PREPARAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITOS DE POLIETILENO DE ALTA DENSIDADE COM RESÍDUOS DE FIBRAS DE PIAÇAVA DA ESPÉCIE ATTALEA FUNIFERA MART



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Transcrição:

PREPARAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITOS DE POLIETILENO DE ALTA DENSIDADE COM RESÍDUOS DE FIBRAS DE PIAÇAVA DA ESPÉCIE ATTALEA FUNIFERA MART Sara P. Agrela 1*, Danilo H. Guimarães 1, Gleidson G.P. Carvalho 2, Ricardo F. Carvalho 3, Nadia M. José 1 1* Universidade Federal da Bahia - UFBA, Instituto de Química, Grupo de Energia e Ciências dos Materiais, GECIM Rua Barão de Geremoabo, s/n, Ondina, Salvador-BA saraagrela@hotmail.com 2 Universidade Federal da Bahia UFBA, Escola de Medicina Veterinária, Curso de Zootecnia, Departamento de Produção Animal. Av. Ademar de Barros, 500, Ondina, Salvador-BA 3 Universidade Federal da Bahia - UFBA, Escola Politécnica, Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana. Rua Prof. Aristides Novis, 2, Federação, Salvador-BA *saraagrela@hotmail.com O emprego de fibras lignocelulósicas como reforço em compósitos de matriz polimérica vem aumentando continuamente devido às vantagens que estas fibras apresentam em relação às fibras sintéticas. Esse fato ocorre principalmente devido a atual necessidade de preservar o meio ambiente e de utilizar os recursos naturais brasileiros disponíveis, além de contribuir para a despoluição ambiental. Os compostos foram preparados nas relações diferentes do volume da fibra (5%, 10% e 20%) misturados com o polietileno de alta densidade (PEAD) e aquecidos em 190ºC. A estabilidade térmica dos compósitos foi investigada por análise termogravimétrica (TGA) e calorimetria diferencial de varredura (DSC). A estrutura dos compostos foi caracterizada pela espectroscopia de infravermelho (FTIR), difratometria de raio-x (DRX). As composições químicas médias da fibra e borra de piaçava da variedade Attalea funifera Mart foram determinadas pelo Método Van Soest. Os resultados indicaram uma leve diminuição na estabilidade térmica dos compósitos de PEAD preparados após adição de até 20% de fibra de piaçava. Palavras-chave: Compósitos, fibras lignocelulósicas, piaçava, caracterização. PREPARATION AND CHARACTERIZATION OF HIGH DENSITY POLYETHYLENE AND RESIDUAL FIBRE OF ATTALEA FUNIFERA MART (PIAÇAVA) COMPOSITES The use of natural fiber reinforcement thermoplastic polymer is continuously increasing. This fact is manly due to its advantages as low cost, availability, recyclability, low energy demand and then environmental appeal if compared to synthetics fibers. The composites were prepared in different fiber volume ratios (5%, 10% and 20%) mixed with high density polyethylene (HDPE) and heated at 190ºC. Thermogravimetric analysis (TGA) and differential scanning calorimetry (DSC) were used to investigate thermal stability. The composites structure was characterized by Fourier Transform Infrared (FTIR) spectroscopy, X-ray diffratometry (DRX). Fiber and residue of piassava (Attalea funifera Mart) chemical composition were determined by Van Soest Method. The results indicate that thermo stability of the composites of HDPE prepared with fiber volume ratios up to 20% is only slightly lowered. Keywords: Lignocelulosics, composites, staple fibres, piaçava, characterization. Introdução Com o aumento constante das formas de utilização dos plásticos, as indústrias do setor têm buscado tornar seus processos cada vez mais competitivos. A partir daí são realizados diversos estudos de otimização de processo e de melhoria na qualidade dos produtos. Atualmente existe uma tendência mundial de valorizar materiais que, além de baixo custo, possam ser ambientalmente corretos. Esta última condição refere-se aos aspectos renováveis, biodegradáveis e recicláveis que possam ser apresentados pelo material. Exemplos típicos são os

compósitos de matriz polimérica reforçados com resíduos de fibras lignocelulósicas como a piaçava e coco. Além de não causarem problemas ao meio ambiente, os compósitos reforçados com este tipo de fibra residual, podem substituir de maneira vantajosa, produtos de madeira. Comparativamente com fibras sintéticas como a de grafite, aramida, carbono e vidro, as fibras naturais lignocelulósicas residuais têm a vantagem de custos muito baixos que podem fazer uma grande diferença no momento de uma escolha comercial. [1] Nas últimas duas décadas, com o aumento das pressões da sociedade para um uso mais racional dos recursos naturais, as fibras lignocelulósicas voltaram a ser uma opção para diversas aplicações, pois além de ser um recurso natural renovável e biodegradável, são neutras em relação à emissão de CO 2 [2]. Este último aspecto coloca essas fibras como materiais totalmente dentro do contexto do Protocolo de Kyoto, o que aumenta a potencialidade de seu emprego. O uso de fibras naturais como reforço para termoplásticos vem despertando o interesse tanto para fins acadêmicos como para aplicações industriais. Esse fato ocorre principalmente devido a atual necessidade de preservar o meio ambiente e de utilizar os recursos naturais brasileiros disponíveis, além de contribuir para a despoluição ambiental. Atualmente as fibras naturais mais utilizadas na produção de compósitos são: juta, rami, linho e sisal. A exploração de piaçaveiras no Brasil é uma atividade extrativista, tanto na Amazônia quanto na Bahia; algumas comunidades de baixa renda das regiões Norte e Nordeste dependem da extração dessas fibras naturais para sobreviverem. Fibras de piaçava, da família Palmae, vêm sendo bastante empregadas na fabricação de produtos simples, tais como escovas, vassouras, cordas, entre outros, e possuem alto teor de lignina (~ 45%). Cabe destacar, que no caso da piaçava, o uso dos rejeitos das fábricas de vassouras que usam essas fibras já seria atrativo, pois as fibras do rejeito são longas [3] o que implica em fabricar compósitos onde todo o potencial de resistência mecânica das fibras pode ser usado e o rejeito da indústria de piaçava pode chegar a 20% da produção total anual. O aspecto que se destaca na fibra de piaçava da espécie Attalea funifera Mart, é a sua rigidez. Comparativamente com as outras fibras lignocelulósicas a piaçava é relativamente mais dura e não se amolda com facilidade a uma solicitação mecânica. Assim não é possível trançar fibras de piaçava para fazer fios ou cordas. Esta limitação é compensada pelo comprimento que estas fibras podem atingir na natureza de até 4 metros e diâmetros superiores a 1 mm. Em princípio, é possível reforçar peças de compósitos, como placas e painéis para construção civil e mobiliário, utilizando, de maneira contínua e alinhado comprimento total das fibras de piaçava. Este reforço aumenta significativamente a resistência de compósitos poliméricos e pode ser utilizado até uma quantidade de 40% em peso de fibras de piaçava incorporadas na matriz [4].

No presente trabalho foram avaliadas as propriedades físico químicas dos compósitos de polietileno de alta densidade (PEAD) e fibras de piaçava do Sul do estado da Bahia (Attalea funifera Mart), in natura, com diferentes proporções (5, 10 e 20% de reforço). Parte Experimental Preparação dos compósitos Fibras de piaçava do tipo Attalea funifera Mart, de ocorrência nativa do sul do estado da Bahia, foram obtidas como rejeito industrial de uma fábrica de vassouras localizada na cidade de Ilhéus. Estas fibras encontravam-se em estado natural com quantidade relativamente alta de umidade. A figura 1 representa os resíduos e as fibras da piaçava. Os compostos foram preparados com os resíduos de piaçava após serem lavadas e secas a 60 ºC em estufa a vácuo, durante 48 horas. Borra Fibra Figura 1 Fotografia das fibras e borras utilizadas na caracterização do experimento (a) borra e (b) fibra. As figuras 2a e 2b representam a moldagem das placas dos compósitos e PEAD. As placas retangulares foram moldadas sob temperatura de aquecimento de 190ºC, pressão de 25,0 Kg/cm 2 e temperatura de resfriamento de 15ºC/min. Figura 2 a) Moldagem dos compósitos; b)placas do PEAD e compósito. Resultados e Discussão

O comportamento termogravimétrico dos materiais foi analisado em uma termo balança, Marca Metler-Toledo, Modelo TGSDTA 851, entre uma faixa de temperatura de 25ºC a 1000C, a uma taxa de aquecimento de 20ºC/min., sob fluxo de nitrogênio. A figura 3 apresenta as curvas de análise termogravimétrica (TGA) do polímero, da borra e dos compósitos com fibra de piaçava não tratada. Podem-se observar as perdas de massa relativas ao processo de degradação da fibra de piaçava, especialmente pirólise dos seus constituintes principais: hemicelulose, celulose e lignina [5,6]. Abaixo de 200ºC a perda de massa equivalente ao percentual de umidade da fibra que foi de aproximadamente 6%. As curvas do onset na figura demonstram que ocorreu leve diminuição na estabilidade térmica após adição da fibra em diferentes composições (5, 10 e 20%). Pode-se verificar que até temperaturas de 200 C não ocorrem alterações significativas nos compósitos. 100 80 Borra 5% 10% 20% PEAD Massa (%) 60 40 20 0 200 400 600 800 1000 Temperatura (ºC) Figura 3 Curvas de TGA das matérias primas e dos compósitos HDPE/borra em diferentes proporções. O comportamento térmico das amostras foi avaliado em um calorímetro Marca Shimadzu, modelo DSC-60, entre 25ºC e 600ºC, com taxa de aquecimento de 20ºC/min. As curvas de DSC ilustradas na figura 4 evidenciaram a presença de picos endotérmicos atribuídos à decomposição dos constituintes químicos da piaçava: hemicelulose, celulose e lignina e ao ponto de fusão do HDPE em aproximadamente 135ºC. Fibra Celulose Borra Fluxo de Calor (u.a.) endo Água Hemicelulose Fluxo de Calor (u.a.) endo 20% de piaçava 10% de piaçava 5% de piaçava 0 100 200 300 400 500 600 Temperatura (ºC) 0 100 200 300 400 500 600 Temperatura ( C) Figura 4 - (a) Gráfico do DSC da fibra e resíduo de piaçava e (b)dos compósitos.

Os difratogramas de raios-x foram obtidos num difratômetro de raiso-x, Marca Shimadzu, modelo XRD-6000, operando com radiação CuKα (λ=1,548 Å), com tensão de 30 kv, e corrente de 20 ma, utilizando-se as quatros amostras dos polímeros e compósitos de resíduos de fibras de piaçavas. Os difratogramas ilustrados na figura 5 evidenciaram a presença de picos cristalinos associados à matriz polimérica, polietileno de alta densidade e os picos de difração da fração cristalina da parede celular da celulose aparecem em 2θ de 24,7º e ficam sobrepostos com os picos do HDPE. Nota-se que os picos de intensidade são bem definidos, o que mostra claramente a existência de cristalinidade. Intensidade(U.A) PEAD PURO 5% de piaçava 10% de piaçava 20% de piaçava 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 2θ(graus) Figura 5 Difratogramas de raio-x dos compósitos A Figura 6 apresenta espectros infravermelhos das matérias primas e compósitos de polietileno de alta densidade e resíduos de fibras de piaçava. Os espectros mostram bandas de transmissão correspondentes à formação do grupo alcano (CH 2 ). Em (2925 e 2855) cm -1, em 1465 cm -1, entre (2936 2916) cm -1 e entre (2863-2843) cm -1 confirmando a presença do polietileno de alta densidade e entre (1500 1450) cm -1 os espectros mostram bandas de transmissão correspondentes à formação do grupo aromático (C-C) associados à fibra. A tabela 1 mostra um resumo das principais bandas de transmissão na região do infravermelho.

Borra Fibra HDPE Transmitância (u.a.) 5% piaçava 10% piaçava 20% piaçava 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 Número de onda (cm -1 ) Figura 6 Espectros de absorção infravermelho das matérias primas e compósitos Tabela 1 Número de onda e os fenômenos correspondentes Número de onda (cm -1 ) Fenômeno 2925 e 2855 Estiramento axial C-H Alcano (CH 2 ) 1465 Deformação axial C-H Alcano (CH 2 ) 2936-2916 Deformação axial assimétrica de CH 2 2863-2843 Deformação axial simétrica de CH 2 1500-1450 Estiramento axial C-C Aromático Tabela 2 Resultados da determinação das densidades aparentes da borra e fibra da piaçava Tipo de amostra Densidade (g/ml) Fibra 1,12 Borra 1,10 A tabela 2 apresenta os resultados das médias da densidade aparente das fibras e borras de piaçava investigadas, onde a densidade da borra apresenta um valor inferior comparado ao da fibra da piaçava, justificado pelo seu aspecto mais leve e menos rígido. Figura 7 Picnômetros A figura 7 ilustra os picnômetros utilizados na determinação das massas específicas da borra e fibra da piaçava.

Tabela 3 - Composição química média da fibra e borra de piaçava da variedade Attalea funifera Mart. Tipo de Amostra Hemicelulose (%) Celulose (%) Lignina (%) Cinzas (%) Fibra 3,49 50,47 45,68 0,36 Borra 5,00 54,84 40,12 0,04 Os resultados do fracionamento pelo Método Van Soest, com o objetivo de determinar o teor de hemicelulose, celulose e lignina estão apresentados na tabela 3. Os resultados obtidos revelam que a piaçava contém mais celulose e lignina, tanto na borra quanto na fibra, quando comparadas com o teor de hemicelulose nas amostras. Isso pode justificar sua impermeabilidade e rigidez. Conclusões Os compósitos de polietileno de alta densidade com fibra de piaçava (in natura) apresentaram uma leve diminuição na estabilidade térmica após adição de até 20% de fibra de piaçava, o que não chega a comprometer o processamento e moldagem de placas dos compósitos a temperatura de 160 e 190ºC, respectivamente. Agradecimentos Os autores agradecem o apoio financeiro do CNPq e à contribuição de Juscelino Bernardes Leal Comércio de Piaçava pelo fornecimento das fibras e borras de piaçava e ao Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia, UFBA. Referências Bibliográficas 1. S.N. Monteiro, L.A.H. Terrones, A.L. Camerini, L.J.T. Petrucci, J.R.M. D Almeida, Revista Matéria, 2006, v. 11, 4, 403-411. 2. A. K. Mohanty, M. Misra, L. T. Drzal, Journal of Polymers and the Environment, 2002, v.10, 1/2, 19-26. 3. A.L. Leão, F.X. Carvalho, E. Frollini, Natural Polymers and Agrifibers Composites, 1997, 257-272. 4. J.R.M. D Almeida, S.N. Monteiro,Compósitos Reforçados por Fibras Naturais Oportunidades e Desafios, 2003, 1725-1734, Rio de Janeiro, Brasil, 5. R.C.M.P. Aquino, J.R.M. D Almeida, S.N. Monteiro, Flexural Mechanical Porperties of Piassava Fibers (Attalea funifera)-resin Matrix Composites, 2001, v.20, 1017-1019. 6. J.R.V. Melo, J. Souza, J. S. Nakagawa, E.S. Mori, Perspectiva da produção de sementes de piaçava (Attalea funifera Mart.) em áreas litorâneas do estado da Bahia in Anais do 6 Congresso e Exposição Internacional sobre Florestas, Porto Seguro, 2000, 157.