Realcalinização de concretos carbonatados influência de características do material



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Transcrição:

TEMA 2 Rehabilitación y refuerzo de estructuras Realcalinização de concretos carbonatados influência de características do material P. H. L. C. Ribeiro 1,a, G. R. Meira 2,b, P. R. R. Ferreira 2,c e N. P. Barbosa 1 1 Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana e Ambiental, João Pessoa, Brasil 2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Engenharia Urbana e Ambiental, João Pessoa, Brasil a phlcr_jp@hotmail.com, b gibsonmeira@yahoo.com, c pablo.r06@hotmail.com Palavras-chave: carbonatação, concreto, corrosão, realcalinização eletroquímica, repassivação. Resumo. Um dos maiores problemas que afeta as estruturas de concreto armado inseridas em ambientes urbanos é a corrosão das armaduras desencadeada pela carbonatação do concreto. A realcalinização eletroquímica (RAE) tem sido proposta como um método de tratamento visando o restabelecimento da alcalinidade dos concretos e criando condições para a repassivação das armaduras. Nesse sentido, este trabalho estudou a influência de características do concreto na RAE de concretos carbonatados. Para tal, foram moldados corpos de prova (CP) prismáticos armados, utilizando-se os cimentos Portland brasileiros tipo CP V (ARI) e CP IV (POZ) e relações água/cimento 0,55 e 0,65. As amostras foram curadas por sete dias em câmara úmida e submetidas a um processo de carbonatação acelerada (100 % de CO 2 ), seguida da RAE, sendo o avanço da frente de realcalinização monitorada através de solução indicadora de timolftaleína. Para o tratamento de RAE utilizou-se uma solução alcalina de carbonato de sódio (1M), uma malha de titânio (ânodo) e uma densidade de corrente média de 2 A/m² concreto. Nas duas etapas foi realizado um monitoramento eletroquímico, através de medidas de potenciais de corrosão (E corr ) e velocidade de corrosão (i corr ). Os resultados mostram a eficiência do tratamento em relação ao restabelecimento da alcalinidade do concreto. No entanto, os concretos POZ apresentam maior dificuldade para o restabelecimento da sua alcalinidade. Além disso, após o tratamento, os concretos POZ demoram mais para que as armaduras demonstrem uma tendência de um processo de repassivação. Este comportamento pode ser observado através das medidas de E corr. Introdução O concreto é um material que apresenta valores típicos de ph entre 12,5 e 13,5 nas primeiras idades [1]. No caso de estruturas de concreto armado, as condições alcalinas do concreto proporcionam a formação de uma película passivadora sobre a superfície do aço. Desde que essa película se mantenha estável, a posterior corrosão do aço é evitada [2]. Entretanto, a quebra da

película passivadora pode ocorrer em função da penetração de substâncias agressivas que reduzem o ph do concreto para valores menores que 9,0, como é o caso do gás carbônico presente na atmosfera, desencadeando o processo de corrosão [3]. Para prevenir ou corrigir esse tipo de problema, nas estruturas de concreto armado, tem sido estudada a técnica de realcalinização eletroquímica (RAE), que consiste na aplicação de um campo elétrico entre a armadura da estrutura e um ânodo externo, na presença de uma solução alcalina (eletrólito) (Fig. 1), com o objetivo de restabelecer a alcalinidade do concreto perdida com o processo de carbonatação [4;5]. Sendo um tratamento temporário, o mesmo cessa após o restabelecimento da alcalinidade do concreto de cobrimento, sem quebrar estruturalmente o concreto velho, como ocorre na execução dos reparos localizados, e sem a aplicação permanente de corrente elétrica, como é requerido na proteção catódica [6]. Figura 1: Ilustração representativa do arranjo empregado e dos mecanismos que ocorrem durante a realcalinização eletroquímica [7]. Atualmente, tem sido considerado que o tratamento de RAE ocorre, inicialmente, em função da geração de hidroxilas no entorno da armadura, devido à eletrólise da água, as quais são parcialmente eletroneutralizadas pela eletromigração dos íons sódio proveniente da solução alcalina de Na 2 CO 3 [5;8]. Em seguida, o tratamento é completado com o transporte do carbonato de sódio (agente alcalino) na direção da armadura através do mecanismo de eletro-osmose [4; 9; 10; 11]. Qualquer penetração adicional da solução alcalina devido à absorção contribui para o aumento da alcalinidade do concreto de cobrimento, mas, nesse caso, essa contribuição se limita a poucos milímetros da superfície [6]. A Fig. 1 resume esses fenômenos.

Boa parte dos estudos sobre realcalinização eletroquímica foi realizada com o objetivo de entender as características dos fenômenos envolvidos [9;11]. Aspectos relacionados aos efeitos secundários do método, como alteração das características micro-estruturais do concreto, bem como o comportamento do método em função de características do material, como tipo de cimento e relação a/c, ainda carecem de mais estudos [7;12]. Metodologia Para o estudo, foram moldados corpos de prova (CP) cúbicos, 8x8x8cm, com espessuras de cobrimento de 1 cm, com a incorporação de duas armaduras de 6,3 mm (aço CA 50) em cada um dos mesmos (Fig. 2). Antes da moldagem, as barras foram submetidas um tratamento de limpeza superficial através de escovação mecânica, com o objetivo de evitar a influência de quaisquer oxidações prévias na superfície do metal, além disso, as extremidades inferiores e superiores das barras foram isoladas com fita isolante, delimitando uma área constante de exposição. Figura 2: Disposição das barras nos corpos de prova de concreto. Os concretos foram elaborados com as relações água/cimento 0,55 e 0,65 e utilizando-se os cimentos Portland brasileiros tipo CP V (ARI) e CP IV (POZ), cuja composição química é apresentada na Tabela 1. As dosagens e características dos concretos são apresentadas na Tabela 2. Tabela 1: Composição química dos cimentos empregados. Tipo de cimento SO 3 SiO 2 Al 2 O 3 Fe 2 O 3 CaO MgO Na 2 O K 2 O RI PF CP IV - Pozolânico 2,69 25,75 5,44 2,44 51,56 4,51 0,23 1,86 16,81 4,47 CP V - ARI 3,19 18,96 3,92 2,95 61,06 3,08 0,15 1,03 0,67 1,15

Tabela 2: Caracterização mecânica e física dos concretos empregados. Resistência à Índice de Massa Tipo de compressão Absorção a/c Vazios Específica cimento aos 90 dias (%) (%) (g/cm³) (Mpa) CP V - ARI 0,65 36,29 4,62 10,21 2,21 CP IV - 0,55 28,91 4,52 10,04 2,22 Pozolânico 0,65 22,28 5,67 12,32 2,17 Dosagem (1:2,37:2,58) (cimento, areia e pedra granítica) As amostras foram curadas por sete dias em câmara úmida e, após 180 dias, submetidas a um processo de carbonatação acelerada (100 % de CO2), sob uma umidade relativa do ar de 75% ± 8,5% e temperatura de 28,5 ±1,5ºC. Confirmada a despassivação das armaduras, através das técnicas de monitoramento eletroquímicos descritas mais adiante, foi aplicado o método de tratamento de RAE nos CP previamente saturados com água deionizada. O método de realcalinização eletroquímica utilizado consistiu na aplicação de um campo elétrico entre as armaduras dos CP e uma malha externa em intensidade tal que permitisse a passagem de uma densidade de corrente média de 2 A/m² em relação à superfície de concreto exposta. Nesse arranjo, as armaduras presentes no concreto atuaram como cátodo e foram conectadas ao pólo negativo de uma fonte externa, enquanto que uma malha externa de titânio atuou como ânodo, conectada ao pólo positivo da mesma fonte. Todo esse sistema atuou imerso em um eletrólito composto de uma solução de Na 2 CO 3 (1M). A opção por este nível de densidade de corrente e pelo eletrólito empregado se justificam em função das experiências anteriores apresentadas na literatura [4;5;7;8]. O tratamento foi constantemente monitorado, sendo considerado completo quando a região realcalinizada atingia toda a espessura do cobrimento, em um raio mínimo de 10mm no entorno da superfície exposta da barra. O monitoramento da frente de realcalinização foi realizado através de CP irmãos, elaborados para este fim, os quais sofreram a análise periódica da alcalinidade do concreto através da aplicação de solução indicadora de ph de timolftaleína (a 1%). Dessa forma, os CP foram periodicamente desbastados no sentido perpendicular das faces expostas e, após limpeza da superfície do concreto com jato de ar comprimido, sofreram a aplicação da solução de timolftaleína. O desbaste foi feito de modo a se obter uma superfície de corte paralela e o mais próximo possível às armaduras (Fig. 3a). A partir da relação entre a área realcalinizada e aquela previamente carbonatada, considerando a projeção da superfície exposta da barra até a superfície do concreto (Fig. 3.b), foi possível verificar o avanço da frente de realcalinização. O monitoramento da área realcalinizada foi feito através de análises gráficas realizadas com base em fotografias registradas nos intervalos de monitoramento.

Figura 3: Avaliação do avanço da frente de realcalinização no concreto através do emprego de solução indicadora de timolftaleína a 1%. Em ambas as etapas (carbonatação acelerada e RAE), foi realizado um monitoramento eletroquímico, através de medidas de potenciais de corrosão (Ecorr) e velocidade de corrosão (icorr). Como critério de avaliação das medidas eletroquímicas, considerou-se que os valores de icorr menores que 0,1 µa/cm2 e de Ecorr menos eletronegativas que -200mV (ESC) indicavam estado de passivação das armaduras. Esse monitoramento também foi feito após o tratamento, durante aproximadamente 75 dias. Análise e Discussão dos Resultados A partir do monitoramento dos parâmetros elétricos, realizado durante a RAE, foi possível a obtenção da resistência ôhmica (razão entre tensão e corrente elétrica) do sistema armadura-concreto-eletrólito-ânodo, cuja evolução é mostrada na Fig. 4.

Figura 4: Evolução dos valores de resistência ôhmica do sistema empregado durante a RAE. Percebe-se que a resistência ôhmica é inicialmente alta, porém tende a diminuir ao longo do tratamento. Segundo Andrade et al. (1999) [9], inicialmente, a resistividade superficial é muito alta, típica de um concreto carbonatado e ao passo que a resistividade diminui, o fluxo de corrente aumenta e o processo é submetido a uma aceleração. Nota-se que os valores de resistência ôhmica são maiores para os concretos de menor relação a/c e para os concretos moldados com cimento Portland CP V (ARI 0,65), o que está associado aos índicios apresentados de menores porosidades (ver Tabela 2), resultando em maiores resistências à mobilidade dos íons no concreto de cobrimento durante a aplicação da RAE. No monitoramento da RAE, buscou-se observar o comportamento da densidade de carga elétrica passante (produto entre a densidade de corrente e o tempo) no sistema necessária para realcalinizar completamente os concretos

carbonatados estudados. A Fig.5 mostra esse comportamento através da relação entre a densidade de carga passante (em relação à superfície do concreto) e o avanço da realcalinização. Figura 5: Avanço da realcalinização em relação à densidade de carga passante. Pelo fato do concreto pozolânico ter apresentado maior porosidade e menor resistência ôhmica ao longo da RAE, esperava-se que o mesmo apresentasse menor tempo de tratamento e menor necessidade de densidade de carga passante para completar a realcalinização. De fato isso não ocorreu, o que pode estar associado a uma maior dificuldade em restabelecer a alcalinidade dos concretos compostos com adições minerais. Isso porque os concretos compostos com adições minerais apresentam menor reserva alcalina e durante o período de carbonatação tendem a atingir menores valores de ph. Desse modo, comparados aos concretos de cimento Portland sem adições, os concretos moldados com cimentos Portland compostos com adições pozolânicas necessitariam de maior densidade de carga passante para a realcalinização de uma mesma espessura de cobrimento. Ainda com base na Fig. 5, é possível analisar a influência da relação água/cimento na eficiência do tratamento, comparando os concretos POZ 0,55 e POZ 0,65. Os concretos de relação a/c igual a 0,55 necessitaram de uma densidade de carga passante equivalente a aproximadamente 285 A.h/m² concreto, enquanto os de relação a/c 0,65 foram completamente realcalinizados com uma densidade de carga passante de 310 A.h/m² concreto. Sobre esse tema, Bertolini et al. (2008) [13] afirmam que, para concretos com baixa relação a/c uma maior densidade de carga passante é necessária

para o tratamento, e desse modo, a uma dada densidade de corrente, o tratamento deveria ser mais demorado para a realcalinização completa da espessura do cobrimento. Porém os resultados obtidos nesta pesquisa (Fig. 5) mostraram valores próximos levemente opostos. Todavia, a falta de maior precisão no monitoramento do avanço da realcalinização para pequenas diferenças de densidade de carga passante, com intervalos mínimos de aproximadamente 24h, pode ter conduzido a essa inversão de comportamento. Como já discutido anteriormente, sendo a resistência ôhmica do concreto inversamente proporcional à relação a/c, em um mesmo intervalo de tempo, uma maior densidade de carga elétrica provavelmente passou pelo concreto POZ 0,65, excedendo a densidade de carga passante necessária para completa realcalinização. Com objetivo de esclarecer este aspecto, a Fig. 6 mostra a relação entre o tempo de aplicação do tratamento e o avanço da realcalinização, com comportamento semelhante ao da Fig. 5, e mostrando que os concretos POZ 0,65 e POZ 0,55, ao serem monitorados no mesmo ato, podem ter levado à inversão de comportamento relatada. É importante destacar que o concreto POZ 0,65 pode ter atingido 100% da realcalinização mais cedo do que o POZ 0,55, embora a falta de maior precisão no monitoramento do avanço da realcalinização não tenha permitido confirmar esse acontecimento. Figura 6: Avanço da realcalinização em relação à duração do tratamento. Para esclarecer melhor o avanço da realcalinização, as imagens obtidas no monitoramento da RAE dos concretos ARI 0,65 estão dispostas na Fig. 7, que mostra o restabelecimento da alcalinidade em aproximadamente 75% (Fig. 7a), 85% (Fig. 7b) e 100% (Fig. 7c) da área previmente carbonatada a ser tratada.

Figura 7: Verificação do avanço da realcalinização durante a RAE dos concretos ARI 0,65 em aproximadamente: (a) 75%; (b) 85% e (c) 100%. Observa-se claramente que a realcalinização ocorreu inicialmente no entorno da barra e foi avançando progressivamente em direção à superfície do concreto, apresentando indícios de que a ocorrência da eletrólise da água na região do cátodo foi responsável pelo aumento da alcalinidade nessa região. Nota-se que o tratamento é eficiente em restabelecer a alcalinidade de toda a espessura do cobrimento, inclusive as camadas mais próximas à superfície do concreto. Esse comportamento se repetiu para todos os outros concretos estudados, o que comprovou a eficiência da RAE em restabelecer a alcalinidade dos concretos carbonatados. Nas figuras a seguir, são mostrados os resultados do monitoramento eletroquímico das amostras antes, durante e após a carbonatação e o tratamento de RAE. Esse monitoramento foi feito através de medidas de potencial de corrosão E corr (Fig. 8) e densidade de corrente instantânea de corrosão (ou velocidade de corrosão) i corr (Fig. 9).

(a) (b)

(c) Figura 8: Potencial de corrosão (ESC) das armaduras monitoradas: (a) CP V ARI 0,65; (b) CP IV POZ 0,55; (c) CP IV POZ 0,65. (a)

(b) (c) Figura 9: Velocidade de corrosão das armaduras monitoradas: (a) CP V ARI 0,65; (b) CP IV POZ 0,55; (c) CP IV POZ 0,65.

Antes da aplicação da RAE, as armaduras despassivadas chegaram a apresentar potenciais de corrosão de -540 a -640mV, devido à carbonatação e saturação dos CP com água deionizada a fim de eliminar o efeito de absorção capilar durante o tratamento. Devido à polarização aplicada, durante a RAE, o potencial de corrosão do aço no concreto muda para valores extremamente negativos. Ao final do tratamento, após desligar o campo elétrico, os potenciais tornam-se gradativamente menos eletronegativos com o tempo, chegando a atingir, após um mês, valores que se estabilizaram em patamares próximos ou menos eletronegativos do que -250mV e, após dois meses, aproximadamente metade das barras apresentaram valores de potenciais menos eletronegativos do que -200mV. Antes da aplicação da RAE os valores de velocidade de corrosão das armaduras despassivadas se encontravam entre 2,3 a 14,0 µa/cm2. Como conseqüência da polarização aplicada, a velocidade de corrosão também sofre variações durante e após o tratamento, como pode ser observado na Fig. 10, de modo que, durante a RAE, a velocidade de corrosão do aço no concreto aumenta expressivamente. Ao final do tratamento, após desligar o campo elétrico, as velocidades de corrosão decrescem gradativamente com o tempo, chegando a atingir, após um mês, valores ainda não estabilizados, variando numa faixa de 0,09 a 8 µa/cm2 e, após dois meses, valores variando predominantemente numa faixa de 0,06 a 1,4 µa/cm2. Neste último momento, a amplitude das variações foi ainda menor, sugerindo uma breve tendência à estabilização das velocidades de corrosão. Com o intuito de avaliar a influência de algumas das variáveis estudadas nesta pesquisa sobre a repassivação das armaduras, algumas curvas de tendência foram traçadas para medidas de potencial de corrosão após o tratamento (Fig. 11). As curvas de tendência do potencial de corrosão permitem inferir os tempos de despolarização necessários para que cada concreto estudado possa alcançar, em média, um patamar menos eletronegativo que -200mV. Para o cálculo dessas curvas, adotaram-se medidas de potencial a partir de 7 dias de despolarização, quando já se apresentavam uma tendência a valores estáveis, até aproximadamente 75 dias. A regressão linear foi a que melhor representou a tendência dos valores de E corr nesse intervalo de monitoramento. Todavia, para um maior intervalo de monitoramento, é possível que outras formas possam representar melhor o comportamento da despolarização.

Figura 11:Curvas de tendências das medidas de potencial de corrosão após a RAE. A partir das curvas de tendência do potencial de corrosão, foi possível estabelecer a relação entre a densidade de carga passante e o tempo de despolarização estimado para que cada amostra estudada possa alcançar, em

média, um patamar menos eletronegativo que -200mV após o tratamento (Tabela 3). Tabela 3: Relação entre tempo de despolarização estimado, densidade de carga passante e alcalinidade relativa. Observou-se uma boa relação entre a densidade de carga passante e o tempo de despolarização estimado, de modo que, quanto maior a densidade de carga passante menor o tempo de despolarização estimado. Porém, esse tipo de análise está circunscrita aos concretos moldados com o mesmo tipo de cimento. Comparando os CP de diferentes tipos de cimento (ARI 0,65 com POZ 0,65), percebe-se que os concretos ARI, devido à maior facilidade de terem a alcalinidade restabelecida, durante a RAE, mesmo com menor densidade de carga passante, apresentaram tempo de despolarização estimado inferior. Em outras palavras, os concretos POZ demoram mais para que as armaduras demonstrem uma tendência de um processo de repassivação. A partir dessas análises foi possível concluir que, como a densidade de carga passante influencia diretamente na alcalinidade do concretos tratados pela RAE, esta densidade tem influência de forma indireta no tempo de despolarização estimado para que as armaduras demonstrem uma tendência de repassivação. Considerações Finais A RAE é um tratamento eficiente em restabelecer a alcalinidade de toda a espessura do cobrimento dos concretos carbonatados. Para os concretos estudados, a influência da relação água/cimento apresentou-se de forma pouco relevante sobre a resistência ôhmica do sistema, com leve tendência de maior resistência para concretos menos porosos. Essa observação também pode ser feita em relação à densidade de carga passante necessária para a completa realcalinização do cobrimento e sobre o tempo de aplicação do tratamento, com diferenças da ordem de 8% entre os concretos POZ 0,55 e POZ 0,65. O tipo de cimento teve influência relevante sobre a resistência ôhmica do sistema, a densidade de carga passante necessária para a completa

realcalinização do cobrimento, o tempo de aplicação do tratamento, a alcalinidade relativa do concreto e o tempo estimado de despolarização. Os concretos moldados com cimento Portland CP IV Pozolânico, embora tenham apresentado valores de resistência ôhmica menores (conseqüência dos maiores índices de vazios obtidos), necessitaram de maior densidade de carga passante para realcalinizar toda a espessura do cobrimento e, conseqüentemente, maior tempo de aplicação do tratamento. Esse comportamento mostra que há uma maior dificuldade em restabelecer a alcalinidade dos concretos compostos com adições minerais, o que pode estar associado aos seus menores patamares de alcalinidade antes do tratamento. Com base nas curvas de tendência dos potenciais de corrosão, os concretos moldados com cimento Portland CP IV Pozolânico requerem maior tempo estimado para a completa despolarização e, conseqüentemente, conduzir as armaduras a uma tendência de repassivação, o que deve estar relacionado aos seus menores níveis de alcalinidade e, portanto, uma maior dificuldade em restabelecer a película de passivação. Após o tratamento, os potenciais de corrosão (E corr ) mostram uma forte tendência de repassivação das armaduras. Por outro lado, embora haja uma tendência de diminuição dos valores de i corr, estes necessitam de maior intervalo de tempo para fornecerem respostas conclusivas acerca da repassivação das barras. Desse modo, devido às peculiaridades e incertezas das técnicas eletroquímicas, se faz necessária a obtenção de uma série de valores indicativos de passivação para concluir a respeito da efetiva repassivação das armaduras.

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