o antebraço medido com auxílio de um paquímetro digital (0,01 mm) e pesados com balança digital (0,1 g). Ao final de cada noite amostral, as redes foram fechadas e os animais foram soltos no mesmo local de captura. B 22

Figura 6. Procedimentos adotados em campo:: A = Montagem das redes de neblina; B = Manejo dos morcegos capturados com redes de neblina; B = Anotações das medidas biométricas aferidas; D= Soltura no final de cada noite amostral. D Análise dos dados Os dados obtidos foram analisados em observância à Instrução Normativa n. 146 do IBAMA de 10 de janeiro de 2007. Para análise da estrutura da comunidade foram considerados somente os dados obtidos através de capturas nos dois sítios amostrados. O esforço amostral foi calculado de acordo a proposição de Straube & Bianconi (2002). A eficiência amostral foi calculada dividindo-se o número de capturas pelo esforço amostral, resultando em indivíduos/m 2.h. Para análise da estrutura da comunidade, somente dos morcegos capturados em redes, calculou-se o índice de diversidade de Shannon-Wiener, a diversidade máxima esperada e a respectiva equitabilidade do mesmo índice, utilizando o software livre Past (HAMMER et al. 2001). A suficiência amostral foi determinada pela curva de rarefação, semelhante à curva do coletor, porém confeccionada com 1000 aleatorizações obtida para a área amostrada, como uma maneira de avaliar a amostragem realizada (GOTELLI & COLWELL 2001). A curva de acúmulo de espécies foi gerada para cada estratégia amostral. O estimador de riqueza de espécies Jackknife de primeira ordem foi escolhido para extrapolar os dados e avaliar a eficácia do esforço de captura (SANTOS, 2003). 23

É apresentado o estado de conservação de todas as espécies de acordo com a lista brasileira de fauna ameaçada de extinção (MMA, 2003 copilada por MACHADO et al. 2008) e o status de conservação de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, 2013). 5.4. ORNITOFAUNA Foram adotadas duas metodologia: (1) Capturas com redes de neblina; (2) Transectos terrestres e aquáticos por meio de contagem por pontos de escuta. O método de captura utilizando redes de neblina foi empregado para amostragem de aves de sub-bosque, onde foram instaladas redes com 12 m x 2,5 m e malha de 17,5 mm nas áreas amostrais pré-estabelecidos. Uma linha composta de 10 redes foi instalada. As redes ficarão abertas por um período de 07 horas/dia, das 6:00h às 10:00h no período matutino e das 16:00h às 19:00h no período vespertino, totalizando 399 horas*rede de amostragem. Todos os espécimes capturados foram triados. Por meio de triagem foram coletados os seguintes dados acerca de cada espécime: dados biométricos, biológicos, ontogenéticos e morfológicos. Os procedimentos adotados após a captura e manejo de espécimes seguiram o proposto pelas condicionantes da Licença de Pesquisa Científica expedida pela SEMARH Nº. 2704/2012 e Resolução Nº. 301 CFB de dezembro de 2012. O status de conservação das espécies registradas foi verificado por meio de consulta a listra de espécies ameaçadas de extinção: MMA Ministério do Meio Ambiente (MACHADO et al., 2008) e a Lista Vermelha (red list) IUCN International Union for Conservation of Nature (2012). A identificação específica será baseada nos guias de campo Sigrist (2009) e Van Perlo (2009), e a nomenclatura utilizada segue o CBRO (2013). 24

A B C Figura 7. Procedimentos adotados em campo para coleta de exemplares da ornitofauna durante o Programa de Monitoramento da Fauna. A e B = Rede de neblina; C = Avistamento. Análise dos dados Foi utilizado um método comparativo para as análises de riqueza estimada destacando-se o Jackknife de primeira ordem de maior evidência real. As estimativas de riqueza e as curvas de acumulação de espécies foram realizadas com o auxílio do Estimate S e Statistica 7. Em atendimento às proposições determinadas pela Instrução Normativa do IBAMA N. o 146 de 10 de janeiro de 2007, calculou-se o índice de diversidade pelo índice de Shannon-Wiener (BioDiversity Pro) e de Equitabilidade pela relação H/Hmax. Para verificar a semelhança entre os ambientes amostrados utilizou-se o índice de similaridade de Cluster (distância de Bray-Curtis), realizado a partir dos dados de presença e ausência. 25

6. RESULTADOS 6.1. HERPETOFAUNA Como resultado da quarta campanha de monitoramento da herpetofauna da PCH Santo Antônio do Caiapó, realizada em outubro de 2013, foi registrado 34 espécies, pertencentes a três dos grandes grupos da Herpetofauna: sapos, rãs, pererecas (Ordem Anura), jacarés (Ordem Crocodylia), anfisbenias, lagartos e serpentes (Ordem Squamata). Os anfíbios foram representados por 24 espécies, distribuídas em sete famílias e 15 gêneros, enquanto os répteis foram representados por 10 espécies distribuídas em duas ordens, três subordens, oito famílias e 10 gêneros (Tabelas 2 e 3). Duas espécies de répteis (Paleosuchus palpebrosus e Spilotes pullatus) foram registradas somente fora dos pontos amostrais por enquanto ocasional, permanecendo fora das análises quantitativas (Tabela 3). Das espécies registradas para a área neste período, nenhuma se encontra nas listas oficiais da fauna ameaçada de extinção no Brasil (MMA, 2008; IUCN, 2013; Subirá et al., 2013). Entretanto, considerando os padrões de endemismo foram verificadas 13 espécies de anfíbios (Ameerega berohoka, Rhinella mirandaribeiroi, Rhinella ocellata, Barycholos ternetzi, Proceratophrys goyana, Dendropsophus cruzi, Hypsiboas lundii, Hypsiboas Paranaíba, Phyllomedusa azurea, Eupemphix nattereri, Physalaemus centralis, Pseudopaludicola saltica e Chiasmocleis albopunctata) e uma de répteis (Tropidurus itambere) endêmicas para o bioma Cerrado (Nogueira et al., 2011; Valdujo et al., 2012). A família de anfíbios mais representativa foi Hylidae com nove espécies (37,50%), seguida de Leptodactylidae com sete espécies (29,16%) e Bufonidae com três espécies (12,50%) (Tabela 2). Dentre os répteis, a família mais representativa foi Teiidae com três espécies (30,00%), as demais foram representadas por somente uma espécie (10,00%) cada (Tabela 3). A riqueza de anfíbios e répteis registrada para o período estudado segue o padrão conhecido para a região neotropical e para diversos biomas brasileiros (Duellman, 1999; Recorder & Nogueira, 2007; SBH, 2010; Morais et al., 2011). 26

Rhinella schneideri Physalaemus cuvieri Eupemphix nattereri Dendropsophus cruzi Leptodactylus labyrinthicus Leptodactylus fuscus Hypsiboas lundii Ameerega berohoka Dendropsophus minutus Trachycephalus typhonius Phyllomedusa azurea Scinax fuscovarius Physalaemus centralis Hypsiboas raniceps Scinax similis Rhinella mirandaribeiroi Barycholos ternetzi Hypsiboas paranaiba Leptodactylus latrans Elachistocleis cesarii Rhinella ocellata Proceratophrys goyana Pseudopaludicola saltica Chiasmocleis albopunctata Número de indivíduos (Log10) PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE FAUNA Nesta campanha, 93,98% dos espécimes registrados eram anfíbios e 6,02% foram constituídos por répteis. Dentre os anfíbios, Rhinella schneideri foi considerada dominante na área de estudo, com uma freqüência de 14,26% do total de anfíbios registrados, seguida de Physalaemus cuvieri com 12,98% e Eupemphix nattereri com 12,07% (Figura8). Entre os répteis, Ameiva ameiva foi a espécie mais freqüente com 31,43% do total de répteis, seguida de Tropidurus itambere com 25,71% e Ameivula ocellifera com 25,71% (Figura 8). 2.00 1.80 1.60 1.40 1.20 1.00 0.80 0.60 0.40 0.20 0.00 Figura 8. Curva de dominância dos anfíbios registrados durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó realizada em outubro de 2013. 27

Tabela 2. Dados qualiquantitativos dos anfíbios registrados durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó, realizada em agosto de 2013. ESPÉCIE PONTO DE AMOSTRAGEM MÉTODO 1 2 3 4 5 6 BA EO PF TOTAL FREQ DIST Classe Amphibia Ordem Anura Família Aromobatidae Ameerega berohoka 10 12 19 3 22 4,02 E Família Bufonidae Rhinella mirandaribeiroi 4 1 1 2 8 8 1,46 E Rhinella ocellata 1 1 2 2 0,37 E Rhinella schneideri 12 12 17 37 78 78 14,26 W Família Craugastoridae Barycholos ternetzi 8 8 8 1,46 E Família Cycloramphidae Proceratophrys goyana 1 1 1 0,18 E Família Hylidae Dendropsophus cruzi 18 12 18 48 48 8,78 E Dendropsophus minutus 3 4 14 21 21 3,84 W Hypsiboas lundii 7 5 5 10 27 27 4,94 E 28

ESPÉCIE PONTO DE AMOSTRAGEM MÉTODO 1 2 3 4 5 6 BA EO PF TOTAL FREQ DIST Hypsiboas paranaiba 6 6 6 1,10 E Hypsiboas raniceps 13 13 13 2,38 W Phyllomedusa azurea 9 9 18 18 3,29 E Scinax fuscovarius 4 3 9 17 17 3,11 W Scinax similis 3 8 11 11 2,01 AT Trachycephalus typhonius 9 10 19 19 3,47 W Família Leptodactylidae Eupemphix nattereri 21 45 64 2 66 12,07 E Leptodactylus fuscus 15 8 16 39 39 7,13 W Leptodactylus labyrinthicus 10 7 30 47 47 8,59 W Leptodactylus latrans 3 3 3 0,55 W Physalaemus centralis 11 2 3 1 13 4 17 3,11 E Physalaemus cuvieri 6 1 8 18 38 57 14 71 12,98 W Pseudopaludicola saltica 1 1 1 0,18 E Família Microhylidae Chiasmocleis albopunctata 1 1 1 0,18 E Elachistocleis cesarii 3 2 1 3 0,55 W ABUNDÂNCIA 80 2 77 118 268 1 520 1 26 547 100,00 RIQUEZA 10 2 13 12 18 1 21 1 7 24 - Legenda: BA = Busca Ativa; EO = Encontro Ocasional; PF = Pitfall; FREQ = Frequência; DIST = Padrão de distribuição no Cerrado; E = Endêmica; AT = Ocorrem na Mata Atlântica e no Cerrado; W = Distribuição generalizada - 29

Tabela 3. Dados qualiquantitativos dos répteis registrados durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó, realizada outubro de 2013. ESPÉCIE PONTO DE AMOSTRAGEM MÉTODO 1 2 3 4 5 6 BA EO PF TOTAL DIST Classe Reptilia Ordem Crocodylia Família Alligatoridae Paleosuchus palpebrosus* 1 1 W Ordem Squamata Subordem Amphisbaena Família Amphisbaenidae Amphisbaena vermicularis 1 1 1 W Subordem Sauria Família Dactyloidae Norops brasiliensis 1 1 1 W Família Mabuyidae Copeoglossum nigropunctatum 1 1 1 AM Família Teiidae Ameiva ameiva 4 2 2 3 11 11 W Ameivula ocellifera 5 4 1 5 W Salvator merianae 1 1 1 1 4 4 W Família Tropiduridae 30

ESPÉCIE PONTO DE AMOSTRAGEM MÉTODO 1 2 3 4 5 6 BA EO PF Tropidurus itambere 9 9 9 E Subordem Serpentes Família Boidae Boa constrictor 1 1 1 W Família Colubridae Spilotes pullatus* 1 1 W ABUNDÂNCIA 15 0 5 6 3 4 16 16 3 35 RIQUEZA 4 0 4 2 2 2 5 3 3 10 Legenda: BA = Busca Ativa; EO = Encontro Ocasional; PF = Pitfall; FREQ = Frequência; DIST = Padrão de distribuição no Cerrado; E = Endêmica; AM = Ocorre na Amazônia e no Cerrado; AT = Ocorre na Mata Atlântica e no Cerrado; W = Distribuição generalizada; *Espécie registrada fora dos pontos amostrais. TOTAL DIST - 31

Número de indivíduos (Log10) PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE FAUNA Embora seja conhecida a emissão sonora de algumas espécies de répteis, tais como algumas espécies de lagartos e membros da família Boidae, em sua maioria, estas emissões sonoras funcionam como meio de intimidar um predador ou sob momentos de estresse destes animais (POUGH et al., 2003). Desta forma, o registro de espécies da Herpetofauna, através da vocalização, torna-se restrito aos anfíbios, cujos machos denunciam sua presença pela emissão de coaxos, já bastante conhecidos e facilmente identificáveis para algumas espécies. No período reprodutivo, várias espécies se agregam nos sítios de reprodução, facilitando as amostragens em censos populacionais durante a busca ativa devido a sua vocalização. Este método de registro foi responsável por 328 registros ou 56,35% do total de espécimes registrados. Dentre os outros métodos utilizados, os avistamentos durante buscas ativas diurnas e noturnas foram responsáveis por 174 registros (29,89%), seguido das capturas efetivas feitas manualmente com 29 (4,98%), armadilhas de interceptação e queda com 20 (4,98%) e encontros ocasionais com 17 ou 2,92% do total de espécimes registrados (Figura 9). 1.20 1.00 0.80 0.60 0.40 0.20 0.00 Figura 9. Curva de dominância dos répteis registrados durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó realizada em outubro de 2013. 32

Vocalização Avistamento Capturas Efetivas Pitfall Encontro Ocasional 29; 5% 20; 3% 17; 3% 174; 31% 328; 58% Figura 10. Representatividade dos métodos de amostragens considerados durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó, realizada em agosto de 2013. A relação do número de espécies com o esforço amostral mostra que a curva do coletor não atingiu uma assíntota e, melhores resultados ou uma tendência de estabilização apenas serão possíveis com o decorrer das atividades de monitoramento e analisando as campanhas em conjunto. O estimador de riqueza utilizado demonstra que a amostragem realizada na quarta campanha de monitoramento foi adequada, com um rápido aumento do número de espécies com o aumento do tamanho amostral e do número de espécimes capturados (de três para 19 espécies), mas não o suficiente para estimar a riqueza de anfíbios e répteis da região, pois foram observadas 34 espécies em atividade, enquanto o estimador Jack-knife de primeira ordem indicou uma riqueza de 47 espécies para a área. Nesta campanha, 12 espécies (seis anfíbios e oito répteis) apareceram apenas uma vez nas amostras. Sendo assim, por se tratar de um estimador baseado na raridade das espécies, ou seja, número de espécies que ocorrem em apenas uma ou duas amostras, o número de espécies apontada pelo estimador Jackknife 1 foi elevada (47 espécies) (Figura 11). Neste método, a riqueza 33

estimada somente é igual à observada quando todas as espécies observadas ocorrem em mais de uma amostra (Santos, 2006). 50 45 40 Número de espécies 35 30 25 20 15 10 5 1 2 3 4 5 Amostragens Riqueza observada Riqueza esperada (Jack1) Figura 11. Curva de acumulação de espécies observadas e esperadas (Jack 1) para a fauna de anfíbios e répteis durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó, realizada em outubro de 2013. As curvas de acumulação de espécies observadas, considerando todas as campanhas de monitoramento realizadas até o momento, podem ser consideradas satisfatórias por mostrarem, tanto para o observado quanto para o estimado, tendências à assíntota conforme o aumento do esforço amostral. Através da acumulação de espécies com o decorrer das quatro campanhas foi obtido uma riqueza real de 37 espécies de anfíbios e 26 répteis, totalizando 62 espécies da herpetofauna com ocorrência para as áreas de influência da PCH Santo Antônio do Caiapó, o que representa 76,30% do valor gerado pelo estimador Jack-Knife de primeira ordem (Figura 12). Entretanto, em relação a todas as amostragens já realizadas, três espécies de anfíbios (Proceratophrys goyana, Scinax similis e Pseudopaludicola saltica) e quatro de répteis 34

(Paleosuchus palpebrosus, Tropidurus itambere, Salvator merianae e Boa constrictor) foram registradas exclusivamente nesta quarta campanha, permitindo inferir que novas espécies ainda poderão ser adicionadas no pool regional (Tabela 4). 90 80 70 Número de espécies 60 50 40 30 20 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Amostragens Riqueza observada Riqueza esperada (Jack1) Figura 12. Curva de acumulação de espécies observadas e estimadas (Jackknife 1) para a fauna de anfíbios e répteis registrada durante quatro campanhas de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó. 35

Tabela 4. Qualitativo geral das espécies de anfíbios e répteis registradas ao longo das quatro amostragens nas áreas de influência da PCH Santo Antônio do Caiapó. TAXON ESPÉCIE NOME POPULAR Classe Amphibia Ordem Anura Família Bufonidae Rhinella mirandaribeiroi Sapo-cururu Rhinella ocellata Sapo-cururu Rhinella schneideri Sapo-cururu Família Craugastoridae Barycholos ternetzi Rã-de-folhiço Família Cycloramphidae Proceratophrys goyana Rã Família Dendrobatidae Ameerega berohoka Sapo-flecha Família Hylidae Dendropsophus cruzi Perereca Dendropsophus jimi Perereca Dendropsophus minutus Perereca Dendropsophus nanus Perereca Hypsiboas albopunctatus Perereca Hypsiboas lundii Perereca Hypsiboas paranaiba Perereca Hypsiboas raniceps Perereca Phyllomedusa azurae Perereca-verde Pseudis bolbodactyla Rã boiadeira Scinax fuscomarginatus Perereca Scinax fuscovarius Perereca Scinax similis Perereca Scinax x-signatus Perereca Trachycephalus typhonius Perereca Família Leptodactylidae Adenomera aff. hylaedactyla Rã Adenomera martinezi Rã Eupemphix nattereri Rã Leptodactylus fuscus Rã Leptodactylus labyrinthicus Rã pimenta Leptodactylus latrans Rã-manteiga Leptodactylus mystaceus Rã Leptodactylus mystacinus Rã 36

TAXON ESPÉCIE NOME POPULAR Leptodactylus podicipunus Rã Leptodactylus syphax Rã Physalaemus centralis Rã Physalaemus cuvieri Rã cachorro Pseudopaludicola mystacalis Rã Pseudopaludicola saltica Rã Família Microhylidae Chiasmocleis albopunctata Rã-de-folhiço Elachistocleis cesarii Rã-de-folhiço Classe Reptilia Ordem Crocodylia Família Alligatoridae Paleosuchus palpebrosus Jacaré-coroa Ordem Squamata Subordem Amphisbaenia Família Amphisbaenidae Amphisbaena alba Cobra-de-duas-cabeças Amphisbaena vermicularis Cobra-de-duas-cabeças Subordem Sauria Família Tropiduridae Tropidurus itambere Lagarto Tropidurus torquatus Lagarto Família Teiidae Ameiva ameiva Lagarto Ameivula ocellifera Lagarto Salvator merianae Teiu Família Gymnophtalmidae Colobosaura modesta Lagarto Micrablepharus atticolus Lagarto Família Dactyloidae Norops brasiliensis Papa-vento Família Gekkonidae Hemidactylus mabouia Lagartixa Família Iguanidae Iguana iguana Iguana Família Sphaerodactylidae Coleodactylus brachystoma Lagarto Família Scincidae Copeoglossum nigropunctatum Lagarto Subordem Serpentes Família Boidae Boa constrictor Jibóia Família Colubridae Chironius flavolineatus Cipó Spilotes pullatus Caninana Família Dipsadidae Apostolepis assimilis Coral falsa Apostolepis goiasensis Coral falsa 37

TAXON ESPÉCIE NOME POPULAR Helicops angulatus Cobra d'água Oxyrhopus trigeminus Coral falsa Xenodon merremii Boipéva Família Viperidae Bothrops moojeni Jararaca Crotalus durissus Cascavel Ordem Testudines Família Chelidae Mesoclemmys vanderhaegei Cágado O número de espécies que utilizaram determinado ponto no período estudado variou de duas a 20 espécies. Os maiores valores de riqueza foram obtidos para os pontos 5 (S = 20) e 3 (S = 17), enquanto os maiores valores de abundância foram obtidos para os pontos 5 (N = 271) e 4 (N = 124) (Tabela 5). Áreas de mata, como as observadas nos pontos 5 e 3, fornecem condições diversificadas para a existência de uma maior biodiversidade devido à suas complexidades estruturais, incluindo grande número de espécies vegetais, estratificação vertical e copas interconectadas formando um dossel contínuo. Essas condições fornecem maior diversidade de itens alimentares, microclima mais estável, maior possibilidade de refúgios contra predadores e favorecem espécies menos tolerantes (Elton, 1973; Vallejo et al., 1987; Oda et al., 2009). A uniformidade entre riqueza e abundância é um fator que altera a diversidade e a equitabilidade, já que o índice de Shannon-Wiener leva em consideração tanto a riqueza quanto a equitabilidade da comunidade. Desta forma, os valores de diversidade encontrados foram maiores para os pontos 5 (H = 2,56) e 3 (H = 2,52), enquanto as maiores equitabilidade foram verificadas para os pontos 2 (J = 1,00), 3 (J = 0,89) e 4 (J = 0,89), nestes últimos, a ausência ou baixa dominância das espécies torna a comunidade altamente equitativa neste período. Em contrapartida, os baixos valores de equitabilidade obtidos para os pontos 5 (J = 0,85) e 6 (J = 0,86), estão relacionados à dominância das espécies Eupemphix nattereri e Ameiva ameiva, respectivamente (Tabela 5). 38

Tabela 5. Abundância, riqueza, diversidade, equitabilidade e dominância entre os pontos amostrados durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó, realizada em outubro de 2013. Ponto N S H' J' Espécie dominante D 1 95 14 2,34 0,88 D. cruzi 0,11 2 2 2 0,69 1,00 - - 3 82 17 2,52 0,89 R. schneideri 0,09 4 124 14 2,36 0,89 E. nattereri 0,10 5 271 20 2,56 0,85 E. nattereri 0,09 6 5 3 0,95 0,86 A. ameiva 0,44 Legenda: N = Abundância; S = Riqueza; H = Índice de Diversidade; J = Equitabilidade; D = Dominância. A presença de lagoas artificiais associadas a ambientes de mata e de área aberta na borda da mata pode ter favorecido, tanto para os répteis quanto para os anfíbios, a ocorrência de espécies associadas a ambientes abertos e de mata nos pontos 3 e 5, contribuindo assim para a maior diversidade nestes pontos. No caso dos anfíbios, espécies ecologicamente generalistas que ocorrem em áreas alteradas podem invadir ambientes modificados pelo homem, habitando formações vegetais originalmente abertas e expandem as suas distribuições geográficas em consequência dos desmatamentos e alterações da paisagem natural. Quando os ambientes alterados propiciam a estas espécies colonizadoras alimento abundante, abrigos e locais adequados para a reprodução, estes podem favorecer a permanência de suas populações (Oda et al., 2009). Em alguns casos, populações destas espécies podem atingir altos valores de dominância, como o observado para Rhinella schneideri, Physalaemus cuvieri e Eupemphix nattereri neste estudo. Através da análise de agrupamento (Cluster Analysis), associado ao Índice de Similaridade de Bray-Curtis, a similaridade entre as assembléias amostradas durante a quarta campanha de monitoramento foi relativamente baixa entre todos os pontos, com maiores distâncias observadas entre os pares formados pelos pontos 4 e 5 (D Bray-curtis = 50,63), 1 e 3 (D Bray-curtis = 46,32) e 1 e 5 (D Bray-curtis = 42,07) (Figura 13). Este resultado nos permite inferir a existência de uma 39

segregação espacial das assembléias amostradas nos seis pontos durante o mês de outubro de 2013, apesar de estes pontos compartilharem a ocorrência de espécies consideradas dominantes durante as amostragens Figura 13. Dendrograma da análise de agrupamento (Cluster Analysis) para os pontos amostrados durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó, realizada em outubro de 2013. Durante a quarta campanha de monitoramento da herpetofauna ao longo das áreas de influência da PCH Santo Antônio do Caiapó, foram registradas 34 espécies, sendo 24 pertencentes à classe Amphibia e dez à classe Reptilia. Os padrões de riqueza, tanto para anfíbios quanto para répteis, seguem o padrão conhecido para a região Neotropical e para diversos biomas brasileiros, incluindo o Cerrado. Algumas espécies de répteis foram registradas exclusivamente em ambientes localizados fora dos pontos amostrais pré-definidos, indicando a importância da inclusão destes durante as atividades de monitoramento, mesmo que de forma complementar. A inclusão do registro acústico para anfíbios anuros torna-se de extrema importância. Durante esta campanha, este tipo de amostragem mostrou-se mais representativo em relação aos demais, tanto em abundância quanto em riqueza. 40

Além disso, este método pode ser eficaz no registro das espécies de difícil encontro e das espécies crípticas cuja identificação é dificultada devido à semelhança com outras espécies. A relação do número de espécies com esforço amostral foi positiva, revelando que a amostragem foi adequada para a amostragem da herpetofauna neste período. Entretanto, não foi suficiente para estabilizar a curva de acumulação de espécies. Devido às variações na atividade da maioria das espécies de ambos os grupos, principalmente devido às necessidades fisiológicas e reprodutivas, a visualização da estabilização das curvas será possível apenas considerando amostragens sazonais. 41

Figura 14. Registro fotográfico de anfíbios e répteis registrados durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó. 6.2. MASTOFAUNA Foram registradas até o momento um total de 24 espécies, sendo, 18 espécies (1ª campanha), 10 (2ª campanha) e 19 (3ª campanha) (Figura 15). Já na atual campanha foram registradas 13 espécies, sendo dois de pequeno porte e 11 de médio e grande porte, classificadas em oito ordens e dez famílias (Figuras 16 e 17). Com a supressão da vegetação, ocorreu redução na abundância registrada. Porém, durante as etapas de monitoramentos pré e pós enchimento, independentemente das alterações realizadas no ambiente, apenas a espécie Mazama gouazoubira, popularemente conhecida como Veado-catingueiro, foi 42

Percentual (%) Número de Espécies PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE FAUNA registrada em todas as quatro campanhas, devido a sua ampla capacidade de adaptação em áreas antropizadas. A curva do coletor, obtida através dos registros até o momento, não alcançou a assíntota de estabilidade, como era esperado em virtude do número de espécies já conhecidas para a área. 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 1ª 2ª 3ª 4ª Campanhas Figura 15. Curva do coletor comparativo com o registro de espécies durante os monitoramentos pré e pós-enchimento na área de influência da PCH Santo Antônio do Caiapó. 25% 20% 15% 10% 5% 0% Ordens Figura 16. Composição mastofaunística em relação às ordens de acordo com o número de espécies coletados durante a quarta campanha do Programa de Monitoramento da Fauna na área de influencia. 43

Percentual (%) PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE FAUNA 25% 20% 15% 10% 5% 0% Famílias Figura 17. Composição mastofaunística em relação às famílias de acordo número de espécies coletados durante a quarta campanha do Programa de Monitoramento da Fauna na área de influencia. Nota-se que durante cada campanha obteve valores diferentes na riqueza estimada de espécies, havendo redução entre a 1ª e 4ª campanhas de monitoramentos pré e pós-enchimento, fato este, devido a supressão da vegetação. 44

60 50 Riqueza estimada por espécies 40 30 20 10 0-10 -20 1 2 3 4 Campanhas PCH Santo Antônio do Caiapó Figura 18. Riqueza estimada de espécies de acordo com a campanha de monitoramento. As barras representam o intervalo de confiança de 95%. Em geral observa-se que em todas as campanhas o índice de diversidade de Shannon-Wiener foi consideravelmente alto, pois obteve o valor próximo à diversidade total. O valor para equitabilidade também se encontra relativamente alto, indicando que não há dominância expressiva de espécies e que a área de influência possui um padrão uniforme de distribuição das espécies. A uniformidade é um fator que altera a diversidade, já que o índice de Shannon-Wiener leva em consideração tanto a riqueza quanto a abundância da comunidade, mostrando que quanto maior a abundância de determinada espécie, maior será a taxa de equitabilidade, o que pode indicar a dominância de uma espécie. Já a riqueza é analisada através do número de espécies registradas. Os dados obtidos para o grupo da mastofauna terrestre da PCH Santo Antônio do Caiapó são apresentados na tabela abaixo de acordo com cada campanha. 45

Tabela 6. Dados de riqueza, abundância e diversidade em quatro campanhas realizadas na PCH Santo Antônio do Caiapó. Campanha Riqueza Abundância Shannon-Wiener S N H' H'max J' 1ª 18 57 1.003 1.255 0.799 2ª 10 21 0.944 1 0.944 3ª 8 29 0.74 0.903 0.819 4ª 13 21 1.077 1.114 0.967 Abreviações: S = Riqueza; N = Abundância; H = Índice de diversidade de Shannon-Wiener; Hmáx = Índice de diversidade máxima; J = Equitabilidae. O dendrograma abaixo indica que a primeira e terceira campanhas apresentaram maior similaridade (62,79%) durante todas as campanhas de monitoramento pré e pós-enchimento. Isto se deve ao fato do registro das mesmas espécies durante a realização das campanhas de monitoramento, sendo elas: Didelphis albiventris, Monodelphis domestica, Mazama gouazoubira, Cerdocyon thous, Sapajus libidinosus, Hidrochoerus hydrochaeris, Euphractus sexcinctus e Myrmecophaga tridactyla. Tabela 7. Índice de similaridade Bray-Curtis para a mastofauna coletada ao longo do Programa de Monitoramento da Fauna na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó Campanhas Campanhas 1ª 2ª 3ª 4ª 1ª * 43.58 62.79 28.94 2ª * * 52.00 40.00 3ª * * * 37.50 4ª * * * * 46

Figura 19. Índice de similaridade Bray-Curtis para assembleia de mastofauna coletados ao longo do Programa de Monitoramento da Fauna na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó. 47

Tabela 8. Mamíferos terrestres registrados de acordo com cada campanha de monitoramento realizada na área de Influência da PCH Santo Antônio do Caiapó. TAXON / NOME CIENTÍFICO Ordem Didelphimorphia Família Didelphidae NOME POPULAR TIPO DE REGISTRO / FREQUENCIA STATUS HABITAT / PRÉ-ENCHIMENTO PÓS-ENCHIMENTO CONSERVACIONISTA DIETA 1ª CAMPANHA 2ª CAMPANHA 3ª CAMPANHA 4ª CAMPANHA IUCN IBAMA Didelphis albiventris Gambá 6 / 7 6 / 2 6 / 4 6 / 3 FF / CR,FR PP NC Monodelphis domestica Catita 6 / 1 6 / 1 6 / 1 FF / IS, CR PP NC Marmosa murina Cuíca 6 / 1 FF / IS,FR PP NC Gracilinanus agilis Catita 6 / 1 6 / 2 FF / CR,FR PP NC Ordem Artiodactyla Família Cervidae Mazama gouazoubira Veado-catingueiro 1,2,4 / 4 2 / 1 1 / 2 2;4 / 2 CA / HB PP NC Família Tayassuidae Tayassu pecari Queixada 2 / 1 CA / HB, FR, IS VU NC Ordem Carnivora Família Canidae Cerdocyon thous Cachorro-do-mato 1,2 / 2 2 / 2 2 / 2 CA, FF/CR, FR PP NC Chrysocyon brachyurus Lobo-guará 2 / 1 CA, FF/CR, FR QA VU Família Felidae Puma concolor Onça-parda 2 / 1 CA LC VU Família Procyonidae Nasua nasua Quati 1,2 / 1 FF / CR, FR PP NC Procyon cancrivorus Mão-pelada 2 / 1 FF / CR, FR PP NC

Ordem Lagomorpha Família Leporidae Sylvilagus brasiliensis Tapeti 1 / 2 1 / 1 CA, FF/HB PP NC Ordem Primates Família Cebidae Sapajus libidinosus Macaco-prego 1,2,4,5 / 21 1 / 5 1,4 / 13 1 / 1 FF/CR, IS, FR PP NC Ordem Rodentia Família Echimyidae Proechimys roberti Rato-de-espinho 6 / 3 FF / FR PP NC Família Cricetidae Hylaeamys megacephalus Rato Silvestre 6 / 2 FF / FR,IS PP NC Nectomys squamipes Rato d água 6 / 2 FF / FR,ON PP NC Família Hydrochaeridae Hidrochoerus hydrochaeris Capivara 2,3 / 2 2,3 / 2 2 / 1 3 / 1 AQ / HB PP NC Família Cuniculidae Cuniculus paca Paca 2 / 1 2 / 2 FF / HB, FR PP NC Ordem Cingulata Família Dasypodidae Euphractus sexcinctus Tatu-peba 1,5 / 4 1,5 / 2 1,2,4 / 2 FS / DT,IS PP NC Priodontes maximus Tatu-canastra 5 / 1 Família Myrmecophagidae Myrmecophaga tridactyla Ordem Perissodactyla Família Tapiridae Cabassous unicinctus Tatu-de-rabo-molecomum 1 / 1 Dasypus novemcinctus Tatu-galinha 2 / 1 Tamanduá- Bandeira 1 / 2 1,4 / 3 1,4 / 1 CA / IS VU VU 49

Tapirus terrestris Anta 4 / 1 2 / 1 2;3 / 2 FF,CA / HB VU NC Legendas: Tipo de registro: 1 Visualização; 2 Pegadas; 3 Fezes; 4 Registro Fotográfico; 5 *Outros; 6 Captura. Habitat: AQ Aquático; CA Ambiente Aberto; FF Formações Florestais; SF Semifossoriais. Dieta: DT Detritívoro/carniceiro; CN Carnívoro; IS Insetívoro; HB Herbívoro; FR Frugívoro; Categoria de ameaçada: CR Criticamente em perigo; EP Em Perigo; VU Vulnerável; QA Quase Ameaçado; PP Pouco Preocupante/Não Ameaçada; DD Dado Deficiente, NC Não Consta. Sigla: IUCN International Union of Conservation for Nature (2012); MMA Ministério do Meio Ambiente (IN Nº03/2003 IBAMA) (2008). Frequência referente ao número de registros diretos e indiretos; *Outros: carcaça, vocalização, pelos, etc. 50

Considerações sobre as espécies de mamíferos terrestres capturados na área de influência da PCH Santo Antônio do Caiapó Ordem Artiodactyla A ordem Artiodactyla foi representada pelas famílias Tayassuidae com a espécie Tayassu pecari (Queixada) através de rastro durante transecto e Cervidae, com o registro de Mazama gouazoubira (Veado-catingueiro) através de rastro e de imagem obtida com o uso do armadilhamento fotográfico (Câmera Trap) (Figura 20). Quando impressa no solo, as pegadas apresentam forma triangular, deixando a metade do casco voltada pra dentro, evidenciando a ponta dos cascos (CARVALHO JR & LUZ, 2008). A B 51

C Figura 20. Registros da ordem Artiodactyla durante o Programa de Monitoramento da Fauna na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó. (A) rastro de Tayassu pecari (queixada); (B) e (C) rastro e registro fotográfico de Mazama gouazoubira (veadocatingueiro). Ordem Carnivora A ordem Carnivora foi representada por duas espécies de duas famílias distintas: Família Canidae, representada pela espécie Cerdocyon thous (Cachorro-do-mato) e Família Felidae, com o registro da espécie Puma concolor (Onça-parda), ambas registradas apenas por rastros. A família Canidae possui espécies digitígradas, ou seja, que andam nas pontas dos dedos, com pegadas que imprimem quatro dígitos afastados e alongados. A família Felidae possui indivíduos com corpo flexível, musculoso e alongado com membros robustos e fortes. Também são digitígrados, porém, com patas providas de garras fortes, afiadas e retráteis que auxiliam na captura e contenção de suas presas (OLIVEIRA, 1994; EMMONS & FEER, 1997; ADANIA et al., 1998; EISENBERG & REDFORD, 1999; FELDHAMER et al, 1999; NOWAK, 1999; OLIVEIRA & CASSARO, 2005). 52

Figura 21. Rastros da ordem Carnivora encontrados nos transectos realizado durante o Programa de Monitoramento da Fauna, na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó. Ordem Cingulata A ordem Cingulata foi representada pelas espécies Cabassous unicinctus (Tatu-de-rabo-mole-comum) registrada através de visualização direta, Dasypus novemcinctus (Tatu-galinha) e Priodontes maximus (Tatucanastra) através de rastros e vestígios, durante transecto realizado. Essas espécies podem ser encontradas facilmente em algumas regiões rurais onde há presença humana. Tocas registradas nos demais sítios são sugestivas da existência dessas espécies, e de outras espécies pertencentes à mesma família. 53

Figura 22. Registro de exemplares encontrados da ordem Cingulata encontrados durante o Programa de Monitoramento da Fauna na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó. A = Visualização direta da espécie Cabassous unicinctus (Tatu-de-rabo-molecomum; B = Rastro encontrado da espécie Dasypus novemcinctus (Tatu-galinha) e C = Toca da espécie Priodontes maximus (Tatu-canastra). Ordem Didelphimorphia Família Didelphidae Foram capturados um total de cinco espécimes da Família Didelphidae, sendo três indivíduos da espécie Didelphis albiventris (Gambá) e dois da espécie Gracilinanus agilis (Cuica) (Figura 23). Os marsupiais da Família Didelphidae são caracterizados como mamíferos de pequeno a médio porte (10 a 3.000g; EMMONS & FEER, 1997). Segundo Grand, 1983, os indivíduos possuem mãos e pés com cinco dedos, sendo o primeiro dedo do pé desprovido de garra ou unha e geralmente opositor, usado para agarrar e escalar galhos. A cauda é geralmente longa e preênsil, podendo conter pêlos longos ou diminutos e invisíveis a olho nu. 54

Didelphis albiventris Gracilinanus agilis Figura 23. Registros da ordem Didelphimorphia encontrados durante o Programa de Monitoramento da Fauna na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó. Ordem Lagomorpha A ordem Lagomorpha foi representada pela espécie Sylvilagus brasiliensis (Tapeti) registrada através de visualização direta, durante transecto. Habitam regiões de mata até campos. São animais típicos de regiões de transição entre bosques e áreas mais abertas ou bordas de cursos d água, bem como zonas alagadas. Têm hábito crepuscular e noturno. Durante o dia permanecem escondidos sob raízes expostas, no interior de troncos caídos ou diretamente abaixo da vegetação (PARERA, 2002). Ordem Perissodactyla A ordem Perissodactyla foi representada pela espécie Tapirus terrestris (Anta), registrada através de rastros e fezes. É considerado o maior mamífero terrestre neotropical existente, possui uma pequena tromba móvel curvada para baixo, sendo esta um prolongamento do lábio superior. Sua dieta é baseada praticamente em frutos caídos, que consomem em grande quantidade, tornando-os excelentes dispersores de 55

sementes, contribuindo com a distribuição e manutenção da flora local. As pegadas da anta apresentam dígitos curtos e largos, arredondados nas extremidades, com o dedo médio sempre maior que os demais (CARVALHO JR & LUZ, 2008). Tem hábito solitário e atividade preferencialmente noturna (FRAGOSO, 1994), e durante o dia, permanecem provavelmente deitados em áreas sombreadas. Figura 24. Vestígios da espécie Tapirus terrestris (anta) encontrados durante o Programa de Monitoramento da Fauna na área de influência da PCH Santo Antônio do Caiapó. Ordem Primates Foi registrada através de visualização direta a espécie Cebus libidinosus (Macaco-prego) representada pela família Cebidae (Figura 25). O gênero Cebus apresenta alta capacidade tanto de manipular ferramentas quanto de adaptação e flexibilidade comportamental, o que o ajudou a ter sucesso biológico em áreas antropizadas (FREESE & OPPENHEIMER, 1981; VISALBERGHI,1990; FRAGASZY et al, 1990). 56

Figura 25. Registro da espécie Cebus libidinosus (macaco-prego) durante o Programa de Monitoramento da Fauna ao longo da área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó. Ordem Rodentia Foi representada pela espécie Hydrochoerus hydrochaeris (Capivara), considerado o maior roedor vivente. Os indivíduos dessa espécie podem atingir altura média de mais de 50 cm. Possuem cabeça grande, orelhas curtas arredondadas, membros curtos e cauda vestigial. Tem hábito semi-aquático e se alimentam principalmente de gramíneas e de vegetação aquática. Figura 26. Registro da espécie Hydrochoerus hydrochaeris (Capivara) durante o Programa de Monitoramento da Fauna ao longo da área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó. 57

O Programa de Monitoramento da Mastofauna na área de influência da PCH Santo Antônio do Caiapó é uma forma de acompanhar e avaliar as modificações na composição da assembleia mastofaunística e os possíveis impactos decorrentes da instalação do empreendimento. Dos registros obtidos durante a atual campanha, algumas das espécies registradas são consideradas vulneráveis que apresentam risco ou ameaça de extinção, conforme as listas utilizadas para a avaliação do status conservacionista, sendo elas: Tayassu pecari (Queixada), Puma concolor (Onça-parda) registradas nos pontos 1 e 5; e Tapirus terrestris (Anta) e Priodontes maximus (Tatu-canastra) registradas no ponto 1 e nas áreas de soltura. Portanto, é de enorme valia a continuidade na execução dos Programas de Monitoramento e sempre que possível indicar manejos ou ações através de um banco de dados confiáveis para estes fins, de acordo com estudos já realizados. 6.3. QUIROPTEROS Nesta quarta campanha de monitoramento dos quirópteros da PCH Santo Antônio, foram empreendidas oito noites amostrais que resultaram em 17 capturas de cinco espécies de morcegos da família Phyllostomidae (Anexo II; Tabela 9). Em ordem decrescente de captura as espécies capturadas foram (Figuras 14 e 15): Glossophaga soricina (52,9%); Carollia perspicillata (17,6%); Anoura caudifer (11,8%); Artibeus planirostris (11,8%) e Platyrrhinus lineatus (5,9%). Todas essas espécies são bem conhecidas no Brasil, inclusive em áreas de Cerrado (BORDGNON, 2006; ZORTÉA et al., 2010). 58

Tabela 9. Lista das espécies, abundância e respectiva guilda alimentar predominante dos morcegos capturados na PCH Santo Antônio do Caiapó. Fam./subfamília Espécie Campanha 1ª 2ª 3ª 4ª SOMA Guilda EMBALLONURIDAE Peropteryx macrotis* x x Insetívoro PHYLLOSTOMIDAE Desmodontinae Desmodus rotundus 1 1 Hematófago Anoura caudifer 3 3 4 2 12 Nectarívoro Glossophaginae Anoura geoffroyi 2 2 Nectarívoro Glossophaga soricina 3 1 2 9 15 Nectarívoro Phyllostominae Trachops cirrhosus 2 2 Onívoro Phyllostomus discolor 1 1 Onívoro Carolliinae Carollia perspicillata 8 6 14 3 31 Frugívoro Artibeus planirostris 2 0 2 2 6 Frugívoro Stenodermatinae Platyrrhinus incarum 1 1 Frugívoro Platyrrhinus lineatus 8 6 1 15 Frugívoro VESPERTILIONIDAE 0 Myotis nigricans 1 1 2 Insetívoro TOTAL 29 14 28 17 88 *Espécie registra apenas em abrigo diurno. 59

Platyrrhinus lineatus Artibeus planirostris Anoura caudifer Carollia perspicillata Glossophaga soricina 0 10 20 30 40 50 60 Frequência (%) Figura 27. Frequência das espécies capturadas nas quatro campanhas do Programa de Monitoramento na PCH Santo Antônio do Caiapó do Caiapó. Figura 28. Espécies de morcegos capturadas durante a quarta campanha de monitoramento da PCH Santo Antônio do Caiapó: A = Anoura caudifer; B = Artibeus planirostris; C = Carollia perspicillata =; D = Glossophaga soricina. E= Platyrrhinus lineatus E O esforço amostral de 7.200 m 2.h resultou em uma eficiência amostral de 0,0024 ind/m 2.h. O valor da diversidade calculada pelo índice de Shannon- Wiener nesta campanha foi pouco abaixo da média obtida entre as quatro amostragens (H 4ªcampanha =1,313; H média = 1,520) e similar ao valor encontrado 60

na campanha passada (ver Tabela 10). De uma maneira geral, observa-se que a relação entre a abundância e a riqueza das espécies capturadas nesta amostragem (S=5; N=17) apresentou uma boa equanimidade (J =0,816) e próximo à média obtida entre as quatro amostragens (J média =0,841). Contudo, o valor da diversidade para a área do empreendimento (H total =1,836) esta próxima à faixa de 2,0, comumente encontrada na região Neotropical (ESBERARD 2003), incluindo áreas do Cerrado goiano (TOMAZ & ZORTÉA 2008). Com relação aos ambientes estudados, quatro fitofisionomias foram amostradas (Cerradão, Mata Ciliar, Mata de Galeria e Mata Seca Semidecídua). Entretanto, os ambientes compostos por Mata Ciliar e Mata de Galeria foram tratadas aqui como Ambiente Justafluvial a fim de se evitar viés estatístico, uma vez que a forma como os morcegos exploram os ambientes não é bem conhecida (TOMAZ & ZORTÉA 2008). Nesta amostragem, os ambientes Justafluviais foram mais abundantes e ricos em espécies (N=11; S=4) que Cerradão e Mata Seca (ambos tiveram apenas uma captura de três espécies). Por outro lado, a similaridade nas capturas entre os dois últimos ambientes resultou em uma diversidade ligeiramente mais elevada do que a observada em Ambiente Justafluvial (H CE e MS = 1,099; H AJ = 0,886). Mas quando observado estes dados entre as outras amostragens, verifica-se grande oscilação entre uma campanha e outra (Figura 29). Isso parece ser uma resposta da comunidade de morcegos frente à fragmentação dos ambientes (existente muito antes da implantação do empreendimento), que são interligados por uma matriz de permeabilidade que possibilita o fluxo das espécies entre os remanescestes existentes. 61

Tabela 10. Dados de riqueza (S), abundância (N), diversidade, esforço de captura (m 2.h) e eficiência amostral (indivíduos/m 2.h) ao longo das quatro campanhas realizadas na área de influencia da PCH Santo Antônio do Caiapó. Campanha S N Esforço Eficiência H' Hmax J' 1ª 9 29 10.260 0,0028 1,897 2,197 0,863 2ª 6 14 8.550 0,0016 1,537 1,792 0,858 3ª 5 28 7.200 0,0039 1,332 1,609 0,827 4ª 5 17 7.200 0,0024 1,313 1,609 0,816 Média 6 22 8.303 0,0027 1,520 1,802 0,841 Todas 11 88 33.210 0,0026 1,836 2,398 0,766 Abreviações: H = Índice de diversidade de Shannon-Wiener; Hmáx = Índice de diversidade máxima; J = Equitabilidae. 62

14 12 10 N S 8 7 6 Abundância (N) 8 6 4 5 4 3 2 Riqueza (R) 2 1 A 0 AJ CE MS AJ CE MS AJ CE MS AJ CE MS 1ª campanha 2ª campanha 3ª campanha 4ª campanha Ambientes 0 B 63

2,0 Índice de diversidade de Shannon-Wiener (H ) 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 H' J' 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 Equitabilidade (J') 0,4 AJ CE MS AJ CE MS AJ CE MS AJ CE MS 0,0 1ª campanha 2ª campanha 3ª campanha 4ª campanha Ambientes Figura 29. Gráficos: A = Abundância e Riqueza; B = Índice de diversidade de Shannon- Wiener (H ) e sua respectiva equitabilidade (J ). Siglas: AJ = Ambiente Justafluvial; CE = Cerradão; CT = Cerrado Típico). Levando em consideração que a comunidade de morcegos na área da PCH Santo Antônio é composta por cinco guildas tróficas (Tabela 9), a diversidade trófica encontrada nesta campanha é considerada baixa, onde os frugívoros foram mais especiosos e menos abundantes que os nectarívoros (Figura 30). Entretanto, esta característica da comunidade é considerada positiva, visto que eles desempenham importantes papéis ecológicos, onde polinizam e dispersam sementes de várias espécies de plantas, incluindo espécies pioneiras (FLEMING, 1985; PERACCHI et al. 2011). Desse modo contribuem para a regeneração dos ambientes fragmentados observados na região da usina. 64

12 10 Abundância Riqueza 8 6 4 2 0 Nectarívoro Frugívoro Figura 30. Guildas Tróficas dos morcegos capturados na quarta campanha do Programa de Monitoramento dos quirópteros da PCH Santo Antônio do Caiapó. Considerações sobre a ocorrência de espécies hematófagas e da raiva na região em função do grande interesse em relação economia rural e à saúde pública da espécie hematófaga Desmodus rotundus, foi realizado uma investigação mais criteriosa relacionada à ocorrência desta espécie na região do estudo. Além da coleta tradicional com redes de neblina e buscas ativas em abrigos diurnos, foram realizadas entrevistas a respeito da raiva na região do estudo (Anexo III). As entrevistas foram realizadas com moradores e servidores de instituições ligadas à defesa sanitária rural e urbana. Nas entrevistas foram concentradas informações a respeito do número de casos da raiva na região, o status de vacinação das criações e sobre as frequências de espoliações feitas por morcegos nos animais. Os dados obtidos nas entrevistas revelaram que a região ainda sofre muito com ataques dos morcegos hematófagos sobre as criações domesticas, mas que a raiva parece estar 65

controlada, tendo em vista que não foram diagnosticados casos nos últimos meses. As quatro campanhas do programa de monitoramento dos quirópteros da PCH Santo Antônio do Caiapó resultaram 88 capturaras de onze espécies e com o registro de uma espécie observada em abrigo diurno, são anotadas um total de 12 espécies a lista do empreendimento (Tabela 9). Apesar de não ter sido capturada nenhum táxon inédito a lista do empreendimento deste a segunda amostragem, espera-se que futuras amostragens revelem o verdadeiro potencial da quiropterofauna na área de influência da usina, uma vez a curva acumulativa das espécies pelo método de rarefação tende ao acréscimo (Figura 18). Além do mais, a curva de espécies estimadas pelo método Jackknife 1ª Ordem corrobora esta afirmativa (Figura 31), onde é esperada uma riqueza composta por ± 16,8 espécies de morcegos. 66

24 22 20 18 16 Riqueza de espécies 14 12 10 8 6 4 2 0-2 -4 Observada Estimada -6 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 Esforço amostral (dias) Figura 31. Curva de rarefação da riqueza observada, contrastada com o esforço amostral na PCH Santo Antônio do Caiapó. Simbologia: desvio padrão (preto) e intervalo de = confiança (vermelho). No geral, a fauna de morcegos em Santo Antônio é bastante simplificada e composta por espécies comuns, sendo prováveis as atividades agropastoris associadas à fragmentação dos habitats seja o maior causador da baixa taxocenose observada. Além do mais, isso demostra a necessidade de um olhar mais cauteloso quanto à presença de morcegos hematófagos da espécie Desmodus rotundus. Apesar de não ter sido capturado nenhum hematófago nesta amostragem, a continuidade do monitoramento servirá como investigação da circulação do vírus rábico nas abrangências do empreendimento, podendo prevenir possíveis surtos da enfermidade na região. 67

No que diz respeito ao estado de conservação das espécies, nenhuma consta nas listas de espécies ameaçadas de extinção no Brasil e mundial (MACHADO et al. 2008; IUCN, 2013). Levando em consideração os aspectos apresentados, considera-se importante a continuidade do monitoramento, proporcionando maiores subsídios a respeito do estado de conservação dos remanescentes florestais e as contribuições desenvolvidas por morcegos nas abrangências da na PCH Santo Antônio do Caiapó. 6.4. ORNITOFAUNA RESULTADOS E DISCUSSÕES Foram catalogadas 87 espécies nesta campanha (Tabela 11) potencialmente presentes nas áreas avaliadas (Figura 32), correspondendo a 10,4% das aves registradas para o Cerrado (SILVA, 1995). 68

Tabela 11. Lista de espécies catalogadas na área de influência da PCH Santo Antônio do Caiapó. Ordem sistemática e nomenclatura conforme CBRO (2011). (MC) Mata Ciliar, (MG) Mata de Galeria, (ME) Mata Seca, (CD) Cerradão, (CE) Cerrado Típico, (PA) Pasto, (AH) Hídrico, e (PD) Peridomiciliar; (DVF) dependência de vegetação florestal (SILVA, 1995); e, (R) espécie residente e (E) endêmica do Brasil (CBRO, 2011). Struthioniformes Nome do Táxon Nome em Português Ambiente Amostrado Registro Status Rheidae Rhea americana ema AM V R Tinamiformes Tinamidae Crypturellus parvirostris inhambu-chororó CE Z R Anseriformes Anatidae Dendrocygna autumnalis asa-branca AH V R Amazonetta brasiliensis pé-vermelho AH V R Pelecaniformes Ardeidae Tigrisoma lineatum socó-boi AH V R Bubulcus ibis garça-vaqueira AH V R Threskiornithidae 69

Mesembrinibis cayennensis coró-coró AH V R Theristicus caudatus curicaca AM V R Cathartiformes Cathartidae Cathartes aura urubu-de-cabeça-vermelha AM V R Sarcoramphus papa urubu-rei ME V R Coragyps atratus urubu-de-cabeça-preta AM V R Accipitriformes Accipitridae Heterospizias meridionalis gavião-caboclo AM V R Rupornis magnirostris gavião-carijó MC V,Z R Falconiformes Falconidae Ibycter americanus gralhão CE, AM V R Caracara plancus caracará AM V R Milvago chimachima carrapateiro AM V R Falco sparverius quiriquiri AM V R Gruiformes Rallidae Aramides cajanea saracura-três-potes AH V R Cariamiformes Cariamidae 70

Cariama cristata seriema AM V R Charadriiformes Charadriidae Vanellus cayanus batuíra-de-esporão AH V R Vanellus chilensis quero-quero AM V R Jacanidae Jacana jacana jaçanã AH V R Sternidae Phaetusa simplex trinta-réis-grande AH V R Rynchopidae Rynchops niger talha-mar AH V R Columbiformes Columbidae Columbina minuta rolinha-de-asa-canela AH V R Columbina talpacoti rolinha-roxa AM, ME, CE V,Z R Columbina squammata fogo-apagou AM, ME V R Patagioenas picazuro pombão ME, AM V R Patagioenas cayennensis (Bonnaterre, 1792) pomba-galega Psittaciformes Psittacidae CD, ME V R Anodorhynchus hyacinthinus Arara-azul ME V Ara ararauna arara-canindé ME, AM V,Z R 71

Cuculiformes Diopsittaca nobilis maracanã-pequena AM V R Aratinga auricapillus jandaia-de-testa-vermelha ME V,Z R Aratinga aurea periquito-rei AM V,Z R Brotogeris chiriri periquito-de-encontro-amarelo AM V,Z R Pionus maximiliani maitaca ME V,Z R Amazona aestiva papagaio-verdadeiro ME V,Z R Cuculidae Crotophaga ani anu-preto AM, AH V R Guira guira anu-branco AM V R Taperinae Tapera naevia saci MC Z R Strigidae Athene cunicularia coruja-buraqueira AM V R Caprimulgiformes Caprimulgidae Apodiformes Hydropsalis albicollis bacurau AM V R Chordeiles nacunda corucão AH V R Trochilidae Thalurania furcata beija-flor-tesoura-verde CE, MC C R Phaethornis pretrei beija-flor-rabo-branco CE C R 72

Amazilia fimbriata beija-flor-de-garganta-verde MC, MG C R Coraciiformes Alcedinidae Megaceryle torquata martim-pescador-grande AH V,Z R Momotidae Momotus momota udu-de-coroa-azul CE, MG C R Galbuliformes Galbulidae Galbula ruficauda ariramba-de-cauda-ruiva CD V R Bucconidae Horsfield, 1821 Nonnula rubecula macuru MC V R Monasa nigrifrons chora-chuva-preto MC, ME, CE V,Z R Chelidoptera tenebrosa urubuzinho AM V R Piciformes Ramphastidae Ramphastos toco tucanuçu AM V R Picidae Melanerpes candidus birro, pica-pau-branco AM V R Colaptes melanochloros pica-pau-verde-barrado AH V R Campephilus melanoleucos pica-pau-de-topete-vermelho CE, AM V R Dryocopus lineatus pica-pau-de-banda-branca CD V R Passeriformes 73

Thamnophilidae Dysithamnus mentalis choquinha-lisa CD C R Thamnophilus pelzelni choca-do-planalto MC, CE V,Z,C R, E Thamnophilus torquatus choca-de-asa-vermelha MC V,Z R Dendrocolaptidae Dendrocolaptes platyrostris arapaçu-grande MC V,Z R Lepidocolaptes angustirostris arapaçu-de-cerrado MC, ME V,Z R Furnariidae Furnarius rufus joão-de-barro AM, AH V R Tyrannidae Leptopogon amaurocephalus cabeçudo ME, MC, CE V,Z,C R Hemitriccus margaritaceiventer sebinho-de-olho-de-ouro ME V,Z R Cnemotriccus fuscatus guaracavuçu ME V R Gubernetes yetapa tesoura-do-brejo AH V R Arundinicola leucocephala freirinha AH V R Colonia colonus viuvinha CD V R Pitangus sulphuratus bem-te-vi ME V,Z R Myiarchus ferox maria-cavaleira CD V R Tyrannus melancholicus suiriri AM V R Pipridae Pipra fasciicauda uirapuru-laranja MG, CE V,C R Antilophia galeata soldadinho CE, MG, ME, MC C R 74

Vireonidae Cyclarhis gujanensis pitiguari CE, MC V,Z R Hirundinidae Stelgidopteryx ruficollis andorinha-serradora AH V R Tachycineta albiventer andorinha-do-rio AH V R Turdidae Turdus leucomelas sabiá-barranco MG, ME V,Z R Thraupidae Saltator similis trinca-ferro-verdadeiro MC V R Saltator maximus tempera-viola MC, MG, CE V,Z R Lanio penicillatus pipira-da-taoca MG C R Tachyphonus rufus pipira-preta ME, AM V R Emberizidae Sicalis flaveola canário-da-terra-verdadeiro AH V R Basileuterus hypoleucus pula-pula-de-barriga-branca MC V,C R Basileuterus flaveolus canário-do-mato ME, MC, CD V,Z R Icteridae Psarocolius decumanus japu AM V,Z R Gnorimopsar chopi graúna AM V,Z R Fringillidae Euphonia chlorotica fim-fim MC, ME, CE V,Z R 75

Conforme a Figura 5 pode-se afirmar que a riqueza avifaunística tende a crescer com o aumento do esforço amostral, pois a curva apresenta tendência à assíntota (estabilização) após o quinto dia de amostrado, demonstrando que o esforço amostral foi suficiente para amostrar 62,5% da avifauna potencialmente presente nas áreas avaliadas. As famílias com maior abundância relativa entre os não-passeriformes foi a das araras, papagaios e periquitos Psittacidae (7 spp.) e entre os passeriformes foi Tyrannidae (9 spp.). Os psitacídeos distribuem-se em quase todos os biomas brasileiros, especialmente em florestas. Muitas espécies possuem a capacidade de imitar a fala humana, o que, aliada ao fato de possuírem belas plumagens, fazem com que estas aves sejam avidamente perseguidas na natureza por traficantes de animais. Seus bicos arredondados conseguem romper as mais duras sementes e as grandes araras apresentam dieta especializada, consumindo os duros cocos de palmeiras. Muitas espécies destas famílias se encontram ameaçadas de extinção no Brasil, devido à captura excessiva por traficantes e à intromissão em seu biótopo (SIGRIST, 2009). A maior representatividade dos tiranídeos está relacionada à sua alta representatividade no Cerrado (SICK, 1997). Esta família é a única que está presente em todos os estratos de mata, aumentando sua representatividade próxima ao dossel e acima dele, onde os indivíduos capturam insetos (CURCINO et. al., 2007). É também ecologicamente flexível, contribuem com muitas espécies generalistas, que preferem bordas de matas e áreas com arborização esparsa, muito embora uns poucos endemismos prefiram zonas campestres mais extensas, colonizando praticamente todos os biótopos disponíveis do Brasil Central (SIGRIST, 2009). Espécies típicas de ambientes aquáticos que merecem destaque nesta campanha são asa-branca (Dendrocygna autumnalis), pé-vermelho (Amazonetta brasiliensis), socó-boi (Tigrisoma lineatum), coró-coró 76

(Mesembrinibis cayennensis), batuíra-de-esporão (Vanellus cayanus), jaçanã (Jacana jacana), trinca-réis-grande (Phaetusa simplex), talha-mar (Rynchops niger) (Figura 6) e martim-pescador-grande (Ceryle torquata). Essas espécies apresentam maior probabilidade de serem beneficiadas pela formação do reservatório no rio Caiapó. As espécies que apresentam pouco distúrbio ambiental conforme Stotz et. al. (1996) revelam a consolidada interferência antrópica na área de influência da PCH Santo Antônio do Caiapó beneficiadas pela transformação da paisagem, a saber, garça-vaqueira Bubulcus ibis, curicaca Theristicus caudatus, urubu-de-cabeça-preta Coragyps atratus, seriema Cariama cristata, quero-quero Vanellus chilensis, anu-preto Crothophaga ani, anu-branco Guira guira, bem-ti-vi Pitangus sulphuratus e graúna Gnorimopsar chopi. Todas as espécies encontradas nesta campanha na área de influencia são consideradas residentes locais e/ou regionais usarem as áreas de influência direta e indireta como locais de reprodução. Foi registrada uma espécie endêmica do Brasil conforme Sigrist (2009), a choca-do-planalto (Thamnphilus pelzelni) que ocorre em ampla região que vai da área central do Brasil (onde ocupa principalmente matas de galeria) até a região Nordeste. É uma espécie comum que ocorre em maior densidade ao norte de sua área de distribuição, onde ocupa habitats continuamente ameaçados por monoculturas e extração de madeira. A presença de arara-canindé (Ara ararauna, Psittacidae) inviabiliza a formação do reservatório entre os meses de junho a novembro caso haja troncos de buritis (Mauritia sp.) ao longo da área de inundação. Tal população foi constatada nesta primeira campanha composta por 25 indivíduos. O método de captura com redes mist-nets foi utilizado em ambientes fechados (matas) e formações savânicas (cerrado denso) para registro de aves de difícil detecção durante 399horas*rede cujo sucesso obtido foi de vinte e oito indivíduos e treze espécies (Figura 32). 77

Número de indivíduos capturados PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE FAUNA 7 6 5 4 3 2 1 0 Espécies capturadas Figura 32. Síntese qualitativa e quantitativa das aves capturadas na quarta campanha do Programa de Monitoramento da Fauna na PCH Santo Antônio do Caiapó A espécie que apresentou maior abundância foi o dançador-laranja (Pipra fasciicauda) (n = 7). O dançador-laranja presente nos afluentes da margem sul do Rio Amazonas, desde as bacias dos rios Purus e Juruá até o Maranhão, estendendo-se em direção sul até o Paraná. Há ainda populações aparentemente isoladas no Ceará e Alagoas. Encontrado também no Peru, Bolívia, Paraguai e Argentina (Wikiaves, 2012). Os demais indivíduos registrados por este método são espécies dependentes de vegetação florestal sensíveis a distúrbios ambientais (Tabela 11). Esta campanha apresentou abundância abaixo do intervalo de confiança da riqueza estimada para as áreas avaliadas que corresponde a 139 ± 50,25 espécies, portanto, o resultado obtido pode ser justificado pelo dinamismo das aves, o que dificulta o registro avifaunístico principalmente por observação que 78